Dinastia 2: A Coroa de Espinhos escrita por Isabelle Soares


Capítulo 54
Capítulo 54




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7 de outubro de 2045

Dizer que os dias tinham sido difíceis para Renesme seria repetitivo. Em nenhum momento ela pôde se sentir realmente plena. Esperava que após a eleição que dera vitória a Sean Renard pudesse agilizar alguma coisa na CPI. Mas decepcionou-se. Claro que tudo vinha correndo finalmente. Muitas coisas haviam sido denunciadas e alguns nomes surpreendentes haviam sido indiciados. Porém nada relacionado à Bella ainda. Ela sabia que faltava pouco para que chegassem a Donnalson. Eles estavam “comendo pelas beiradas” e isso mantinha as suas esperanças.

Além, das lembranças de sua mãe, claro. Todos os dias ela pegava o diário, que antes lhe causava uma dor imensa só em ver, e agora era um grande acalento. Abria-o em uma página qualquer e começava a ler. Em alguns momentos havia uma sensação ruim. Bella nem sempre estava bem enquanto escrevia. Renesme pôde finalmente entender o que aconteceu com sua mãe nos últimos meses de sua vida. Como sua mente foi da lucidez a loucura. Mas podia perceber que ela sabia muito bem dos riscos que corria.

A velha culpa de não tê-la ajudado naquele momento sempre a rodeava e sabia que isso a acompanharia por muito tempo. Entretanto, só em ter as palavras de sua mãe era um grande conforto, mesmo que presas em uma folha de papel. Tinha a sensação que Bella conversava com ela.

Hoje seria o casamento de Antony e Ashley. Renesme tinha passado as últimas semanas muito concentrada nisso. Tinha viajado com sua futura cunhada para Clarence várias vezes para arrumar tudo. Isso a fez esquecer das cobranças constantes de Aro por deixar o casamento com Alec virar um grande marasmo. Ela sorria na cara dele, como se não fosse o próprio filho dele que tivesse cada vez mais ligado a sua amante. Mas como sempre, tudo era culpa de Renesme. Por não engravidar, por não se dedicar a passar mais tempo com o marido e ela sempre respondia: “O que posso fazer? Nasci com uma profissão que me mantém bastante ocupada”.

Na verdade, ela se sentia feliz com o rumo das coisas em seu casamento. Não queria estar perto dos Volturi, e se não podia se livrar deles, por enquanto queria empurrar as coisas com a barriga. Satisfazia as suas vontades com o casamento do seu irmão. Riu horrores com as indecisões de Ashley. Amou cada reunião de garotas com suas tias para escolherem cada detalhe da decoração e fez tudo que não pôde fazer no seu próprio casamento.

Definitivamente tudo escolhido seria fora dos padrões reais. Um casamento matutino para poucos convidados e sem qualquer ligação com símbolos reais. A decoração lembrava os casamentos da década de 30 ou 40. Tinha tons mais escuros e tudo muito simples para um príncipe que era o segundo na linha de sucessão. Inclusive, sem nenhuma transmissão pela TV ou pela internet. Antony foi bem firme quanto a isso. Algumas fotos e vídeos seriam liberados, mas bem depois da cerimônia ter acabado.

Pegou o diário e abriu em uma folha bem no início e aspirou às palavras de sua mãe para começar o dia. Renesme se surpreendeu ao ler na página escolhida do diário era algo sobre Antony. Parecia mesmo que Bella queria se comunicar com eles de alguma forma e uma lágrima começou a brotar de seu rosto.

Liguei para Antony hoje e é tão bom ver que está tudo bem. Confesso que fiquei um tanto preocupada com a ida dele para Londres. Estar longe dele me causa uma ansiedade para saber como ele está a todo instante. Digo isso a Edward e ele apenas me acalma. Tony está na melhor universidade da Inglaterra, tudo vai dar certo! Eu é que tenho que aceitar que os meus passarinhos estão saindo do ninho.

Ando meio nostalgica com relação a ele. Ainda não me conformei com a sua partida. Lembro bem quando descobri que estava grávida. Edward e eu tinhamos decidido que já era hora. Ness já tinha quase dez anos e logo viraria uma adolescente. Não queriamos ficar sem uma criança perto da gente.

