Dinastia 2: A Coroa de Espinhos escrita por Isabelle Soares


Capítulo 41
Capítulo 41




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Julho de 2045

Hoje era o dia D. Um dos piores que Renesme poderia aguentar. Sentia Alec pegar uma de suas pernas e segurá-la com tanta força que podia jurar que ficaria vermelho em seguida. Ela não entendia esse gesto agora. Geralmente as transas entre eles eram absolutamente tradicionais, sem nada fora dos padrões. Mas hoje ela sentia que ele estava com mais vontade do que antes. O problema era que ela não estava. Sentia-o penetrá-la como uma lâmina que entra cortando tudo e sabia que ele nem ao menos se dera conta da falta de umidade dela.

“Vai acabar logo! Apenas conte até dez”. Era isso que ela fazia sempre para não sentir-se pior. Ele se movia mais rápido dentro dela e isso significava que já estava perto. Realmente estava. Não deu nem um minuto quando começou a senti-lo se desmanchando nela.

Alec dava respirações irregulares e Renesme aguardaria apenas o tempo exato dele sair de cima dela para escapar logo dali. “Sua obrigação” acabara. Ela olhou para o relógio na cabeceira e pensou: “9 minutos!”. Menos do que os onze de sempre. Hoje ele estava mesmo com vontade. A princesa esperou que o esposo virasse para o seu lado da cama para levantar-se e dirigir-se ao banheiro. Abriu discretamente a nécessaire e pegou a pílula do “dia seguinte”. Pelas leis reais, era proibido que um membro do alto escalão da realeza, ao se casar, se prevenir de uma gravidez. Era necessário produzir um herdeiro ao trono Belgão.

— Pelo que me lembro você deve estar no seu período fértil. – “Lembro... Como se você e seu pai já não soubesse.”, Renesme pensou. – Será que vamos conseguir dessa vez?

— Estamos com apenas um mês de casados, Alec. Não vamos apressar a natureza.

— Papai está ansioso por um neto. Acho que ele vai me pôr louco.

Renesme sentiu a fúria lhe subir. Pegou a pílula e tomou de uma vez antes que Alec visse. Não deixara de tomar escondido o seu anticoncepcional, mas só para garantir iria eliminar qualquer chance de uma gravidez com mais um contraceptivo. Não ia dar esse gostinho a Aro, além de também sentir que era uma injustiça pôr uma criança no mundo, seu filho, diante de tais circunstâncias.

— Alec, temos muitas coisas para fazermos no momento. Não vamos nos apressar e deixemos que o tempo decida a melhor hora e não o seu pai.

— Eu sei. Não é só ele, na verdade... A ideia de ser pai está começando a me dar curiosidade. – “É preciso bem mais do que isso para tomar uma decisão tão importante como essa!”, a princesa respondeu-lhe em seu pensamento. – O médico disse que você era fértil.

Renesme revirou os olhos. Estava se cansando daquela cobrança. Já não bastava a humilhação que tivera que passar um pouco antes do casamento ao ir ao ginecolosgista com Aro Volturi na sua cola. Ela era fértil, muito, na verdade. Sabia que ela engravidaria facilmente, mas não daria a eles esse gostinho.

— Alec, por favor, vamos continuar essa conversa depois. Tenho um compromisso para daqui a pouco.

Ele não respondeu e ela não queria mesmo ouvir a resposta. Trancou a porta do banheiro para garantir que ele não viria atrás dela e entrou no chuveiro. O seu relacionamento com Alec no geral era bom. Ambos sabiam respeitar os seus limites e não precisava muito para que um ou outro entendesse quando precisavam se afastar.

A lua de mel de três dias na Escócia, lugar escolhido por Alec, foi mais como um retiro. Renesme sentia o clima frio e fechado do país britânico como um reflexo real de seu estado de espírito. Ao menos não teve que fingir nada. Com Alec podia se mostrar verdadeira pelo menos na parte em que ela não estava feliz e satisfeita como uma recém-casada deveria estar. Ela sabia bem que ele sentia o mesmo. Porém, eles tinham prometido tentar e realmente fizeram isso. Transaram a primeira noite ainda no palácio, mas nos outros dias nada aconteceu. Era como uma espécie de acordo, eles passariam os três dias que tinham longe de todos para descansarem, abaixarem os pesos e se conhecerem.

