Dessa vez não foi o estridente som do despertador que a acordou, nem mesmo os altos ruídos vindos da rua junto às frestes de luz que entravam pela janela. Hoje seu relógio biológico resolveu funcionar, então depois de um sonho particularmente peculiar envolvendo uma deusa da mitologia grega, ela acordou. 

Seus olhos semiabertos viajam por todo quarto. Havia algo de estranho, mas Stella não fazia idéia do que era. Quando seus olhos enfim caem sobre Mac, o primeiro sorriso do dia surge em seus lábios. Mac dormia pacificamente. Nem parecia que ambos haviam pego no sono somente a pouco mais de uma hora e meia atrás. Contudo, o sorriso de Stella logo desaparece ao encarar o despertador. 

— Droga! - Sussurra. Ela se levanta rapidamente e checa seu celular, confirmando com total infelicidade que a hora do despertador estava certa. - Mac! - Stella chama seu nome suavemente antes de se aproximar e pôr a mão em seu rosto. - Mac, meu amor, precisamos ir! 

— Hum.. Só mais cinco minutos. - Murmura fazendo Stella rir. 

— Daqui a cinco minutos estaremos vinte minutos atrasados! - Com essas palavras, Mac abre os olhos e encara o despertador. 

— Droga! - Diz, sem acreditar no que via. Seus turnos começavam às 9h, e o relógio marcava 9h15. 

Ambos começaram a se arrumar rapidamente. Enquanto um escovava os dentes, o outro tomava banho. A forma como eles faziam tudo aquilo com tanta sintonia os fazia parecer um casal, casados há anos. 

— Precisamos de uma desculpa. - Murmura Stella enquanto põe sua roupa. 

— Dessa vez acho que nossas desculpas não vão colar. Ambos atrasados e você com a mesma roupa de ontem.. Isso vai ser interessante. - Diz com um sorrisinho. 

— Não está ajudando, Taylor. - Havia um sorriso provocativo em seus lábios, mas seu olhar era de repreensão. Com uma risadinha, Mac termina de colocar seus sapatos e vai até ela, beijando carinhosamente sua testa. 

— Vou pensar em alguma coisa. - Ele então vai até a porta, mas se vira antes de sair. - Não da tempo de fazer café, mas tem o de ontem. Pode ser ou você prefere tomar no laboratório? 

— Hoje é a vez do Danny fazer o café, então.. - Sem precisar dizer qualquer outra palavra, Mac entende perfeitamente. 

— Certo, vou esquentá-lo. - Mac vai para a cozinha e a deixa terminando de se arrumar. Quando o assunto era um bom chocolate quente, Danny era a referência. Mas tratando-se de café... Bom, não era um dos seus pontos fortes. 

Suspirando, Stella para em frente ao espelho observando sua roupa de cima abaixo. Passar em seu apartamento para trocar estava fora de cogitação, tendo em vista o quão atrasados eles estavam. Então, dessa vez ela teria que usar sua imaginação. 

— Certo, vamos ver.. - Pondo as mãos na cintura e mordendo o lábio inferior, Stella passa a observar ainda mais atentamente seu look. 

— Amor, temos que ir! - Grita Mac da cozinha. 

— Tô indo. - Responde, ainda mantendo o foco no espelho. Após alguns segundos refletindo, Stella prende seu cabelo num coque bagunçado, porém sofisticado, e retira sua jaqueta, ajeitando sua blusinha branca. Uma última checada no espelho a faz soltar uma risadinha. - Sério, Stella? Grande transformação! - Debocha de si mesma. 

— Princesa, nós realmente temos que... - Antes de completar a frase, Mac para na porta, observando-a de cima abaixo. - Ual, você está linda! - Com um sorriso, Stella pega sua jaqueta e vai até Mac, beijando-o. - O que você fez? Está diferente.. 

— Eu só prendi o cabelo. - Responde rindo. 

— Está perfeita. - Diz levando sua mão ao rosto dela, acariciando brevemente. - Olha, eu posso ligar e dizer que tivemos uma emergência, o que acha? - Stella sorri e bate em seu braço levemente. 

— Ei, eu sou a má influência do relacionamente, detetive! - Mac ri e a beija novamente, dessa vez se afastando. 

— Tem razão, vamos! 

Após pegarem os copos com café e seus pertences, ambos seguem para o estacionamento e entram no carro, mas a intuição de Stella não permite que Mac dê partida. 

— Espera! - Pede com calma. Mac a olha com receio, mantendo uma mão no volante e a outra no câmbio. 

— O que esquecemos? 

— Pegou sua arma? - Mac leva sua mão rapidamente ao coldre e percebe que ela não está. 

