Dinastia 2: A Coroa de Espinhos escrita por Isabelle Soares


Capítulo 40
Capítulo 40




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24 de junho de 2045

Renesme olhava para a grande multidão que já cercava o palácio de Belgravia e podia sentir que tudo estava absolutamente dentro de quaisquer padrões para um casamento real. As pessoas gritavam eufóricas e imaginavam que dentro do coração dos noivos da vez havia muito amor, elas queriam romance, um conto de fadas da vida real diante de seus olhares. Tudo estava no lugar. As pessoas estavam a sua espera na Abadia, o seu vestido estava diante de si, seu noivo era um dos mais prestigiados, mas faltava uma coisa... Ela não estava completa.

Tinha aguentado bem o mês que antecedera o casamento. Esteve em todos os compromissos possíveis ao lado de Alec. Sorriu para todos e tentou ao máximo tentar entrar nessa narrativa do romance à moda antiga. Ela olhava pro seu noivo e via que ele também se esforçava. O príncipe não era uma má pessoa, Renesme sabia bem disso. Era bom poder comentar com ele sobre tudo que acontecia ao seu redor. Porém, ele não era quem ela queria.

A princesa nem poderia acreditar que tivera a coragem de entrar numa personagem para fazerem que todos pensassem que ela e Alec estavam terrivelmente apaixonados. Até aceitou passar à tarde com o príncipe num iate alugado e criar situações que seriam absolutamente normais para um casal prestes a se casar, beijos ao pôr do sol, mãos dadas e abraços um tanto sensuais, sabendo que tudo aquilo estava sendo registrado por paparazzis, que Aro garantiu que eles estivessem lá. A princesa se sentia a maior “cara de pau” existente. No final do dia, ambos iam para os seus aposentos e não trocavam uma palavra. Mas afinal, o que não era encenado nessa vida plástica que viviam? Não eram só os membros da realeza que queriam mostrar uma vida de encantamento. Todos faziam isso no fim das contas.

Aro tinha planejado para que tudo fosse absolutamente perfeito. Tinha ele próprio custeado boa parte dos gastos do casamento, deixando para a família real apenas o necessário. Mas ainda assim muitos falatórios surgiram a respeito. Era um casamento caro diante da péssima situação do país. A cerimônia estava sendo muito italiana, cadê o nacionalismo Belgão? Claro que boa parte desses argumentos vinha da boca de Bono Donnalson. Renesme não podia negar que eles tinham um pouco de fundamento.

O princípe regente de Volterra, com a desculpa de que ele próprio arcava com o casamento, fez questão de escolher tudo, dos músicos que cantariam e tocariam na cerimônia ao sabor do bolo que seria servido na festa. Nem Alec e nem Renesme tiveram qualquer preocupação com nada, apenas em parecer que estavam terrivelmente apaixonados e a criar situações que isso parecesse verdadeiro.

O casamento de Marlowe com Renard, que a princesa e boa parte dos membros seniors da monarquia belgã só viram de longe, acabou por gerar ainda mais comparações desnecessárias com o casamento que deveria ser o mais comentado de todos e o mais importante. Se Aro escolhia flores típicas de Volterra ou de regiões italianas próximas, Marlowe mostrava em seu Instagram que tudo de seu casamento seria encomendado nacionalmente. Era uma guerra fria que Renesme apenas se divertia vendo. E quando Edward proibiu abertamente que praticamente todos da família comparecessem a cerimônia de casamento de sua própria sobrinha por medo de que afirmassem que a monarquia de alguma forma apoiava Renard e sua candidatura ao cargo de primeiro ministro, os comentários ficaram ainda piores. Marlowe e Ranard eram os castigados injustamente agora, para a completa raiva de Bono Donnalson e Aro.

Renesme não ficara satisfeita por não poder se fazer presente ao casamento da prima como estiveram no de Melany e George no ano anterior. Os seus primos, filhos do seu tio Emmett, eram os mais próximos dela. O fato de ambos terem morado juntos por toda a infância deles tinha contribuído para esse relacionamento forte. A princesa enviara um presente à prima com as suas mais sinceras desculpas por não se fazer presente, mas sabia que não era o suficiente. Não tinha estado lá no momento mais importante da vida dela.