Certo que me senti um pouco estranha no início. Eu tive um parto horrível de Renesme e ficara um tanto traumatizada. Edward nunca me cobrou, sempre colocou em minhas mãos a hora de termos outro filho. Até que engravidei novamente quando Ness tinha um pouco mais de três anos. Foi uma surpresa, mas não pude me acostumar. Sofri um aborto espontâneo e aquilo me machucou tanto!”.

Renesme parou a leitura com espanto. Era cada coisa nova que descobria sobre Bella! Jamais imaginou que ela tinha engravidado antes de Tony nascer! Sua mãe tinha guardado esse segredo.

Mas agora era a hora, pensei na época. Me permiti ficar ansiosa. Já que as minhas duas primeiras gravidezes não foram planejadas e agora lá estava eu com o teste de gravidez a posto a cada sitoma que fosse. Edward e eu comemoramos tanto a notícia da confirmação. Eu queria aquele garoto tanto que nem podia imaginar! Edward ficava brincando que tinha que entrar em forma para voltar a correr atrás de criança com aquela idade! Imagina! Como se fôssemos velhos!

Antony já se mostrou ser uma grande força da natureza desde os primeiros meses em minha barriga. Mexia-se e dava cambalhotas. Apenas Edward com suas músicas ao piano e Renesme com suas histórias fazia o acalmar. Acho que meu marido estava mesmo certo, tinhamos que nos ter preparado melhor! Kkk

Quando ele nasceu fizeram um mapa astral para ele. Grande bobagem! Um taurino com ascendente em áries. Seria alguém teimoso, determinado, justiceiro, impulsivo e descomprometido. Lembro de pensar: “Meu Deus! Que trovão será Tony!”, mas não me deixei levar na época. Hoje vejo muito daquela astróloga falando nele. Cada vez que ele comente alguma coisa arriscada, a cada marotice meu coração se aperta. Só peço ao Senhor que o proteja sempre e que o coloque no lugar certo. Nossa! O que estou escrevendo? Amo meu Tony do jeito que ele é. Até o invejo algumas vezes. Acho que tenho que começar a colocar o meu lado Swan pra fora mais vezes. Enfim... Mais um dia longo se foi.”.

Renesme fechou o diário e o abraçou ao peito. Tinha que mostrar isso a Antony. Mas primeiro se levantou da cama e seguiu para um banho demorado. No dia de hoje só queria se dedicar a felicidade de seu irmão e cunhada. A convivência com Ashley só estava a fazendo bem. Ela era leve e descomprometida. Tinha uma positividade enorme. Daria muito certo com Tony mesmo, ao final das contas. Queria o melhor para os dois.

Quando vestiu o roupão e abriu a porta do banheiro lá estava Emily com a maquiadora a posto. O casamento seria às dez da manhã, então todos deviam estar prontos logo. Renesme ignorou todas as opções que sua secretária tinha dado a ela. Primeiro por que estava ainda estava decepcionada com Emily e segundo por que queria que Bella tivesse presente de alguma forma naquele momento. Por isso, resolveu resgatar um vestido dela antigo que gostava muito para usar naquele dia tão especial.

Esperou ansiosamente batendo os pés no chão terminarem a sua maquiagem e cabelo para correr para Antony antes que ele saísse para a capela. Quando terminou seguiu ao quarto que seu irmão sempre ocupava quando estavam no palácio de Clarence. Bateu na porta de leve e escutou um “entre” e assim o fez.

Sorriu ao ver Antony tentando ajeitar a sua gravata. Ela se aproximou e o ajudou. Era hilário ver que ele quebrava as regras até mesmo em seu casamento. Tinha escolhido um terno todo quadriculado, tão diferente da farda real que mandava o protocolo usar. Não queria mesmo passar a imagem de príncipe perante todos.

— Você parece um velho! Não me diga que vai colocar os óculos?

— É claro que sim! Não te disse que estou com uma dificuldade de ver de perto?

— Tony! Tony!

— O que foi mamãe? Não implique comigo hoje, ok?

