Coincidence Of Love ✖ GSR escrita por Fénix Fanfics


Capítulo 60
Parte 2 ✖ Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Alguns dias longe, mas to aqui de volta e o capítulo é grande. Espero que gostem desse capítulo que eu porque tá cheio de emoções!!

Desfrutem ♥



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O telefone ao lado da cama tocou um par de vezes, demorou para que acordasse, e ainda sonada atendeu. Era a recepção avisando que Rafaela estava ali para ver ela. Deixou que subisse. 

— Hey Sara, como você está? – Disse assim que adentrou o quarto.

— Bem melhor. Gil falou contigo?

— Ele estava bem preocupado.

— Eu estou bem agora. – Ela forçou um sorriso. 

Convidou Rafaela para se sentar ao sofá junto com ela. 

— O que você tem sentido?

— Enjôos matinais, náuseas, dores de cabeça, mudanças de humor, irritabilidade, embora eu acho que isso acontece mais quando estou perto do Gil. Sensibilidade nos seios. E hoje tive um pouco de febre. 

Rafaela sorriu de canto. 

— Qual foi a última vez que você menstruou?

— Oito ou dez semanas. Mas meu ciclo tem ficado bastante irregular. Do contrário, não teria gastado tanto tempo com testes de gravidez. – Deu os ombros.

— E por que você não estaria grávida agora? – Ela sorriu de canto.

— Primeiro, meu último teste deu negativo. E meu marido fez vasectomia. Esqueceu? – Deu os ombros.

— Com vasectomia ou não, sempre tem uma pequena chance e sabe disso. 

— Não é gravidez. Tenho certeza. – Suspirou. – E ainda que fosse, seria em um péssimo momento.

— Nunca é um mal momento para a chegada de um bebê.  

— Febre não é sintomas de gravidez. Isso deve ser por conta das medicações que eu estava tomando para fertilidade. – Se remoeu com a lembrança. – Como a idiota que eu era. 

— Mas você já não parou de tomar?

— Eu estava tomando doses muito elevadas, e o médico pediu para que eu fosse tirando aos poucos para evitar descontrole hormonal, como um desmame.

— Doses elevadas? Sara? – Rafaela estranhou. – Como que te receitam doses elevadas se Gil nem tinha feito os exames de fertilidade ainda? 

Sara não respondeu.

— Você aumentou as doses por conta, não foi? – Perguntou em tom acusatório.

— O Gil…

— O Gilbert fez muita cagada. – Rafaela interrompeu antes que Sara se justificasse. – Mas você se automedicar não é culpa dele. É sua, e somente sua. Que irresponsabilidade Sara. – Rafaela bufou. – E o que o médico falou?

— Ele não gostou, claro. – Disse resignada. – Por isso estou tirando ao poucos. 

— Eu ainda sim iria ao laboratório fazer um exame de sangue. – Rafaela disse por fim, não adiantava ficar recriminando ela agora. – Enjôos matinais, dores de cabeça, com todo esse estimulante hormonal, pode sim ser gestação. E você vai me desculpar amiga, mas sua barriga parece maior também.  – Ela sorriu de canto. – Testes de farmácia podem falhar. Eu iria ao médico e tiraria a dúvida. 

Sara ficou pensativa. E se Rafaela estivesse certa? Fazia alguns dias que sentia um desconforto abdominal, bem na parte baixa. Não se lembrava de ter sentido isso quando não engravidou de Júlia, mas era um desconforto comum nos primeiros meses gestacionais de Noah. 

Era impossível. Gilbert havia feito uma vasectomia. Mas também era impossível encontrar um doador para Júlia. Era impossível uma pessoa voltar dos mortos depois de cinco anos. Tantas coisas impossíveis já haviam ocorrido. 

Não queria criar uma expectativa. E ainda que fosse real. Um filho naquela altura? Enquanto os pais estavam se separando? Enquanto Gilbert claramente não queria mais um filho, a ponto de ter feito um procedimento para impedir?  

Não queria pensar mais nisso. 

Dias depois. Sara sozinha no quarto de hotel. Podia trabalhar, os sintomas, inclusive a dor de cabeça, havia aliviado bastante com o passar do dias. Se sentia bem, embora apreensiva, com medo que os sintomas voltassem em seguida. Sabia que Rafaela estava certa, deveria fazer exames mais concretos, mas não tinha coragem. De certo modo, ela não queria saber.