A princesa não podia deixar de afirmar que Alec não era todo desagradável. Ele tinha boas qualidades. Ela pôde descobrir algumas coisas sobre o que ele gostava e descobrir que a vida dele tinha sido tão taciturna que até poderia explicar o seu jeito tão reservado e dependente. Isso se devia em parte aos anos todos que passou num colégio interno em Roma. Ele e sua irmã, Jane, tinham passado dos seis aos desessete presos num lugar onde o único objetivo era estudar, ter bons modos e aprender a ser alguém da realeza.

— Tenho poucas memórias de morar no castelo com os meus pais. Na verdade, as melhores memórias que tenho da minha infância eram das minhas férias. Mamãe nos recebia com muitos brinquedos, os nossos preferidos, e sempre tinha todas as comidas que eu e Jane gostávamos. Era melhor do que qualquer parque de diversão.

— E por que não pedia aos seus pais para estudar em Volterra?

— Não fazia parte do trato. Eu sabia que isso era o que deveriamos fazer.

Alec era sensível, diferente do pouco que ela pôde conhecer dos irmãos dele. Caius era pomposo e tinha um ego maior do que ele mesmo e Jane era terrivelmente esnobe. Já Alec se conformara com o mundo que lhe fora entregue, nunca contestou nada e sempre deixou se levar pelos desejos impostos por Aro. Mas tinha uma curiosidade pelo o que tinha além do universo que ele foi obrigado a viver. Ele conhecia pouco da vida e de seus prazeres e Renesme sentia que de certa forma permitia a ele viver além do imposto e tinha pena dele por isso.

Quando voltaram parecia que o mundo tinha caido diante deles. Haviam os eventos do “National Day” que ambos foram obrigados a participar. Renesme sentia tudo ser muito exaustivo por que tinha que parecer o tempo inteiro que estava bem. Apenas Alec se sentia maravilhado por tudo. Ainda mais quando soube que iriam fazer uma turnê por algumas cidades do país. Renesme sabia que era natural haver uma viagem assim. Era uma forma de apresentar aos súditos o novo membro da família real. Porém, ela não poderia imaginar que seria tão cedo. Mais um plano de Aro para que todos aceitassem Alec o mais rápido possível. Para a sua sorte, a câmera já se apaixonara pela nova face da família real.

Passaram ambos por Montsaurai, Genove, Clarence, Milton, Seraf, Northfolk e New Visby e foram recebidos pelo mesmo calor que sempre recebiam. Por mais nervosa que Renesme pudesse se sentir por dentro, o sorriso efusivo e o comportamento sem qualquer afetação eram a delícia de um fotógrafo. A capacidade de assumir essa personagem sorridente em público vinha do profundo senso de dever e obrigação para o bem do público.

Renesme estava exausta de passar o dia inteiro diante de tanta gente, sob tensão intensa. Tinha sua timidez e insegurança misturada a toda mentirada de “está tudo bem” que havia de passar. Apenas Alec se divertia. Queria conhecer cada aspecto dos lugares que iam. Fazia de tudo para pegar qualquer informação que conseguisse. A princesa conheceu o lado dele curioso. Tanto que ele não parecia notar toda a aflição da esposa quando os eventos do dia acabavam. Mas nada ela podia fazer para mudar essa situação complicada. Aro vigiava o tempo inteiro e todos os esperavam para uma longa jornada no dia seguinte. Ela tinha que apenas respirar fundo e seguir com o plano. Ao menos Alec e ela se davam bem em público.

A princesa pôde sentir o controle implacável do sogro no minuto que ela e o marido colocaram os pés para dentro de Belgonia. Ele tinha tudo planejado e queria que todos absolutamente seguissem as suas regras. Renesme se impressionou com o fato dele se intrometer até em suas vidas íntimas. Ambos haviam voltado de viagem e já tinham sido arrastados para uma reunião privada. Aro aprensentou, além de um calendário de compromissos, outro que deixou a princesa perpléxica. Era uma agenda com seus dias férteis e dias em que Alec deveria “visitá-la”. Duas vezes por semana em dias normais e quatro nas semanas “especiais”.

