Eu fiquei admirando Stella dormindo serenamente no meu peito. Meus dedos se enroscavam em seus cachos esparramados sobre mim, enquanto eu tentava acreditar que tudo aquilo era real. 

O horário já não me importava mais, assim como o outro filme que começara a passar na TV. A verdade era que eu estava adiando a todo e qualquer custo aquilo que eu sabia que era inevitável. Em poucas horas o laboratório seria avisado da nova regra e não havia nada que eu pudesse fazer para impedir. 

Sinto Stella se mover e inconscientemente sua mão faz carinho em meu peito. Essa cena além de me fazer sorrir, também me faz ter o desejo de seguir em frente ao seu lado, mesmo que tudo a nossa volta tente nos impedir. 

Depois que ela disse que me ama um filme passou na minha cabeça. Nele estavam os momentos que mais marcaram nossa amizade em todos esses anos. Após uma emocionante explosão de nostalgia, eu só consegui olhar em seus olhos e dizer o quanto eu também a amava. 

O lado totalmente racional do detetive Taylor diz que tudo isso é um erro, um erro que pode custar nossos empregos, tudo aquilo que lutamos pra construir em todos esses anos. E talvez essa parte de mim esteja certa. Talvez eu não devesse ter me deixado envolver tanto, sabendo o que poderia acontecer. Mas sinceramente, eu parei de acreditar e dar razão a essa parte de mim em um daqueles vários momentos em que ela sorriu pra mim e eu tive a total certeza de que estava apaixonado. 

***

06h30 AM 

Dessa vez não foram os raios de sol que acordaram Mac, e sim o barulho da incessante chuva que caía do lado de fora. Ainda faltavam meia hora para o despertador tocar, mas sabendo que tentar voltar a dormir seria uma perda de tempo, Mac decide, cuidadosamente para não acordar Stella, se levantar de uma vez. 

Ele caminha até a janela e observa o temporal, suspirando pesadamente. O desânimo surgiu ao lembrar que hoje possivelmente seria um dia daqueles, não só pela existência da tal regra, mas também porque Nova York transformava-se em puro caos quando chegava uma tempestade. 

Ao se virar para ir até o banheiro, Mac olha para Stella brevemente. Ela estava esparramada na cama com um olhar sereno no rosto. Sua respiração tranquila e suas feições mostravam, aparentemente, que sua mente não estava tão cheia quanto a dele, e isso fez brotar um pequeno sorriso em seus lábios. 

Após admirá-la por alguns segundos, ele continua seu trajeto até o banheiro. Ao olhar seu reflexo no espelho, uma leve risada um tanto desacreditada ecoa pelo banheiro. Sua camisa social estava completamente amarrotada, metade para dentro da calça. Seu cabelo bagunçado junto ao resto do look inovador o fizeram parecer um bêbado que acabou de acordar após uma bela noite de ressaca. 

Mac estica seus braços e esfrega seus olhos numa tentativa frustrante de afastar o sono que novamente o rondava. Após uma última olhada em seu reflexo, ele segue para o box na intenção de tomar um banho relaxante. 

Enquanto a água quente caía sobre seu corpo, as lembranças da noite anterior vieram à sua mente. Na verdade não só da noite anterior, mas também de um certo momento que o ajudou a perceber que seus sentimentos por Stella haviam mudado. 

*** 

— Apesar de não ter vivido muito tempo aqui, as vezes eu sinto falta. É estranho. - Os olhos de Stella estavam focados na bela paisagem que se afastava mais conforme o avião decolava. Mac que estava sentado ao seu lado, a olha com um leve sorriso. 

— Esse lugar faz parte da sua história. Faz parte de quem você é. É normal que se sinta assim. - Stella sorri de canto ainda olhando pela janela. 

— Eu gosto dessa parte da minha história, mas... - Ela vira seu rosto para olhá-lo, ainda com seu sorriso nos lábios. - Eu prefiro muito mais a história que estou vivendo agora. - Mac sorri levemente e pega a mão de Stella, levando até seus lábios. Ele planta um beijo carinhoso ali e depois a abaixa, permanecendo com sua mão sobre a dela. 

