Love is blue escrita por Lola


Capítulo 1
Capítulo 1 - San Francisco, 1998.




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Capítulo 1 – San Francisco, 1998.

Robert olho de esguelha para sua assistente. Sara parecia cansada, rosto pálido com indiscutíveis olheiras.

— O que você tem feito nos últimos dias? – ele perguntou de repente, percebendo seus pensamentos saindo em palavras para a jovem.

— Desculpe? – ela parou a raspagem que fazia meticulosamente nas unhas da vítima.

— Você parece cansada, tem conseguido dormir?

Sara desviou os olhos de Robert para a vítima na mesa, imaginando aonde aquela conversa cairia – Sempre que possível.

— Hum – ela estava mentindo – Sua semana de folga está chegando, já tem algum plano? Talvez sair com aquele cara loiro que andou te buscando semanas atrás...

— Definitivamente não – a morena soltou uma pequena risada entre dentes – eu gosto do meu trabalho, gosto de usar meu tempo livre com ele, você não precisa se preocupar.

— Não estou preocupado – o jovem legista deu de ombros, sabendo que não conseguiria apertar de mais a mulher. Sara sempre fora bastante reservada, e ele podia apenas imaginar o que havia acontecido em seu passado para ela ser assim, tão incrivelmente focada em seu trabalho.

— Já é semana que vem o curso de atualização? – Sara ergueu os olhos novamente para ele – aquele que você sempre ajudava a organizar quando ainda estava na pós.

— Sim, Curso de Inovações em Ciência Forense. Stewart me pediu para ser a anfitriã do convidado especial, de acordo com ele, o melhor entomologista do país.

— Gilbert Grissom – ele deu a volta na mesa e pegou as amostras que Sara o estava entregando – o cara é realmente bom, participei de uma palestra anos atrás.

— Não sabia que ele era tão famoso assim – comentou distraidamente, agora passando um pente fino nos cabelos da vitima, um discreto olhar de tristeza dançando em seu rosto – e ainda não confirmei sobre acompanhar o cara. Você sabe que é minha semana de folga, eu realmente gostaria de poder descansar um pouco.

— Oh ele é, famoso de várias formas – o legista riu um pouco, com um tom de voz saudosista – inclusive por palestras um pouco monótonas demais.

— Você não está tentando me encorajar assim, está?

— Bom, eu não disse que concordava com essa visão.

— Não consigo me animar em acompanhar um cara super nerd com fama de tedioso.

— Veja pelo lado bom, você também é uma super nerd, vai ter muito assunto com ele.

Sara descansou o corpo apoiada em um balcão, olhando ameaçadoramente para Robert.

— Acho que conhecendo você – ele colocou uma mão acolhedora em seu ombro, ignorando a cara brava que sua amiga tentava sustentar – imagino que ao invés de gastar sua semana de folga ouvindo o rádio da polícia, poderia passear um pouco pelos campos da universidade e estudar alguma coisa diferente, fazer contato com um cara de Las Vegas pode ser muito promissor.

Sara quis retrucar, mas não o fez. Gostava de Robert, sabia que ele realmente se importava com ela, os dois eram amigos.

Pensou sobre a possibilidade de se distrair um pouco no meio dos alunos, afinal não fazia muito tempo que ela fora uma também. Pelo que ficou sabendo o tal palestrante era o melhor entomologista do país. Insetos não eram nem de longe seu assunto preferido, mas sabia que se queria continuar com a carreira que escolheu, seria um assunto com informações importantes de aprender.

— Além do fato que as meninas parecem gostar muito da aparência do nosso palestrante – Robert enfatizou – tenho certeza que você vai cativá-lo rapidamente para um jantar.

— Com certeza não vou me esquecer de dar em cima do palestrante, obrigada pela dica.

— Bom – ele sabia que estava apenas tentando animar a jovem – a vida é uma caixinha de surpresas. Mas você não precisa ficar babando no homem como uma adolescente, pode apenas aproveitar sua semana de folga estudando do jeitinho que você gosta, enquanto se diverte.

A mulher não respondeu de imediato, havia trabalhado muito nos últimos dias, tudo que gostaria para sua tão desejada semana de folga era poder descansar e organizar seu apartamento. Desde que começou a trabalhar no laboratório criminal em São Francisco não havia encontrado tempo de colocar suas coisas em lugares devidos.

O último caso, especificamente aquele sobre a mulher que se encontrava na mesa a frente de seus olhos, havia testado com graciosidade sua força emocional. Uma jovem de vinte e poucos anos estuprada e morta. O culpado? Seu marido.

Mas talvez ai estivesse a motivação necessária – ficar em casa poderia não ser a melhor opção afinal.

— Acho que vou dar uma chance.

— Tenho certeza que você não irá se arrepender.

Sara sorriu, enquanto retirava suas luvas e soltava os cabelos. Finalmente havia conseguido terminar de processar o corpo. A amostra de pele seria apenas mais um reforço no julgamento do marido assassino.