Renesme terminou de dar um nó na gravata e olhou para o irmão. Tinha apenas 23 anos e já iria trilhar um caminho tão grande! O que Bella diria daquele momento? Talvez aquele trecho do diário explicasse bem. Ela ficaria preocupada com a impulsidade de seu filho, mas continuaria o amando e o apoiando.

— Comecei a ler o diário dela.

— É mesmo? Descobriu algo?

— Quanto ao acidente? Posso apostar que ela não esperava que fosse morrer assim, óbvio, mas ela articulou tudo que aconteceu naquele dia.

Antony se sentou e Renesme o acompanhou.

— Ela sabia que estava na mira dos inimigos e articulou tudo de forma que eles fossem pegos. Mamãe sempre soube o que estava fazendo.

— Ela deu a vida dela, então.

— Se sacrificou. Mamãe tinha uma ideia de vida completamente diferente de todo mundo em volta dela. Era impressionante como ela idealizava as coisas. Ela acreditava fortemente em seus ideais e lutava para alcançá-los bravamente, sem perder um fio de esperança.

— Esse é o problema, Ness. Os ideais dela não eram uma mera fantasia. Eles são reais, são necessários. Nós é que vivemos num mundo de ilsuões, minha irmã. Num sistema que não existe há muito tempo. Percebe isso?

— Eu sei. Ela, como todos nós, estamos presos num estilo de vida, num sistema programado que não existe outros modos de vivência. Não me refiro somente à monarquia, mas tudo em nossa volta. A nossa sociedade é hipócrita, meu irmão. Ninguém queria alguém como a mamãe. As pessoas só queriam um personagem que se comportassem exatamente como eles queriam.

— E ela deu a vida dela num fio de esperança de mostrar a eles o real das coisas.

— Exatamente. Ninguém temia mais do que Bono Donnalson poderia transformar o país do que ela. Mamãe sabia bem que ele se aproveitava do pior das pessoas, em valores conservadores que está preso na cultura da nossa sociedade, em ideias que ninguém tem coragem de dizer, mas que iam agora vir à tona para embassar o poder dele. Eles trataram de eliminá-la antes que ela os prejudicasse.

 - Mas a verdade virá à tona.

— Virá. Mas não é sobre isso que eu queria te contar. Até por que hoje não é um dia para tristezas. Vim te mostrar o que ela escreveu. Olha só.

Renesme entregou o diário ao irmão com a página marcada e ele o pegou com um certo nervosismo. Era como se aquele objeto representasse a vida daquela que mais importasse para eles. Não demorou muito para ele lesse o que estava escrito. Um sorriso triste saiu dos lábios dele;

— Dei muito trabalho a ela, não foi?

— A todos nós, irmãozinho. – Renesme disse sorrindo. – Mas dá para sentir que ela meio que se orgulhava desse seu jeito rebelde.

Antony sorriu sem jeito.

— O que ela diria agora, hã?

— Ela teria ficado brava com a sua decisão. Iria lhe procurar e lhe dizer: Que besteira é essa que você está fazendo? Se casando tão novo?

— Como se ela não tivesse se casado aos 21. Quanta hipocrisia!

— Mas tenho certeza que ela ficaria muito feliz por você também. Quando conhecesse Ashley com certeza iria se encantar!

— Ela iria amar William também. – Antony falou batendo de olho e Renesme corou sem jeito.

— O que William tem a ver com isso?

— A vá, mana? Pensa que eu não sei das coisas? Eu via o jeito que vocês se olhavam quando ele estava no palácio. Eu sentia o sentimento de longe.

— Não tinha sentimento. William é apenas um bom amigo. Para de inventar coisa!

— Afinal por que ele não está mais trabalhando pra você?

— Ele ainda está, mas não presencialmente. William é um bom jornalista e diante de tudo que está acontecendo, eu não poderia deixar o The Globe orfão, podia?

— Sei... Será que ele vem hoje? Mandaram o convite pra ele, não mandaram?

— Claro. Ele deve vir. William tem um jeito que parece taciturno, mas é um arroz de festa. Vai por mim!

— Eu também seria se tivesse um bom atrativo.

— Para!

