Graveyard of Flowers — Gardenia escrita por crowhime


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora para postar o capítulo! Vou dar meu melhor para tentar atualizar ao menos de quinze em quinze dias.... muito tempo que não escrevo e posto ao mesmo tempo, mas espero que gostem!



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Aquela noite foi a primeira vez que tossi uma pétala.

Em minha mão, fiquei a encarando por longos segundos, como se o tempo houvesse parado. Era uma pétala bonita, tingida de um branco puro. Não reconheci de que flor era: muito superficialmente, eu só conhecia rosas, mesmo que isso me pintasse como o maior clichê romântico que existia, mas o aroma doce e intenso que pude sentir daquela única pétala quando a trouxe próximo ao rosto não me remetia a uma.

— Mas o que é isso...

Estava intrigado. Não sentia dor, não sentia nada, e era apenas uma única pétala. O que deveria significar?

O primeiro pensamento foi que alguém tinha me azarado. Parecia com uma azaração, e eu entendia bem delas. Alguém, mais especificamente, Bartemius Crouch Jr. No entanto, mesmo que ele pudesse fazer um feitiço não-verbal, não o vi sacando a varinha em momento algum e não nos aproximamos mais após o ocorrido no corredor.

Eu tinha um péssimo pressentimento sobre isso, mas não consegui me livrar da pétala, guardando-a no bolso do meu pijama surrado. Antes que dessem minha falta no quarto, sai do banheiro para retornar ao dormitório, com sorte nenhum dos meninos teria acordado.

Eu não era tão sortudo assim.

— Onde estava?

A voz de Sirius cortou a escuridão. Por que logo ele que tinha que estar acordado?

— Banheiro.

Respondi mecânico, subindo de volta na minha cama. Estava bastante frio, então me enrolei nas cobertas e torcia para Sirius estar preguiçoso suficiente para não continuar falando.

Mas, como eu disse: eu não era tão sortudo. Quando você se é infectado por um lobisomem, só parece que sua sorte na vida é inversa. Um golpe de sorte em ter azar.

E eu também não era burro. Volta e meia, sentia o olhar de Sirius sobre mim, como se quisesse falar algo e nunca tivesse coragem de fazê-lo. O que era estranho, Sirius e falta de coragem na mesma frase soava um absurdo, porém quando o assunto era não ter atitude para dizer o que queria, eu entendia. Então, era pedir demais que ele ficasse quieto.

— Você e o Regulus. Tiveram algo?

— Não. — respondi diretamente. Eu já esperava esse tipo de pergunta. Nem me atrevi a fitá-lo ou fingir surpresa e indignação. O olhar dele também estava no teto e assim continuamos. — Eu não sou você.

Ouch. Você ainda está com raiva mesmo.

Não era uma pergunta. Cheguei a sentir meu rosto esquentar.

— Desculpe.

— Eu mereci — Sirius disse com indiferença. Ouvi ele se movendo na cama, imaginei que estivesse tentando me ver na escuridão, mas continuei a encarar o teto. — Do que aquele idiota do Crouch estava falando então?

— Não sei, na verdade... Ciúmes?

— Talvez.

— Falem mais baixo, ô, seus cabeções.

James reclamou, o que fez com que ríssemos. Peter era o único ressonando, mas trocamos boa noite mais uma vez e ficamos em silêncio, afinal James tinha treino de quadribol cedo.

O único problema era minha mente barulhenta. Regulus e eu não tivemos nada. No entanto, eu ficava pensando se não havia a possibilidade de que tivéssemos tido algo. Eu me sentia idiota de não ter percebido antes. De não ter feito algo. Ou talvez eu só estivesse fantasiando, o que era uma grande possibilidade também. Por que alguém como ele olharia para mim?

No entanto, eu me recordava de seus olhos brilhando como se ele fosse a estrela mais brilhante no céu e meu coração falhava. Tinha sido sincero quando disse queria ter me apaixonado por você primeiro. Eu havia me atrasado. E agora, era tarde demais.

Terminei tendo uma noite agitada, com sonhos envolvendo pétalas de rosas, estrelas e Regulus Black. Cedo, James seguiu para o campo de quadribol para o treino, seguido por Sirius e Peter – que até se ofereceu a ficar comigo quando disse que estava com dor de cabeça, mas dispensei. Queria ficar sozinho.