O telefone do hotel tocou. Atendeu sem pressa.

— Boa noite senhora Grissom, estamos com uma ligação do senhor Roberto para seu quarto. Podemos passar a chamada?

Sara estranhou, fazia dias que não se falavam. Na realidade, desde o dia que descobriu que estava vivo. 

— Pode sim. 

A chamada foi passada.

— Hey Sar, boa noite. Como está?

— Hey Roberto, estou bem. Como conseguiu me achar?

— Ruth me passou o hotel que estava. Não queria que eu ligasse?

— Não, não é isso. Eu só fiquei surpresa.

— Eu queria saber se a gente pode conversar um pouco. Podemos jantar? Ou tomar um café?

— Eu estava descendo para jantar no restaurante do hotel. Se quiser vir para cá, podemos jantar juntos. O que acha?

— Me arrumo e chego aí em meia hora. 

— Combinado.

 …

— Onde ir tão bonito? – Uma voz cheia de interesse chegou à sala e fitou o homem arrumado de baixo para cima.

Roberto olhou para trás e viu a adolescente reparando nele. O tom da voz dela era de curiosidade, mas ao mesmo tempo, ele sabia que a filha sabia aonde iria. Ou melhor, quem iria encontrar. Ele preferiu o silêncio, enquanto terminava de se ajustar. 

— Sara? – A garota insistiu com um sorriso no canto dos lábios.

— Você está muito curiosa hoje. – Desconversou. – Estou bem?

— Ela adorar, certeza! – Apesar do seu sotaque que era muito forte, seu tom saiu cheio de malícia. 

Raika piscou.

— Você é impossível, sabia? – Ele gargalhou com a audácia da garota.

— Genética. – Respondeu com um riso. 

— Bom, eu vou indo. Tem janta para você, mas se quiser pode pedir algo também. 

— Pai? – Seu tom prontamente mudou, para algo mais sútil, como se tivesse mais cuidado nas palavras.

— Sim. – Ele a fitou, percebendo a mudança repentina de atitude.

Ela se aproximou do pai e pegou a mão dele entre as suas.

— As coisas que passar-ram na guerra, não ser culpa sua… Por que ser culpa sua, também culpa minha. – Ela baixou o olhar. – Você precisa se… – Ela tentava pensar na palavra correta para utilizar. – Se permitir felicidade. Quando quiser falar, ela entender–rá. Todos entender. Entende?

Os olhos de Roberto marearam. Ele puxou a filha pra si, e a abraçou forte. Ela retribuiu o abraço.

— Eu te amo filha!

— Também pai!

Roberto não tardou a chegar no hotel onde estava Sara. Fora direto para o restaurante que ficava no térreo, e encontrou Sara sentada a mesa e esperando por ele. 

Assim que se sentou à mesa e se cumprimentaram, já fizeram seus pedidos. E enquanto aguardavam a comida chegar, conversavam.  

— Como estão as coisas entre você e o Gil? – Puxou o assunto.

— Sério que é com isso que quer começar a nossa conversa?

Ela rolou os olhos, não queria pensar em Gilbert, não mais aquela noite. Já bastava a lembrança do marido que ficava em sua mente durante todo o tempo durante o dia. Seria possível esquecer ele ao menos por algumas horas em um jantar agradável?

— Desculpa, eu não devia me meter. 

— Não… Desculpa. Eu ando um pouco alterada… – Suspirou. – Eu pedi o divórcio naquele dia. O dia da briga. Disse que não queria mais estar casada com ele. Eu agi por impulso, estava tão irritada. No fim das contas eu não entrei em contato com o advogado até agora e tampouco creio que ele tenha feito. E-eu não sei se quero me divorciar… – Disse com sinceridade.

— Mas? – Ele sabia que havia algo que ela não havia contado. 

— Eu não quero voltar atrás. – Admitiu contragosto.

— E ser orgulhosa te serve de que?

— Não é questão de ser orgulhosa… – Retrucou.

— Não? Claro que não. – Tinha um tom irônico em sua voz.

— Não. – Disse firme. – Gil me machucou muito, e também me desrespeitou. Se eu ficar perdoando cada erro, um atrás do outro, onde que vai chegar esse relacionamento?

