Love is blue escrita por Lola


Capítulo 20
Capítulo 20 – Tarde demais


Notas iniciais do capítulo

Boa noite hehehehehehe (rindo de nervoso)
Depois de 19 capítulos, finalmente chegamos ao momento tão esperado.
Só tenho isso a dizer =x
Bora pro capítulo.

xoxo



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Capítulo 20 – Tarde demais

“Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa.

Faço de conta que não é nada comigo.

Distraído percorro o caminho familiar da saudade,

pequeninas coisas me prendem,

uma tarde num café, um livro.

Devagar te amo e às vezes depressa,

meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,

regresso devagar a tua casa,

compro um livro, entro no amor como em casa.”

Manuel António Pina

 

 

 Sara sentiu muitas coisas ao mesmo tempo. Primeiro o estômago, desconfortável e embrulhado. Depois o coração, apertado e sem ritmo algum. E por fim, veio a raiva misturada com vergonha.

— Droga – murmurou para si mesma, sentindo-se a pessoa mais idiota da face da terra.

A alguns metros de distância de onde ela estava em seu carro, Sara pode avistar Grissom se aproximar com Sofia. Ela viu quando eles entraram juntos no carro do supervisor, e saíram juntos para algum lugar.

— Droga! – disse um pouco mais alto, porém sem ninguém real para ouvir.

Fechou os olhos e buscou se acalmar.

Por que se importava tanto com quem Grissom estava saindo? Por que era tão difícil esquecer alguém que não estava disposto a corresponder seus sentimentos?

Nos últimos dias eles haviam se aproximado. Uma pequena parte no coração de Sara ainda cultivava a esperança de que talvez ele mudasse de ideia, que talvez finalmente ele descobrisse o que fazer sobre o relacionamento deles. Por um instante, ela pensou ter visto nos olhos do supervisor algo diferente, algum indício de que as coisas poderiam finalmente mudar. Mas talvez ela houvesse interpretado errado novamente.

Quando se tratava de Grissom, suas previsões pareciam sempre erradas.

Talvez as fofocas do laboratório fossem reais, e ele e Sofia estivessem juntos. Ele parecia muito interessado nela, aceitando todas as investidas. E agora eles estavam saindo sozinhos. Por que quando ela o chamou para jantar a resposta foi não? O que havia de diferente nela para ele ter tanto medo? Por que não pode arriscar como parecia estar fazendo agora?

Sara fechou os olhos com força, buscando encontrar um pouco de racionalidade em meio a um caos de sentimentos e questionamentos. Ligou seu carro e rumou para seu apartamento.

— Amigos... – ela murmurou baixinhos, sentindo o amargo das palavras – Somente amigos.

Aquela era a realidade entre Grissom e Sara. Após as inúmeras voltas que deram em torno do relacionamento deles, ao fim, o que restou foi a amizade. Eles não poderiam ter mais do que aquilo. Sara precisaria se contentar com gentilezas no trabalho e aguentar todas as histórias sobre como “seu amigo” estava feliz com Sofia.

Fez uma careta com a imagem deles juntos, conversando confortáveis, sem que Grissom parecesse minimamente desconfortável por estar sendo visto. Um misto de raiva e vergonha tomou conta novamente de seus sentidos. Vergonha por ter acreditado que um dia Grissom poderia tê-la correspondido, raiva por ainda esperar isso. Quantas não foram as provas de rejeição do homem? Ele havia revelado seus sentimentos sobre ela em um interrogatório a pouco mais de um ano. O sentimento de como não poderia estar com ela.

Foi então que se lembrou de um pensamento de dias atrás. Seria ela capaz de aceitar apenas a amizade de Grissom?

Talvez, mesmo que doendo, o melhor para eles fosse manter distância.

///

Sofia ficou em silêncio por longos segundos, escutando o que mais se assemelhava a um sermão. E ela pensando que aquilo se tratava de um encontro.

— Você não precisa se sentir responsável por mim – disse por fim, cortando a fala de Grissom – ou pelo meu trabalho.

— Não me sinto responsável, apenas acho que está tomando uma decisão precipitada.

Sofia sorriu para ele, achando graça do homem a sua frente.

— Eu sei que você se sente responsável por Ecklie ter me mudado de posição, porém, isso não é sobre você, Grissom.