— Isso é um absurdo! Você não pode se intrometer nas nossas vidas desse jeito!

— Devo lembrar que como um membro senior de tamanha importância para a realeza belgã, uma de suas principais funções é gerar herdeiros ao reino.

— Mas não com essa pressão! Nenhum outro membro em minha posição teve que fazer isso às pressas.

— As circunstâncias são diferentes... Estamos num momento que manter a boa aparência, a ordem e a tradição é importante para a família real. Além do fato que os nossos súditos adorariam ficar felizes com a chegada de um bebê real e também devo lembrá-la que você já irá completar em breve 33 anos... Tik Tok.

As mãos de Renesme tremeram em punho. Ela olhou para Alec e viu que ele olhava para o lado, ela era um voto vencido. E assim tinha sido desde então. Uma prisão dentro de uma gaiola dourada. Isso ainda a fazia tremer quando se dava conta de que não havia escapatória, o dia seguinte e todos os outros seriam exatamente os mesmos. Ela segurou firme no registro do chuveiro e tentou respirar fundo, antes que a sua ansiedade atacasse novamente. “Você tem que assumir o controle!”. Era isso. Saiu do banheiro e verificou se Joel podia ainda encontrá-la. Precisava se concentrar em outra coisa que não fosse sua vida falida. Um dos motivos que havia se casado era o fato de que Aro tinha prometido ajudá-la quanto a Bono Donnalson e ela deveria enfim cobrá-lo.

A única coisa que a mantinha viva era sua mãe morta. Muito irônico, mas era a verdade. Ela tinha arregassado às mangas para organizar os trabalhos sociais que perteceram a Bella e assumiu todos. Tinha planos maiores ainda com relações a eles e iria pôr em prática. Mas o que a motivava ainda mais era descobrir o que aconteceu com relação ao asssassinato dela. Edward e a filha não se falavam. Renesme fazia questão disso, mas a única coisa que ambos concordavam era o fato de que a verdade enfim tinha que vir a tona e estavam dando o seu sangue para que isso acontecesse.

Ela entrou em seu carro sorrateiramente antes que descobrissem que ela tinha saido e sem a segurança de James. Sabia que corria riscos, ainda mais agora que toda a mídia especulava sobre a abertura do caso sobre a morte de Bella e que poderia ter sido assassinato. Edward fizera questão de que o caso fosse reaberto e que o Serviço Secreto investigasse nos mínimos detalhes. Algumas informações cruciais acabaram “vazando” inexplicavelmente, mas ainda assim Bono Donnalson havia conseguido se eleger nas eleições indiretas e agora tentava reverter à situação para ganhar o voto popular nas eleições diretas contra Sean Renard que aconteceriam dali a três meses. Renesme sentia que as investigações tinham empacado de novo e não podia deixar isso acontecer. Bono não pouparia esforços para eliminar todos que sujassem a imagem dele, isso ela podia garantir.

Parou em frent ao flat alugado por ela para se encontrar com Joel sem dar na mira de ninguém. Colocou o disfarce e subiu discretamente para o andar de cima. Tinha observado o carro do policial já estava estacionado, ele já a esperava. Ela subiu e bateu na porta, foi um alívio encontrá-lo ali.

— Como vai, Joel?

— Muito bem, alteza. – O policial fez uma breve reverência e Renesme revirou os olhos.

— Pensei que depois de todo esse tempo você se acostumaria a me chamar pelo meu nome. – A princesa disse enquanto entrava no recinto.

— É o costume.

Ela olhou para os lados e viu uma gama de papéis na mesa de centro da sala de estar. Retirou a peruca e os óculos e viu Joel se aproximar dela. Faltava alguém.

— Onde está William? Pensei que ele viria com você.

— William aproveitou as férias para visitar a filha dele no Japão. Mas deve estar chegando hoje ou amanhã.

