Dinastia 2: A Coroa de Espinhos escrita por Isabelle Soares


Capítulo 42
Capítulo 42




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William se olhava no espelho e via-se refletido, mas por alguns segundos parecia que ele estava diante de seu próprio pai. Quantas vezes ele não estivera ali naquela posição? Uniforme azul da “Ordem dos Cavaleiros”, um perfume caro, e seu bem mais precioso, a condecoração de nobreza presa a sua gravata. Agora estava William ali não como jornalista, mas como Visconde de Gotland, título que ele detestara por tantos anos. Balançou a cabeça e tentou pensar em outra coisa. Sua missão hoje era para o bem maior, pela duquesa falecida, por Renesme e por todo o país. Isso sim era realmente importante!

— Você está muito elegante, papai.

William sorriu e voltou-se para sua filha que o olhava com admiração.

— Está parecendo um príncipe!

Ele não pôde deixar de sorrir ainda mais diante daquele comentário. Era tudo que ele menos queria ser, mas ali estava sua pequena toda encantada. Katlyn tinha completado 11 anos, mas ainda era bem infantil e sonhadora. Ele atribuia isso ao fato dela gostar muito de ler romances e como qualquer garota, se apaixonava pela ideia da realeza. Se ela ao menos soubesse...

William foi até a filha e se abaixou diante dela, acariciando o seu rosto infantil.

— Papai vai para um evento muito importante hoje. Lamento termos que perder a nossa noite de cinema e pipoca.

— É um evento no palácio?

— É sim. Fui convidado para jantar com a família real junto com um monte de homens chatos e pomposos. – Katlyn riu, já estava acostumada com a ironia e sinceridade do pai.

— Nunca te vi usando essa roupa. Você vai ser o mais bonito da festa!

— Obrigado, filha. Mas todos vão estar com essa mesma roupa. Esse é um uniforme de uma ordem antiga e por que sou o Visconde de Gotland sou obrigado a usá-la e a participar dessa reunião.

— Pois se eu fosse convidada ficaria muito feliz.

— É mesmo? Por quê?

— Por que eu estaria perto da princesa. Eu a adoro! Ela é tão bonita! Eu tenho um monte de fotos dela no meu caderno.

Katlyn correu do quarto provavelmente para buscar o caderno para mostrá-lo. William sorriu novamente nada podia ser mais irônico que isso. Renesme não só o conquistara, mas também a sua filha, mesmo que não intencionalmente. Tinha que confessar, estava ansioso para vê-la. Fazia três meses do último encontro deles e Joel lhe contara que ela estivera perguntando por ele. Era estupidez! Ele sabia. Se sentia como um garoto de treze anos apaixonado pela garota da escola. Mas por mais que tentasse, ele não tinha conseguido parar de pensar nela. Toda vez que se infiltrava mais no caso da morte da duquesa, inevitalvelmente pensava na filha dela. Tentava evitar. Era inútil acreditar que ela ao menos cogitasse algo com ele, um cara 15 anos mais velho do que ela, fora de seu ciclo social e ainda mais estando casada com um príncipe da mais alta realeza europeia, mas era inevitável, ela era sua paixão platônica.

Katlyn voltou correndo para o quarto com um caderno todo rosa, pulou na cama e o abriu diante dele. Ali estavam muitas fotos de Renesme em eventos oficiais. Sua filha era a pequena “fã girl” dela, como muitas em Belgonia. A realeza tinha esse efeito.

— Ela é tão linda, não é papai?

— É sim. A mulher mais bonita que já vi.

A menina arregalou os olhos e William arrependeu-se do que disse.

— Você a viu de perto? – O jornalista soltou o ar. Katlyn não estava com ciúmes e nem pensando outra coisa mais comprometedora. Como podia? Ela tinha apenas 11 anos!

— Sim, algumas vezes.

— Ela é como nessas fotos?