O supervisor noturno ouviu atentamente, sem estar plenamente convencido.

— Um dos motivos pelo qual eu me identifiquei com você, foi exatamente por saber o que eu quero com o meu trabalho, e definitivamente eu não gostaria de pensar que sou o tipo de pessoa que passa por cima de outras para manter uma posição.

Grissom arqueou as sobrancelhas, em concordância.

Bebeu um pouco de vinho, sentindo o cansaço do dia tomar conta do seu corpo. A mulher a sua frente estava certa, em algum nível estranho ele se sentia responsável, e não gostaria de vê-la abandonar um bom trabalho por problemas que ele poderia ter ajudado a causar.

— Apenas acho que você poderia aproveitar um pouco mais aqui.

Aquela era a deixa dela, e ela não iria perder – Aproveitar com você?

Grissom expressou confusão – Com o laboratório?

Sofia riu. Aquilo definitivamente não era um encontro.

— E eu pensando que você poderia estar interessado em mim.

— Mas estou interessado, eu não gostaria que você – ele parou. Foi somente naquele momento que ele entendeu o sentido das palavras usadas por Sofia – espera, interessado?

— É o que estão dizendo por aí... – ela deixou as palavras flutuarem, para que Grissom tirasse suas próprias conclusões.

— Por aí? – ele sentiu um súbito incômodo tomar conta de si – Você está... Está interessada?

Ele parecia assustado, e Sofia definitivamente estava se divertindo.

— Digamos que eu não recusaria me interessar.

Grissom não soube como reagir. O que estava acontecendo? Sofia estava achando que ele queria algo com ela? E que história era aquela sobre “estão dizendo por aí”? Não havia nada para ser dito, definitivamente. Ele apenas não gostaria que ela tivesse seu trabalho prejudicado por sua culpa.

— Grissom, se acalme – ela disse em meio a uma risada – eu sei que você não está interessado em mim. Bom, agora eu sei.

— Você achou que eu poderia estar?

— Bom... – a mulher jogou um pouco os longos cabelos para o lado, parecendo pensar enquanto se divertia com a situação – Talvez eu tenha me deixado levar pelos boatos.

Grissom ficou em silêncio, processando as informações e sentindo um incrível desconforto.

— Você não precisa se preocupar com os boatos, é o que mais tem naquele laboratório.

— Mais até do que trabalho, eu diria.

— Pode ser... – naquele momento, Sofia estava confirmando alguns boatos sobre a falta de atenção do supervisor noturno– Mas então... Não existe alguém especial?

Grissom remexeu desconfortável na cadeira, tendo a imagem de Sara traga a sua memória de forma instantânea. Mas ele também sabia jogar, e não deixaria a situação tirar o melhor dele.

— O que dizem os boatos?

— Não sei se você realmente gostaria de saber.

Existia alguém especial. E ele sabia sobre os boatos. Inclusive, um dos vários erros que cometeu em relação a Sara foi por dar ouvidos as fofocas no laboratório. Na época em que ela e Nick estavam concorrendo a mesma promoção, ele não ousou admitir nem para si mesmo, mas a verdade era que tinha medo do que poderiam dizer. Existia uma história de que ele tinha certo favoritismo por ela devido um relacionamento que eles tiveram no passado. Um relacionamento que nunca existiu, e que por conta do seu medo talvez nunca existisse.

— Talvez eu saiba mais do que você imagina.

O resto do jantar transcorreu com leveza. Porém, Grissom havia perdido parte de sua atenção. Mesmo que presente com Sofia, sua mente não deixou de se incomodar. Provavelmente a essa altura, todos no laboratório já estariam comentando sobre eles, pois haviam saído juntos. E definitivamente Sara ficaria sabendo. Mas ela não pensava que ele estava interessado em Sofia, pensava?

Quando o jantar se encerrou e levou Sofia de volta para o laboratório, ele deu uma última volta pelo local, esperando encontrar Sara. Mas ela já havia ido embora.

Eles estavam se dando tão bem nos últimos dias. Haviam se aproximado, sem estranhamentos ou grandes tensões. E ele estava buscando coragem para chamá-la para jantar. Mas ainda não tinha certeza se estava fazendo interpretações corretas. Sempre que estavam juntos e podia olhar nos olhos da mulher, ao invés de encontrar a solução que buscava, se via perdido em uma imensidão de sentimentos. Ao mesmo tempo que sentia necessidade de estar próximo a ela, inúmeros pensamentos sobre como isso poderia fracassar o assombravam.