— Hora de pôr o vestido! – A princesa virou-se e viu sua tia Alice entrando na sala juntamente com a sua avó e Rosalie. Ambas não pareciam tão entusiasmadas como deveriam em uma ocasião como aquela. – Modestia a parte, esse foi um dos vestidos mais lindos que já criei.

E assim era mesmo. O vestido de noiva foi à única coisa em que Renesme pôde escolher com relação ao seu próprio casamento. Ela fez questão disso. Pediu a sua tia que desenhasse algo que fosse clássico, romântico e belo. Queria manter a tradição e por isso priorizou que ele fosse todo cercado com a renda de Milton. O modelo misturava traços dos vestidos do século XIV, com babados dobrados na base e manga longa. A única coisa moderna era o decote tomara que caia em formato de coração que era sobreposto pela renda branca. O resultado tinha ficado magnífico! O vestido digno de sua posição.

— Você sempre capricha! – Renesme falou baixinho enquanto observava a tia ajudá-la a vestir-se.

— O único problema é que você perdeu peso novamente.

Renesme apenas deu sorriso triste enquanto tentava se desculpar. Sua calma postiça era apenas aparente. As consequências vinham na falta de apetite e violentos golpes de vômitos quando a situação se agravava.

— Vou ter que fazer mais um ajuste aqui dentro. – Alice pegou sua caixa de costura e deu um longo suspiro. Esme observava tudo silenciosamente e Rosalie ajudava Alice em silêncio.

A questão do seu peso tinha sido um grande tormento para a sua tia na hora de terminar o vestido. A cada semana a princesa perdia cada vez mais peso. Renesme tinha conseguido disfarçar a sua depressão, pensando em outras coisas no início, mas quanto mais o dia 24 se aproximava, mais ela se dava conta o quão miserável estava a sua vida. Só de imaginar os seus dias depois dali, já podia sentir as lágrimas tentarem escapar de seus olhos.

— Acho que é o nervosismo com o casamento. – Renesme falou ainda mais baixo.

Alice sabia que não era nada disso. Tinha total certeza que a sua sobrinha não era uma noiva convencional. Rosalie se aproximou da afilhada e pôs as duas mãos no rosto dela.

— Tudo vai dar certo, meu bem. Vamos estar todos aqui por você.

— Eu sei, tia Rosalie.

Renesme não resistiu e abraçou a sua madrinha com tanta força que parecia que ela iria desaparecer como mágica. Ela é Rosalie sempre foram muito próximas. Lembrava de todas vezes que saiam juntas para brincar no jardim ou das tranças que ela fazia em seus longos cabelos de menina. Mesmo agora, depois de anos, as duas continuavam próximas, principalmente depois que Bella se fora. Mesmo com todos os impedimentos que Edward fizera a sua filha, ela ainda estivera ali para apoiá-la. Sendo como a sua segunda mãe.

— Você está tão linda! Não existe noiva mais bela do que você. Queria muito que Bella tivesse aqui para vê-la. Ela iria estar maravilhada também.

— Tenho certeza que não... – Alice dissera baixinho.

— Você, minha querida, é forte. – Rosalie afirmou. – É uma mulher inteligente, grande! Não vai se deixar levar pelo que querem de você. No final, todos se curvarão a princesa e a futura rainha que você será. Tem que acreditar nisso.

“Estou tentando!”, Renesme pensou. Mas como fazer isso em meio ao caos e diante de tantas inseguranças? Sentia uma força partir de dentro dela, mas não era o suficiente no momento.

— Sei que sua mãe adoraria estar aqui nesse momento e como ela, eu quero que saiba que eu acredito em você e estarei sempre ao seu lado para o que precisar. Mas agora te digo, use a força que está dentro de você. Não desista!

Rosalie beijou a testa de Renesme. Precisava acreditar que poderia mudar o curso da história. Precisava de Aro agora e todos precisavam que esse casamento modificasse suas vidas. Sua mãe tinha se doado para um bem maior. Por que ela também não poderia? Queria que isso fosse o seu pensamento mais forte no momento.