E um dos melhores lugares para evitar alunos da Grifinória era a biblioteca, então me refugiei nela, buscando um local isolado. Não tinha pretensão de estudar, mas abri um livro sobre a mesa apenas para fingir que sim, embora não houvesse necessidade, já que não era época de provas, logo, o local estava vazio. Discretamente, retirei do bolso as pétalas que vim juntando pela manhã, colocando-as sobre as páginas.

Essa era uma questão que me demandava maior urgência, afinal eu não queria sair cuspindo pétalas por aí, mas meu foco estava proporcional às minhas horas de sono (ou seja, muito pouco) e eu precisava decidir ainda por onde começar. Talvez fosse uma boa ideia comentar com os meninos... Costumávamos ter boas idéias juntos. Algumas não tão boas assim. Mas melhor do que pensar sozinho.

— Remus! — Uma voz familiar alcançou meus ouvidos, me fazendo erguer a cabeça das páginas do livro. — Que raridade te ver sozinho.

Lilian Evans. Uma bruxa brilhante. Desde que viramos monitores pela Grifinória, ficamos amigos – antes, ela não me suportava devido às brincadeiras dos Marotos, o que eu podia perfeitamente compreender. E eu percebia que ela estava até mesmo amolecendo um pouco com James, que desenvolveu uma espécie de paixão avassaladora por ela, mas ainda não dava o braço a torcer aos avanços de meu amigo.

— Oi, Lily — cumprimentei, observando-a se sentar junto a mim.

— Onde estão seus amigos? Aconteceu algo? Geralmente você está grudado neles.

Eu torci o nariz, encolhendo os ombros.

— Até eu canso deles às vezes, sabia? — tentei soar espirituoso, mas me sentia cansado. Não que estivesse mentindo. Por vezes, especialmente quando não me sentia tão bem como hoje, eu olhava para Lily e me lembrava do rosto assustado de Severus Snape. Eu não conseguia não voltar ocasionalmente àquele fatídico dia, sabendo o monstro que eu era. Lilian pensaria o mesmo também, se soubesse. — Não aconteceu nada.

— Devo dizer que estou positivamente surpresa por ouvi-lo dizendo isso.

Ela arqueou as sobrancelhas, divertindo-se. Não era mistério para ninguém que ela não achava qualquer graça de nossas brincadeiras. E eu também já não me divertia mais como antes.

— Sempre te achei o mais inteligente dos quatro. Tenho certeza que não concorda com várias coisas que eles fazem, eu percebo que não é tudo que você toma parte... só não entendo porque não os para.

Porque preciso que eles me aceitem. Que gostem de mim. Não quero que me odeiem.

A resposta ecoou clara em minha mente, mas me limitei a sorrir envergonhado, ocultando o desconforto da questão.

— Você acha que alguém consegue mesmo segurar James Potter e Sirius Black? Você está me superestimando.

Peter talvez ouviria, se os outros dois ouvissem. Ele seguia a onda, geralmente. Ele também queria ser aceito, quando o conheci, percebi que éramos parecidos. Por isso o trouxe para perto de nós. Talvez eu só quisesse me sentir melhor e menos deslocado.

Lilian me fitava com desconfiança. Não parecia estar sendo levada por minha conversa.

— Eu tenho impressão de que se for você, eles ouviriam... Mas enfim.

Ela elevou as mãos, mostrando que não insistiria mais no assunto. Ela já tentou outras vezes, sempre que tinha chance, me convencer a ser a voz da razão – mais do que já era – mas não dava tão certo. Sinceramente? Lilian precisava reconhecer que eles até haviam melhorado. Desde o que houve com Snape, James vinha adotando uma postura relativamente mais tranquila em relação aos sonserinos (o que não evitava algumas azarações por aí ou brigas nos corredores, afinal ele havia colecionado desafetos durante os primeiros anos).

— O que é isso?

Eu estava tão distraído que demorei um pouco a entender que Lily se referia às pétalas, observando-a pegar uma delas entre os dedos. Senti meu corpo gelar: havia me esquecido de escondê-las novamente. Ops.

— Gardênias?

— O que, isso? Confesso que eu nem sabia do que eram essas pétalas até agora — admiti, esperando que ela não me perguntasse o motivo de tê-las ali.