— É sim. Na verdade, ela é bonita também por dentro. Muito doce e gentil.

— Que inveja de você, papai! – Katlyn suspirou. – Queria tanto vê-la de perto! Ela se veste tão bem! Queria ver o que ela vai vestir hoje!

— Ela deverá estar com um belo vestido. Você provavelmente poderá ver pelas redes sociais depois.

— Você pode falar de mim para ela se você a ver? – Se a sua filha ao menos soubesse que Renesme pessoalmente o convidara... O bilhete com o cheiro dela ainda estava guardado em sua gaveta. Dizia expressamente: “Vista seu uniforme dos cavaleiros e venha até o jantar da ordem. Preciso conversar com você. Sua presença será bem-vinda!”.  – É claro!

— Será que um dia vou poder conhecê-la?

— Espero que sim. – William olhou para o relógio em seu pulso e viu que se não saisse agora iria chegar muito atrasado. Levava uns 40 minutos de Genove até Belgravia. – Querida, papai tem que ir agora. Vista seu pijama e durma no horário. Não dê trabalho a senhorita Elizabeth.

— Certo, papai. Amanhã você me conta tudo sobre a festa?

— Conto sim!

William se abaixou e beijou a testa da filha.

— Eu te amo, ok?

— Eu também, papai.

Assim ele deixou sua enorme residência de campo. Havia passado 15 dias no Japão com Katlyn, mas parecia que ir embora era duro demais, assim como estava sendo partir agora. Desde os 3 anos, Katlyn vivia longe dele e isso lhe parecia inaceitável. Helen fugiu com ela, após o nascimento prematuro do filho natimorto deles e decidira por si só que o casamento dos dois havia acabado. Passara o resto do tempo fugindo dele e ele tendo que descobrir onde ela estava. Ficaram nesse jogo de gato e rato por um ano, até ele decidir lutar pelos seus direitos de pai na justiça. Admitia que não haveria mais como voltar com sua esposa, mas de sua filha ele não abriria mão. Ganhou a causa, porém o juiz decretou a guarda a Helen. William deveria ter direito a estar com ela durante as férias e podia vê-la quando quisesse. Não era bem o que ele queria, mas era o que ele teria que ter.

Desde esse momento, estar separado da filha parecia muito tempo que perderia ao lado dela. Lamentava muito ter perdido tanto da vida de sua garota... Porém hoje era para algo igualmente grande. Estava ansioso para o que a princesa queria falar com ele. Estranhava ela querer esse encontro assim. Ela não costumava tratar sobre o caso diretamente com ele e Joel não lhe adiantara nada. Apenas olhara para ele com aquele olhar brincalhão e lhe dissera que a princesa queria vê-lo. Pensou até que fosse uma brincadeira, mas quando o convite viera junto com o bilhete não pôde duvidar. Agora ele estava ali todo ansioso e se setindo como um garoto idiota.

Renesme se olhava no espelho e tentava organizar a sua mente. Detestava eventos sociais! Ainda mais quando estes eram acompanhados de gente da nobreza. Estar ao lado das pessoas comuns era natural, embora ela se preocupasse com o que eles poderiam pensar dela, mas eles a tratavam como alguém realmente conhecido. Era fácil sorrir e se sentir acolhida por eles. Agora com a aristocracia era algo diferente. Eles não eram reais. Tudo neles exalava superficialidade e ela detestava falsidade. Mas tinha que aturar. Era seu dever.

— Você está muito bonita, meu bem. – Alec falou em suas costas.

— Obrigada.

A reunião da “Odem dos Cavaleiros” era um evento anual. Ela mesma odiava estar presente ainda mais pelo fato de que na maioria dos encontros, ela era a única mulher ali. Era algo totalmente excludente! Mas também era algo que também estava fora de seu controle. A ordem tinha mais de duzentos anos e sempre foram condecorados homens nobres e fiéis à coroa. Ela como membro do alto escalão da linha sucessória ao trono tinha cabido a sua entrada, sendo a primeira mulher a ocupar um cargo na ordem.