— Eu não estou inteirado de tudo, Sara. Não posso opinar sobre o que não sei. – Disse com calma. – O que eu sei, é que você ama ele. E que cada vez que eu te vejo assim sofrendo por ele, eu me sinto mal…

— Podemos trocar de assunto? – Ela o interrompeu.

— Claro. – Ele sorriu. – Do que quer falar?

— De você? Do porquê eu acreditei durante tanto tempo que estava morto? – Ela não conseguia esconder o tom acusatório. E nem conter a curiosidade. Ela não conseguia pensar nele, sem pensar nisso. Tinha a necessidade de respostas.

— Podemos fazer isso depois do jantar? A sós?

— Claro. – Ela deu os ombros. 

A conversa fora interrompida pelo garçom que trazia comida e bebida para eles. Sara aproveitou aquele momento de silêncio enquanto o garçom estava presente para baixar um pouco os ânimos. Estava na defensiva, e um pouco agitada, talvez estar ali jantando com Roberto lhe parecesse um tanto errado, e até incômodo. 

Ela sabia que não havia maldade, não havia nada de errado. Então, por que sentia exatamente o contrário? Como se estivesse esperando Gilbert chegar, ver tudo às avessas e começar uma nova discussão?

Não era possível que ela se sentia totalmente culpada por algo que claramente não era errado. Se sentia tão tola.

— Do que vamos falar então… – Ela disse com mais tranquilidade, tentando evitar seus pensamentos confusos.

— Das meninas? Eu estou louco por ver elas. – Disse por fim, com um sorriso. – Como estão? 

— Tenho certeza que elas também estão ansiosas por ver você. Eu expliquei para elas que você ainda está se instalando, e tudo mais. Elas compreenderam, mas está mais que na hora de ir visitar elas. – Ela sorriu, falar das filhas era algo que gostava, e que a distraia.

— E como estão? – Perguntou curioso.

— Elas estão super bem, tranquilas, quase não dão trabalho, mas estão entrando em uma fase difícil. Às vezes sinto que a tranquilidade vai acabar logo. Estão se tornando cada vez mais independentes e isso é assustador.

— Por conta dos namorados? – Ele riu.

— Não. Isso é tranquilo. Ju é bem interessada em garotos já, mas é bem consciente e tranquila nesse sentido. Ela tem uma personalidade doce, gentil, embora às vezes consiga ser bem dissimulada e turrona. – Ela riu com a lembrança.

— Te lembra alguém que você conhece? – Ele disse em tom divertido.

— Talvez. – Piscou. – Jujuba tem uma personalidade bem forte, é mais difícil de lidar…

— Não! Ela era um docinho… – Isso era algo realmente impossível de acreditar. – Tão delicada.

— Se foi essa época. – Sara riu. – Ela é uma boa garota, estudiosa e obediente, mas acha que ganha certas coisas no grito ou se emburrando. E não é tão ligada em garotos, nunca teve namoradinhos, nem nada desse tipo… Mas tem uma amiga da qual é muito próxima.

— Você está dizendo que ela é…

— Eu não sei. – Sara interrompeu quando percebeu que o tabu não deixava ele completar a frase. – Eu nunca perguntei e sinceramente não sei se ela pensa sobre isso. Não quero colocar ideias na cabeça dela…

— Você ficaria chateada?

— Não. – Respondeu rapidamente como se fosse um absurdo. – Ela tem direito de amar quem ela quiser. Apenas não sei se isso é só uma impressão minha. Ela ainda é muito jovem. E tenho medo que ela se sinta ofendida ou confusa. Quando ela tiver mais maturidade, ela saberá o que sente ou como se sente, e eu estarei lá para conversar e apoiar ela. 

— Você sempre foi uma mãe incrível, sabia? – Ele disse com um tom orgulhoso.

— Talvez. – Deu os ombros.

Após o jantar, Roberto subiu para a suíte de Sara. Eles ficaram na sala, Sara serviu uma bebida para si e outra para seu convidado. A morena fez questão de se sentar distante dele.

Olhou para a bebida de álcool no seu copo, e pensou no que Rafaela havia lhe dito. Claro que estar grávida era impossível, mas e se fosse? 

Lutou internamente com seus pensamentos. Tentando pensar se deveria ou não beber. Não que ela precisasse beber, não precisava, não era algo que faria diferença. No entanto, não beber, era admitir a possibilidade de estar grávida. E sabia que não estava. Não era seu corpo ou um sexto sentido. Era somente sua cabeça, seu raciocínio lógico.