— Parece que foi ontem que eu estive aqui nesse mesmo lugar com a sua mãe na mesma posição que você está agora. – Esme falou pela primeira vez enquanto se aproximava da neta.

— Bella não estava na mesma posição de Renesme. – Alice declarou não conseguindo mais esconder seu descontentamento com a situação. - Ela estava casada com o homem que ela amava. Enquanto a Renesme está sendo obrigada a isso.

— Eu estou casando por minha vontade, tia.

— Tudo isso é uma grande maluquice! Edward está sendo um idiota por permitir isso.

— Alice você já terminou com o vestido? – perguntou a rainha mãe.

Alice com uma cara irritada deu o último nó na linha, cortou-a e ajudou Renesme a vestir o restante do vestido. Ao terminar, deixou a sala sem mais nada a dizer. Rosalie ainda deu um último abraço na afilhada e acompanhou Alice. A princesa sabia que sua tia Alice era um pequeno trovão quando queria. Esme se aproximou mais ainda da neta.

— Eu sei que as coisas hoje não estão saindo da maneira como sempre sonhou. Mas eu quero que saiba que não é o seu fim. Sei que tem força o suficiente para ditar as regras e é isso que deve fazer. Confio em você para reverter à situação.

Renesme nada disse apenas observou a avó piscar para ela.

— Seu momento virá por que você fará com que venha.

Aquelas palavras haviam sido poderosas ainda mais vindas de uma mulher que era uma verdadeira fortaleza. Nascida numa família pobre fizera como pôde para ajudá-los a sobreviver, escolheu o seu grande amor e lutou por ele, mesmo quando ninguém acreditava, ela fez com que todos se curvassem diante dela.

A porta abriu-se levemente e ambas viraram-se. Era Alec que entrava no recinto com seu belo uniforme real. Renesme e nem Esme moveram-se nem um passo enquanto o príncipe decidido entrava e se aproximava com uma caixa vermelha em suas mãos.

— Meu jovem, não é certo ver a noiva antes do casamento.

— Acho que isso é apenas uma supestição besta.

“E não havia o que temer. Esse casamento já estava fadado ao fracasso”, Renesme completou em seu pensamento.

— Posso ficar sozinho com a minha noiva a sós um instante? Prometo que serei respeitoso.

Esme apenas assentiu e olhou firmimente para a neta como se a pedisse com o olhar que ela refletisse bastante no que ela havia acabado de dizer. Alec esperou que Esme saísse para abrir a caixa em suas mãos. Nela havia uma bela joia cheia de diamantes presos a um emaranhado que formava uma bela figura. Por que ele não a entregara isso antes?

— Essa joia era a preferida de minha mãe. Eu a guardei por que ela me traz muitas lembranças boas dela. Eu pedi que a transformassem em um cinto para que você usasse hoje. De alguma forma quero que ela esteja presente nesse momento.

— É uma joia muito bonita. – Foi tudo que a princesa pôde dizer.

— É mesmo. Ela não ganhou de meu pai. Veio de sua família. Então ela é diferente.

“Ela não é um símbolo de dominação.” Renesme completou em seu pensamento. Sabia que Alec queria dizer isso.

— Posso colocar em você?

— Sim, você pode. – ela disse com uma voz trêmula.

Alec se aproximou dela e colocou a jóia em torno de sua cintura. Havia ficado bonito, parecia que completava o vestido e até poderia esconder os ajustes que tiveram que ser feitos nele. Após fechar o fecho, ele se afastou dela e com cabeça baixa, como se tivesse mais envergonhado do que antes.

— Eu sei que eu não sou o homem que você queria se casar, mas eu queria sinceramente que esse casamento desse certo.

Renesme se aproximou de Alec e segurou as duas mãos dele. Ela pôde ver que ele estava tão nervoso quanto ela.

— Eu também quero e desejo que possamos nos dar muito bem juntos.

— Eu gosto de você, Renesme. Não lhe amo como deveria, mas quero o seu bem.

— Idem! Vamos prometer o seguinte, nunca iremos mentir um para o outro. Quando tiver algo nos incomodando, avisaremos um ao outro. Vamos manter os nossos corações abertos. Não deixemos que esse casamento se torne uma prisão.

— Prometido.