No evento dessa noite ao menos haveriam outras mulheres, as esposas estavam convidadas a acompanharem seus maridos. Não que ela achasse que seria melhor assim. Essa seria a primeira vez que estaria num encontro da ordem ao lado de Alec e como sempre teria que fingir ser a jovem apaixonada. Homens não reparavam muito em seu comportamento, mas as mulheres sim e estariam com os olhos atentos nela e em Alec.

— Esse colar de diamantes combinaria muito com o seu vestido.

— Acho que ficaria mesmo bonito.

— Posso colocá-lo em você?

— Claro!

Alec pegou o colar da caixa de jóias e o estendeu em sua frente, se aproximou dela pelas costas e colocou a peça em seu pescoço. O calor dele, o seu perfume e o ato tão sensual podia lhe causar tremores ardentes, mas ela simplesmente não sentia nada. Lamentava que tudo fosse assim tão complicado!

— Essa será a primeira vez que iremos juntos participar do jantar da ordem. – comentou.

— Sim, estou nervoso.

O príncipe abotou o colar e Renesme virou-se para ele.

— Apenas aja como sempre agimos. Somos um casal apaixonado e só. Não dê muita abertura a perguntas curiosas demais.

— Eu sei. Bem que seria legal fazer parte da ordem também. – Alec afirmou enquanto via a esposa colocar a condecoração em seu vestido.

— Papai lhe dará em breve o título de cavaleiro. Mas antes aproveite para conversar com os outros membros. Vá se acostumando. – A princesa disse enquanto batia de leve na bochecha do marido como se ele fosse um menino. Ás vezes a princesa pensava que ele tinha esse espírito. Algumas vezes ele agia como um quando estava diante de algo novo. Era engraçado.

— Vou indo. Venha em seguida. Não fica bem aos protocolos entramos juntos.

— Eu sei... Quatro passos atrás de você.

— Isso mesmo.

Renesme respirou fundo e seguiu. Viu Emily no corredor e sentiu-se grata. Aproximou-se dela e perguntou baixinho:

— Sabe dizer se o sr. William Lamb confirmou presença?

— Sim, alteza.

A princesa assentiu e seguiu até as escadas aliviada. Viu a multidão e sentiu o velho nervosismo lhe abater. Suas mãos suaram e ela segurou a aliança em seu dedo, mas ela parecia bem pesada para escorregar pela sua pele.

William chegou ao palácio e sentiu aquela velha sensação de desprazer que sentia sempre ao estar naquele ambiente. Podia até parecer um tanto repetitivo, mas era o que realmente sentia. Tudo estava ali como ele lembrava, as velhas pessoas que frequentavam a sua casa com muita assiduidade em busca de manter as aparências, os lustres bem limpos, a música suave, os mesmos uniformes e certeza o mesmo papo. Viver dentro dos modos aristocráticos é como andar em um círculo vicioso.

A família de William fazia parte desse universo desde sua existência. Não eram “Lamb” à toa, sempre foram os maiores criadores de ovelhas do país. Cresceram na pecuária oferecendo matéria – prima para as maiores indústrias do mundo e eram uma das famílias mais dotadas de Belgonia quando Guilherme, o conquistador, tornou a ex-colônia independente da Suécia com a ajuda deles. Essa era a história que o pai dele vivia a contar para todos. Amava exibir seu pedigree, embora na escala de nobreza ainda não passasse de um simples visconde.

William se deleciava com isso. Sempre fora longe de tudo que seus pais quiseram para ele. Uma decepção. Fazia birra nos jantares sociais, faltava eventos importantes para beber em pubs com os amigos, não jogava polo como mandava o figurino, andava a cavalo por diversão, apenas. Ainda lembrava do dia em que dissera aos pais que iria mudar-se para Belgravia para cursar jornalismo e saiu de casa aos 17 anos. Na grande cidade fez questão de se sustentar sozinho. Morava em uma república, trabalhava em meio período e viveu nessa época o melhor momento de sua vida. Nada como o doce sabor da liberdade.

