Através da pequena sacada do apartamento ela admirava o céu estrelado, com suas duas grandes e brilhantes esmeraldas. Era assim que Mac se referia aos seus olhos. Ele costumava dizer que nem mesmo a mais linda jóia se comparava ao brilho dos seus olhos, e era verdade. 

O grande roupão felpudo a mantinha aquecida do frio que fazia naquela noite. Ainda assim, quando a brisa gelada soprou seu rosto, ela cruzou os braços sobre o peito afim de espantar o frio. Apesar disso, havia um singelo sorriso em seu rosto. Stella sempre amou admirar a noite enquanto o ar puro soprava sua pele. Um costume que ela adquiriu no orfanato quando, como hoje, não conseguia dormir. 

Os pensamentos que rondavam sua mente eram parecidos com os de Mac mais cedo. A única diferença entre eles era que agora havia algo a mais.  Era quase impossível não se fazer a única pergunta que mais a preocupava em toda essa situação.. 

O que aconteceria entre eles se Sinclair ou outra pessoa descobrisse sobre o novo romance? 

** 

Antes de encontrar uma possível resposta para a enorme incógnita em sua mente, dois braços fortes envolvem sua barriga, abraçando-a fortemente. Novamente um lindo sorriso surge em seus lábios, e então seus olhos se fecham imaginando se em algum momento ela acordaria daquele sonho. 

— Oi. - Seu rosto embrenhado no pescoço de Stella faz sua voz sair praticamente inaudível. Sentindo a fungada em seu pescoço, ela ri. 

— Ei.. Também está sem sono? 

— Um pouco.. - Mac ergue a cabeça para poder olhá-la. Stella tinha sua típica expressão serena no rosto. Mas, ao mesmo tempo que ela parecia tranquila, também havia algo de diferente. Algo que somente alguém com anos de amizade conseguiria reparar. - Você parece um pouco tensa. Tem algo te incomodando? - Respirando profundamente Stella se vira, envolvendo o pescoço de Mac com seus braços. 

— O que vai ser de nós se Sinclair descobrir? Se formos demitidos ou se um de nós for transferido para outro laboratório? Mac, eu não quero te perder. - Com um sorrisinho de canto, Mac se aproxima ainda mais, beijando-a com ternura. 

— Rota 66, altura de Illinois, 1996. - Automaticamente a expressão no rosto de Stella se transforma em pura confusão, mas pouquíssimos segundos depois a lembrança do dia em questão vem à sua mente. 

— Nosso acidente de carro. - Sussurra em resposta. 

*** 

23 de novembro de 1996 - Rota 66, Illinois. 

A rota 66 era o sonho de todos que iam para Illinois, fosse a trabalho ou a passeio. Para os Nova-iorquinos não era diferente. Fazer pelo menos uma viagem usando a famosa rota, conhecida como a mãe das estradas, era essencial para eles. 

Aquela era a terceira viagem que Mac e Stella faziam, separadamente, através da rota. Porém, era a primeira que ambos faziam juntos à trabalho. No dia anterior, Sinclair os alertou sobre um caso em Chicago. De acordo com o departamento de lá, o caso tinha não só ligação com Nova York, mas também com um caso antigo de Mac. 

Como de costume nessas situações, Mac e Stella pegaram a estrada deixando Danny com a supervisão do laboratório. O caminho até lá, assim como a resolução do caso, foram tranquilos. Mac logo reconheceu o suspeito, Ben Williams, como sendo o co-autor de um de seus casos do passado. Apesar de terem encontrado a ligação, Ben logo foi absolvido por Mac, visto que ele havia sido morto a dois anos atrás numa rebelião na cadeia onde estava. 

Com a ligação desfeita e um novo suspeito tendo sido encontrado, Mac e Stella voltaram para a estrada, rumo a Nova York, por volta das 19h. E foi aí que o inesperado aconteceu.. 

O caminho foi tomado por músicas, cantorias e risadas de ambos. Apesar do aparente cansaço, a alegria em estarem juntos ali era notória. Mac cantarolava todas as músicas que tocavam enquanto batia seus dedos no volante. Já Stella tomava seu segundo energético afim de se manter acordada e continuar se divertindo pelo resto do caminho. 

O que nenhum dos dois esperava era que próximo aonde eles estavam, um motorista completamente alterado pela bebida saía de um bar, dirigindo sentido contrário para Chicago.. 

— Ei, eu gosto dessa música! - Reclama Stella ao ver Mac trocando de música. 