Sorveu um gole da bebida. 

— Então… Estamos a sós. – Falou em tom de cobrança. 

— Você não vai desistir, não é? – Roberto disse com pesar.

— Dê uma explicação? Não, não vou te forçar a nada. – Disse desinteressada. – Mas eu estou cansada de mentiras e de pessoas escondendo de mim a verdade. Então, você tem duas opções. Ou me conta porque eu acreditei durante tanto tempo que você estava morto, ou você pode pegar a porta da saída e voltar quando estiver pronto pra falar. – Ela fitou ele séria.

— Sara? – As mudanças de humor de Sara eram perceptíveis, e não pareciam normais. 

— Roberto, eu estou cansada. De verdade. E eu imagino o quão traumático deve ser para você falar disso, só que você me deixou e eu aprendi a viver sem você. Eu reaprendi a amar, a superar coisas sozinha, e eu não quero voltar a ser sua amiga, voltar a ser próxima de ti, sem poder confiar em ti antes. Eu não consigo mais fazer isso.

— Tudo bem. – Ele suspirou. – Eu vou te contar o que você precisa saber, não tudo, porque existem certas coisas que eu não quero reviver, e certas coisas que não posso falar. Espero que seja o suficiente. 

— Eu também.

Roberto se acomodou na poltrona com a bebida na mão, e Sara sentou-se no sofá ao lado, de lado, com os pés sobre o sofá. Era estranho, por que sempre se sentava assim no sofá, mas agora enquanto encostava a cabeça no encosto do sofá, ela só se lembrava de Gilbert: Dele descendo as escadas de casa e eles dividindo um vinho. 

Grissom não saia de sua cabeça. Ainda sim, tentou se concentrar no que Roberto lhe falava.

— Na manhã seguinte que eu me despedi de ti, eu fui para o Afeganistão. Fui em avião militar, então cheguei lá no mesmo dia. Quando cheguei, fui direto ao local de encontro onde deveria encontrar Raika. O plano era pegar Raika, enviar ela para cá, para você e Gilbert. E voltar quando eu recebesse a dispensa. – Suspirou com a lembrança.

— Mas as coisas não aconteceram desse jeito, não é?

— Nem de longe… – Ele deu uma pausa. – Quando cheguei no local de encontro, ele estava completamente destruído, bombardeado. Raika e as pessoas que a estavam ajudando a se esconder, haviam conseguido fugir, tinham ido sabe se lá para onde. Eu queria procurar ela, mas ainda respondia a hierarquia de comando. Não podia fazer isso o tempo todo. Respondia a uma hierarquia e haviam muitas missões. Demorei quase oito meses para encontrar ela, e pelo menos mais um para recuperar ela. No meio de tudo isso eu descobri algo realmente terrível. Haviam muito mais meninas filhas de soldados que estavam sendo perseguidas e capturadas por grupos extremistas.

— As afegãs gostam tanto assim de soldados?

Roberto ignorou as palavras de Sara, sabia que o temperamento dela naquela noite estava meio diferente, então não deu importância ao tom e nem às palavras ditas.

— Nem todas essas crianças eram fruto de um relacionamento amoroso, Sara. Muitas delas foram abusadas…

— Por soldados do nosso país? – Disse ela indignada. Isso não havia passado pela sua cabeça.

— Sim. Você tem que entender que a guerra leva muitos garotos e que a cabeça deles não consegue diferir o certo do errado e…

— Desculpa. – Sara o interrompeu. – Você está justificando esses abusadores?

— Não! – Respondeu rapidamente. – Nunca faria isso. Tampouco posso ignorar o que a guerra faz com a cabeça de jovens que são enviados para guerra sem nenhum preparo psicológico. 

— Se você diz… – Deu os ombros. 

— O que está havendo com você? – Ele disse por fim. – Você está me atacando de graça. Eu estou tentando te contar tudo, mas tem momentos que parece que está tranquila e em outros parece que me odeia. 

Sara suspirou. Baixou a cabeça, pensativa, mas não respondeu. 

— Continua seu relato… – Disse em um tom mais amigável.

— Sara?

— Desculpa Rob, é que eu estou passando por muitas coisas e estou com uma disfunção hormonal… Então eu estou com algumas mudanças de humor. Desculpa mesmo, não leva em conta. – Sorriu de canto.

