Love is blue escrita por Lola


Capítulo 2
Capítulo 2 - Linhas paralelas


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, boa tarde! Acabei descobrindo que postei o arquivo errado do capítulo 1. Só agora postando o cap 2 percebi isso. Então acho que vale a pena você dar uma olhada novamente no anterior, se por acaso houver lido ele antes que eu corrigisse.

xoxo



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Capítulo 2 – Linhas paralelas

 

Catherine estava mesmo certa, ele se encontrava sobrecarregado com seu trabalho. Tantos anos lidando com cenas de crime o tornaram um homem frio e calculista. Sua fé na humanidade se encontrava quase completamente finda, e já não sabia mais como fazer para recuperá-la. Ver todos os dias, corpos mutilados, mulheres e crianças abusadas – todos os tipos de violência exercida pelo homem – foram deixando ao redor de seu coração, pequenos mais muitos, tijolos de pedra, estes que o impediam de conseguir sentir as coisas como antes. Estava completamente decepcionado. Mas aquele era seu trabalho, e lidar com o lado feio da vida era uma consequência que precisava arcar.

Sair da cidade para lecionar em San Francisco fora um boa ideia, o primeiro dia de seminário já havia se encerrado, e mesmo que tenha ficado em pé a maior parte das horas, falando e falando, se sentia incrivelmente bem. Ver tantas pessoas interessadas, escutando o que ele tinha para dizer, era uma emoção que os vários tijolos de pedra não conseguiam impedi-lo de sentir. E teve aquela jovem, Sara. Uma mulher extremamente inteligente, com certeza se tornaria uma grande profissional.

Mas agora, depois de longas seis horas falando sobre evidências e análises, tudo o que mais queria era tomar um longo banho e comer alguma coisa. Quem sabe ler um livro qualquer.

Grissom saiu do auditório, indo diretamente para o hotel em que estava hospedado. Colocou todos os seus livros e papéis sobre a cama, tirou suas roupas de forma displicente, correu para o banheiro e deixou que uma longa chuveirada fria lhe caísse as costas, relaxando suas tensões, levando embora o cansaço de todo um dia de trabalho.  No final das contas, lecionar sobre o que fazia eram as férias ideais para ele.

Após terminar seu banho e se trocar, pensou que poderia sair para comer alguma coisa. Mesmo cansado pelas várias horas seguidas sem dormir, se encontrava animado e agitado demais para deitar agora. Pensou que poderia mesmo ter aceito algumas das indicações de Sara, ou ao menos pego o número da mulher – “Amanhã vou me certificar de falar com ela sobre isso”. Saiu de seu quarto rumo a recepção do hotel, na esperança de que alguém poderia ajudá-lo.

— Boa noite, você saberia me dizer onde eu encontro um restaurante aqui perto? – Grissom perguntou para a recepcionista do hotel.

— Boa noite. Tem um a duas quadras daqui, perto daquele auditório da universidade...

— Oh sim, sei onde fica o auditório.

— O restaurante fica de frente ao auditório, senhor.

— Ah, obrigada.

A jovem recepcionista lhe lançou um doce sorriso, e Grissom podia jurar que ela havia piscado também.

Ignorando o que pensava ter visto, começou a caminhar calmamente pelas ruas da cidade, deixando seus pensamentos soltos e leves, como quase nunca conseguia fazer em seus dias de trabalho. Havia sempre muito para se preocupar, casos e mais casos para resolver, e quase nada de tempo para relaxar.

Gilbert Grissom era um homem de uma única vida, sem muitas variações do que a compunham. Quando não estava trabalhando, estaria em casa com suas palavras cruzadas ou na companhia de um bom livro. Relacionamentos amorosos? Estes também eram complicados – sempre que alguém parecia conseguir alcançar seus sentimentos, alguma espécie de confusão se elevava diante seus pensamentos e comportamentos, e acabava ficando sozinho. Conhecer muito sobre ciência não significava conhecer tudo sobre si.

O homem de olhos azuis foi caminhando pela rua de forma lenta, apreciando a brisa fresca que a noite estrelada proporcionava para quem quisesse se aventurar como ele. Finalmente, após alguns poucos minutos de caminhada, avistou o auditório onde passara toda sua tarde, e logo do outro lado da rua, o restaurante indicado pela recepcionista.