O título de viconde permanecera hereditáriamente e também a posição dentro da Ordem, mesmo abdicando dos negócios da família e o seu status social. Mas, hoje ali ele percebia esse também era o seu universo. Não podia se dissociar das origens, mesmo que tentasse. Era uma percepção que vinha com a idade.

Ele adentrara o salão, meio acanhado, e percebeu os olhares. Todos estavam surpresos. Há anos não participara de eventos como aquele. Os olhos dele tentou buscar os da princesa na multidão e a avistou no topo da escada a descer. Ela era como um grande farol que o chamasse. Sua visão foi inteiramente dominada por ela. “Como estava linda!”.

Renesme não demorou para encontrar o olhar de William no seu. Sentiu o seu estômago tremer. Por que ele sempre causava esse desconforto nela? Resolveu segurar firme no corrimão para não cair e dasacelerou o passo. Tentou ser mais graciosa possível. Ele estava logo ali, não iria embora, não havia pressa. Os olhos verdes dominadores dele a puxavam para cada vez mais perto e ele seugurou-lhe a mão quando ela desceu. Sem reverências, William era mesmo averso a protocolos, a tratava como uma mulher qualquer.

— Você veio...

— Queria que não estivesse aqui?

— Pelo contrário. Sei que não gosta muito de estar aqui nesse ambiente, mas precisava muito vê-lo.

— É prazer em estar com você, sempre... – a frase foi interrompida pelos lábios dele tocando a pele de sua mão. O calor lhe subiu e ela sabia que corava e se indignou por isso.

— Pode me apresentar o cavaleiro, querida?

A voz de Alec em suas costas a fez voltar à realidade. Ela puxou a sua mão com uma rispidez desnecessária e olhou para o marido, era óbvio que ele estava ali. William deu um pequeno suspiro.

— Alec, meu bem, esse é William Lamb, visconde de Gotland. É também um dos jornalistas mais importantes de nosso país.

— É mesmo? Curioso. Um nobre e um servidor ao mesmo tempo.

— É uma especifidade minha, confesso. Acho que a honraria de ser considerado pela princesa como um dos mais importantes jornalistas do país me agrada mais.

Renesme sorriu e rezou para que Alec não se deixasse levar pelos galanteios de William. Ela podia apostar que o marido não sentiria ciúmes, não existia amor entre eles, mas queria evitar caso, ainda mais por que sabia que o jornalista era um conquistador nato. Muitas mulheres deviam receber tal tratamento dele.

— Recebeu o título por causa de seu sucesso no jornalismo? É um título bem alto para um civil.

— Não. Eu o herdei. Meu pai o recebeu ainda antes de eu nascer. Na verdade, ele foi “promovido”. Meus antepassados eram barões. Gotland é onde vinha as nossas rendas, graças as fazendas de ovelhas, gado e soja. Na verdade, elas ainda estão lá, eu é que não as administro.

— Hum... Interessante! Gostaria de poder conhecer as terras de sua família um dia. Renesme e eu fizemos uma turnê por algumas cidades, mas não podemos conhecer tudo.

— Creio que mamãe e meu irmão adoraram recebê-los. Será um prazer.

— Desculpe-me a pergunta, William. – Renesme interrompeu com curiosidade. – Sua mãe ainda vive. Não a vejo muito por aqui.

— Ela já está com uma certa idade e não frequenta mais as grandes rodas sociais como antes. Ela vive em sua fazenda mor em Gotland com o meu irmão do meio. Ele que administra os negócios da família.

— Interessante! – Alec falou animado. – Temos que ir lá, meu bem. Eu adoraria conhecer todas as particularidades de Belgonia.