Os dois começaram a rir e Renesme abraçou o irmão. Sentia falta desses momentos mais leves com ele. Quando Antony era criança, eles tinham muitos momentos assim. Ela se sentia mais livre ao lado dele, quase como uma menina novamente. Somente algumas batidas na porta os fizeram voltar à realidade. Renesme podia apostar que era Emily.

— Entre Emily! – Renesme pediu.

— Alteza, desculpe interromper. Mas o duque de Seraf pediu para chamá-la. Ele já lhe espera lá em baixo.

— Obrigada. Já estou descendo.

Emily assentiu e fechou a porta. Renesme virou-se para Antony e ele fazia umas caretas zombando do que a secretária havia falado. A princesa bateu de leve no ombro dele. Amava esse jeito moleque do irmão.

— Vou lá voltar para o meu trágico conto de fadas.

Antony revirou os olhos e voltou-se para o espelho novamente. Renesme jogou um beijo para ele e foi guardar o diário da mãe em seu esconderijo. Desceu se sentindo menos pior do que estava, mesmo sabendo que iria ter que entrar no jogo de mentiras de novo. Aquele seria o primeiro dia de muitos que veria Alec novamente. Todo mundo já havia entendido no palácio que os dois definitivamente estavam separados e nem colocavam mais os dois tão juntos em eventos oficiais. Ambos seguiam com seus compromissos separadamente. Renesme se dedicava aos seus trabalhos com Henry e Antony na “Young Togeheter”, que crescia cada vez mais, e Alec investia em trabalhos ligados a tecnologia e escolas técnicas, o que a princesa achava magnífico. Tinham interesses tão opostos que nem parecia realmente um casal que era praticamente recém – casado.

Renesme desceu as escadas da entrada do palácio e encontrou Alec a esperando de frente ao carro. Ele, de alguma forma, parecia mais feliz. Estava mais arrumado. Lovelace o estava fazendo mesmo bem e riu consigo mesma. O casamento fazia melhor a eles quando ambos estavam com outras pessoas.

Alec beijou levemente a bochecha da esposa e a conduziu para dentro do carro.

— Você ficou muito bonita com esse vestido.

— Obrigada, Alec. Você também está deslumbrante!

Alec sorriu sem jeito e olhou para a paisagem fora da janela. Renesme estava grata por Aro ter decidido se concentrar em Volterra. O ar ficava mais limpo sem a presença dele. Tanto ela quanto Alec podia respirar mais um pouco longe das cobranças dele e até podiam criar uma certa amizade. A princesa preferia muito mais o homem que seu marido era longe do pai.

Ambos ficaram em silêncio por alguns minutos. Era constrangedor. No fundo, Renesme queria que ambos se dessem bem. Desejava sinceramente ao menos ter uma amizade com ele. Por mais que ela odiasse o pai dele, sabia que Alec era tão vítima quanto ela própria.

Ele pegou um livro de bolso no seu paletó e começou a ler. “Cartas a Milena” de Kafka. Ela tinha o indicado e sorriu ao ver que ele tinha se interssado.

— Está lendo o livro que te indiquei. Que maravilha!

— Oh sim! Você tem um bom gosto, Renesme. É um bom livro!

— Que bom que esteja gostando, eu imaginei que pudesse ser de seu agrado.

— Está sendo. Lovelace me indicou “O Castelo” e eu gostei muito. Imaginei que poderia gostar desse também.

— Claro.

Renesme nada mais disse. O silêncio era melhor. Esperou que o carro parasse em frente à capela de São Jorge. A frente dela já estava lotada de pessoas e de fotografos. Era hora do show. Esperou que abrissem a porta do carro, desceu, sorriu para as pessoas que ficaram elouquecidas ao vê-la, segurou a mão de Alec e acenaram juntos para a multidão antes entrarem.

William pensou muito se iria ou não a Clarence para o casamento do príncipe. Pegou e guardou o convite várias vezes. Não gostava de participar desses eventos da realeza, nunca gostou. Era como estar numa peça de teatro e ter de ser forçado a atuar nos atos. Ele não gostava de falsas histórias e de hipocrisias.

