Os doze dias passaram extremamente devagar. Embora nesse meio tempo, muitas coisas tivessem ocorrido, como, por exemplo, a conversa com as meninas sobre os nomes. Elas amaram a idéia. Jujuba ficou extremamente feliz quando soube que se chamaria Julia Ann, e Ju, um pouco emotiva ao saber que ganharia o segundo nome “Laura”. Ju era emotiva como Sara, e algumas coisas a fazia os olhos marejar com facilidade.

Doze dias contados a partir da inseminação, Sara foi ainda pela manhã fazer a coleta de sangue e o resultado viria no final da tarde. A ansiedade que não havia a deixado durante esses doze dias, parecia se potencializar.

Sara passou o dia inteiro atualizando o aplicativo do laboratório aguardando o resultado do BHCG, mesmo sabendo que o resultado somente viria no final da tarde. Era involuntário. Grissom, prometeu que voltaria cedo da empresa para estar junto com ela na hora do resultado. Chegando em casa, encontrou-a sentada no sofá, acompanhada de Roberto, que estava próximo. Próximo até demais. 

— Por que não se muda para cá de uma vez, agora não sai aqui de casa.

Ele soltou as palavras sem pensar, mas precisava de alguma forma externar a desaprovação dupla de ter Roberto enfiado em sua casa. Primeiramente por que já não se davam muito bem, o que já era motivo mais que suficiente para ele limitar suas visitas. E em segundo lugar, pela proximidade de Sara. Talvez, não exatamente nessa ordem.

— Isso é um convite? – Rebateu em tom divertido, ignorando o mau humor de Grissom.

— Nem pensar. –  Ele franziu o cenho. Logo se virou para Sara. – E o resultado?

— Nada ainda.

Sara não podia negar que se sentia desconfortável naquela posição. Sentada no sofá com um homem de cada lado. Do esquerdo, Grissom, o pai do filho que talvez ela estivesse carregando. E do direito, Roberto, o tio dessa possível criança e o homem por quem estava se apaixonando. O resultado demorou a sair, e por muitas vezes tiveram que se dispersar para poder fazer outras tarefas, mas em alguns momentos se reuniam de novo e atualizavam.

Ficou extremamente comum ouvir alguém gritar:

— E aí saiu o resultado?

— Não!

A ansiedade tomava conta de todos. Sara amava Julia Ann como uma filha, mesmo não sendo sua biologicamente falando, Grissom e Roberto, mesmo com pouco tempo de convivência, já amavam ela demais. Esse bebê, se viesse, podia ser a salvação da pequena Jujuba e também seria mais uma felicidade para a casa. 

Na janta, as meninas estavam comendo muito, enquanto os adultos pareciam completamente sem fome. Sara mexia a comida com o garfo e até tentou comer um pouco, mas a comida parecia ficar entalada na garganta.

“Sara, se você estiver grávida, tem que comer bem, pelo bebê”. Ela pensava consigo mesma e repetia mentalmente como se fosse um mantra, mas ainda sim, não conseguia comer.

Assim que as meninas terminaram de comer, pediram autorização para brincarem no quarto de hóspedes, onde dormiam Sara e Jujuba. Os adultos permitiram, e Sara novamente pegou o smartphone. Ela atualizou e ficou quieta.

— Sara, se o resultado não saiu até agora, provavelmente só sai amanhã. – O tom de Grissom trazia um pouco da frustração que ele sentia.

— O resultado saiu. Agora. – Ela falou.

Nesse exato momento, os dois homens levantaram e ficaram olhando para a Sara, aguardando o resultado.

— Eu tô grávida. – Ela disse com um sorriso nos lábios e um brilho nos olhos.

Os dois homens se aproximaram dela, e instintivamente ela abraçou Grissom. Não soube exatamente por que, mas talvez, por que ele era o pai do bebê, que agora ela tinha certeza, que esperava. No entanto, Roberto não ficou para trás, assim que ela soltou Grissom, ele a puxou gentilmente para um abraço carinhoso e aconchegante. 