— Sério? Achei que tivesse juntado para uma poção ou algo assim.

Lily pareceu intrigada e, antes que viesse com perguntas, me adiantei:

— Então você entende bem de flores, Lily? Por que não me fala um pouco dessa flor?

Lilian podia muito bem ser da Corvinal, de tão inteligente que era – e ela gostava disso. Provavelmente era a única aluna do nosso ano que visitava a biblioteca frequentemente. Não se gabava, mas tinha ciência de suas habilidades e nunca se incomodava em ensinar.

— Gardênias são muito utilizadas em decorações e enfeites por causa do aroma. No mundo trouxa se usa muito para medicina e até culinária. Representam a pureza, doçura, sinceridade e... também pode ser símbolo de um amor secreto. Um amor não-dito. Não é romântico?

— Romântico...? É... acho que sim.

Eu achava... triste.

— Mas o que você vai fazer com elas, mesmo?

Lilian trouxe novamente o assunto e eu sequer havia pensado em uma desculpa. Ela era curiosa e agora devia estar intrigada porque eu tinha pétalas de uma flor que não conhecia. A minha sorte é que não precisei pensar em algo, pois minha desculpa passou por entre as mesas há alguns metros de distância e eu mal olhei para Lily quando me levantei, falando às pressas:

— Desculpe, Lily, depois conversamos. Preciso... fazer algo.

Minha urgência foi recebida com um protesto, mas não esperei como ela pedia. Regulus estava atravessando a biblioteca sozinho e eu não podia perder essa chance rara de falar com ele sem o carrapato do Bartemius junto. Precisei refrear a vontade de correr para alcançá-lo, evitando levar uma bronca da bibliotecária, mas ao menos tinha pernas longas e conseguia dar passos rápidos e largos, o suficiente para me aproximar antes que ele sumisse entre as estantes de livros.

— Regulus — cumprimentei, soando como se fosse uma casualidade estar ali. Eu me sentia estranho: não sabia mais como falar com ele ou como iniciar um assunto. — Como está?

— Lupin — me olhou brevemente, logo voltando a atenção à estante, puxando um livro qualquer. — Precisa de algo?

O jeito como ele falava me incomodava. Era como se nunca tivéssemos sido próximos. Fazia meu peito doer e eu não sabia o que havia feito para merecer este tratamento – ou talvez, só talvez, soubesse. Ainda assim, era uma mudança brusca demais. O que aconteceu quando esteve fora, Regulus?

— Não, uhm... Só faz tempo que não conversamos. Queria saber como está.

A mão dele se deteve a caminho de um novo título da estante e ele me encarou. Eu não soube o que eu disse que atraiu tanta atenção, mas os olhos dele se estreitaram e os lábios se retorceram como sempre acontecia quando ele resolvia um problema difícil.

Bem, ao menos agora ele me olhava diretamente. Há quanto tempo isso não acontecia?

— Certo... — ele murmurou e eu sentia cautela em sua voz. No entanto, ele não tinha um ar hostil: era como se estivesse curioso e ao mesmo tempo quisesse ter certeza de que era seguro se aproximar. Seu comportamento me lembrava um gato acuado, por algum motivo. — Há quanto tempo?

— Huh?

— Não conversamos.

— Ah, sim... — Que pergunta era aquela? —- Desde um pouco depois do baile de halloween.

Ele soltou um murmúrio, o que me fez franzir o cenho, como se o imitasse quando o fez.

— Regulus, você está bem?

Não pensei. A pergunta era sincera. Ele não parecia muito bem. Sua expressão não se alterava muito, apenas pequenos sinais, no entanto era suficiente para que me parecesse transtornado.

— Não... Digo, sim, estou.

Ele balançou a cabeça, voltando a atenção para o livro que iria pegar, colocando-o sobre o outro que já carregava. Regulus fez menção de virar as costas e continuar andando e eu, teimoso como era, fui atrás.

— Então... O que aconteceu que você teve que sair da escola daquele jeito? — tentei questioná-lo, embora a essa altura não soubesse se ele me responderia. — Ficamos preocupados...

— Meu irmão mandou você atrás de mim?

— Não!

