Grisssom chegou em casa emocionalmente exausto. Subiu a escadaria e tomou o rumo do quarto de Julia. Abriu a porta com todo cuidado para não fazer barulho e com o mesmo cuidado para não ser notado sentou-se na beira da cama de Julia, fez um carinho em seu rosto afastando seus cabelos castanhos. Os olhos de Sara não saiam da sua cabeça, e tinha certeza do motivo, eram os mesmos olhos de Julia. Ele respirou fundo. 

— Senhor. – Ruth sussurrou. – Desculpa, me assustei. O senhor não costuma a entrar essa hora no quarto da menina Julia.

— Ela se divertiu hoje em sua festinha, não? – Ele sorriu.

— Muito, ela brincou muito e amou os presentes. Mas o que ela mais gostou foi do senhor estar presente, desculpe a intromissão Senhor, mas esteve muito afastado de Julia. Ela sente sua falta. – Ruth tentava manter toda a educação e respeito perante ao seu chefe, mas tinha que ser sincera. – E você esteve um pouco distante hoje depois da visita daquela senhora.

— Ela me disse algo, algo que eu não quero acreditar.

— Se o senhor precisar conversar. Pode contar sempre com a minha discrição. Eu fiquei um pouco preocupada.

— Preocupada? – Grissom estranhou.

— O segurança comentou que ouviu aquela mulher dizendo que sua filha bem… Parecia uma ameaça.

— Não. – Ele a acalmou. – Venha ao meu escritório.

Ruth foi até o escritório de Grissom, acompanhada do mesmo. Ele confiava muito em sua governanta, ela já morava em sua casa desde muito tempo e era como uma mãe para sua filha. Se havia alguém com quem ele poderia desabafar, era com ela.

— Eu… Eu não consigo acreditar no que o senhor está me dizendo. – A governanta parecia muito surpresa.

— Também estou em choque. Amanhã vou realizar o exame de compatibilidade. Agradeço toda a discrição que puder ter, principalmente perto de Julia.

— Claro senhor. Mas, me permite uma pergunta?

— Fale. 

— Essa mulher, essa tal Sara. Ela irá levar a menina Julia daqui? E essa outra menina, a que pode ser sua filha, virá morar aqui?

— Eu ainda não sei como as coisas irão decorrer. Mas eu nunca vou me afastar de Julia. Não importa o que digam os exames genéticos, Julia Grissom é minha filha. E ninguém vai mudar isso. – Grissom disse firme.

Grissom deitou na cama aquela noite com mil pensamentos na cabeça. Na manhã seguinte iria coletar o exame para ver a compatibilidade com a filha de Sara, e que na realidade poderia ser a sua filha. Ele não conseguia dormir, muitos pensamentos e medos rondavam a sua cabeça. E ele, que por tanto tempo escondeu suas emoções e evitou todos os tipos de sentimentos, exceto os para sua filha, agora estava em um turbilhão de emoções e se tornava vulnerável mais uma vez.

Só de pensar em perder sua filha, o fez lembrar da dor que era perder Laura. Nunca mais pensou que poderia se sentir como naquele dia, o sentimento de perda, de desespero, de solidão. Se aquela menina saísse pela porta da sua casa, ele não sabia se aguentaria. Por outro lado, havia uma menina no leito de um hospital, uma menina que tinha seus olhos, os cabelos e nariz de Laura, e que por mais que quisesse negar, estava estampado em todos os traços que aquela era sua filha biológica. Sua filha com Laura.

Ele rolou na cama por mais alguns segundos. Sabia que tinha que ligar para uma pessoa, uma pessoa que não via há muito tempo, mas que ainda sim, poderia ser o único a auxiliar nessa situação. Pela manhã, mesmo sem ter pregado o olho e com muitos receios. Ele cedeu, e com o telefone na mão, chamou pelo número.

— Oi Roberto, aqui é Gilbert Grissom… É, já faz um tempo… Eu preciso da sua ajuda. É importante.