— Mamãe? Quem é esse moço? – Julia tinha a voz pesada de cansaço.

Sara não soube o que dizer, ainda estava paralizada. Grissom, no entanto, entrou no quarto e fitou a menina com atenção. Os olhos azuis, os cabelos loiros, o formato do nariz. Apesar de frágil e pálida, ela lembrava muito Laura. Nesse momento ele quem ficou estático. Muitos pensamentos tomavam conta em sua cabeça, mas ele não conseguia compreender, pois estavam todos bagunçados. Não conseguia falar ou se mover.

— Amor, esse é um amigo da mamãe. Ele estava preocupado e queria saber como você estava. – Ela puxou Grissom pelo braço ao perceber que não se movia. – Nós vamos tomar um café lá em baixo, daqui a pouco a mamãe tá de volta. Tá bom?

— Tá bom mamãe. – A menina bocejou. – Tchau amigo da mamãe.

— Descansa princesa. 

Sara fez um carinho na pequena que já estava adormecendo novamente, deu um beijo na testa dela e em seguida puxou Grissom para fora do quarto. Eles caminharam em silêncio até a copa que havia no hospital, sentaram lá. Grissom pediu dois cafés, e em seguida quebrou o silêncio.

— Me desculpe. Eu te tratei muito mal. – Respirou profundamente. – Mas alguém chegar na sua casa dizendo que a sua filha não é sua filha, e que sua filha de verdade está em um hospital, doente. Não parece verdade.

— Não está sendo fácil para mim também. Só que eu não tive opção e nem luxo de me dar tempo para digerir tudo que estava acontecendo. Eu precisei tomar uma atitude. Julia não está nada bem. – Seu tom era seco.

— O nome dela é Julia? – Grissom disse com certo espanto ignorando  o tom de voz dela.

— Sim, Julia.

— É que a minha filha, ela também se chama Julia. – Ele ainda demonstrava estar pasmo.

— É eu sei, você me falou o nome dela… 

— Sara, olha, eu sei que tudo é muito confuso, e você tem que entender que é uma história muito difícil de acreditar e…

— Mas quando a olhou, você não viu a semelhança? Nenhuma semelhança? – Sara parecia que ia se desesperar de novo. – Hoje quando fui na sua casa, quando eu vi seus olhos, vocês tem os mesmos olhos, o mesmo olhar. Você tem que admitir. – Suplicou. – Se você não a quer, eu a quero, eu a amo, e ela é a minha filha. E eu não posso deixar ela morrer.

— É claro que se ela for minha filha eu a quero. Eu quero ela, ser parte da sua vida. Mas eu preciso ter certeza.

— Só quero que você faça o exame de compatibilidade, você já vai poder tirar todas as suas dúvidas. Eu estou desesperada. – Sara então começou a chorar. – Eu não consigo comer, dormir,  trabalhar. Não consigo fazer nada desde o diagnóstico da Julia. E quando eu soube que ela não era minha filha, e que o meu bebê estava pelo mundo, sem saber se era amada, cuidada, feliz. 

— Julia é uma menina alegre. Feliz. Mas a mãe dela, Laura, faz muita falta. Ela é o único elo que tenho com a minha esposa, e você está dizendo que durante esses seis anos a criança que amei e criei como filha, não é minha filha. – Grissom tomou um grande gole de café. – Mas eu sinto ela como minha. Se o que você está dizendo é verdade, como vou fazer? O que vamos fazer? Eu quero cuidar da minha filha biológica, mas a Julia é minha filha. E eu a amo.

— Você acha que eu não entendo como você se sente? Mas depois nós vamos ter tempo para poder ver isso com calma. Agora eu só preciso que você faça o exame de compatibilidade. Eu te suplico.

Era claro que Sara tinha as mesmas dúvidas que Grissom, e como não? Ela teria que se separar da filha dela? Ela ficaria com a filha biológica? No entanto, ela tinha prioridades, e no momento a prioridade era salvar Julia Sidle. 

— Qual a chance de eu ser compatível com Julia, se eu realmente for o pai dela?

— De sete a dez por cento. Se você e sua esposa tiveram outros filhos, a chance é de vinte e cinco por cento. Mas ainda há chance de avós, primos, tios, e outros parentes serem compatíveis.

— Julia é filha única. – Disse com pesar. – Eu não tenho muitos familiares vivos além da minha mãe, e eu perdi contato com os parentes de Laura após a sua morte. – Ele suspirou. – Mas podemos retormar contato se for necessário.

— Você acredita em mim agora? – Sara disse aliviada.

— Eu vou fazer o exame, não posso ficar com essa dúvida agora. Se você estiver certa e essa menina for filha de Laura, ela jamais me perdoaria. Vamos cuidar dela, garantir que fique bem, e depois a gente dá um jeito em toda essa confusão.

— Muito obrigada. Muito muito muito obrigada.

Sara colocou as suas mãos sobre as mãos de Grissom e sorriu aliviada pela primeira vez nas últimas semanas. Ele respondeu com o mesmo sorriso. Se alguém visse de fora, poderia notar um olhar cumplice entre os dois.