— Droga! - Murmura antes de sair do carro. Stella sorri de canto, observando-o voltar para o apartamento. 

Tão rápido quanto havia entrado, Mac sai do apartamento. Ele reafivela o cinto e liga o carro. 

— Podemos ir? - Pergunta a olhando. 

— Sim, acho que está tudo aqui. - Com um breve suspiro de alívio e um sorriso, ele arranca com o carro. 

— Acha que vão pegar muito no nosso pé? - Pergunta com sua atenção voltada para a estrada. Quando Stella estava prestes a responder, seu celular toca. 

— Eles eu não sei, mas com certeza ela vai. - Diz mostrando a tela para Mac, que indicava uma mensagem de Catherine. 

— Será que ela já encontrou alguma coisa? 

—Acho que sim. Ela pediu pra ligarmos assim que tivermos um tempo. 

— Ótimo! Quanto mais rápido resolvermos isso, melhor. - Stella observa as feições de Mac mudarem. Ele estava determinado a desmascarar Sinclair, e havia um certo receio por parte dela nisso tudo. Persegui-lo cegamente não parecia mais ser a opção correta, mas ao mesmo tempo, a essa altura simplesmente parar também não era uma opção. 

Independentemente do motivo, Sinclair estava agindo erroneamente e aquilo poderia prejudicar o laboratório. Ainda assim, saber de onde vinha tanta determinação era a coisa mais importante naquele momento. 

*** 

Enquanto a expressão em seu rosto passava serenidade, sua mente estava mais agitada do que o normal. Por isso, novamente Mac chegou ao seu destino sem nem mesmo perceber, e o seu suspiro pesado não passou despercebido por Stella. 

— Você sabe que eu sempre estarei aqui pra te apoiar, certo? - Apesar da pergunta ter surgido de repente, aquilo não pareceu surpreendê-lo. Ele simplesmente a olhou e esboçou um leve sorriso. 

— Eu sei, e é isso que me motiva a continuar. - Ao ouvir aquelas palavras, um pequeno sorriso também surge nos lábios de Stella. 

— Preciso saber que estamos fazendo isso pelo motivo certo. - Seus olhos estavam fixados nos de Mac, não havia espaço para desconversar ou mentir, mesmo que fosse algo incomum entre eles. Nesse momento ele percebeu que talvez fosse sua determinação que estivesse gerando receio, e então tomar a próxima atitude parecia certo, mesmo estando no meio do estacionamento. Ele precisava fazê-la entender os reais motivos. 

Mac põe sua mão sobre a de Stella e a olha nos olhos, sem ao menos certificar-se de que não havia ninguém por perto. Sua mente parou de gritar e seu coração voltou a bater num ritimo normal. Ela o acalmava, e ele amava aquilo. 

— Seria mentira se eu te dissesse que não sinto raiva por tudo que ele já fez, incluindo pôr essa regra estúpida por causa de uma mera desconfiança. Mas eu preciso que você acredite que eu jamais faria algo para prejudicá-lo por uma vingança ou até mesmo por orgulho. Não posso dizer que tudo o que ele já fez não influencia nisso, mas te garanto que o motivo real pelo que estamos fazendo isso é o correto. Nós só estamos honrando o nosso dever com o laboratório e principalmente com essa cidade. - Mac leva sua mão até o rosto de Stella. Com o toque, ela fecha os olhos. - Me desculpe se pareceu que minha determinação foi gerada pelos motivos errados. 

— Eu confio em você. - Seus olhos se abrem e novamente estão focados nos dele. - Acho que maior parte do receio foi por mim mesma, pra me convencer de que eu também estou fazendo pelos motivos certos. 

— E a que conclusão você chegou? - Pergunta em um tom divertido. 

— Nós somos detetives. Nosso trabalho é fazer justiça, e é isso que vamos fazer. - Mac sorri e se aproxima, beijando-a calmamente. - Também cheguei a conclusão de que sou completamente apaixonada por você. 

— Mesmo eu te beijando no meio do estacionamento e arriscando nossos empregos? - Provoca, fazendo-a rir. 

— Ainda assim. - Mac pega um dos cachinhos de Stella e enrola em seu dedo, enquanto se reaproxima para beijá-la. A distração de ambos era tamanha que por pouco não escutaram o celular de Mac tocar. Suspirando, ele se afasta e o atende. 

—Taylor?! 

— Chefe, é o Hawkes. Está tudo bem? Como você e Stella ainda não chegaram ficamos preocupados. 

— Oi Sheldon. Stella está comigo, não se preocupem. Houve um imprevisto mas já estamos chegando. 

— Certo, te vejo no laboratório. 

