— Gilbert, o que faz em casa? 

Sara sorriu ao vê-lo ainda em casa tomando café da manhã. Ela sempre acordava cedo, as meninas estavam dormindo e Grissom já havia ido trabalhar. Ele saia muito cedo para trabalhar, raramente voltava para almoçar e depois chegava tarde, na maioria das vezes após o horário do jantar. Se já era raro ele estar em casa finais de semana, durante a semana havia dias que ela nem o via.

— Você achou que eu a deixaria ir sozinha na clínica hoje? Vamos fazer isso juntos. Pela Jujuba. – Ele sorriu para ela.

E foi nesse exatamente que ela sentiu seu coração aquecer novamente. Ela só se sentiu assim quando conheceu Roberto, mas agora ocorria novamente. Aquele gesto de ternura de Grissom a fez vê-lo de uma maneira diferente. Ela se sentiu desconfortável. Dividida.

— Obrigada. – Com um sorriso tímido, foi o que se limitou a dizer.

Algumas horas mais tarde já estavam na clinica de fertilização. Sara se sentia tensa, ansiosa e feliz. Era maravilhoso poder ser a pessoa que receberia aquele bebê que salvaria sua filha, mas ao mesmo tempo era assustador. Gerar uma criança novamente, nessas circunstâncias. Se ela cometesse qualquer erro, se ela perdesse aquele bebê, ela poderia estar sendo responsável pela morte não somente da criança em seu ventre. O peso da responsabilidade batia cada vez mais forte, quanto mais perto se aproximava a hora da inseminação.

O médico havia informado que haviam dois óvulos fertilizados viáveis e com alta chance de compatibilidade com Julia Sidle. Sara não pensou duas vezes e solicitou que fossem inseminados os dois. Grissom não teve nem chance de argumentar, e nem tentou, sabia que não teria chance alguma de ela desistir da idéia, e tampouco isso seria problema, se viessem gêmeos, não faltaria amor para ambos.

Para Sara o ato da inseminação fora a parte mais desconfortável do processo, ela estava sendo acompanhada para que os óvulos fertilizados fossem colocados em seu útero na hora certa, e apesar de não ter passado pelo processo de coleta de óvulos, a ansiedade e a exposição na hora da inseminação a deixou insegura e cansada. Após feito, ela teve um período de descanso, e somente então Grissom e o médico se juntaram a ela novamente.

— E agora? – Sara perguntou para o médico ansiosa.

— Agora é esperar. Doze dias até podemos realizar o exame e ver se tudo deu certo. – Ele sorriu para ambos. – Eu aconselho você a ir pra casa e descansar por um ou dois dias, isso não influencia em nada diretamente na inseminação, porém é um processo desgastante e cansativo, e descansar é importante para conter a ansiedade. Você também deve evitar atividades físicas, esforços excessivos e relações sexuais pelos próximos dias. Porém em dois dias você pode voltar a sua rotina, e é sempre bom manter a mente ocupada para conter a ansiedade.

— Tem tanta coisa em jogo. – Sara suspirou.

— Ei, Sara. Vai dar tudo certo. – Grissom sorriu para ela.

Logo depois eles deixaram a clinica e foram para casa. Lá Ruth já havia organizado tudo para que Sara pudesse deitar e descansar um pouco. Ela também havia conversado com as meninas, explicado que a mãe voltaria cansada e que deveriam evitar incomodá-la pelos próximos dias. Ainda sim, elas estavam curiosas.

— Então, nosso irmãozinho já está na sua barriga? – Ju foi a primeira a perguntar.

— Talvez. – Sara sorriu.

Ela estava deitada de lado na cama. E as meninas sentadas na beirada da cama.

— Só vamos saber daqui doze dias. – Ela completou.

— Ei. – Grissom chegou na porta do quarto. – O que a Ruth falou com vocês? É pra deixar a mãe de vocês descansar um pouco. – Ele repreendeu de modo muito brando e com um sorriso.

— A gente já tava indo no jardim brincar. – Ju foi a primeira a responder.

— A gente só queria saber se o bebê já tava na barriga da mãe. – Jujuba completou.

— Em breve vamos saber minhas carequinhas. – Ele sorriu para as meninas. – Agora vão brincar e deixem Sara descansar.

— Tá bom. – Elas responderam juntas.