Alec pegou as mãos de Renesme e as beijou com carinho. A princesa sentia pena dele também. Tanto quanto de si mesma, ele estava preso a esse grande jogo de interesses.

— Te vejo no altar, então.

Ele sorriu e ela devolveu o mesmo sorriso, mesmo que por dentro ela quisesse se desmanchar toda. O príncipe saiu do recinto com os passos rápidos e a sala ficou vazia como se ninguém tivesse estado ali antes. Renesme sentiu as pernas tremerem e aos poucos sentiu as suas forças se esvaziarem. O seu estômago embrulhou e ela se deixou cair ao chão. Parecia que todo o estresse e todo o sofrimento que lhe apertencera durante todos esses meses lhe venceram e caíram sob o seu corpo como um grande peso. As lágrimas vieram e ela não conseguia fazer outra coisa a não ser se lamentar.

Chorou pelo seu futuro, pelo trágico destino de sua mãe, se permitiu até sofrer por Tom, mesmo que ele não merecesse nem uma grama de seu lamento. Assim ficou por alguns minutos. Sabia que todos já deviam estar na abadia. Casamentos reais eram ridicularmente cronometrados, mas ela não se importava. Não queria se casar.

Podia ter se passado um longo momento até ela ouvir a porta se abrindo, mas não se virou para ver quem entrava dessa vez. Ouviu apenas a voz de seu pai dizer.

— Por que ainda não desceu Renesme? Estamos atrasados! Temos um casamento para ser realizado. Estamos quebrando os protocolos.

Renesme sentiu a fúria crescer em si. Foda-se os protocolos! Por que ele não se preocupava com o que ela estava sentindo? Queria gritar com todas as letras o quanto ele foi e continuava sendo um grande idiota com aqueles que mais o amavam. Mas não disse. Sabia que ele não estava mais ali. Apenas segurou-se na cômoda e esperou sua respiração voltar ao normal. Absorveu o ar e esperou que ele entrasse em seus pulmões e o soltou novamente. Aos poucos suas mãos iam parando de tremer.

— Alteza, seu pai pediu que descesse imediatamente. – falou a sua secretária. – por que ainda não colocou a sua tiara? Ela já está em sua pentadeira.

— Não vou usá-la hoje, Emily.

— Mas as regras mandam que...

— Não quero saber de regras agora.

Renesme enfim se levantou do chão e caminhou até o seu closet. Entre as suas joias, pegou a caixa azul de veludo onde estava à tiara com o belo cisne cravado nela. O presente que sua mãe lhe dera quando ela completou trinta anos. Sabia o quanto aquela peça trazia um grande significado para Bella. Agora Renesme entendia ainda mais. Agradeceu mentalmente por mantê-la ali e não no cofre, foi até o espelho e colocou a tiara em sua cabeça.

— Emily, avise a todos que a princesa Swan está descendo.

A secretária estranhou a expressão, mas nada disse. Apenas observou a noiva passar por ela e descer majestosamente as escadas. Edward, que estava a esperando já no fim do percurso, não pôde deixar de admirar-se da beleza de sua filha. Ela já era uma mulher linda, mas estava simplesmente encantadora com aquele vestido. Mais uma vez Alice fizera maravilhas, assim como foi com Bella anos atrás. Ao lembrar-se de sua esposa lamentou-se por ela não estar ali naquele grande dia. Ela tinha o pedido tanto para que não deixasse que Renesme fosse vítima de um casamento arranjado... Mas o que ela diria diante das circunstâncias que se acometeram?

— Você está linda, filha!

Renesme passou por ele sem o responder. A televisão ligada num volume relativamente alto no cômodo ao lado chamou mais a atenção dela.

— São quase onze da manhã e ainda não temos notícias da princesa. Será que teremos alguma surpresa? Aqui nas ruas as pessoas já aguardam eufóricas. Casamentos reais sempre deixam as pessoas com o espírito mais leves. Tudo que elas querem é ver o conto de fadas se realizar diante de seus olhos, a sua princesa casar com o seu princípe. Ah o amor está no ar!

— Fechem essa TV. De mentiras já basta o que acontecerá agora.