Porém, ele sentia uma saudade louca de Renesme. A acompanhava de longe, não tivera coragem de se afastar totalmente. Seria a desculpa perfeita para estar ao menos perto dela. De vê-la. Mesmo sabendo que ela provavelmente não iria falar com ele e estaria representando o seu papel de esposa. Isso o feria mais do que qualquer coisa. Mas o seu lado masoquista venceu, especialmente que sabia que ela também queria vê-lo, de alguma forma. Ele sabia que aquele convite tinha partido dela. Então, ele iria.

Levava cerca de quarenta minutos até Clarence, então ele resolveu partir diretamente de Brocken Hall mesmo que chegasse em cima da hora para a cerimônia. Sabia muitas pessoas fizeram questão de dormir na cidade para estarem perto da colméia e se deliciarem com o mel, mas ele não. Queria manter a discrição.

Quando chegou teve uma agradável surpresa. O casamento foi absolutamente fora dos padrões. Haviam poucos convidados. Cerca oitenta, que coube perfeitamente dentro da pequena capela. William odiava a multidão de casamentos reais. Muitos convidados só iam pelo status, mas pelo que pôde perceber, Antony era também averso a isso. Só haviam no casamento aqueles que realmente importavam.

As roupas dos noivos também fugiam ao tradicional. Nada tiaras caras ou chapéis cafonas. O próprio noivo usava um terno xadrez completamente fora de moda, o que fez William sorrir silenciosamente. A noiva era uma moça bem bonita que trajava um vestido simples que lembrava os modelos dos anos 40. Com certeza havia sido uma influência de Renesme. Ele sabia que ela era fascinada por essa década.

Falando em Renesme. William sentiu um tremor ao vê-la no altar com um belíssimo vestido que só ressaltava a beleza dela. Ficou muito feliz ao ver que Antony dera mais um “gol” ao convidar Henry para ser seu padrinho ao lado da princesa e não Alec. Ela percebeu a prensença dele assim que ele entrou no ambiente. Ficaram ambos se olhando por muitos momentos. Na verdade, ele não prestou nenhuma atenção na cerimonia. Seus olhos estavam presos nela. Renesme tentava disfarçar, mas estava contente em vê-lo também.

Quando terminou o casamento e todos começaram a sair. Renesme esperava que William tivesse os seus impulsos e viesse até ela, mas não foi o que aconteceu. Ele seguiu a multidão para a recepção no palácio. Ela sentiu uma pontada de decepção, porém entendeu que ele estava apenas fazendo o que ela tinha pedido. Então, tentou se recompor e seguiu de mãos dadas com Alec até a recepção dos convidados.

Chegando ao palácio tentou se distrair. Estava determinada a não cair na armadilha que seus pensamentos pregavam. Queria estar ao lado dele, mas tinha medo dos seus impulsos. Falaria com ele em algum momento e tentaria agir naturalmente.

A imensa euforia de Antony e Ashley chamou a atenção de todos além de todo o resto. Ninguém esperava mesmo que aquele príncipe levado estava mesmo falando sério quando anunciou seu casamento. Mas lá estavam eles apaixonados, exalando felicidade para quem quisesse ver.

Renesme estava contente por seu irmão. Mas não podia deixar de sentir uma pontada de depressão. Tentou deixar esse sentimento bem longe de seus pensamentos durante todos esses dias, mas agora olhando Tony e Ashley dançando juntos com os olhos focados um no outro de uma maneira que pareciam conversar através de seus pensamentos, lhe causava uma certa tristeza por si mesma. Olhava para Alec ao seu lado e não sentir nada era horrível. Via William do outro lado e sentia o seu estômago tremer. O que adiantava ter tudo se não podia estar com realmente gostava?

William não estava em melhor estado. Seu olhar se direcionava para a sua princesa e voltava. Às vezes a pegava olhando para ele também, mas desviava. Por um momento, ele não disse nada, mas aqueles olhos, agora claros como o dia em que se beijaram. A faísca de desejo descarado dentro deles aqueceu seu rosto. 

— Vá falar com ela. – Incentivou Henry ao seu lado percebendo o jogo de gato e rato que Renesme e William se encontravam.

— Ela não quer falar comigo.

Henry colocou as mãos na cintura sem entender o que havia acontecido entre os dois.