Logo as meninas estavam fora do quarto. Grissom se sentou na cama que da Jujuba e fitou Sara deitada.

— Como você está?

— Um pouco cansada, um pouco tensa, e muito ansiosa. Doze dias é muito tempo. Eu já posso estar grávida e nem saber. – Ela levou a mão até sua barriga e acariciou. – Me dá tanto medo de não dar certo, ou desse bebê não chegar a tempo.

— Vai dar tudo certo Sara, já deu. Eu tenho fé. – Ele sorriu para ela.

— Isso é surpreendente.

— O que?

—  Você não me parece um homem de muita fé. – Ela falou sinceramente.

— Mas sou. Eu perdi um pouco da minha fé junto com Laura, mas ela voltou recentemente, desde que essa casa encheu novamente. – Seu sorriso foi um pouco sem graça ao admitir isso.

Eles foram interrompidos, um homem se aproximou na porta, e carregava um buque de flores e um sorriso no rosto. Ele entrou após duas batidas no marco da porta. Sara lhe devolveu o sorriso quase instantaneamente. 

— E como está a mais nova mamãe dessa casa? – Ele sorriu se aproximando e entregando as flores para ela.

— Elas são lindas, obrigada. – Ela se ajeitou sentada na cama, acomodando o travesseiro em suas costas. – Mas não sabemos ainda se teremos bebê. Somente daqui doze dias. – Ela sorriu.

Grissom sentiu que estava sobrando naquele momento e só queria sair. Porém foi ele se levantar para deixá-los, foi interrompido por Roberto.

— Fica Grissom, eu preciso falar com vocês. 

Contra gosto, ele voltou a se sentar. Roberto sentou-se nos pés da cama onde estava Sara.

— Eu estava encaminhando os papéis de guarda compartilhada das meninas e também o ajuste da certidão de nascimento delas para que ambas fossem “Sidle Grissom”, porém temos um problema com os nomes. Elas não podem ter o mesmo nome, sobrenome e pais. 

— Elas não vão querer mudar de nome. – Grissom falou quase imediatamente. – Elas amam ter o mesmo nome.

— Bom, mas vocês precisam dar um jeito. Se vocês querem atualizar a certidão de nascimento e registrar a guarda compartilhada, elas não podem ter exatamente o mesmo nome.

— E se elas tivessem um segundo nome? Já vi pais com filhas chamando Ana Paula e Ana Luisa, por exemplo. Ou Maria Aparecida e Maria Eduarda. Sei lá. – Ela sorriu. – Poderíamos colocar um segundo nome, não? Isso resolveria.

— Eu acredito que sim. – Ele sorriu para Sara. – Acredito que seja suficiente.

— Bom, eu tenho algumas idéias, porém de segundo nome, porém eu acho que teríamos que falar com as meninas antes. Quando temos que te dar um retorno?

— Em uns dois dias. O quanto antes melhor para poder agilizar os papéis.

— O que você tem em mente? – Grissom perguntou curioso.

— Jujuba sempre gostou de Ann, é meu segundo nome. Então pensei em Julia Ann Sidle Grissom. E eu sei que Ju respeita muito a memória de Laura, mesmo nunca tendo conhecido, era quem ela acreditava ser sua mãe até algumas semanas atrás, então pensei em Julia Laura Sidle Grissom. – Ela sorriu. – Não sei o que vocês acham?

— Eu gostei. – Roberto sorriu para ela.

— A ideia é fantástica. – Grissom parecia realmente surpreso. – Só temos que saber se as meninas aprovam.

— Coitada das meninas, é sempre uma conversa de adulto diferente. Elas são somente crianças. – Sara externou com certa tristeza.

— Engano seu Sara. – Roberto riu. – Você já conhece a Ju, ela é uma mini adulta, na realidade eu não conheço o lado infantil de Julia. Jujuba até parece ter um pouco de infantilidade, mas a Ju? Não se deixe enganar, ela nasceu pronta.

Grissom riu, odiava concordar com Roberto, mas ele estava certo. Julia Grissom não dava ponto sem nó. E sempre estava confabulando algo.

— Bom, – Grissom se levantou. – eu tenho que passar na empresa, ver como estão as coisas. 

Assim como antes ele queria fugir dali, agora ele não queria sair e deixar os dois sozinhos, mas tinha que ir. Havia ficado longe da empresa tempo demais, e precisava ver como estavam as coisas.