— Você não sabe o quanto eu sou feliz por você fazer parte da minha história, e não só eu.. Todos naquele laboratório se sentem da mesma forma, assim como as várias famílias que você ajudou a fazer justiça. De uma forma ou de outra, Nova York também faz parte de quem você é! - Stella alarga seu sorriso enquanto seus olhos brilham por causa de algumas lágrimas teimosas que surgiram. Era impressionante como ele sempre sabia exatamente o que dizer. 

— Είστε επίσης μέρος αυτού που είμαι. - Mac ri. Ele não fazia idéia do que ela dissera, mas ele amava ainda assim. 

— O que quer dizer? 

— Você também faz parte de quem eu sou. - E foi a partir daí que tudo mudou. 

*** 

Depois de permitir-se lembrar dos momentos que mudaram a sua vida, Mac finalmente sai do banho. Ele põe sua roupa amassada de volta sabendo que seria alvo das piadinhas de Stella, e isso o faz sorrir. 

Ao sair do banheiro ele repara a cama ligeiramente arrumada e um cheirinho inconfundível de café. Para Stella, acordar e, antes de qualquer coisa, fazer seu café, era automático. Mac então caminha a passos tranquilos até a cozinha, observando Stella totalmente distraída enquanto cantarolava uma música familiar. 

— Eu gosto dessa música. - Stella simplesmente sorri, sem nem mesmo olhá-lo. 

— Eu sei. - Ela termina rapidamente de adoçar o café e o olha com um largo sorriso. - Mac, parece que um trator passou em cima de você. - Mac revira os olhos e se aproxima, dando um selinho demorado nos lábios de Stella. 

— Bom dia pra você também, engraçadinha. - Stella ri e se afasta para pôr o café nas canecas. 

— Então, quais são os planos para hoje? - Mac suspira e se senta em frente ao balcão, checando rapidamente a hora em seu relógio. 

— Antes de tudo, preciso passar no meu apartamento. Não posso ir pro laboratório nesse estado. - Diz olhando para a própria roupa. 

— Sério? Por que não? Você está um gato com essa roupa amassada. - Diz em um tom provocativo. Mac ri e apoia os antebraços sobre o balcão. 

— Aparecer com a mesma roupa de ontem e ainda amassado? Danny e Flack não me deixariam em paz por no mínimo algumas semanas. - Debocha. 

— Eles só fariam aqueles comentários clichês, sabe? "Parece que alguém aproveitou a noite" ou "Parece que a noite foi boa" - Mac ri novamente e pega a caneca que Stella estendera para ele. 

— O meu sorriso bobo provavelmente me entregaria. - Stella sorri e debruça sobre o balcão, dando um longo beijo em seus lábios. 

— Vai ser difícil não poder te roubar uns beijos de vez em quando. 

— O lado positivo é que sempre teremos depois do turno. - Stella sorri com a positividade de Mac e da mais um selinho em seus lábios antes de se afastar. 

— Falando nisso.. Ainda acha uma boa idéia saírmos hoje a noite? - Havia um leve tom de preocupação em sua voz. Mac entendia essa preocupação porque ele também a tinha, na verdade apesar de todos os pensamentos positivos era difícil simplesmente esquecer que seus empregos estavam à um fio de serem perdidos. Mas havia coisas, pessoas, mais importantes, e Mac não iria priorizar seu emprego, não dessa vez. 

Ele da um gole em seu expresso antes de se levantar e dar a volta no balcão, envolvendo a cintura de Stella com seus braços. 

— É claro que sim, afinal, é o nosso primeiro encontro. - Stella sente seus lábios automaticamente contrairem-se em um sorriso. 

— Um encontro?! - Sua pergunta soou mais como uma confirmação para convencer a si mesma de que tudo aquilo era realmente real. 

— Stel, eu sei que não poderemos ter encontros tão tradicionais, pelo menos não por enquanto. Mas eu não vou deixar de sair com a mulher da minha vida porque um casal estúpido veio de longe para implantar uma regra idiota com a ajuda de Sinclair. - Mac fala com firmeza, arrancando mais um lindo sorriso de Stella. Ela passa seus braços em volta do pescoço dele e se aproxima mais, o beijando com intensidade e, ao mesmo tempo, calma. 

— Esse será o melhor encontro das nossas vidas. - Mac esboça um leve sorriso e deposita um beijo carinhoso na testa de Stella. 