William sorriu levemente e esperou que o príncipe encontrasse algo mais interessante para que ele pudesse ficar a sós com a sua bela esposa. Renesme também parecia estar ansiosa.

— Isso será ótimo. Quando quiser, eu mesmo comunicarei a minha mãe.

— Joel me contou que tem uma bela casa de campo em Genove. Queria poder conhecê-la também.

— Será sempre bem – vinda, princesa. Inclusive, antes que me esqueça, minha filha pediu para conhecê-la. Devo dizer que tem uma fã mirim. Aposto que ela me esperará acordada para que eu descreva minuciosamente o modo de como você está vestida. – Renesme captou logo o convite havia sido feito no singular e não no plural.

— Que linda! Espero que eu possa conhecê-la sim e que ela não se frustre ao me ver.

— Isso será impossível, princesa.

— Oh, meus queridos! Acho que podemos agora iniciar o evento já que já estão aqui. – Aro falou com um tom mais alto a se aproximar do trio. Renesme sabia que Alec até poderia ser distraido, mas o seu pai não. Era vivo até demais.

Ambos seguiram ao salão de baile e foram saudados pelo novo rei, como era de costume. William não pôde deixar de perceber que Edward Cullen parecia bem mais velho do que era. Lembrava-se dele bem em outros eventos sociais de sua tenra idade. Edward nunca fora muito social, mas se esforçava. A presença da duquesa o ajudava. Era como se ele precisasse se mostrar para ela o tempo inteiro. Agora lá estava ele no piloto automático e o pior, numa distância segura de sua filha e genro. Alguma coisa estava havendo por ali.

Na verdade tudo estava muito errado. Durante toda a noite o jornalista percebeu que Aro Volturi era o grande anfitrião. O rei substituto. Usava sua afabilidade e seu poder social para interagir com todos de forma que estes pareciam ser seduzidos pelo que saia de sua boca. Edward fazia a sua parte, mas quem brilhava era o sogro de sua filha. Era triste ver isso. Aro tinha conseguido o que queria.

Os olhos de William também não perdera a princesa de vista. Ela era a coisa mais importante ali. Mas também não parecia bem. Tentava demosntrar simpatia com todos, respeitava os protocolos sociais perfeitamente como um robô programado, mas de vez ou outra abaixava a cabeça levemente, cançaso, tédio, tristeza. Ela olhava para o jornalista de vez em quando, como se esperasse a melhor hora para se juntar a ele, mas Aro não dava descanso. A carregava junto ao filho de uma ponta a outra, entre um grupo de pessoas a outro. Os exibia como o casal de ouro. Mas não era isso que ele via. Torcia para não ser apenas a sua visão parcial, porém o que enxergava eram duas pessoas estranhas. Faltava cumplicidade e o ardor de um casal jovem recém- casado. Será que ninguém percebia isso?

Ainda assim, William sentia inveja de Alec. Por que ele estava tão perto dela, podia tocá-la, podia abraçá-la e fazer tudo que ele mais queria fazer e não podia. O jornalista tentou afastar esse pensamento. Tinha vindo ali por conta da investigação somente e não para algo além. Renesme tinha escolhido o príncipe pedante e ele tinha que se conformar com isso. Mas como se ela estava tão perto dele?

No minuto que ela pôde se livrar das garras de seu sogro dominante, ele se aproximou o mais rápido possível e ela pareceu aliviada por vê-lo ali. Seria isso ou mera ilusão?

— Posso ter a honra de ter uma dança com você? – Ele perguntou assim que ela chegou mais próximo.

Renesme pegou a mão de William sem pensar. Mesmo sabendo que isso não cairia bem aos olhos da sociedade hipócrita ali presente. Ela era uma mulher casada e uma princesa. Dançar com qualquer pessoa seria um desrespeito. Mas ela não se importava com o que pensavam agora. Tinha esperado estar próxima a William a noite inteira. Seria uma conversa difícil e ela já tinha repassado em sua mente diversas vezes como iria ser, mas o fato de ter que adiar a deixava mais nervosa. Só torcia para que Aro não deixasse sua compostura e fosse impedi-la. Sabia que ele estaria observando.