Grissom já havia usado todos os recursos a seu alcance para entender com mais clareza seus sentimentos,  descobrindo apenas que não era capaz de mensurá-los, quanto mais entende-los completamente. Sentia-se completamente atraído ao mesmo tempo que o medo dominava seus comportamentos. Aquilo era o amor? Sara era uma mulher inteligente, linda e gentil, que mesmo depois de todo o ocorrido entre eles continuava ao seu lado. Mas até quando? E se eles entrassem em um relacionamento e de repente ela descobrisse que eles não poderiam ser tanto como ela esperava? E se ele não pudesse ser quase nada?

Não sabia como poderia lidar com sua partida.

Nos últimos tempos, estava cada vez mais difícil se manter longe de Sara. E temia que seu controle não durasse muito mais tempo.

 

///

 

“Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.

Ambos existem, cada um como é.”

Fernando Pessoa

 

 

Dias de chuva seriam sempre bem vindos em Las Vegas. Bom, ao menos para aqueles que moravam na cidade. Para os turistas, chuva significava atraso em suas programações. Era complicado transitar por alguns pontos turísticos, já que o risco de inundação era sempre grande demais. A cidade era um enorme deserto, e tudo acontecia por meio de extremos. Sol escaldante ou frio congelante. Ou muito seco ou muita umidade.

Mas além da chuva, estava sendo uma noite bastante calma para o laboratório criminal. Um contraponto interessante se pensarmos como os ventos ao redor da cidade estavam agressivos. Aquele estava sendo um turno sem ocorrências, e Grissom manteve-se em sua sala preenchendo papelada. Seu pessoal estava encarregado de finalizar a análise de algumas evidências de casos ainda abertos, resolver alguns protocolos e completar mais relatórios. Naquele ritmo, todos poderiam ser liberados mais cedo para aproveitarem a folga de domingo.

Grissom retirou seus óculos de leitura e esfregou um pouco o rosto, sentindo-se inquieto. Então ele viu Sara e Greg passando pelo corredor, rindo alto de alguma coisa. Seu estômago revirou, e lembrou-se de quando o turno começou.

— O que temos para esse sábado, chefe? – perguntou Greg.

— Todo o trabalho atrasado.

Greg franziu o cenho, confuso com a resposta de Grissom.

— Ele está querendo dizer que não temos casos novos – explicou Sara.

— Então temos um pouco de tempo livre?

— Amanhã estamos todos de folga, você já terá muito tempo livre – Grissom contrapôs, dando um sorrisinho de canto de boca para o jovem.

— Mas a noite de sábado é diferente... Eu poderia levar a gata pra sair...

— Pensei que você não tivesse animais, Greg – Sara alfinetou.

— Muito engraçadinha, Sarinha – Greg pegou um pouco de café, sentando-se em uma das cadeiras na sala de descanso – Mas podíamos todos sair pra jantar, até mesmo você Grissom, podia chamar a Sofia novamente, tenho certeza que a vi quando cheguei.

Ninguém respondeu. Grissom sentiu-se desconfortável, e sua atenção voltou-se para Sara. Preferia não ter visto a expressão em seu rosto. Ela olhou para Greg com frieza, mas logo tratou de sacudir o que estava estampado em cada detalhe de seu rosto, e forçou um sorriso. Mas a tristeza não deixou seus olhos.

— Acabei de lembrar que tenho um relatório para pegar com a Mia – ela disse de forma rápida, saindo e mal terminando sua frase.

Greg manteve-se sorrindo, ainda alheio. Porém, até mesmo para Grissom havia ficado óbvio o desconforto de Sara. Pelo jeito, os boatos estavam mais fortes do que ele imaginava, e parecia que Sara estava por dentro e acreditando neles.

Ele não diria que ela estava sendo fria com ele, mas definitivamente ela estava diferente. Não havia mais o mesmo calor de dias atrás. E tudo coincidia com seu jantar com Sofia. Sara estava mais distante, e não olhava mais diretamente em seus olhos. O que ele poderia fazer para mudar isso? Sentia-se perdido, mesmo que soubesse o único caminho possível a trilhar.