— Eu te amo. - Ele sussurra contra sua testa. - E se alguém sequer pensar em tentar nos prejudicar, eu mando essa pessoa direto para o Chipre em um container. - Ele debocha e por consequência leva um tapa de Stella com uma risada desacreditada. 

— Muito engraçado, detetive Taylor. - Diz fingindo seriedade, fazendo Mac rir. 

— Agora eu tenho que ir senão vou me atrasar. - Mais um selinho é dado antes de Mac se afastar, tomando rapidamente o resto de café que estava em sua caneca. Apesar da hora estar relativamente avançada, Stella debruça novamente em cima do balcão com um sorriso no rosto enquanto toma tranquilamente seu café. - Acho que já peguei tudo. - Diz Mac colocando seu terno. Ao pôr as mãos no bolso, ele não encontra suas chaves. - Viu as minhas chaves? - Pergunta enquanto olha em volta. Ao não obter resposta, Mac olha para Stella com um olhar interrogativo. - O que foi? 

— Eu poderia me acostumar facilmente com isso. - Diz com seu tom provocativo enquanto aponta para o sofá. Mac acompanha seu olhar e sorri ao ver suas chaves no cantinho do sofá. 

— Não me faça ir aí te beijar de novo, Bonasera. - Stella ri enquanto ambos escutam o celular de Mac tocar. Ele olha em volta novamente e o vê em cima da mesa. - Sinclair. - Diz ele com um breve suspiro enquanto olha o nome no visor do celular em suas mãos. Stella revira os olhos enquanto da sua última golada no café. - Ele quer falar comigo quando eu chegar no laboratório. 

— Pode ser que seja outra coisa. Mas de qualquer forma, talvez você possa convencê-lo de que tudo isso é uma loucura. 

— Bom, dependendo de como for a conversa, não custa nada tentar. - Ambos sorriem alheios a pequena esperança de que Sinclair pudesse mudar de idéia, mesmo sabendo que no fundo isso seria quase impossível. - Nos vemos no almoço? - Pergunta Mac com charme já na porta. 

— Claro! - Responde Stella com seu típico sorriso encantador. - Eu te amo. 

— Também te amo. - Mac da uma piscada para Stella e lança-lhe um último sorriso antes de sair, seguindo rumo ao seu apartamento. 

*** 

Depois de ficar procrastinando pelo que pareceram horas, Stella finalmente sai de seu apartamento. Ela entre em seu carro com um longo suspiro, pensando que "agir naturalmente" não era muito o seu forte. Talvez esse seja o motivo para ela estar enrolando tanto pra chegar no laboratório, mesmo sabendo que não há escapatória. 

Após meia hora encarando o grande engarrafamento da Big Apple, ela finalmente chega ao seu destino, com inacreditáveis 10 minutos de atraso. Adam logo a aborda assim que sai do elevador, entregando seu último relatório do caso anterior. 

— Aqui está o último relatório do caso. O chefe ainda não chegou, o que é bem estranho visto que ele nunca se atrasa. Será que.. - Adam começa a divagar e Stella reprimi o riso. 

— Adam! - Adam para de falar e a olha com espanto. - Obrigada! - Stella esboça um leve sorriso que Adam retribui antes de sair rapidamente. Ao vê-lo disparar, ela permiti a risada reprimida de sair. - Ele não muda. 

— Quem não muda? - Indaga Don aproximando-se, concentrado na mensagem que havia no celular em suas mãos. Stella se vira para olhá-lo antes de continuar seu trajeto até o escritório de Mac. 

— Adam. - Diz simplesmente. - O que está fazendo aqui tão cedo? Se perdeu no caminho até a delegacia? - Implica. 

— Eu estava indo pra lá quando soube de algo interessante. - "Lá vem", Stella pensa. - Qual é a dessa nova regra no laboratório? Da onde Sinclair tirou isso? - Stella respira fundo e entra rapidamente no escritório de Mac, jogando o relatório sobre a mesa e voltando ao encontro de Don. 

— Não há nada mais importante para Sinclair do que a imagem do laboratório. Talvez ele ache que um relacionamento a essa altura, ainda mais se der errado, possa gerar uma repercussão negativa. - Diz Stella segurando ao máximo um revirar de olhos enquanto caminhava até a sala de descanso. Como ela achava tudo isso uma grande estupidez! 