Neguei rápido demais, exaltando-me pela desconfiança que ele tinha de mim. Eu deveria ter pensado melhor. Sabia que era um tema sensível. Não soube dizer quando ele me encarou por cima do ombro se estava mais magoado ou decepcionado, porém logo ele se fechou em sua máscara de indiferença e eu precisei pigarrear, controlando meus ânimos.

— Seu irmão também se preocupou, mas você sabe como ele é cabeça dura. Só quis dizer que... eu vim por mim mesmo. — completei, tentando remediar a situação.

— Não vejo motivo para você se preocupar comigo.

A indiferença de Regulus era fria, quase cortante. Não consegui engolir a raiva: ele simplesmente continuava andando, como se o que eu falasse não fosse importante. Segurei o ombro dele, não só forçando-o a parar, como o virando para mim de forma mais brusca que gostaria a princípio.

— Porque eu me importo, é suficiente?

Finalmente ele se pareceu um pouco com o Regulus que eu conhecia, e não o garoto perfeito da Sonserina. Mesmo que ele franzisse o cenho e parecesse irritado, seu rosto se avermelhou sutilmente, e era o melhor que tinha para trabalhar.

Eu estava desesperado. Não suportava vê-lo desse jeito, me tratando assim. Meu peito doía e o ar ameaçava faltar. Quando foi que tudo isso aconteceu? Como deixei chegar a esse ponto?

— Isso... Isso não faz sentido! — A voz dele estava ligeiramente alterada, embora baixa. — Por que você se importa?

— Eu...

Boa pergunta. Por quê? Eu podia viver sem Regulus. Nos aproximamos há pouco tempo. Não deveria fazer tanta falta. Mas fazia. Nós nos entendíamos bem. Mesmo com todas as diferenças, tinha algo nele que me atraía. Engoli a seco. Novamente, o pensamento ecoava: eu queria ter me apaixonado por você primeiro. Agora, era tarde demais.

O que eu queria? Eu havia o rejeitado. Mesmo que sem querer. Eu sempre tive medo. Irônico, não? Logo eu, da Grifinória, casa dos corajosos, com medo. Mas eu era bem medroso, na verdade. Meu medo me tornava omisso. Eu sempre ficava quieto, com medo das consequências e de ser odiado – era assim com meus amigos e também foi assim com Regulus. Eu recusava a ideia de que poderia amar a ele – ele sempre foi inalcançável demais para mim. Ele não poderia gostar de alguém como eu. Já era confuso suficiente entender que eu também podia me atrair por meninos: e Sirius estava próximo. Alcançável. A rejeição amorosa dele eu poderia lidar. Éramos amigos, se tudo desse errado, ainda poderia me agarrar a isso e ao vínculo que nós quatro formamos. Mas com Regulus, eu praticamente nada sabia e nada tinha. Eu temia acabar com aquela relação delicada e frágil que nasceu entre nós, ainda em desenvolvimento. Eu preferia acreditar que já tinha mais que merecia. Ele era o príncipe da Sonserina, estaríamos fadados ao fracasso de todo jeito. Não tinha como dar certo desde o início.

Só tarde demais eu percebi como estava enganado. Cego e assustado.

Eu não era digno. Por isso não podia aceitar a ideia da mais remota possibilidade de que Regulus poderia estar apaixonado por mim.

A realização veio como o desabrochar de uma flor. Lento e delicado.

Quanto isso havia me custado?

Eram só três palavras. Três palavras. Mas podiam resolver algo, de fato? Não era injusto? Logo agora que ele seguia com sua vida, eu tinha esse direito? Bom ou ruim, Regulus estava com Barty Crouch Jr. E a culpa era minha. Se eu não tivesse ignorado os olhares, a proximidade cautelosa e delicada... Tudo podia ser diferente.

Ele continuava a me encarar com seus olhos, que pareciam um buraco negro prestes a me tragar, e senti como se o chão sumisse sob meus pés. Eu estava travado, sem saber o que fazer.

Ele decidiu por nós dois.

— Se não tem mais o que falar, Lupin, me dê licença que tenho que estudar para meus exames.

— E-espera!

Tentei segurá-lo mais uma vez, mas minhas pernas vacilaram em me obedecer, e ele rapidamente saiu do alcance de minhas mãos.

Essa paixão estaria mesmo destinada a morrer com o inverno?


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