— Até. 

~ 

— Se atrasar porque foi dormir às 5h da manhã com a namorada agora é imprevisto? - O provoca. 

— Não é só um imprevisto, é o melhor imprevisto que poderia acontecer. - Com um sorriso, Mac guarda o celular e sai do carro com Stella. - A propósito, quando resolvermos toda essa situação, o que você acha de termos nosso segundo encontro? Sabe, na Grécia e tudo mais.. 

— Eu jamais recusaria isso. - Responde com um sorriso. Mac entrelaça sua mão à de Stella e entra no elevador. Ao se dar conta do que fez, ele se afasta e põe as mãos nos bolsos da calça. 

— Manter nosso relacionamente em segredo está sendo mais difícil do que eu imaginava. - Stella sorri. 

— E aquele papo de que bancar um casal adolescente namorando escondido seria divertido? 

— Isso foi antes de eu descobrir o quão bom é segurar sua mão. - Responde com charme, fazendo-a rir. 

— Quer contar pra alguém? 

— Tipo quem? 

— O primeiro que aparecer. 

— Certo, e se o primeiro que aparecer for o Danny? Não vou dar a ele o gostinho de ser o primeiro a saber. - Diz Mac com seriedade arrancando risada de Stella. 

— Sem excessões, detetive! - Mac suspira. 

— Tudo bem, tudo bem.. Quer mesmo fazer isso? Contar sobre nós e.. Sobre Sinclair. 

— Se você quiser.. - Antes que Mac pudesse responder, as portas do elevador se abrem e eles saem. 

— Espera! - Pede Mac com calma, segurando gentilmente o braço dela. 

— O que foi? - Indaga com uma sobrancelha arqueada. 

— Vamos pra sala de reuniões, assim temos menos chances de encontrarmos Danny. - Stella revira os olhos e ri, desacreditada. 

— Mac! - O repreende. 

— Ei, chefinhos, finalmente! - Ao ouvirem a voz, ambos olham para trás. Mac suspira aliviado ao ver quem era. - Onde vocês estavam? Se perderam no caminho? - Pergunta Don com deboche. Stella e Mac desviam seus olhares, pensando no que diriam. - O que tá rolando aqui? - Mac respira fundo e olha para Stella, que entendendo sua pergunta silenciosa, consente com a cabeça. 

— Vamos pra sala de reuniões. 

*** 

O receio em conversar com Don não tinha a ver com o relacionamento deles, e sim com o caso de Sinclair. Tanto Mac quanto Stella tinham consciência de que, se aquilo tudo não desse em nada, provavelmente quem estivesse envolvido seria demitido. Então envolver a equipe não era uma opção. 

De qualquer forma, Don era o melhor amigo dos dois, e contar somente a parte boa da situação, o namoro em questão, não parecia correto. 

*** 

— Espera! Vocês invadiram a casa do cara? Eu não acredito! - A expressão no rosto de Don era de pura perplexidade, mas o largo sorriso não saía de seus lábios. 

— Acredite se quiser, a parte mais louca não foi essa. - Diz Mac com um suspiro. 

— Encontramos uma passagem de avião para Las Vegas e um cheque de 50.000 dólares em um envelope. Dunbrook foi quem deu o cheque para Sinclair, dizendo que ajudaria o laboratório. Mas ele recusou. 

— Bom, pelo menos foi o que pensamos. Ele me disse que havia devolvido, mas não foi bem assim. - Mac respira fundo, recostando na cadeira. - Agora ele está em Vegas e não fazemos idéia do porquê. Precisamos descobrir! 

— E como pretendem fazer isso? - Pergunta Don com seriedade. Mac e Stella se olham brevemente antes de voltarem sua atenção à Don. 

— Eu pedi ajuda à Catherine e ao Grissom. Como Sinclair não os conhece, não levantariam suspeitas. 

— Só assim conseguiremos provas, do que quer que seja. - Don alternava seu olhar entre Mac e Stella. Era visível a sinceridade com que contavam a história, mas para Don havia algo a mais. 

— Imagino que essa seja a parte mais louca da história. Mas e o resto? Tem mais alguma coisa acontecendo, não tem? - Havia um tom inconsciente de preocupação em sua voz. Don sempre teve Mac e Stella como suas maiores referências. Eles jamais saíram do seu lado, e se tivesse algo acontecendo além da história de Sinclair, ele com certeza os ajudaria. 

— Tem mais uma coisa, na verdade.. - Mac diz com calma, olhando para Stella. Sem dizer qualquer palavra, ele cobre a mão de Stella, que estava sobre a mesa, com a sua. Um pequeno sorriso surge no rosto dela, e então tudo começa a fazer sentido para Don. 