— Tudo bem! Mas eu só coloco se você cantar. - Provoca com um sorriso travesso nos lábios. Stella por sua vez, revira os olhos e começa a cantar. - Eu poderia desligar o rádio e ficar te ouvindo cantar até chegarmos em Nova York. 

— Hum, se eu fizer isso, me leva pra jantar quando chegarmos? - Pergunta olhando para ele com um sorriso. 

— Depende.. - Responde com um ar misterioso. 

— De quê? - Indaga Stella com uma sobrancelha arqueada. 

— Vai ter que maratonar Vikings comigo! 

— Ahhh Mac, é sério? Não pode ser... Sei lá, te levar pra tomar café todos os dias por uma semana? - Mac ri do drama de Stella. 

— Isso seria muito fácil! 

— Certo! Eu assisto com uma condição! 

— Vamos ficar nessa até quando? - Debocha. 

— Então pode dar adeus aos vikings.. - Diz se ajeitando no banco, fingindo desinteresse. 

— Certo.. O que é? 

— Vai tirar o próximo fim de semana pra me levar em Los Angeles. 

— Uou.. Por que eu faria isso? - Pergunta desacreditado. 

— Uma amiga minha vai inaugurar um estúdio de dança e eu quero estar lá para apoiá-la. Logo, você que é o meu melhor amigo que, diga-se de passagem, eu amo muito, deve ir comigo. - Um sorriso largo surge nos lábios de Mac, vendo novamente uma oportunidade para provocá-la. 

— Só se disser de novo que me ama! 

— Pra você ficar mais convencido do que já é? Esquece! 

— Que pena.. Eu ia te levar.. - Revirando os olhos, Stella se vira para ele. Mas, antes que mais alguma palavra pudesse ser dita, um carro em alta velocidade surge jogando-os para fora da estrada. 

O carro capotou duas vezes, parando próximo a um lago. Apesar da situação não parecer nada boa, tanto Mac quanto Stella estavam de cinto e não sofreram lesões graves. Ainda assim, quando Stella abriu os olhos no hospital e, além de não se lembrar da última hora, não viu Mac ao seu lado, o desespero veio a tona. 

O medo de tê-lo perdido gritava em sua mente. Ela perguntava a cada enfermeira onde ele estava e o que havia acontecido, mas ninguém sabia a resposta. As lágrimas que escorriam por seus olhos já eram tantas que ela nem se dava ao trabalho de secá-las. Tudo aquilo parecia ser o pior de seus pesadelos, até que aquele cheiro familiar invade a sala, atraindo seus olhos avermelhados para a porta. 

— Mac... - Ela sussurra, com medo daquilo não ser real. 

— Ei.. - Diferente de Stella, Mac se lembrava de tudo que havia acontecido. No carro ele acordou primeiro e a viu desacordada. Ela bateu com a cabeça e acabou tendo uma concussão. Enquanto eles a levavam para fazer exames, uma enfermeira cuidava dos cortes na testa de Mac. 

— O que aconteceu? - Havia muitas outras perguntas na cabeça de Stella, mas aquela parecia ser a mais sensata a se fazer no momento. Mac se aproxima de Stella, sentando ao seu lado na beira da cama. 

— Foi um acidente. Um motorista bêbado bateu no nosso carro, mas agora está tudo bem. Nós dois estamos bem! - Se esforçando ao máximo para manter as lágrimas longe por vê-la daquele jeito, Mac esboça um meio sorriso, levando sua mão ao rosto dela e acariciando levemente. 

— Quando eu não te vi, eu... Eu.. Achei que tivesse te perdido. - Diz com a voz totalmente embargada. 

— Não importa o que aconteça, você nunca vai me perder. Eu sempre estarei aqui por você. Isso é uma promessa. - Diz com seus olhos fixados aos dela. Naquele momento, Stella soube que tudo estava bem. 

*** 

— Naquele dia eu te prometi que você jamais me perderia, não importa o que aconteça. Com essa situação não será diferente.. - Mac leva sua mão ao rosto de Stella e seca a única lágrima que rolara. - Meu amor, eu amo você. E eu vou continuar te amando mesmo que Sinclair ou qualquer outra pessoa descubra. Mesmo que ele me transfira pra outro continente ou, eu não sei, me prenda por ser louco por você. - Stella solta uma risadinha pelo exagero de Mac, e ao ouvir o som da sua risada, ele sorri. - Não importa o que aconteça, eu te amo e vou te amar pra sempre. - Stella o puxa para um forte abraço, fechando seus olhos. Agora ela tinha certeza de que nada daquilo era um sonho. Tudo era real, e nada mudaria isso. 