Renesme não pôde deixar de sentir uma pontada de desapontamento. Esperava vê-lo ali, tinha gostado de sua companhia ou de ao menos saber que ele ainda fazia parte do time. Não havia se encontrado com ele já fazia um tempo, mas sempre ouvia relatos de sua maestria e empenho nas investigações. Queria encontrá-lo pessoalmente.

— Eu não sabia que ele tinha uma filha...

— Ele tem, uma. É fruto do casamento dele com aquela modelo... Como se chama mesmo? Helen alguma coisa. Você deve conhecer. Ela é bem famosa.

— Helen Komai?

— Sim, acho. Ela é descendente de japoneses e por isso ganhou o visto para morar lá.

— William deve sentir muita falta das duas, não é? Passar tanto tempo separado da esposa e da filha. Quase do outro lado do mundo...

— Ah não! Quer dizer... Ele sente muito a falta de Katlyn. William a venera! Mas de Helen não. Eles estão separados há anos.

Renesme soltou o ar com mais calma. Por que essa informação lhe causava alívio? Balançou a cabeça e tentou se concentrar no que realmente importava, o caso da morte de sua mãe.

— Bom... Quero que você me atualize de todo o caso e o que foi descoberto até aqui. Ando meio por fora e me sinto até culpada por isso.

— É explicado, princesa. Você acabou de se casar e bem sei como é importante se afastar do mundo.

— É quase como isso...

— Seu pai sempre se mantém informado de tudo. Ele não tem poupado esforços e sinceramente se não fosse pela pressão dele não sei se teríamos conseguido descobrir tanto!

— Ele está tentando recuperar o tempo perdido e acho que o momento permite isso. Quando mamãe faleceu foi um golpe duro para todos nós e em especial para o meu pai. Agora que as feridas estão se curando, a gente pode tentar descobrir o que aconteceu.

Renesme tremeu ao lembrar dos meses seguintes após a notícia que abalara a sua vida. Não pôde também deixar de lembrar da presença de Tom ali. Agora ver a foto dele colada ao arquivo policial e associar ao homem carinhoso que cuidou tanto dela! Era quase como fossem duas pessoas diferentes. Uma dupla perda, definitivamente.

— O que deu sobre o caso de Tom Frost?

— Bom, eu coletei o depoimento dele após o seu pedido e gravei tudo. Deseja ouvir?

A princesa sentiu o estômago afundar só com a possibilidade de ouvir a voz do seu antigo segurança novamente. Passara muitos dias refletindo a cerca de tudo que tinha vivênciado e descobriu que mesmo diante da mágoa que sentia por ele tê-la enganado também sentia que ainda tinha um pouco daquele amor que sentira ainda vivo. Essa contestação doia tanto quanto a sua raiva.

— Não precisa. Apenas me relate tudo.

— Ok, bom... Primeiramente, ele me afirmou a mesma coisa que disse a policia antes de sua morte. Ele fez parte dos “Águias da Nação” por sentimento de revolta e influenciado pelos seus colegas de exército.

Renesme assentiu. Era ainda impressionante o fato dela saber tão pouco sobre o homem que amara. Sabia que ele pertencera ao exército e que seu pai era fruto das desigualdades sociais tão existentes em Clarence, mas não sabia que ele teria sido capaz de se envolver em tanta brutalidade.

— Graças a esse depoimento dele podemos finalmente investigar a sede tanto dos “Águias” como de outros movimentos conservadores e o que encontramos lá não foi nada agradável. Muitos crimes racistas, de homofobia, como aquele do cabeleleiro de sua mãe, lembra?

— Claro! Aquilo foi terrível! Foi um dos impulsos que mamãe precisava para se envolver nas causas da comunidade LGBTQIA+.

— Aquilo foi muito nobre da parte dela. Isso era uma das coisas que me fazia gostar de sua mãe. Ela se entregava de verdade pelas minorias. É uma pena que são poucas pessoas que realmente se interessam em ajudar de verdade.

— Eu sei e pode acreditar, estou tentando reerguer tudo isso. Não acho justo tanta nobreza ser assim desperdiçada diante de tantas pessoas que precisam.

— É importante que faça mesmo isso, alteza. Ainda mais em tempos tão difíceis como esse.