— Como disse no convite precisava muito vê-lo. Já faz um tempo em que não podemos conversar. Esperava encontrá-lo em meu casamento.

William deu um sorriso sarcástico. Sim, ele tinha recebido o convite e fizera questão de rasgá-lo. Sua impressão do casal na noite de hoje só fez confirmar o que ele já imaginava no momento.

— Eu não queria ter que participar daquele momento. Não queria corroborar com a alegria de Aro Volturi.

Renesme corou e olhou para o chão. Ela também não queria ter participado. William apertou a mão dela e a princesa não pôde deixar de olhar para as mãos dos dois unidas. Era uma sensação estranha e ainda foi mais quando o jornalista se aproximou dela e disse baixinho:

— Se me permite dizer, princesa... Você merece um homem de verdade.

Antes que ela pudesse responder, ele a rodopiou e isso a ajudou a distrair e disfarçar o seu embarasso.

— Mas creio que o assunto de hoje seja o caso de sua mãe.

— Sim. Joel e eu chegamos a uma conclusão importante. Há muitas coisas no caso que parecem ter poucas respostas. Me refiro a coisas que aocnteceram por aqui.

— Sempre achei isso. Porém, esperava que você ou seu pai pudessem esclarecer-nos.

— Infelizmente não. Muitas coisas estiveram fora do nosso alcance, foram dias muito turbulentos. Há tantas coisas que passam sem a nossa se quer percepção... Mas chegou a hora de descobrir. Além do que, Tom foi muito expressivo em dizer que eu tivesse muito cuidado com as coisas por aqui.

William franziu a testa e observou o ambiente. Renesme sentia a tensão pelas mãos dele que começaram a suar. Havia algo errado. Ao invés de respondê-la, mudou de assunto:

— O príncipe parece muito animado essa noite, não?

Renesme seguiu o olhar de William e viu Alec a conversar animadamente com uma jovem que ela conhecia levemente. Mas no momento não lembrava exatamente quem era. Sua preocupação era saber por que o jornalista não a respondeu.

— Sim, verdade.

— Lady Lovelace, uma mulher muito inteligente. É uma pena que continue nas asas dos costumes aristocráticos.

— Por quê?

— Ela é muito boa paisagista. Quase foi a Itália para estudar como bolsista de uma das melhores universidades de lá. Mas seu pai preferiu que ela ficasse e caçasse o melhor partido. São os costumes aristocráticos.

— Quem somos nós diante dos costumes, ham? Que escolha temos? Creio que ela e Alec devem então se dar bem. Meu marido é um exímio jardineiro e paisagismo deve agradá-lo também.

— Isso não te incomoda?

— Me incomoda mais o fato de você não ter respondido o meu comentário.

William se abaixou novamente diante dela e falou baixinho próximo ao rosto dela. Renesme sentiu um arrepio.

— A música está acabndo, alteza. Vá ao encontro de seu marido, converse um pouco com ele e a adorável Lady Lovelace e sentirá que sua garganta estará bastante seca. Depois, discretamente, me indique um lugar para que possamos resolver esse problema a sós e longe das vistas de Aro. Estou cansado dos olhares dele nas minhas costas e não quero ser fuzilado nessa bela noite.

Renesme entendeu o recado e riu do sarcásmo dele. Ao fim da música, agradeceu pela dança e saiu em direção ao marido. William continuaria a observá-la e Aro também. O príncipe de Volterra conhecia levemente William Lamb. Sabia de suas matérias polêmicas com relação a Bono Donnalson, era bom para os negócios. Mas o seu jeito entusiasmado diante a sua nora não lhe agradava. O que queria ele com Renesme? Precisava saber.