— Agora vamos ter que mimar muito essa futura mamãe. – Roberto sorriu para ela.

...

Roberto não mentiu quando disse que a mimaria, ele aparecia quase que diariamente, nem que fosse somente de passagem, para levar algo para Sara, fosse uma comida, flores, um presente. Ele estava sempre presente e disposto a ajudar no que ela precisasse. Ele tentava não ser sufocante, mas tinha a necessidade de saber se ela estava bem ou se necessitava algo. 

Grissom por outro lado, foi inicialmente mais atencioso, mas após, ele seguiu sua rotina de sempre, ficando mais tempo na empresa que em casa. Ainda sim, ele sempre se interessava na gestação de Sara, saber como ela estava. Era uma gestação inicial, mas era importante para toda família, por esse motivo, estavam cuidado desse futuro bebê com muito carinho.

— Gilbert, hoje a tarde temos exames e a primeira ultrassom para acompanhar o desenvolvimento do bebê.

— Hoje a tarde? – Ele tomou um susto.

— Sim, por que?

— É que eu tinha uma reunião hoje a tarde e…

— Não tem problema. – Ela deu os ombros. – Eu posso ir sozinha, são apenas exames de rotina, e terá várias oportunidades de ver o bebê.

— Não. – Ele negou com a cabeça também. – Eu vou estar lá. Você pode me passar o endereço e horário pelo whatsapp? Eu vou levar o carro, então vou deixar um uber pago para você e te encontro diretamente na clínica. Pode ser?

— Cla.. Claro. – Ela sorriu.

— Eu posso? – Ele se aproximou dela, mas seu olhar se referia a sua barriga.

Sara apenas assentiu com a cabeça. Grissom se aproximou, abaixando-se, encostou na barriga de Sara, levantando um pouco a sua blusa e deu um beijo. Ela sentiu-se arrepiar com os lábios quentes dele em seu corpo. Foi uma sensação estranha, que ao mesmo tempo que a incomodou um pouco por estar invadindo a intimidade de seu corpo, foi prazerosa. Se conteve para não demonstrar esses sentimentos.

— O pai vai ir trabalhar agora, mas estou louco para te ver mais tarde. – Murmurou perto da barriga de Sara.

Grissom saiu, e em seguida Roberto estava lá. Sara foi até a porta atender ele. Gostava da atenção, e ele fazia questão de se fazer presente.

— Oi Sara, eu passei aqui rapidinho somente para saber se está tudo bem. E te fazer um convite.

— Oi. – Ela sorriu. – Estamos ótimos. – Ela acariciou a barriga por cima da blusa. – Qual convite?

— Eu queria que você jantasse comigo hoje, essa noite.

— Um encontro? – Ela sorriu titubeando um pouco. – Eu, eu não sei.  

— Um encontro, um jantar entre dois amigos, eu não sei. Fica a seu critério. – Ele pegou a mão dela e colocou entre as suas. – Sara… Eu não quero te pressionar a nada. Podemos apenas sair, jantar e te largo em casa cedo. Até onde você quer ir, fica a teu critério. Eu te respeito muito, sei que está passando por muita coisa, e espero que esteja ciente disso.

— Claro que eu sei. – Ela sorriu sem graça. – É que…

— Vamos fazer assim. Pensa na minha proposta. É só um jantar. Me manda uma mensagem hoje a tarde, assim que decidir. Pode ser?

— Pode sim.

— Combinado.

Durante a tarde, Sara se arrumou para fazer os exames. Julia Grissom estava na escola e Julia Sidle estava em casa, com a preceptora, que lhe auxiliava com algumas matérias escolares. Ela já havia enviado o endereço para Grissom, e no horário combinado, o uber chegou para levá-la a clínica. Chegou lá cedo, ainda faltava meia hora , sentou-se e ficou no aguardo de Grissom.