— Tudo bem. – Ele suspirou. 

— Quer continuar? – Perguntou mansa.

— Claro. – Ele tomou mais um gole da bebida. – Após encontrar Raika, e ter ela comigo, decidimos que tínhamos que recuperar as outras crianças. A maioria meninas. E foi aí que tudo aconteceu, após uma operação fracassada, estávamos em uma tenda, e ela foi bombardeada. Raika e eu deveríamos estar lá dentro, mas tínhamos saído, Raika não se sentia bem no meio de tantos soldados, e saímos para pegar um ar. Vimos tudo que aconteceu, todos os amigos soldados que morreram. E eu tinha certeza que algum dos nossos estava vendendo informação, então, feridos, eu não sabia em quem confiar. Fugimos e nos escondemos. Foi quando fomos dados como mortos. Todos que estavam na tenda haviam virado pó, não teria como identificar quem havia morrido ou quantos haviam. Técnicamente estávamos na tenda, não pedimos socorro, e sumimos. Então, com certeza acharam que havíamos morrido juntamente com os demais. 

— Meu Deus. – Sara colocou a mão sobre a boca, enquanto ouvia com atenção. 

— Durante o tempo que fugimos, Raika foi capturada, e eu não consegui resgatar ela, fui capturado também. Passei meses nas mãos de extremistas, sendo torturado, tentando descobrir uma forma de fugir. – Roberto, por mais que resumisse os feitos, começava a tremer com as lembranças. 

Por um momento ele se calou.

— Roberto, você não precisa… – Ela disse solidária.

— Eu preciso. – Suspirou.

Sara se levantou, sentando-se do outro lado do sofá, mais próxima de Roberto. Inclinando seu corpo para frente, e colocando suas mãos sobre as mãos trêmulas dele. Ela queria mostrar que estava com ele.

Uma onda de enjôo tomou conta dela. Não, não era possível que aquele mal estar ia voltar. Tentou não demonstrar nada, embora uma dor de cabeça começasse a apontar.

— Teve um momento que perdi as contas de quanto tempo estive na mão deles. Teve momentos, vários… Que eu implorei para morrer. – Os olhos dele estavam úmidos, mas ele não deixou escorrer uma lágrima sequer. – Quando finalmente conseguimos fugir, encontrei um soldado da minha confiança. Mas eu não quis voltar. Nem Raika. Nós tínhamos que salvar as meninas que ficaram para trás. Não podíamos deixar elas. – Uma lágrima escorreu, e seu corpo gelou, suas mãos ainda tremiam, mesmo com o toque de Sara. – Se vocês soubessem tudo que eles faziam com essas crianças. – Ele sentiu que seu ar faltava. 

— E por que não me disseram que você estava vivo? Depois que te encontraram? – Ela disse sobressaltada, tentando ignorar o desconforto abdominal.

— Foi ao meu pedido. – Admitiu.

— Como? 

— Nós tínhamos um plano para salvar essas crianças, mas era arriscado. Eu não sabia se sobreviveria. Achei que era melhor você não saber que eu estava vivo até eu voltar e estar seguro.

— Isso não era eu quem deveria decidir? – Falou com certa indignação.

— Não. – Ele nem titubeou. – Imagina receber a notícia que eu estava vivo e depois que eu havia morrido novamente? E dessa vez de verdade? Você já havia sofrido minha morte uma vez, não era justo que você soubesse que eu estava vivo, sendo que eu corria riscos de morrer novamente. E, Raika, tampouco queria voltar sem mim. Então, você gostando ou não, eu tomei a decisão que eu achei certa e justa na época. E eu não me arrependo.

— Beth sabia? – Sara respirou profundamente, tanto por se sentir contrariada, ainda que entendesse a posição de Roberto, como pelo mal estar que apesar de ter aliviado, tentava ignorar.

— Como? – Roberto não entendeu a pergunta.

— Beth sabia muitas coisas, ela sabia que você estava vivo?

— Creio que não sabia. Poucas pessoas sabiam que eu estava vivo. 

— E como Beth é tão bem informada dessas coisas?

— Você não sabe? – Ele soltou um sorriso malicioso.

Naquele momento, com a mudança de assunto, Sara percebeu que ele estava mais calmo. Ainda estava gelado, mas já não estava mais tremendo. 