— William Lamb, certo?

— Sua alteza sereníssima. Sim, sou. William Lamb, Visconde de Gotland.

— Oh sim, claro! Desculpe-me pela falta de atenção. Ainda preciso conhecer muitas pessoas por aqui.

— Acredito que sim.

— Como estão as coisas no jornal? Bono Donnalson tem lhe dado ainda muita matéria para o The Globe.

— Bom, para quem não parecia me conhecer até que você sabe muita coisa a meu respeito.

— Suas matérias vão além de você. Não sabia qual seria a sua associação a evento dessa noite e sua grande afabilidade com sua alteza.

William sorriu e entendeu tudo. Alec que era o esposo de Renesme não estava tão preocupado com ela quanto o seu sogro.

— A sua Alteza e eu somos amigos de longa data.

— Alguns podem dizer que não é aconselhado que o homem tenha tamanha liberdade com uma mulher casada.

William sorriu mais uma vez sem acreditar no que estava ouvindo.

— Uma dança não é um desrespeito. Na verdade, senhor, acredito que há problemas o suficiente em Volterra para a sua preocupação. Agora se me permite, há alguns canapés que merecem a minha atenção.

Aro observou William se afastar para o buffet. É claro que tinha observado os olhares traiçoeiros que ele dava para Renesme e sua tamanha isolência em chamá-la para dançar. Não fazia parte do protocolo. Todos obervaram isso com curiosidade e surpresa. Aro queria ter puxado ela dali e a lembrado de seu compromisso com o seu filho. Mas manteve-se a aobservar e não gostou do que viu.

Porém, o que mais lhe preocupava era a intenção por trás disso. Não imaginava que Renesme quisesse uma simples aventura amorosa com o tal jornalista. Ele tinha uma associação com a mãe dela e ambos fizeram um grande estrago, principalmente para Bono Donnalson. Queria a princesa firmar algum acordo com ele? O que poderiam ambos fazerem? Ele não podia perder o controle dos dois. Tinha que manter o domínio da situação.

Se aproximou de um deputado do partido conservador que felizmente também era um nobre e tentou descobrir mais a respeito do homem em questão.

— William não vem muito para os eventos da ordem.

— E isso por quê? É tudo tão agradável!

Joseph Glausester riu com fervor. Aro sentiu o cheiro de bebida sair da boca dele. Maravilha! Ele já estava bêbado o suficiente para não perceber o seu tamanho interesse em William Lamb.

— Ele apenas herdou o título do pai. Não tem interesse nele.

— E o pai dele? O que fazia?

— Os Lamb são grandes pecuaristas. Ainda são uma das famílias mais ricas desse país. William não faz parte dos negócios, mas é um nome influente. Cosntruiu sua própria fama e fortuna. Uma associação a ele pode ser produtiva.

— É mesmo?

Aro continuou a observá-lo em quanto mil coisas passavam-se em sua mente.

Renesme esperou o tempo suficiente para que Aro se distraísse para que ela se esgueirasse pelos corredores do palácio e seguisse até o museu. Sabia que William a seguia e respirou fundo. Estar só com ele a deixava nervosa, porém não tanto com fato de Aro se preocupar tanto com William a ponto de vigiá-lo o tempo inteiro. Isso a preocupava e não queria ter que envolvê-lo naquele inferno. Mas o que ela poderia fazer? Precisava dele ali com ela.

Quando estavam longe o suficiente de todos, ela parou e ligou as luzes de uma sala do museu e esperou que William se aproximasse dela.

— Percebe o que está acontecendo em nossa volta, não é?

— Infelizmente sim e lamento que esteja sujeita a isso, Renesme.

— William, preciso saber o que há aqui dentro que provocou toda essa desgraça nas nossas vidas.  Preciso que isso chegue ao fim para que eu possa finalmente estar em paz.