*** 

— Você não tinha algo pra me mostrar? - A voz baixa de Stella quebra o silêncio que havia se formado enquanto ambos observavam a noite na mesma posição. 

— Bem lembrado. - Responde com um sorriso. - Vem, eu te mostro enquanto preparo um chocolate quente pra você. O que acha? - Stella simplesmente sorri e o beija, puxando-o pela sua mão em direção a cozinha. - Vou buscar o computador, já volto. - Stella consente e senta no banquinho em frente ao balcão, cruzando os braços sobre ele. 

— Prontinho. - Diz voltando rapidamente. Ele apoia o notebook sobre o balcão e acessa o documento que queria que Stella visse. - Aqui está. - Ele põe o computador em frente a ela, sem tirar o pequeno sorriso do rosto. 

Stella observa atentamente todas aquelas informações, tentando descobrir do que se tratava. 

— O que acha que é? - Indaga Mac a olhando. 

— Parece todos os casos que já tivemos até hoje. Isso aqui tá mais organizado do que a sala de arquivos no laboratório. - Diz com um sorriso arrancando risada de Mac. 

— É, provavelmente. E você quase acertou. 

— Sério? O que é então? - Pergunta com uma expressão curiosa. 

— Esses são todos os casos que nós dois resolvemos juntos. - Stella o olha com um brilho intenso, sem saber o que dizer. - Em cada um deles você foi a minha base. Eu só não cheguei ao meu limite porque você estava comigo. E todos esses casos só foram resolvidos por causa da detetive extraordinária que você é. 

— Mac.. Odeio quando você tira o dia pra me fazer chorar. - Junto à mais algumas lágrimas que rolavam, a risada ecoava pela cozinha. 

— Sabe por que eu fiz isso? 

— Além de ser pra me fazer chorar? - Mac ri, desviando brevemente seu olhar sem graça. 

— É, além disso.. Eu fiz pra te provar que não conseguiria fazer esse trabalho sem você, Stella. 

— Nisso eu vou ter que discordar.. - Stella levanta do banco e põe as mãos no peito de Mac. - Eu amo a nossa parceria e as coisas extraordinárias que fazemos juntos. Mas meu amor, você se tornou um herói pra essa cidade. Eles precisam de você e... - Com um beijo terno, longo e apaixonado, Mac a interrompe. 

— Parte de quem eu sou hoje é graças ao meu pai e a tudo que ele me ensinou. A outra parte é graças a você. Sem você eu continuaria sendo aquele cara rabugento, que não se envolvia em nenhum caso buscando sempre a saída mais fácil, e que não ligava pra nada além de trabalho. Algumas pessoas podem até me considerar um herói, mas pra mim você é a maior heroína. 

— Eu te amo.. - Sua mente tinha mais coisas a serem ditas, mas novamente, aquela pequena frase parecia resumir tudo. Sua voz saiu embargada por causa de tantas lágrimas acumuladas. Mas aquelas lágrimas não significavam nada além de emoção e alegria. Não só alegria por ter Mac ao seu lado como o amor da sua vida, mas também por ter feito parte da sua mudança. 

Era difícil dizer o quanto ela se orgulhava do homem maravilhoso que ele se tornara, assim como ele se orgulhava imensamente da mulher que ela era. Mal sabiam eles que para boa parte daqueles nova-iorquinos, ambos eram heróis. 

*** 

— Preparada para tomar o melhor chocolate quente da história? - Mac se aproxima com duas canecas em mãos, sentando-se no sofá ao lado de Stella. 

— Será que o chocolate quente do Danny vai perder o lugar de "O melhor"? - Provoca com um sorriso. Danny não era um dos melhores quando se tratava de cozinhar, mas ele sabia preparar um chocolate quente como ninguém. 

— Tá brincando? Danny que me aguarde. - Stella ri, pegando a caneca e tomando um bom gole do líquido quente. 

— Mac Taylor, há algo que você não saiba fazer? - Indaga, maravilhada com o saboroso chocolate quente. Mac ri um pouco sem graça e também bebe seu chocolate. 

— Na verdade tem. Meu risoto não é um dos melhores. 

— Uhh, quer fazer um agora? - Pergunta com entusiasmo. 

— Amor, são 4h da manhã. - Diz rindo. 

— Nosso turno só começa às 9h. Conseguimos fazer o risoto e.. - Stella se aproxima de Mac e cochicha algo em seu ouvido, deixando-o com um sorriso de ponta a ponta. 

— Já disse como eu sou louco por você? - E então ela sorri. 

Continue...