Já ela, não estava tão enjoada, sua dor de cabeça estava bem fraca, mas incomodando. A dor abdominal, no entanto, aumentava. 

— Se eu soubesse, não estava perguntando.

— Bom, é por que a estimada Senhora Grissom, viúva de Grissom, tem a informação que quiser do estimado General Smith, alta patente, com quem ela teve e, segundo as más línguas, ainda tem, um relacionamento muito próximo após a morte do marido.

— Não! – Ela disse incrédula, em tom divertido.

— Estou te falando. Beth e o General Smith são íntimos.

— Senhora Grissom… Quem te viu, quem te vê! – Ela riu.

— Mais sabe o diabo de velho, que de diabo. – Ele também riu.

Porém a risada não demorou muito. A dor começou a ficar insuportável, tanto que soltou as mãos de Roberto e se jogou para trás no sofá. Ela soltos um gemido baixo de dor. 

— Sara! – Roberto se sobressaltou. – O que está acontecendo?

— Eu não sei. – Ela começou a suar. – Tá doendo meu abdômen, e minha cabeça. – Ela colocou a mão sobre a calça, queria soltar o botão para dar mais espaço para a barriga, mas não tinha coordenação. 

Roberto passou a mão no rosto molhado de Sara. Ela estava quente, não muito, mas estava. Ao perceber que Sara queria abrir a calça, mas não conseguia, ele levou a mão até o cós, e soltou o botão. 

— Consegue respirar? – Ele perguntou preocupado, se sentando ao lado dela.

— Sim. É só uma dor forte.

— Eu vou te levar em um hospital.

— Não. – Ela negou com a cabeça. – Eu não quero. É só um mal estar, já vai passar. – Ela tentava controlar a dor, ainda sim, só piorava, parecia que logo perderia a consciência.

— Você vai para o hospital sim. E agora! – Disse autoritário.

Ele ligou em seguida para o saguão do hotel, mas não quis esperar pela ambulância. Com ajuda de alguns funcionários, conseguiram levar ela até o carro de Sara, e ele conduziu até o hospital. Lá, ela passou pela triagem, e pelo primeiro atendimento.

Roberto não saiu do lado dela. No entanto, naquele momento, ela estava praticamente inconsciente, devido ao seu estado, além das medicações calmantes e para dor. Ainda sim, parecia inquieta.

O médico entrou no quarto para vê-la.

— O que ela tem? – Roberto perguntou em ansioso.

— Ainda não sabemos. – Admitiu. – Fizemos vários exames, alguns ainda aguardamos resultados. E a paciente está mais tranquila?

— Não. – Roberto disse preocupado. – Não parece estar com dor, mas não está consciente, e parece agitada. Fala algumas coisas que não entendo.

— As medicações para dor podem deixar ela um pouco aérea, não é incomum ela delirar um pouco. Mas se seguir inquieta, talvez tenhamos que administrar alguns sedativos. 

— Griss... – Sua voz baixa interrompeu a conversa. – Gil… – Ela virava a cabeça de um lado para o outro. – Onde está o Gil? 

Roberto deixou de dar atenção ao médico. Pegou a mão de Sara, e se aproximou dela. 

— Você quer ver o Grissom? Quer que eu chame ele? – Disse calmamente, pausado, na esperança de que ela entendesse.

— Gil, cadê ele? – Ela ainda mantinha os olhos fechados, e começava a se agitar mais.

— Fica tranquila. Eu vou chamar o Grissom. 

Ela parecia se agitar mais, e ele viu o médico chamar uma enfermeira e pedir para ela administrar alguma medicação. Assim que ela o fez, Sara começou a ficar mais calma, ainda sim, não dormiu totalmente. 

Pegou o telefone de Sara, e pegou a mão dela para desbloquear pela digital. Ele não tinha o telefone de Grissom, então achou que era mais fácil ligar do dela.


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Notas finais do capítulo

Eita gente, o que será que aconteceu com a Sara? A coitadinha tá no hospital de novo... Eita! quando não é com a filha, com o filho, é ela! Ay caramba!

E como vai ser a convivência de Gil e Roberto no próximo capítulo:
A) Amistoso, mas com alguns momentos de hostilidade e ironia
B) Tranquilo e com direito a pedidos de desculpa
C) Insuportável, com brigas e ofensas trocadas.

E aí, o que acham que vai ser do próximo capítulo? A, B ou C?



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