Há um ano, ele tinha total convicção que não poderiam ficar juntos. Não conseguia ver como eles poderiam dar certo, e tudo que conseguia sentir era medo. Um sentimento incapacitante que o afastou dela ao ponto de não perceber como Sara estava precisando de sua ajuda. Mas agora, depois de tudo, já não tinha mais certeza. Havia colocado seu trabalho em risco quando confrontou Ecklie, e incrivelmente sentiu muita satisfação com isso. Pela primeira vez em muitos anos sentiu-se vivo de verdade, lutando por algo que fazia real sentido.

De alguma maneira, naquele dia, algo mudou dentro de si. Grissom sabia que era um longo caminho até conseguir realmente expressar seus sentimentos por Sara, porém algo havia mudado.  Tentar já não parecia tão assustador como antes, mesmo que as palavras ainda fossem um desafio para vencer.

Um trovão irrompeu nos céus de Las Vegas, ressoando por todo o laboratório. Grissom era péssimo em fazer previsões sobre sentimentos, sentia-se perdido no meio de um forte temporal a meses, tendo cada fibra de seu ser encharcada por angústias e dúvidas. Porém, sempre que olhava nos olhos de Sara, era como se todos os temporais em seu coração se acalmassem, e pudesse finalmente respirar.

 

(...)

 

“Como tenho pensado em ti na solidão das noites úmidas”

Manuel Bandeira.

 

 

— Trabalhando duro? – Grissom se aproximou da sala de descanso, percebendo Greg literalmente jogado no sofá, enquanto Sara se mantinha folheando uma revista na mesa.

— Já terminamos – Greg disse.

— Tudo?

— Todas as evidências pendentes já estão em análise, todos os protocolos feitos e nenhum relatório para preencher – o jovem se sentou mais comportado, bocejando logo em seguida.

— Mas são apenas 22 horas.

Greg deu de ombros, bocejando novamente.

Sara ergueu os olhos da revista momentaneamente, não sentindo necessidade de participar daquela conversa.

Seu silêncio não passou despercebido por Grissom.

— Bom... Já que terminaram tudo, não vejo problema em adiantarmos o domingo de folga.

Greg ergueu seus olhos para Grissom, esboçando um sorriso gigante.

— É sério isso?

Grissom acenou em confirmação.

— Ouw, nem acredito que vou poder dormir com esse tempinho.

— Pensei que você fosse levar a gata pra passear, Gregory – disse Sara finalmente, sentindo toda a animação do seu amigo.

— Bom... Esse não é o melhor tempo pra sair, acho que vamos ter que deixar para uma próxima oportunidade – o jovem se levantou – Se vocês me dão licença, já vou me retirar, antes que essa boa notícia seja interrompida por algum caso novo.

— Mas você deve ficar de plantão no celular – disse Grissom.

— Vou rezar pra que todos os criminosos também escolham dormir – e dizendo isso, lançou uma piscadela para Sara e saiu da sala.

Grissom viu quando Sara fechou sua revista.

— Ham... Sara – ele começou, reunindo todas a coragem que juntou desde que iniciara o turno.

— Grissom – ela disse, sorrindo levemente pra ele – Pode ficar tranquilo que também vou embora aproveitar a folga.

— Não é sobre isso... Quero dizer, é sobre isso... – ele se atrapalhou um pouco – Que tal se... Por que não jantamos?

Silêncio. Até um novo barulho de trovão ressoar pelo laboratório. Grissom segurou um pouco o ar, sentindo seu estômago afundar algumas polegadas.

Sara foi pega de surpresa, porém ela sabia o que devia responder – Não.

— Não? – ele repetiu. Porque não?

— Não... – sorriu tristemente para ele, levantando-se de onde estava sentada, preparando-se para ir embora – Você não precisa fazer isso, Grissom.

— Fazer o que? – ele não estava entendendo.

Sara sentiu o mesmo misto de raiva e vergonha de dias antes. Porém, havia um novo sentimento – tristeza. Ela havia se decidido, quando viu Grissom com Sofia, que iria se afastar. Não estava mais interessada em sofrer por seu chefe. Mesmo que ainda o amasse, e Deus, como ela amava – preferia ficar fora disso. Ela não queria as sobras de Grissom. Eles podiam ser amigos no trabalho, manter uma boa convivência, mas só. Havia um limite para tudo, e definitivamente ela havia alcançado o próprio.