— Espera! Vocês dois estão... 

— Sim, estamos. - Havia um orgulho e uma alegria notória na voz de Stella. 

— Meu Deus, isso é incrível! Mas por que não contaram nada antes? Quer dizer, eu sou o primeiro a saber, certo? Não me digam que Danny sabe? - Mac e Stella riem da repentina preocupação de Don. 

— Não, ninguém mais sabe. E Don, tem que continuar assim, pelo menos por enquanto. - E novamente as coisas começam a fazer sentido para Don. 

— Por causa da regra, não é? Se Sinclair ficar sabendo, vocês podem ser demitidos. - Ambos balançam a cabeça, concordando. 

— Precisamos manter em segredo, pelo menos até resolvermos tudo isso. E aí quando resolvermos, eu grito pra esse laboratório inteiro ouvir que sou apaixonado por essa mulher. - Mac sorri e deposita um beijo na mão de Stella rapidamente, fazendo-a sorrir também. 

— Olha, vocês sabem que podem contar comigo. Se Sinclair estiver armando algo, vamos descobrir e fazer de tudo para colocá-lo atrás das grades. E em relação a vocês, o segredo está bem guardado comigo. E eu estou muito feliz que finalmente se resolveram. - Don sorri alegremente. 

Don sempre reparou na grande amizade que Mac e Stella tinham, e como a proximidade deles aumentou no decorrer dos anos. Mas havia um brilho diferente em seus olhos quando estavam juntos, um brilho que somente eles tinham um com outro. Talvez tenha sido esse o maior motivo para Don começar a torcer em silêncio pelos seus amigos. Eles faziam bem um ao outro, e aquilo o deixava feliz. 

*** 

— Eu odeio ser o estraga prazeres mas temos um caso. - Diz Don enquanto checa a mensagem que chegara em seu celular. 

— Você vai ou eu vou? - Pergunta Mac para Stella com um leve sorriso. 

— Pode deixar essa comigo. 

— Uh, parece que os parceiros do crime voltaram. - Don diz com entusiasmo se levantando com Stella. 

— Donald Flack, se minha namorada voltar com algum arranhão, você vai se ver comigo. - Diz fingindo seriedade. 

— Tá ouvindo Don? Melhor tomar cuidado! - Stella entra no jogo, arrancando um sorriso de Mac. 

— O que é isso? Um complô contra mim? Devo chamar o Danno? - O drama de Don arranca risadas de ambos. 

— Opa! Ouvi meu nome. - Danny surge de repente na porta. - O que é isso? Uma reunião secreta? - Pergunta Dan. 

— Sim. Estávamos decidindo a melhor forma de dizer o quão ruim é o seu café. - Implica Don. 

— Tá engraçadinho hoje, hein Don. - Stella revira os olhos. 

— Que tal resolvermos aquele caso, hein? 

— Certo! Danny, me desculpe pela sinceridade. - Debocha Don. 

— Sem problemas, Júnior. - Implica Danny, visto que Don odiava ser chamado de Júnior. Dessa vez é Mac quem revira os olhos, levantando-se da cadeira. 

— Stella, o que você acha de contratarmos a Lucy no lugar desses dois? 

— Acho uma ótima idéia. 

— Qual é pessoal, é só brincadeira. - Defende-se Danny, jogando as mãos para cima em forma de rendição. - Chefe, tem uma ligação pra você na sala de conferências do laboratório de Las Vegas. - Mac e Stella se olham. 

— Certo. Obrigado Danny. - Danny consente e sai da sala, sendo acompanhado por Don. 

— Quer que eu fique? Posso pedir ao Danny que vá no meu lugar. - Pergunta Stella. 

— Não, está tudo bem. Qualquer novidade eu te aviso. - Stella sorri de canto e consente, indo para a porta. - Stel!? - Stella para na porta e volta a olhá-lo. - Toma cuidado, tá? - Ela sorri e se reaproxima de Mac. Após uma olhada rápida para trás, os lábios dela colam nos de Mac brevemente. 

— Eu amo você! - Sussurra antes de se afastar novamente. - Te ligo mais tarde. - Sem esperar por uma resposta, Stella sai da sala, deixando Mac sorridente para trás. 

Até então tudo estava caminhando para uma rápida resolução do caso. A ligação de Las Vegas poderia conter informações valiosas. Apesar da situação difícil, Mac tinha um sentimento de que no final tudo realmente daria certo. O que nem ele nem ninguém esperava, era que o atual caso da equipe mudaria o rumo das coisas. A questão era se mudaria para melhor, ou... Pior. 

Continue...