Pai Pioneiro escrita por Carcata


Capítulo 3
Primeiras Palavras


Notas iniciais do capítulo

agr temos um pouco de angst~



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— Ah! — Grogu exclamou, e pela décima vez naquele dia estendeu o braço para pegar mais um objeto ou bugiganga qualquer que lhe chamou a atenção.

— Não. — Din o puxou para mais perto e escondeu a mão dele, com medo de seus poderes de Jedi se manifestarem de novo.

Ambos estavam em um bazar em Nevarro, Din andava por entre os camelôs depois de ter reabastecido a Razor Crest, e Grogu estava escondido na bolsa de couro do Mandaloriano, admirando tudo o que podia e comentando em voz alta palavras incoerentes.

— , — Grogu proclamou, e Din se questionou se ele estava tentando o imitar. — Nahnah!

— Você está bem tagarela hoje. — Din murmurou, intrigado. Faziam apenas alguns dias desde que o pequeno começou a pronunciar vogais aleatórias e que logo depois se transformaram em sílabas, ainda sem sentido.

Será que já estava na época dele aprender a falar? Por mais que estivesse quase desesperado por qualquer outro resquício de informação sobre a criança, ainda não sabia quase nada sobre ela.

— Ahh! — O bebê chiou novamente, inquieto, e Din suspirou, sentindo-se intensamente cansado mesmo sem ter trabalhado como caçador de recompensas há mais de uma semana.

— Ainda está com problemas com o pequeno? — Uma voz divertida e familiar soou a sua volta, e Din virou-se para encontrar Cara Dune a poucos metros de distância e com um sorriso bem convencido para ele.

— Estava me perguntando quando você ia aparecer - respondeu e ao mesmo tempo deixando uma pergunta no ar. Por que está aqui?

— Ah, você sabe, trabalho de chefe aqui é complicado, só passei para patrulhar a área... — Ela abanou uma mão no ar, como se não fosse nada importante, mas os olhos dela traçavam a figura de Din rapidamente à procura de algo.

— Entendi, — O Mandaloriano disse, sua voz sarcástica, e resgatou Grogu escondido em sua bolsa para ela vê-lo. — E eu pensando que você só veio para "patrulhar" isso aqui--

— Oh, como ele está? Olá, pequenino! — Ela exclamou antes mesmo dele terminar a frase, aproximando-se dos dois e acariciando uma das grandes orelhas da criança.

— Oah! — Grogu exclamou, feliz com a atenção.

— Ele disse "olá". — Din traduziu, já acostumado com linguagem de bebê.

— Ele já está falando? — Cara o encarou, curiosa e encantada.

— Quase, — respondeu, e escondeu Grogu novamente para evitar olhares curiosos no meio dos bazares. — Já estamos de saída. Se quiser, pode nos acompanhar até a nave.

Cara elevou uma sobrancelha, notando o desconforto dele com a multidão do mercado de Nevarro.

— Paranoico como sempre, Mando.

— E com razão. — Din murmurou, aborrecido agora que se lembrava de todas as vezes que Grogu foi quase capturado por tropas Imperiais ou outros caçadores de recompensa. Colocou uma mão gentil na cabeça do pequeno, um instinto forte e protetor surgindo em seu peito.

Cara o observou com algo em seus olhos do qual Din não soube identificar, mas os lábios dela se levantaram em mais um sorriso.

 — Vejo que não mudou em nada. — comentou ela, e ele não sabia se aquilo era um elogio ou provocação. — Pois bem, vamos lá.

 

 

 

 

— Qual o seu próximo destino? — Cara perguntou quando adentraram a Razor Crest, e Din depositou Grogu no chão antes de verificar o combustível da nave.

— Um planeta chamado Thyton, — respondeu, mas Cara já parecia não ouvir mais, sua atenção focada no bebê, que tentava conversar com ela. — Uma Jedi me disse para ir lá com Grogu.

— Grogu? — Ela exclamou, surpresa, e as orelhas do pequeno levantaram em curiosidade ao ouvi-la.

— Goguu. — Ele repetiu, parecendo fascinado agora que percebeu que podia pronunciar seu próprio nome. Ou pelo menos uma fraca imitação da palavra.

Din segurou uma risada, encontrando-se incapaz de desviar sua atenção à cena.

— Esse é seu nome? — Cara continuou para ele, tentando encorajá-lo. — Grogu. Você consegue dizer "Grogu"?

— Goguu. — Ele tentou outra vez, mas aparentemente ainda não conseguia pronunciar sílabas com R.

— E "Jedi"? Sabe falar "Jedi"? — Cara insistiu, mas o pequeno virou o rosto, adotando um semblante triste, e Din lembrou-se das palavras de Ahsoka Tano, sobre o passado traumatizante que a criança tinha quanto aos Jedi e a Guerra dos Clones. Talvez fosse uma lembrança da qual Grogu não queria dizer em voz alta. — Tá bom, então... Tente dizer "Din".

Din quase tropeçou nos degraus da cabine.

Grogu a encarou, confuso, e Cara apontou para o Mandaloriano.

— É o nome dele. "Din", — Ela explicou. — Você sabe o nome do seu papai, não?

E Din queria desaparecer naquele instante, esconder-se na sala do painel de controle e não sair mais, porque aquilo tinha o deixado sem fôlego.

— Pa, — Grogu começou, animado, e foi direto para o ultimato. — Papa.

Din engasgou.

— Ótimo, Grogu, — Cara o elogiou. — Não era o que eu esperava, mas é o suficiente. Foi sua primeira palavra?

— Dune, — Ele a chamou, sua voz pesada, mas não sabia o que dizer. Só queria que ela parasse.

Ela o encarou, notando seu desconforto, e levantou-se quando a tensão dos ombros do Mandaloriano implicaram a seriedade da situação.  

— Você deveria ir. — Ele disse, engolindo em seco.

— Mando... — Ela parecia querer falar algo a mais, mas se conteve, e apenas assentiu para ele. — Boa sorte com o garoto.

Ela sorriu para Grogu mais uma vez antes de descer a rampa da Razor Crest e sair da visão de Din, que suspirou em alívio.

— Aah... — Grogu chiou, triste agora que Cara tinha ido embora, e Din o pegou em seus braços.

O bebê o observou com seus grandes olhos escuros antes de sorrir novamente, Cara Dune esquecida pela presença do outro.

— Papa. — pronunciou a palavra com clareza, como se fosse algo a se orgulhar, e o coração de Din disparou.

— Não, Grogu, — sussurrou para ele, um nó em sua garganta. — Não fale isso.

Ele não estava preparado para ser... O que quer que o garoto queria que ele fosse. Não era pai, não tinha família desde que começou seu treinamento como Mandaloriano, sua comunidade tinha se desfeito em Nevarro e agora estava completamente sozinho.

Ele não merecia ser pai de ninguém.


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