— O que houve?

William nada disse. Apenas se distanciou até o garçom mais próximo e pegou uma bebida. Mas Henry não desistiu e foi até ele e o arrastou para um canto mais reservado já imaginando mil coisas em sua cabeça que poderia ter havido entre seu amigo e sua prima.

— Não me diga que?

— Não.

— Então, o que?

— Nos apaixonamos é isso! Vê que algo mais tolo? Logo eu um jornalista coroa com uma princesa casada com o infortúnio.

— Eu sabia que vocês dois se gostavam bem antes disso. Mas algo mais tem que justificar o falto de Ness não querer falar com você.

William coçou a cabeça e depois bebeu um gole de sua bebida.

— Fiz uma festa surpresa para ela de aniversário. Ficamos empolgados e nos beijamos.

Henry sorriu de orelha a orelha e bateu palma.

— Shiu! – William retruncou.

— Isso é ruim?

— Claro! Sua prima é casada. Ela se sente culpada por ter traído Alec.

— Como se ele merecesse uma grama dessa culpa. Rola burburinhos por ai que ele e Lady Lovelace...

— Mesmo assim. Sua prima se arrependeu por que é contra os princípios dela e preferimos nos afastar.

— Mas você se arrepende?

— Claro que não. Beijá-la foi a melhor coisa que fiz em minha vida.

— Cara, você está perdido! Nunca te vi assim por mulher nenhuma.

— Eu nunca estive assim por mulher nenhuma. Olha que armadilha caimos nós?

Henry balançou a cabeça e viu que Renesme nesse momento procurava por William. Sua prima também estava apaixonada. Estava feliz por ela. William realmente era o homem que ela procurara esse tempo todo. Era uma pena que não tivessem se conhecido antes.

Renesme sentiu um esfriamento no estômago ao perceber que talvez William decidira ter ido embora e levantou-se para tentar aliviar a tensão. Foi até o irmão e a cunhada para parabenizá-los.

— Olá para o meu casal prefeirdo!

— Olá cunhada! – Ashley saudou com um sorriso enorme. – Agora finalmente é oficial!

— Sim! Parabéns, meus queridos! Sejam muito felizes!

A princesa abraçou ambos. Esme observava tudo de longe ao lado do filho. Edward estava um tanto comovido naquele dia. Estava casando o seu segundo filho. Sentia mais velho por isso e emocionado por vivenciar esse momento, mas Bella não estava ali. Mas uma vez ela perdera esse momento especial. Quantas vezes eles tinham imaginado vivenciar aquele momento? Tinham falado sobre isso várias vezes. Era lamentável que sua vida tivesse sido ceifada antes que ela pudesse vivenciar todos esses momentos importantes.

— Acho que Alice perdeu a vaga dela de organizadora oficial de festas. Renesme arrasou em todos os detalhes. – Esme falou.

— Nada poderia ter sido melhor. Bem ao estilo de Tony. Nada relacionado à realeza. Amei! – Edward disse rindo um pouco.

— Eu também. Quem de nós não queria ter tido essa ideia?

— Bella quis.

Esme abaixou a cabeça sentindo a dor assolar o seu filho novamente. Era realmente muito triste toda a situação que se encontravam.

— Ela está aqui hoje, filho. Se realmente existir espíritos, sei lá, energia diferente, tenho certeza que ela está olhando para os filhos dela.

Edward assentiu tristemente.

— Você já foi parabenizá-los? Não é aceitável que vocês fiquem nessa eterna briga. Bella gostaria que vocês estivessem bem.

— Eu sei.

— Vá lá.

Edward respirou fundo e decidiu seguir até onde o filho estava com a sua atual nora. Ambos sorriam ao cortarem o primeiro pedaço de bolo. Edward parou um pouco e esperou que o momento passasse. Ele de repente se viu em Antony. Não só na aparencia de ambos que era muito semelhante, mas no espírito jovem e apaixonado do filho que ele mesmo sentira há 34 anos. E desejou profundamente que ele não passasse pelas mesmas coisas que ele estava vivenciando. Que ele fosse muito feliz até o seu último dia de vida ao lado de Ashley.