Pode sentir um cheiro agradável vindo do local, enquanto seu estômago se revirava, mal esperando pela refeição que faria.

Quando entrou, no entanto, viu que todas as mesas estavam lotadas, e que havia uma quantidade enorme de jovens reunidos comemorando alguma coisa. Ficou parado a porta sem saber o que fazer, se tentaria encontrar um lugar ali mesmo, no meio de tanta animação, ou se dava meia volta e tentava encontrar qualquer outro lugar mais calmo.

— Parece que ganhamos os jogos.

Grissom se virou para ver de onde vinha o comentário, e deparou-se com Sara, lhe oferecendo o mesmo sorriso doce de mais cedo.

— Não sei sobre os jogos, mas parece que não vou ganhar meu jantar... – Sorriu meio de lado enquanto arqueava as sobrancelhas.

— Já estou aqui a 30 minutos esperando que alguém desocupe alguma mesa, e ainda nada.

— Hum.

Ficaram em silêncio, apenas observando o intenso movimento dentro do pequeno restaurante. Por fim, Grissom conseguiu identificar em uma conversa paralela o motivo de tanta euforia. O time da universidade havia ganhado alguma espécie de campeonato.

— Que tal irmos para outro lugar? – Sugeriu Grissom. Todo aquele barulho já o estava incomodando – Afinal de contas você é minha anfitriã, certo?

Sara encarou o sorriso de canto de lábio que Grissom estava dando, e muito rapidamente pensou como seria fácil se apaixonar por ele.

— Pensei que eu havia sido dispensada dos meu afazeres hoje a noite.

Sorriram. Incrível como sorrir – de repente – se tornou a melhor resposta e reação para tudo. Saíram.

— Bom, eu estou com fome, você também – Grissom começou a dizer, sentindo-se incrivelmente atraído pela moça a sua frente – imagino que não será muito trabalhoso pra você me acompanhar em algum lugar.

— Não, eu acho que não – Sara parecia estar se divertindo.

Ele deu de ombros feliz, em sinal de vitória.

A mulher riu abertamente – Tudo bem, você gosta de pizza?

— Eu amo pizza.

— Então teremos pizza Dr Grissom – e dizendo isso, começou a caminhar em direção a Grissom, segurou-o pelo braço, e mostrou a direção.

— Por favor, me chame de Gil – comentou finalmente, enquanto se concentrava em não dar muita importância para os dedos da morena ao seu lado apertando suavemente seu braço.

— Okay, Gil – ela então soltou-se de Grissom, mas continuaram andando lado a lado. Depois de alguns instantes em silêncio, continuou em tom reflexivo – Nem sei porque insisto em tentar ir naquele lugar.

— Ao menos eu tive sorte com suas tentativas.

Sara olhou para Grissom, feliz pelo comentário, mas ele mantinha os olhos fixos no caminho que estavam fazendo, sem olhar para ela. Ficaram em silêncio até chegarem na pizzaria, que ao contrário do lugar de antes, estava completamente vazia.

Entraram e se sentaram.

— Bom, esse local me parece muito mais silencioso do que o anterior. Você gosta de silêncio? – perguntou Sara, se aventurando em iniciar uma conversa.

— Mais do que poderia explicar.

— Então fiz a escolha certa.

— Nunca duvidei das suas habilidades como anfitriã – sorriu.

Sara sentiu seu estômago dar uma pequena cambalhota. Que diabo de sorriso era aquele? E aqueles olhos? E por que ela tinha aquela forte impressão de que ele estava flertando com ela?

— Sara, tudo bem?

— Oi?

— Parece que você deu uma fugida.

— Oh – pode sentir suas bochechas corarem – me distraí. Já sabe qual pizza vai querer?

— Bom, vejamos... – ele pegou o cardápio.

Logo que se decidiram o garçom veio recolher os pedidos. Após isso, Grissom mudou o assunto para algo que parecia mais confortável para dois estranhos: trabalho.

— Há quanto tempo trabalha como CSI?

— Bom, já estou indo para meu terceiro ano no laboratório, mas faz apenas um como CSI em campo.