E seguiu para a porta de entrada, onde a carruagem a aguardava. Edward diante daquela resposta entendeu o quanto a filha estava amargurada e chateada com isso. Lamentou-se, mais uma vez, porém, no momento não havia outra saída. Aquele casamento teria que acontecer.

A princesa colocou o véu sobre o rosto, assim diminuia a vergonha que sentia enquanto passava pelas ruas de Belgravia. Sentia muito dar falsas esperanças a toda aquela gente. Todas elas no fundo eram apenas românticas. A família real era para eles uma maneira deles viverem uma vida de sonhos que não tinham na realidade. Era como ver um reality show que dura gerações. Eles eram tão românticos quanto ela foi e assim como a si mesma também essas pessoas se iludiam fácil demais.

Os sinos da Abadia tocavam insistentemente enquanto ela e Edward chegavam ao templo. Ela tinha que admitir que Aro sabia dar uma boa festa. A chegada dela numa carruagem deixava tudo ainda mais mágico e encantador. Isso não acontecia em um casamento real belgão desde de 1893, quando a princesa Carmem também italiana chegara para casar com o seu príncipe, o futuro rei de Belgonia. Ao lembrar desse detalhe agora lhe parecia um grande jogo referências.

As pessoas gritavam eufóricas quando a carruagem parou diante da grande escadaria que dava acesso a entrada da Abadia. Chegava a ser insurdecedor e a deixava ainda mais nervosa. Quase tropeçou ao descer da carruagem, mas Aro se preparara para aquilo também. Haviam algumas moças para ajudá-la a descer e ajeitarem o seu vestido para a sua entrada triunfal. A princesa virou-se para a multidão e acenou timidamente, eles ao menos mereciam a sua atenção. Ela sentia-se grata pelo carinho.

Edward foi até a filha e deu o braço a ela para que ambos entrassem no recinto onde eram esperados. Ele a disse baixinho:

— Tudo vai dar certo.

E ela esperava mesmo que desse, pois sua vida seria um verdadeiro inferno caso não ocorresse dessa forma. A princesa respirou fundo e subiu a longa escadaria com o pai.

A velha marcha nupcial Mendelssohn começou a tocar. O rei não pôde deixar de se emocionar diante daquilo. Estava se dando conta que estava levando a sua filha ao altar. Aquela bebêzinha que ele sentia se mexer dentro da barriga de Bella e depois que crescia diante de seus olhos. A doce garotinha de cabelos cacheados cor de bronze agora estava passando por um dos momentos mais importantes de sua vida. Como o tempo poderia ter passado tão rápido?

Os acordes da marcha não tinham como não deixá-la emocionada também. Tudo estava lindo demais se não fosse uma mentira. Enquanto andava pelo longo corredor tentava evitar olhar para os convidados, não queria que eles vissem o quanto ela estava bem longe da noiva feliz que completava o grande espetáculo que Aro criara.

Apressou os passos para que chegasse logo ao altar e terminasse logo com isso. Mas desacelerou ao ver o rosto de Alec pela primeira vez. Os olhos dele estavam cheios de lágrimas. Parecia tão nervoso quanto uma criança que era deixada na escola pela primeira vez. Ela sorriu e se compadeceu dele. Ás vezes esquecia que ele estava tão presso as conveniências quanto ela. Tentou imaginar o que se passava na cabeça dele. Será que ele estava realmente acreditando em toda aquela farça?

— Cuide bem de minha filha. – Edward disse quando chegaram ao altar. – Ela é o meu maior tesouro.

Renesme sorriu ironicamente. Edward sabia bem cuidar dos tesouros dele... A esposa fora vitima de um atentado bem diante de seus olhos e agora ela mesma, sua própria filha, estava sendo entregue aos leões. Era reconfortante!

Alec ainda bem emocionado beijou a mão de Renesme e soltou quase aos sussurros:

— Você está maravilhosa!

— Obrigada.

E ambos se ajoelharam diante do arcebispo e ele deu início à cerimônia.