William sentia a tensão esparecer sob Renesme. Ela estava expressa por todo o seu corpo que vez por outra tremia, se curvava como se carregasse um grande peso. Ela se equilibrou numa poltrona como se ela fosse o seu sustentáculo. Ele se aproximou dela e tocou os seus ombros. A princesa sentiu as mãos macias dele nela e se deixou deliciar pela sensação boa que elas lhe ocasionavam por alguns instantes, mas logo se virou quando se deu conta do que estava acontecendo e sentou-se.

— Preciso de sua ajuda para descobrir o que está acontecendo por aqui e por isso quero a sua ajuda.

— É claro! Estarei nesse caso até o fim. Não descansarei enquanto não descobrirmos o que aconteceu.

— Tenho uma proposta pra você...

— Sim.

— Veja... Há muitas coisas por aqui que eu não tenho acesso. Há uma rede funcionários muito grande para fazer tudo isso engrenar. Muitas vezes tudo chega muito mastigado para nós. Às vezes é difícil descobrir algo diante dessa teia...

— E precisa de algum de nós aqui dentro.

— Basicamente isso.

— Bom, pode ser um pouco perigoso... – William falou suspirou. – E um tanto incomum. Que desculpas teriamos? Além do mais...

— Eu sei que você detesta esse meio. Não lhe culpo e compreendo os seus motivos. É uma ideia maluca, mas acredito que possa vir a dar certo. Você já viveu por aqui em outras épocas. É bem sociável, conhece as regras e digamos que eu preciso de ajuda quanto a isso. Preciso me preparar melhor e de alguém que me ajude quanto a isso.

— Isso seria um disfarce para a minha estadia por aqui. Entendo.

— Enquanto isso iremos juntos desvendar alguns segredos. Preciso de uma segunda opinião e alguém esteja mais próximo dos funcionários para saber mais do que eu sei.

— Eu seria uma espécie de relações públicas?

— Mais ou menos isso, um consultor. Alguém que me oriente enquanto as minhas ações, protocolos sociais, minha relação com a imprensa e tudo isso.

— E Aro Volturi?

— Isso pode parecer perigoso. Aro simplesmente controla tudo por aqui. Eu ainda consigo alguns limites, mas ele é uma verdadeira força da natureza. Papai ainda continua sendo o soberano, mas precisamos de Aro, então...

— Isso me preocupava com relação ao seu casamento. Me dá raiva até. Aro me dá asco, mas a ideia de atormentá-lo me deixa animado.

— Então aceita?

— Sabe que temos que ser cautelosos, não é? Tom não estava mentindo quando disse que alguém estava contra a sua mãe. Ela mesma desconfiava disso. Me encontrei com ela aqui no castelo e ela me disse categoricamente que alguém a estava perseguindo. Temia ser um de seus funcionários.

— Então, encontrou-se com minha mãe? Vocês realmente tinham um acordo?

— Bom... Sim e não. Ela me pediu ajuda para tentarmos combater Bono Donnalson e eu fiz de bom grado. Não medimos as consequências, esse foi o problema e não quero que isso se repita. Bono ou quem quer que seja não está de brincadeira.

— Eu sei e temos que pôr um fim nisso. Preciso tomar o controle das coisas por aqui também e você será o primeiro passo.

William temia que isso podia ser arriscado demais, improvável e um desafio tão grande que era brincar demais com a própria sorte. Porém, concordava com a princesa sobre ter que correr riscos para ir mais afundo nesse caso. Estava cansado do marasmo que tudo se transformara, do beco sem saída que se formou. Estar perto de Renesme seria o seu grande incentivo. Pegou a mão dela e a olhou seguramente:

— Você não está sozinha nisso, princesa. Resolva como lhe convenier e eu aceitarei a sua proposta.

Renesme sorriu com confiança e colocou a sua outra mão contra a de William. COMEMTEM BASTANTE ;)


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