Grissom arqueou suas sobrancelhas, entortando levemente os lábios – Você é bastante nova para já estar a todo esse tempo com um trabalho assim.

Sara pensou um pouco antes de responder – Acredite, não sou tão nova assim. E eu tive sorte. Assim que terminei a faculdade consegui entrar em uma pós aqui em Berkeley que me ajudou a ganhar a confiança do Stewart, então ele acabou me aceitando como assistente do legista, e hoje CSI nível 1.

— Aposto que além de sorte era uma ótima aluna.

— Não posso dizer pelos meus professores.

— Talvez eu possa – rebateu Grissom.

— Ainda não – contrapôs Sara.

O homem se deu por vencido, mas deixando claro em seu rosto que ele aceitava o desafio até o final daquela semana.

— Vamos ver.

Grissom estava encantado. E ao mesmo tempo uma vozinha muito familiar dentro de sua cabeça o estava repreendendo por tantos galanteios à jovem. Mas ele não conseguia evitar, mulheres como Sara sempre o fascinavam, instigando comportamentos que em um dia normal não teria. Sem perceber já estava flertando.

Neste momento uma enorme pizza veio ser entregue pelo garçom na mesa do casal, que não disfarçou o contentamento em finalmente colocar algo sólido na boca.

O resto da noite transcorreu levemente. Grissom muito interessado com a formação de Sara, enquanto essa lhe falava sobre algumas coisas sobre a cidade.

Grissom se sentia bem com a jovem a sua frente, ele mal a conhecia, mas a conversa leve que estavam tecendo o deixou bastante relaxado. Ela parecia ser uma mulher incrível, não só por suas respostas inteligentes ou ótimas observações quando o assunto era ciência, mas pela forma como o estava fazendo se sentir. Observou o rosto dela com atenção, como seus lábios se curvavam quando sorria, ou como seu cabelo amarrado em um rabo de cavalo a deixava mais bonita. “Bobeira”. Pensou rapidamente.

— Parece que eles vão fechar – comentou ela, olhando para o garçom que os atendera, que agora estava fechando as janelas do local.

— Sim, parece que é hora de irmos.

Levantaram-se e foram até o balcão, pagaram a conta e saíram. Começaram a fazer o caminho de volta, agora já mais lentos, satisfeitos pela refeição finalmente realizada.

Todo o trajeto foi feito em silêncio, mas agora, muito mais confortáveis do que antes. A presença um do outro já estava começando a se tornar familiar, e logo descobriram que não era preciso muitas palavras para que isso ocorre-se. Quando já estavam quase na frente do mesmo restaurante em que se encontraram, Sara interrompeu seus passos e disse:

— Eu fico por aqui.

— Você mora aqui?

— Sim.

Eles estavam de frente a um grande prédio composto por vários apartamentos. Aparentemente todos muito pequenos e simples, mas de aspecto muito acolhedor. O porteiro responsável pelo local se encontrava sentado em uma cadeira próxima a onde eles estavam parados, e Grissom pode perceber como ele ficou atento a presença de Sara.

— Parece que ele está te esperando – comentou.

Sara encarou seu porteiro de relance, que lhe enviou uma piscadela.

— Aquele ali é o Nick, adora me vigiar – revirou os olhos.

— Hum... – Grissom não soube exatamente o que dizer sobre o comentário – Então... Obrigada pelo jantar e companhia.

— Sempre que quiser – sem surpresa, ela sorriu.

Ele a olhou com um leve sorriso torto nos lábios, e se virando, voltou a caminhar rumo ao hotel em que estava hospedado.

Enquanto caminhava pensou sobre o saldo extremamente positivo do seu dia. Tudo havia corrido bem na viagem, o primeiro dia de aula pareceu empolgar bastante seus alunos, especialmente o exercício em resolver um crime que realmente acontecerá. E no fim, havia saído e jantado com uma mulher linda e agradável. Mesmo depois de mais de 48 horas acordado, sentia-se extremamente satisfeito. Provavelmente iria conseguir ter uma ótima noite de sono.

 

Você e eu,

Somos linhas paralelas.

Quando criança, disseram-me

que duas linhas paralelas

se tornam secantes

— isto é: elas se cruzam -

No infinito

Teremos

que nos armar com paciência.

 

Roger Wolfe.


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