— Senhoras e Senhores, estamos aqui reunidos em nome de Deus para testemunhar o casamento entre a sua alteza real, a princesa Renesme e de Alec Volture, duque de Seraf. Agora, esses dois jovens diante de Deus e da comunidade, celebram o amor e o selam com a graça e o sinal da fé. Caros noivos, Renesme e Alec, aqui viestes para que, na presença do sacerdote e da comunidade cristã, o vosso amor seja marcado por Cristo com um sinal sagrado. Cristo abençoa com generosidade o vosso amor. Já vos tendo consagrado pelo batismo, Cristo vai enriquecer-vos e fortalecer-vos agora com o sacramento do matrimônio, para que sejais fiéis um ao outro e possais assumir vossos deveres.

O padre pegou as mãos trêmulas de Renesme e a de Alec e colocaram unidas em cima da Bíblia. A princesa sorriu para o noivo tentando ela própria se acalmar. A sua vontade era de gritar para todos a sua infelicidade. Agradeceu aos céus por Alec não ter lembrado de tirar o véu de seu rosto. Pois todos que estavam assistindo iriam ver a farsa que acontecia diante de seus olhos. Seria um grande desastre em rede nacional!

— Renesme e Alec, viestes aqui para unir-vos em matrimônio. Por isso, eu vos pergunto perante a Igreja: é de livre e espontânea vontade que o fazeis?

— Sim. – Alec disse rapidamente, como se aquela fosse uma pergunta ensaiada.

Renesme respirou fundo e também respondeu afirmamente.

— Abraçando o matrimônio, ides prometer amor e fidelidade um ao outro. É por toda a vida que o prometeis?

— Sim. – ambos disseram e ela pedia a Deus que ao menos eles conseguissem o milagre de se apaixonarem como acontecia com aqueles casais antigos que se casavam como eles estavam se casando naquele momento. Assim seria menos doloroso.

O padre olhou para os inúmeros convidados na Igreja e perguntou sem alguém era contra o casamento. O silêncio foi pairou sobre o recinto e ele deu continuidade à cerimônia. Aro sorria como se tivesse ganhado o presente que sempre sonhara e realmente estava. Já imaginava em sua mente todo o futuro próspero que iria ter.

— Para manifestar o vosso consentimento diante de Deus e da Igreja, aqui reunida, dai um ao outro a mão direita.

Renesme recebeu a mão suada de Alec. Ela tentava imaginar a reação dele. Seria timidez, medo ou uma emoção genuína? Sem tirar os olhos dele ela resolveu começar a repetir os seus votos:

— Eu, Renesme Carlie, te recebo Alec Giuseppe, como meu esposo, e te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de minha vida. – A princesa nem se surpreendeu com a sua voz quase estrangulada.

Alec deu continuidade:

— Eu, Alec Guiseppe, te recebo, Renesme Carlie, como minha esposa, e te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de minha vida.

— Vivendo com seriedade o amor, no respeito mútuo e na procura de uma vida plena para nós e para aqueles que estiverem sob nossa responsabilidade, esperamos de Deus a proteção; da Igreja o estímulo; e da família e dos amigos a solidariedade. – continuou o Padre. - Deus confirme e abençoe em Cristo este compromisso que manifestastes perante a Igreja. Que ninguém separe o que Deus uniu! Bendigamos ao Senhor!

— Graças a Deus! – responderam todos.

Uma das daminhas veio até o casal com as alianças. Renesme pensou que a menina estava mais bem preparada para o momento que ela e Alec. Idéia ardilosa de Esme e Aro em escolher somente crianças filhas dos deputados mais famosos do parlamento. Era inteiramente um casamento político. O padre pegou as alianças e as  abençoou.

— Ó Deus, que fizestes várias alianças com os homens através de Noé, Abraão, Moisés, prometendo-lhes proteção carinhosa e dando-lhes a missão de formar, no vosso amor, o vosso povo, para o nascimento do vosso Filho Jesus Cristo, abençoai agora estas alianças que Renesme e Alec vão usar. Fazei que elas sejam o sinal da promessa mútua de proteção, fidelidade, amor, e uma lembrança contínua da missão que receberam de Vós: preparar um ambiente humano e cheio de amor para testemunhar a vossa presença no mundo. Por Cristo, Nosso Senhor.