— Olha, eu estou cansada, vou pra casa descansar... Mas obrigada pelo convite.

Então se retirou, fazendo o mesmo caminho que Greg.

Grissom não esperava por aquilo. Não que ele tivesse a pretensão de achar que Sara viria correndo para ele a qualquer momento que chamasse. Era bem ao contrário. Sempre temeu que suas palavras finalmente se concretizassem: “Quando você se der conta, pode ser tarde demais”. Mas ele verdadeiramente não queria que fosse tarde demais.

Voltou seu olhar para o corredor, pensando em ir atrás dela. Mas o que ele faria? O que poderia dizer? Tudo que ele não precisava era de uma cena no meio do laboratório e mais fofoca. Sentou-se em uma das várias cadeiras na sala de descanso, sentindo seus pés não responderem os comandos racionais de “Vá atrás dela, seu idiota!”. Lembrou-se da fala de Greg sobre Sofia, e sentiu mais raiva de si mesmo. Como ele não havia percebido o que estava acontecendo?

Era como ter duas pessoas diferentes dentro de si. De um lado havia aquele Grissom que gostaria de ir atrás de Sara, que mesmo sentindo medo de errar, não conseguia ver sua vida sem a presença da mulher. Do outro lado havia o Grissom que mais aparecia em dias normais, cheio de regras e filosofias de como as chances daquilo dar muito errado eram maiores.

Droga! Ele era um homem de quase cinquenta anos que não podia tomar uma simples decisão por medo de se magoar. Estava apavorado com a possibilidade de sofrer por Sara. Mas ele já estava sofrendo, e uma vida sem correr riscos, o que ele teria ao final? Um emprego naquele laboratório, e um monte de boatos sobre como ele não tinha um coração.

Levantou-se agitado, saindo pelo corredor decidido.

Talvez fosse tarde demais para eles, mas ele precisava dizer a ela como estava se sentindo. Como sempre se sentiu.

 

//

 

Grissom certificou-se de que Sara ainda poderia estar no laboratório. Mas Judy lhe disse que a moça tinha ido embora a poucos minutos. Juntou suas coisas e rumou para o estacionamento. Ao chegar na saída do laboratório, percebeu que não poderia evitar se molhar. A chuva ainda estava muito forte, e seu carro não estava no estacionamento coberto.

Parecia o fim do mundo olhando para o céu. Clarões de raios e barulhos de trovões. A chuva não parecia que iria abrandar. O vento também estava forte, aumentando a força com que as gotas de água acertavam tudo a seu alcance. Grissom correu o mais rápido que pode até seu carro, sentindo que sua roupa se encharcou em menos de 5 segundos. Mas tudo aquilo apenas aumentou sua adrenalina, e nunca havia se sentido tão certo do que precisava fazer. Ligou seu carro, e sem se importar por estar todo molhado, foi direto para o apartamento de Sara.

Quando finalmente estacionou, começou a sentir ondas de medo ressoarem em seu peito. Elas ganhavam força como o frio pareceu se intensificar em seu corpo. Ele olhou para fora, vendo que a luz do seu apartamento estava acesa. Talvez ele estivesse se precipitando. Chegando ali daquela forma, ele não estava respeitando a escolha dela, mas trazendo a tona uma situação que ele mesmo não sabia ser capaz de sustentar. Mas e se ele estivesse enganado?

Quais eram as previsões? Uma tempestade se formou em seu peito, e nunca sentiu-se tão pequeno e vulnerável em sua vida. Sara tinha o poder de fazê-lo perder completamente seu senso de direção. Como podia se sentir assim por uma única pessoa? Em toda sua vida, em todos os poucos relacionamentos que teve, nada se comparava ao que sentia estando na presença daquela mulher. O que poderia acontecer se acabassem se beijando?

Grissom meneou sua cabeça, tentando expulsar alguns pensamentos. Ele precisava manter o foco, e definitivamente pensar em beijar Sara não ajudaria. Ele iria subir até seu apartamento para ver como ela estava, iria explicar que tudo entre ele e Sofia não passava de boatos, e que na verdade a única pessoa pela qual ele estava interessado era ela. Talvez a última parte fosse um pouco mais difícil, mas Grissom sentia que lhe devia essa explicação.