Era essa a sua maior motivação. Sabia que tinha que se dedicar a alguma coisa, era o desejo de Bella e Renesme tinha total certeza que era isso que ela estaria fazendo se estivesse viva e não mediria esforços para fazer tudo que sua mãe teria feito pelo bem de todos.

— O que mais descobriram?

— Bom, todos os arquivos que encontramos dos movimentos agora estão servindo como prova e alguns membros estão sendo interrogados. Isso deu fim a muitos casos, incluindo o de Elton. Mas ainda não sabemos o mandante por trás desses crimes cometidos. Eles foram espertos o suficiente para não deixar qualquer rastro sobre quem financiava tudo e passava as ordens.

— Ou seja, nada de envolvimento de Bono Donnalson.

— Não, infelizmente.

— Isso é frutrante! Mas parece tão óbvia a ligação dele!

— Entendo o seu desapontamento. William pensa o mesmo, porém a polícia não pode acusar sem provas. No meio das investigações dos livros de contabilidade do “Águias”, por exemplo, podemos encontrar alguns indícios de doações generosas demais que poderiam indicar claramente uma “lavagem de dinheiro”. Mas nem Tom nem nenhum outro membro falou em Bono Donnalson, então até que se prove algo, ele continua inocente.

— O pior é que ele tem foro privilegiado e não pode nem ser tocado por isso.

— Isso é o pior. Os membros desse movimento protegem muito ele e não vão entregá-lo. Por esse motivo que as investigações andam meio empacadas.

— Temos que pressionar o parlamento. Abrir um julgamento de contas.

— Mas para isso deve haver um motivo. Não há investigações de graça.

— Isso eu posso conseguir.

Aro tinha que agir e rápido. A princesa já sabia que talvez uma intervenção dentro do parlamento deveria ser feita e agora era hora de agir. O fato dele ter entrado em ação jogando na mídia sobre o caso do possível assassinato de Bella já tinha sido um grande salto para fazer a cabeça de Donnalson fritar e lançar a pulga atrás da orelha das pessoas. Mas agora tinha que ser algo realmente pertubador. O que foi coletado da investigação dos “Águias” deveria vir a público para plantar a ligação entre esses movimentos a Donnalson. A mídia deveria deixar bem claro isso para lançar a fúria na população e forçar o parlamento a investigar. Claro que uma polêmica dessas iria ser um estrago na campanha dele para primeiro Ministro, era bem isso que ela queria, mas não seria o suficiente para convencer o parlamento. Porém, Aro poderia bem dar o seu jeito como já fizera antes. Era hora da princesa cobrar a sua parte da barganha.

— Acredito que possa mesmo, alteza. Só com uma CPI do parlamento conseguiremos desbloquear muitas coisas envolvendo Donnalson, possivelmente até o caso de sua mãe.

— Sim, não é possível que aquele esquema das mensagens, as ameaças que ele próprio fez ao palácio, a espionagem de Tom não esteja tudo interligado.

— O meu receio é que mesmo que haja uma investigação, ele ainda venha a se safar. Pessoas importantes têm privilégios, está é a lei. Com bons advogados podem conseguir muitas coisas.

— Não contra a família real.

— Bom, espero que sim.

Renesme olhou para os arquivos com a foto de Tom e sua curiosidade inflou para saber mais sobre o que ele fez e disse, porém, mesmo depois de um tempo. Olhar para ele e lembrá-lo ainda era dolorido.

— Tom disse algo sobre o caso da minha mãe?

Joel se remexeu na poltrona. Renesme sabia que algo mais havia.

— Ele me falou algo que me deixou encucado.

— O que, por exemplo?

— Ele me falou que o esquema das mensagens não partira dos “Águias”. Ele como um espião sabia disso. Alguém queria assustá-la para que ela parasse de se meter com Elton e toda a comunidade. Algo parecido aconteceu com William e Tom me disse que no caso dele realmente foi o movimento que foi o responsável.

— Com William? Não sabia que ele havia sofrido ameaças também.

— Ele recebeu. Inclusive, foi no dia que houve o atentado contra o seu avô. Mandaram uma mesagem para ele ameaçando a filha dele e segundos depois elas foram apagadas. William vinha se envolvendo com muitas matérias polêmicas sobre Bono Donnalson e eles quiseram calá-lo.