Ambos fizeram o sinal da cruz e Alec resolveu tomar a iniciativa daquela vez. De maneira desajeitada, ele quase não conseguira colocar a aliança no dedo da princesa. Era quase como se a joia não quisesse entrar ali. Renesme sorriu com esse pensamento e também com o mau jeito de Alec.

— Renesme Carlie, receba esta aliança, em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Renesme fez o mesmo com Alec. Pegou a aliança e colocou sem delongas no dedo dele.

— Alec Giuseppe, receba esta aliança, em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

— Ó Deus, que criando o ser humano à vossa imagem, homem e mulher os criastes para que, unidos num só coração e numa só carne, cumprissem na terra sua missão. Abençoai agora estes vossos filhos, Renesme e Alec, que pelo sacramento do matrimônio, comuniquem um ao outro os dons do vosso amor, e, sendo um para o outro e ambos para o mundo um sinal de vossa presença, se tornem um só coração e uma só alma. Enfim, nós vos pedimos, ó Pai, que estes vossos filhos, Renesme e Alec permaneçam firmes na fé e perseverantes no amor, que os conserve fiéis um ao outro e que, animados pela força do Evangelho, sejam verdadeiras testemunhas de Cristo, vivam uma vida longa e feliz e alcancem o reino do céu. Por Cristo, Nosso Senhor.

— Amém! – disseram todos.

— Abençoe-vos Deus todo poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo! - E agora pelos poderes concedidos a mim, eu vos declaro marido e mulher.

Renesme sentiu aquelas palavras entrarem com força e sentiu-as como um fim decretado. Agora não havia mais jeito. A porta do inferno estava aberta e ela só desejava que Deus os concedesse que o fogo no não fosse tão quente.

Alec tirou o véu que cubria o rosto de sua esposa e mal podia acreditar no que estava acontecendo. Agora ele estava ali, casado. Não fora aquilo que desejara para a sua vida, mas agora era real. Estava grato por ser Renesme ali cumprindo aquele papel junto com ele. Era a mulher mais fantástica que conhecera, tinha que admitir. Confiava nela para que juntos pudessem exercer a dura função de representar aquele país e resolvessem toda a problemática que estavam vivendo. Desejou amá-la, mas não sentia aquilo naquele momento e lamentou. Tinha se deixado levar pela emoção e o clamor do momento, mas era verdadeira a vontade dele de fazer aquele casamento dar certo.

A princesa mal sentiu o resto da cerimônia passar. Tentou não deixar-se absorver por tudo aquilo e deixou a sua mente vagar para entrar no piloto automático. Mas quando assinaram os papéis do casamento civil e estarem caminhando pelo corredor da Abadia após o fim de tudo, a ficha caiu de vez. Ela estava casada. Um filme passou diante de seus olhos. Todos os seus sonhos, romances, planos passaram diante dela e ali estava tudo concretizado e bem diferente do que esperava. Seus olhos marejaram novamente. Mas não fora essa a meta que colocara diante de si? Ser a princesa perfeita? A futura rainha que todos esperavam? Esse casamento era parte do processo. Por que não estava satisfeita? O que mais poderia querer?

As portas da Abadia se abriram revelando o mar de pessoas que gritavam incassavelmente. Estavam todos felizes e ela sorriu. Ao menos tinha dado esse teatro a eles. Tinha os feito sorrir e era para aquilo que ela existia.

Alec olhava encantado para as pessoas e supreso com tamanho clamor e amor daquelas pessoas pela realeza.

— Acho que está na hora do beijo. – Renesme declarou. – É a tradição.

O príncipe, agora duque de Seraf, apenas concordou. Renesme então olhou para ele e pediu para que ambos pudessem encontrar a felicidade de alguma forma. Fechou os olhos e foi guiada pelo calor que ele emanava. Alec se aproximou dela também e selaram os lábios com um breve beijo. Não durou nem um minuto direito, mas parecia que havia durado a vida inteira.

Alec pegou a mão da esposa e a ajudou a descer as escadas. Quando ambos estavam já dentro da carruagem, ricamente ornamentada, ele segurou a mão dela e Renesme olhou para o gesto com supresa.

— Vamos tentar. – ele pediu.

— Vamos tentar. – ela confirmou por fim. O QUE ACHARAM DO CAPÍTULO? COMENTEM POR FAVOR!


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