Saiu do carro, sentindo seu corpo ser tomado por uma nova onda de chuva. Definitivamente estava frio, porém ele não sabia diferenciar entre tremer por estar molhado ou por puro nervosismo. Toda aquela situação não combinava nada com ele, agir assim de forma completamente sem planejamento.

Subiu as escadas e parou diante a porta de Sara. Ficou estancado pelo que pareceu uma eternidade, tentando fazer com que a coragem não fosse completamente embora. Bateu três vezes, e enfiou as mãos nos bolsos da calça, tentando não tremer.

Após o que pareceu outra eternidade, Sara abriu sua porta.

— Grissom? Aconteceu alguma coisa?

— Eu posso entrar? – foi tudo o que ele conseguiu dizer, percebendo sua voz trêmula - de frio e nervosismo.

— Claro – Sara se afastou para que ele pudesse passar – Você está encharcado, pode ficar doente. Vou buscar uma toalha pra você – ela disse enquanto ia se afastando, porém ele a impediu, segurando seu braço.

— Sara...

— Aconteceu alguma coisa? – ela estava começando a ficar assustada, ele percebeu.

Definitivamente ele estava tornando aquela situação mais difícil, ele precisava se acalmar e se explicar.

— Desculpe... Está tudo bem – ele soltou seu braço.

— Então o que houve?

— Eu... Eu queria dizer – ele lutou com o nó em seu peito e garganta, sentindo-se um adolescente idiota – Eu queria saber porque não quis jantar comigo.

Sara o olhou de forma interrogativa, não acreditando que ele estava ali para isso.

Grissom a olhou com cautela, esperando uma resposta. Não pode deixar de notar como ela estava linda. Parecia ter saído do banho naquele momento, como da última vez que esteve em seu apartamento. Cabelos úmidos e soltos, rosto levemente corado, roupas quentes e confortáveis. Ele podia sentir o perfume dela.

— Grissom, você não está falando sério.

— Minha pergunta é série.

— Por que você não foi jantar com Sofia? – ela não pode deixar de dizer aquilo – Tenho certeza que ela teria aceitado e –

— Eu e Sofia não estamos juntos – ele disse um pouco alto demais, dando um passo em direção a Sara.

Grissom já estava cansado de todas as fofocas do laboratório e como elas tinham o poder de bagunçar seu relacionamento com Sara.

— Grissom, olha... Você não precisa me dar uma explicação sobre sua vida particular –

— Sara, não existe nada –

— Eu realmente espero que você seja feliz, mesmo que isso envolva outra pessoa –

— Não existe outra –

— Todos já estão sabendo sobre –

— SARA! – ele gritou com ela. Ele gritou com ela?

A mulher olhou assustada para ele, recuando um passo para trás.

— Me desculpe... – ele se aproximou dela, em passos lentos, testando se ela não iria se afastar. Pelo que pareceu, ele havia finalmente conseguido ter sua atenção – Me desculpe por gritar, mas você não estava me ouvindo.

Eles estavam de frente um para o outro, próximos o suficiente para sentirem o calor que emanava e atraia. Grissom sentiu-se perder completamente o equilíbrio ao olhar em seus olhos, deparando-se com sentimentos que eram tão seus quanto dela. Tudo que ele soube antes de dar o próximo passo, foi que ele iria beijá-la.


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Notas finais do capítulo

hehehehehe
hey você, que acompanha a fic, o que tem achado da história? hahaha
eu ficaria muito feliz em saber, especialmente sobre esse capítulo.

Fiquei horas essa semana planejando o momento certo, analisando episódio, pra definir com tranquilidade quando eu acho que eles começaram. Decidi que foi entre o ep 14 e 15 da quinta temp. Se a gente for parar pra ver, eles mudam muito o relacionamento depois da cena no apartamento... e realmente acho que teve uma tensão com aquele jantar entre sofia e Griss. Sara deixa nítido seu ciúme da mulher na sexta temporada... motivo ela deve ter hehehe
Vocês vão perceber no próximo cap q talvez o desenrolar não seja tão imediato como eu sinto que muitos acreditam... mass... acho que vão gostar da perspectiva.

Enfim, obrigada a todos que chegaram até aqui.

Beijos! ÓTIMO DOMINGO =) Pq tudo começa em um domingo hehehehe



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