Faltava quinze minutos para ela ser atendida e Grissom ainda não havia chegado.

“Ei, Gilbert, você está a caminho?”. Ela enviou a mensagem para ele.

Sem retorno, quando faltava cinco minutos para o atendimento, ela ligou para ele. O telefone chamou, mas ninguém atendeu. Por fim, a recepcionista logo chamou:

— Sara Sidle?

— Sou eu. – Levantou-se em seguida.

— Pode me acompanhar? A médica lhe aguarda.

Sara assentiu, ainda olhou em direção a porta para ver se Grissom vinha, porém ninguém apareceu. Ela voltou para casa, exatamente da mesma forma que veio, de uber e chegando, Grissom também não estava em casa.

“Sim, eu quero sair para jantar com você.”. Sara enviou a mensagem para Roberto.

Fazia muito tempo que Sara não saia de casa, ainda mais sem Julia, e tinha uma noite para si. Não importava se era apenas um jantar entre amigos ou um encontro, tirar uma noite de folga de ser mãe e ser apenas mulher, parecia muito tentador. E para ser realista, era até um pouco assustador. Tinha perdido o costume. 

...

Grissom chegou em casa com a culpa pesando sobre seus ombros. Havia deixado programado o uber para Sara, porém se envolveu com o trabalho depois de maneira tão fixa, que acabou esquecendo do compromisso. Não havia falhado apenas com Sara, havia falhado com o seu filho, e o fazia sentir-se mal. Ele queria falar com ela, pedir desculpas e dizer que isso jamais aconteceria novamente. No entanto, quando estava a caminho de seu quarto, a encontrou no corredor e estava totalmente sem palavras.

Sara vestia um lindo vestido azul marinho de tecido leve, manga curta. A parte de cima era um tecido que transpassava um sobre o outro, fazendo um degote em “V”, já a parte de baixo era como uma saia, bem cortada que ia ate um palmo sobre o joelho. O sapato era nude e tinha um salto não muito alto. Ela estava com uma maquiagem leve e levava os cabelos soltos. Não usava nenhum outro acessório. 

Ela estava tão linda que ele teve que engolir seco.

— Oi Gilbert. – Ela disse sem dar muita importância.

— Oi Sara. Você… Você está linda. – Ele teve que externar seus pensamentos.

— Obrigada. 

— Você vai sair?

Sara não respondeu. Seu olhar bastou. Quem Grissom achava que era para ela ter que dar satisfações de sua vida? E ele entendeu isso na hora, a pergunta havia sido muito impertinente.

— Desculpe Sara, eu não queria ter te deixado esperando hoje, queria ter estado com você nos exames do bebê e…

— O senhor Roberto já chegou senhora. – Ruth interrompeu os dois, ainda sem querer, somente após percebeu que Grissom falava algo importante. – Desculpe pela interrupção senhor Grissom.

— Não tem problema Ruth. E já disse, não precisa me chamar de senhora.  – Ela sorriu para Ruth. – E Gil, não tem problema, de verdade. Eu… Eu tenho que ir agora, mas em outro momento conversamos sobre isso e eu te conto como foi a consulta.

Grissom não respondeu, desde que ouviu que Roberto havia chegado, e que percebeu que os dois sairiam juntos, ele simplesmente não pode pensar em mais nada. Sara estava tão linda, deslumbrante, mas não era para ele. Ele também sabia que Roberto estava investindo em sua relação com Sara diariamente, enquanto ele, depois daquele beijo, não havia feito nada para demonstrar seus sentimentos.

No entanto, a pergunta que ficava em sua cabeça, era justamente: Ele queria investir em um relacionamento com Sara? Ele estava pronto para outra pessoa ou seu coração ainda estava em luto por Laura?

Foi exatamente naquele momento que ele se deu conta. Que aquele beijo que havia dado em Sara na sala, aquele dia, havia sido o primeiro beijo que havia dado em uma mulher desde Laura.