— Acha que ele fez isso por causa de você e do Mac? Vocês são próximos. Ele pode ter interpretado isso errado. 

— Eu não duvido. Boa parte do reconhecimento que ele tem hoje é por causa do que Mac representa pra cidade. Então se de alguma forma Mac cair num escândalo.. 

— Ele também cai. - Completa Don, compreendendo toda a situação. 

— Exato! - Murmura Stella. Eles entram na sala e enquanto Stella senta no sofá, Don pega uma maça, recostando na mesa. 

— Como Mac reagiu a isso? 

— Não muito bem. Ele acha que há coisas mais importantes pra se preocupar do que com quem nós nos relacionamos. 

— Sensato! - Diz Don enquanto da uma mordida em sua maça. Stella consente de forma óbvia. - Falando nele, onde ele está? 

— Atrasado pela primeira vez em uns.. 5 meses? - Indaga Stella com diversão na voz. O bom de fingir naturalidade é que ela poderia tirar uma com Mac quando ela quisesse. 

— Uh.. Parece que a noite foi boa. - O ar maliciosa em volta de Don faz Stella revirar os olhos. Ele é realmente previsível. 

— Donald Flack a essa hora no laboratório? Ah, já sei! Tem a ver como a regra, não tem? Não se preocupe, Don. Você ainda pode ficar com a Margô, essa regra só se aplica a chefes com subordinados. - Danny debocha de Don enquanto entra na sala, se jogando no sofá. 

— Hahaha, muito engraçado, Danno! - Stella e Danny riem do repentino mau humor de Flack. Margô é uma das técnicas do laboratório. Ela trabalha no turno da tarde e é caidinha por Don. Claro que ninguém, nem mesmo Mac, perdia a oportunidade de implicar com ele quando dava. 

— Vocês formariam um belo casal. - Debocha Danny. 

— Sabe quem mais formaria um belo casal? Você e aquela louca do 30° andar. Lembra dela? A que te ameaçou com uma faca depois que você a questionou por ela ter pego sua vaga no estacionamento. - Don diz com seu sorriso presunçoso. 

— Sabe quem também combina muito com você? A irmã dela. A conheci esses dias na cadeia enquanto ia interrogar um suspeito. - Danny tinha um sorriso vitorioso no rosto. Stella tinha uma expressão e um sorriso um tanto desacreditados no rosto. 

— Vocês dois parecem duas crianças. - Seu celular toca e, ao ver o nome no visor, ela se levanta. - Comportam-se. - Diz fingindo seriedade antes de sair da sala. 

*** 

— Já está com saudades? - Indaga com deboche. 

— Saudades de você? Imagina! - Ironiza Mac. 

— Quer ficar sem companhia hoje, Taylor? 

— Você quem começou! - Stella ri e entra em seu escritório. - Viu Sinclair pelo laboratório? 

— Não, acho que ele ainda não veio aqui. 

— Ótimo! Lembra do James Mitchel? 

— Um dos suspeitos do caso Handerson? Lembro. 

— Eu estava saindo de casa quando o vi e.. - Stella o interrompe. 

— Mac, não me diga que você está seguindo esse cara.. 

— É.. Estou. - Stella passa a mão no rosto e respira fundo. 

— Mac.. 

— Stel, estamos procurando esse cara há semanas, não posso perdê-lo. E eu não vou fazer nada estúpido, só quero saber aonde ele mora. 

— Sua definição de estupidez precisa ser atualizada urgentemente! E se esse cara for perigoso? E se ele ver você? 

— Assim você me magoa.. Eu sou um bom policial, lembra? - Finge estar ofendido. 

— Um bom policial com complexo de herói. - Diz com um suspiro. - Só vê aonde ele mora e vem pro laboratório, tá? Não banque o herói! - Mac sorri com a preocupação de Stella. 

— Eu prometo! Se Sinclair aparecer.. Me cobre? Como nos velhos tempos. - Stella limita-se a sorrir relembrando as várias vezes que eles encubertaram um ao outro. 

— Tá bem! Você tem uma hora. Se passar disso eu mesma vou atrás de você. - Stella ouve a risada de Mac e sorri. 

— Ok, meu amor. Eu te amo. 

— Também te amo. 

Continue...