— Pai! Você quer o próximo pedaço? – Antony perguntou com um sorriso.

— Quero.

O rei se aproximou do casal e recebeu o pedaço de bolo das mãos do filho com bastante emoção.

— Parabéns, meus filhos! Muito amor para vocês sempre.

— Obrigada sogro! – Ashley falou com um sorriso sincero e sem mais abraçou Edward espotaneamente e o rei a recebeu com carinho, mesmo diante da supresa por aquele gesto.

— Seja bem-vinda a essa família maluca, Ashley.

— Grata! Quem não é maluco nesse mundo?

— Acho mesmo que todos somos. – Edward concordou.

Renesme observava tudo de longe. Sentiu-se melancólica de novo. Mas conteve-se mais uma vez. Não daria esse show em público. Então, de repente, ao se virar, viu uma mão estendida diante dela. Tocava agora a música: “Can’t take my eyes off you”. William não poderia ter escolhido melhor momento para tirá-la para dançar.

Ela resolveu aceitar e se deixou ser conduzida para o meio do salão. O toque de William enviou uma faísca ao núcleo dela. Só Renesme podia perceber a ternura em seus dedos enquanto ele segurava os dela. Atrás da máscara, ela praticamente podia ler sua mente. Nada sobre esta noite o interessou, exceto dançar com sua princesa.

Nenhuma palavra foi dita enquanto eles dançavam em meio à multidão. Ela manteve o queixo erguido, olhou para William com uma formalidade educada. Mas seu corpo esquentou e seu rosto corado aqueceu ainda mais quando ele a puxou para mais perto com uma mão em sua cintura. 

Seus olhos se encontraram. Essa mesma maravilha retornou ao seu olhar atento, embora ela não pudesse imaginar o que ela tinha feito para induzi-lo. Seus passos melhoraram ao longo da noite, mas ela achou difícil se concentrar neles. De alguma forma, ele conseguiu carregá-la sem um emaranhado de pés, e o resto da sala desapareceu no fundo. 

Ela renunciou a todos os seus pensamentos naquele momento. Manteve a cabeça limpa, e este evento era uma desculpa para celebrar. Pensando nisso, ela podia culpar o álcool pelos desejos tórridos que uma simples dança com William Lamb evocava dentro dela. Ele estava claramente alcolizado e ela tinha bebido o suficiente para ter aceitado aquela ousadia em público.

Outro que observava ao longe era Sean Renard. Tinha sido ótimo ter sido convidado para o casamento. Tinha se sentido acolhido e era bom saber que poderia manter um relacionamento amigável com a família real. Mas observar tudo que estava acontecendo ao seu redor era ainda melhor.

Sentiu um dejavu ao ver William Lamb dançando com a princesa. Voltou-se para mais de um ano atrás num casamento real também e se perguntou o que mais poderia acontecer daqui para frente. Tudo tinha se transformado tão profundamente desde quando estivera ali pela última vez. A duquesa e o rei tinham falecido. Bono Donnalson estava na eminência de ser derrotado. Ele estava casado com a sobrinha do novo rei. Era impressionante toda essa mudança em tão pouco tempo.

Marlowe se aproximou do marido e enconstou-se em seu braço.

— O que tanto olha?

— Para a sua prima e para William Lamb.

— Acha que pode haver alguma coisa entre os dois?

— Há muitas coisas acontecendo ao nosso redor. Muitas coisas não são exatamente como são mostradas em público. O rei está tão acanhado diante dos filhos quanto o diabo diante da cruz. O casamento da princesa é uma grande farsa e ela está claramente apaixonada pelo jornalista mais famoso do país. Chega até a ser hilário! É essa a família perfeita que eles querem vender? Era para isso que você queria entrar?

— Nenhuma família é perfeita. Muito menos a real.

— Confie em mim Marlowe. Isso é só o começo da bomba que está prestes a estourar. Não dou seis meses para uma grande revolução acontecer aqui dentro. É uma pena que será bem no meu mandato.

Marlowe olhou para o marido preocupada e acariciou a sua grande barriga. O que mais poderia acontecer? Esperou que não fosse pior do que tudo que já tinham vivenciado. COMENTEM BASTANTE!


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