— Meu Deus! Eu não sabia. Deve ter sido horrível!

— E foi. William quase elouqueceu. Não conseguiram atingir Katlyn, mas feriram a ex dele e a sobrinha dela, provavelmente pensando que a menina era a filha dele. Foi por isso que ele passou um tempo fora do país.

Mais uma vez Renesme não pôde deixar de sentir uma aproximação ainda maior com William. Talvez fosse por isso que Bella sentia que podia confiar nele, ambos tinham os mesmos anseios e corriam os mesmos riscos. Ela também tinha esse mesmo sentimento. De certa forma, a princesa sabia que poderia contar com ele e que provavelmente ele a entenderia.

— É por isso que eu não acredito no fato de que os “Águias” estarem fazendo tudo aquilo não só para assustá-la. Tom poderia estar enganado.

— Não duvido que a raiva de Donnalson pode ter levado a tomar maiores atitudes, porém uma coisa é matar um ativista e outra é eliminar um membro senior da realeza.

Renesme estremeceu diante disso. Imaginou como a mãe poderia ter se arriscado somente para pôr Donnalson fora do poder. Ela sentia essa mesma fúria e anseio por mudanças. Parecia que desde que Bono começou a abrir a boca tudo mudou ao seu redor, liberou espaço para o ódio e a violência de uma maneira incontrolável. Um retrocesso, na opinião dela. Podia entender o que Bella queria. Mas a princesa iria mais longe, Donnalson preso era não só uma medida preventiva, mas um pagamento justo para todos os males que ele cometera.

— As escutas que minha mãe afirmara ter no palácio também era Tom?

— É ai que entra a parte cabreira... Tom me garantiu que não havia somente ele interessado nos passos da duquesa. Ele me disse que todas as informações que tinha era através de você e com funcionários do próprio palácio. Com a tecnologia usada no caso de Elton, por exemplo, não acho que Tom precisaria de escutas, além do que, ele me disse que havia ouvido planos mais ousados contra a sua mãe. Mas ele não me contou mais do que isso.

— Ele me falou o mesmo, mas por que ele esconderia a identidade dessa pessoa?

— Bom, não sei... Mas todas as posses dele estão com a polícia e ele não deixou nada registrado sobre isso. Porém, eu consegui isso aqui.

Joel revirou os arquivos e pegou um pedaço de papel. Renesme reconheceu de cara a letra de Tom nele, mas não fazia ideia do que poderia ser.

— Esse papel estava na agenda de compromissos dele e como eu sei que as pessoas te conhecem como “Ness”, então eu achei que isso fosse para você e não teria nada se eu surrupiasse isso.

Renesme pegou o papel e ficou pensativa. Tinha o seu apelido de infância e uma série de números que olhando bem fazia muito sentido. 010244 era a data que eles haviam se conhecido e isso a dizia muito. Mas o que poderia ser?

“- Você não guarda as suas informações de maneira segura e isso me surpreende.” — Tom disse para ela certa vez.

“- E o que você sugere?”

“- Uma nuvem. Você pode criar um login com informações diferentes da usual e colocar tudo de mais importante lá e ninguém jamais desconfiará.”

A princesa não sabia bem por que havia tido essa lembrança, mas parecia uma senha e login para alguma conta. Ele não escreveria algo assim de maneira aleatória, ainda mais correndo o risco que alguém descobrisse, definitivamente era algo para ela.

— Acho que pode ser uma maneira de entrada para alguma conta.

— Tem ideia de que conta seja?

— Uma nuvem. Tom guardava tudo em nuvens por que assim ele acreditava que seria mais seguro.

— Quer experimentar ou quer fazer isso em privado? Eu sei que vocês dois tiveram uma relação e talvez quera fazer isso sozinha.

— Quero que esteja aqui. Qualquer coisa que ele tenha guardado lá serve para a investigação, então...

— Ok.

Joel pegou o notebook e colocou nas pernas da princesa e ela sem hesitar abriu o navegador e digitou o nome da nuvem que lembrava ser a mais usada por Tom e agradeceu a sim mesma por ter prestado tanta atenção aos detalhes. Logo quando o site abriu, ela viu que precisava não de um email e sim de uma palavra chave. Ela digitou “Ness” e a data do primeiro encontro deles no espaço da senha e logo o mistério foi revelado.

Na nuvem não havia muita coisa, apenas uma pasta com o apelido da princesa novamente e depois de abri-la ali estava um vídeo. Renesme estremeceu ao ver a pequena foto de Tom na capa. Ela o veria novamente e não se sentia muito bem quanto isso.

— Podemos clicar?

— Sim... – Renesme respondeu insegura.

Joel hesitou um pouco antes de apertar de uma vez. A princesa podia sentir o seu coração acelerar e sua respiração ficar irregular apenas com a espectativa de vez Tom outra vez, mesmo que fosse apenas por uma tela de um computador. O vídeo demorou um pouco para carregar, mas então ali estava. Tom surgiu na tela e Renesme reconheceu o quarto dele no palácio no plano de fundo.

“- Ness... Eu não sei como eu vou contar isso. Espero que nunca tenha a oportunidade de ver esse vídeo. Mas se assim o fizer é por que eu já morri e eu vou ter que ser rápido. Então... Eu queria te dizer que tenha cuidado! Há várias pessoas dentro do palácio que estão querendo o mal de vocês. Eles conseguiram pegar a sua mãe. Acredite eles bolaram um plano seguro e eficiente. Mexeram no carro dela na garagem... Eles não queriam sua mãe viva por que ela era um desafio para os planos dele. Acredite, ela confiou nas pessoas erradas, todos vocês, na verdade. Ele tem olhos em todos os lugares.”

O som da porta surgiu no fundo. Tom olhou assustado para o lugar e gritou:

“- Já vou!”

Voltou a olhar para a câmera e falou mais baixo:

“- Eles desconfiam que eu já sei da verdade e acho que estou ameaçado duplamente. Eu sei que isso parece um tanto confuso. Tenho muita coisa para te contar, mas quero fazer isso pessoalmente. Espero que eu tenha tempo.”

A porta voltou a bater e Tom ficou apreensivo.

“- Eu te amo! Acredite em mim!”

E a tela voltou a ficar preta. Renesme sentia as lágrimas descerem no seu rosto. Seu coração estava partido o suficiente para pensar em qualquer outra coisa se não fosse à imagem e a voz de Tom ali tão perto. Joel tocou o ombro da princesa e acariciou. Sabia que aquilo era muito difícil para ela.

— Desculpe, alteza. Eu sei o quanto isso é...

— Não é difícil! É doloroso, mas necessário. – A princesa limpou as lágrimas e tentou se recompor. – Mas uma vez ele não nos deixa pistas.

— Eu já imaginava que poderia haver algo estranho ali dentro do palácio. Alguém queria usar o mesmo artíficio usado com Elton para assustá-la.

— Precisamos investigar mais afundo lá dentro do palácio.

— Tenho que dizer, alteza, que tem que ser algo mais sigiloso possível. Se o inimigo estiver lá dentro, você e toda a sua família correm muitos riscos se desconfiarem que vocês sabem da verdade.

— Sim, por isso quero fazer isso sem alertar o meu pai. Não sei o que ele faria diante de uma informação como essa. O problema é que nem sei por onde começar.

— Eu poderia ajudá-la, mas todos sabem que eu faço parte do caso.

— E quanto a William? Nunca o vi dentro do palácio para algo relacionado à investigação.

— William quer ficar mais a sombra. Sabe como é... Ele é um jornalista e isso pode não pegar bem.

— Pois, eu acho que iria ser ótimo tê-lo me ajudando.

— Mas como? William chamaria muita atenção.

— Eu já sei como e será perfeito! – Renesme olhou para o relógio e viu que havia ficado tempo demais ali e se levantou. – Amanhã teremos um jantar formal para os membros da Ordem de São Jorge. Avise a William que tire o seu smoking do armário.

Joel apenas riu enquanto observava a princesa deixar o flat. COMENTEM BASTANTE! ;)


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