//

Era um dia quente, muito mais quente que o normal. Sara chegou ao local da conferência com certa antecedência, havia pesquisado um pouco sobre o trabalho realizado por Grissom na internet, e acabou ficando bastante interessada pelo assunto, especialmente seu local de trabalho. O laboratório de Las Vegas era referência para todos os outros, participar de um curso como aquele definitivamente era uma grande oportunidade.

Sentou-se bem no meio do auditório, um local estratégico para conseguir acompanhar da melhor maneira possível tudo que fosse apresentado durante os seminários. Não havia muitas pessoas na sala, apenas ela e um casal sentado mais a frente na segunda fileira. Ficou observado-os, e sem perceber, se lembrou da moça que morrera enforcada pelo marido em seu último caso, e como aquela jovem a sua frente se parecia com ela.

De repente pode sentir algo molhado caindo em seu colo, e quando se deu conta, havia deixado entornar sobre si mesma sua garrafinha de água, tamanha havia sido sua distração.

— Droga! – Exclamou baixinho, tentando passar a mão sobre sua calça e disfarçar toda água encharcada ali. Olhou rapidamente ao seu redor, caso alguém houvesse visto a bagunça que acabará de fazer, e se deparou com um par de olhos muito azuis a encarando do auditório.

Sara deu um leve sorriso envergonhado para seu espectador, que o retribuiu, mas logo voltou sua atenção para uma pilha de livros e papeis que carregava. Ficou pensando se havia ficado muito tempo concentrada naquele casal, que continuava sua conversa animada mais a frente. Nem se quer percebera a entrada daquele homem, que reconhecera ser o palestrante Gilbert Grissom. “Que ótima primeira impressão”, pensou consigo mesma, enquanto passava a mão distraidamente por sua calça molhada.

(...)

Logo a sala foi ficando mais cheia, uma grande quantidade de alunos ia se ajeitando nos lugares vazios, o barulho de conversas paralelas ia aumentando, e Sara podia identificar algumas frases empolgadas com o começo do curso. Uma sensação quente e reconfortante preencheu seu peito, lembrando-se da época de faculdade, dos amigos agora distantes, da facilidade que era lidar apenas com a parte teórica da ciência.

Houve um leve pigarro, e Sara pode ver Stewart sorrindo animado para a platéia de estudantes, visivelmente empolgado com o anúncio que iria fazer.

— Obrigado a todos que se inscreveram pra mais uma edição dos nossos seminários de atualização forense. Para os interessados em seguir essa carreira, uma palestra como a de agora pode pesar bastante no currículo – Sara sorriu discretamente para seu chefe, quando percebeu que ele a avistara no auditório – O senhor Gilbert Grissom no fez a honra de disponibilizar um pouco de seu precioso tempo para esse evento, espero que todos aproveitem bem.

Stewart apertou a mão de Grissom e lhe deu um rápido abraço cordial, falando algo em seu ouvido. Grissom assentiu e sorriu, e Sara viu quando seu chefe apontou para si na platéia. Ela era a anfitriã afinal de contas. Grissom então ficou sozinho no auditório e sorriu para seu público.

— Boa tarde a todos, meu nome é Gilbert Grissom, mas vocês podem me chamar de Gil – A conferência começara, e o que antes era um alto burburinho de conversas paralelas, tornou-se um completo silêncio diante a fala de seu palestrante – Hoje daremos início a cinco dias de conferência, e eu espero que durante esse período tenhamos em mente o mais importante nessa área de trabalho, as evidências nunca mentem...

Assim seguiu-se o dia todo. Grissom propusera a resolução de um caso, onde eles iriam passar os próximos cinco dias estudando suas evidências e possíveis resoluções. Duas pessoas mortas em uma garagem. Todos pareceram bastante animados. O primeiro dia resumiu-se em uma apresentação do caso, e quais as possíveis evidências que os ajudariam a resolver o mistério.

Sara sentiu-se bastante envolvida durante todo o dia, e várias foram as perguntas que lhe surgiram, além de ter dado respostas bastante inteligentes quando feitas. A mulher sempre fora bastante inteligente, e suas últimas experiências como CSI no laboratório de São Francisco, lhe proporcionaram grandes aprendizados.

— Exatamente – disse Grissom, após uma resposta dada por Sara – O conhecimento necessita englobar o máximo de áreas possíveis, nunca saberemos de qual deles vamos precisar beber para resolver algo, e como mencionado, a antropologia é uma ciência que todos devemos nos aprofundar sempre...

Assim o dia foi chegando ao fim, e as evidências contra aqueles que disseram que Grissom era maçante, foram sendo acumuladas por Sara de maneira divertida. Mal poderia esperar para comentar com Robert sobre como havia gostado de tudo.

— Espero que todos tenham aproveitado os nossos estudos de hoje, e aguardo vocês amanhã para continuarmos a nossa busca pelo nosso assassino – Grissom estava encerrando seu primeiro dia de palestra – Uma boa noite a todos.

Pouco a pouco as pessoas foram levantando de seus lugares para se retirarem do auditório, Sara ficou parada enquanto observava Grissom organizar suas coisas para ir embora também. Não pode evitar o pensamento sobre a aparência do homem. Ele devia ter seus 40 anos? Mas definitivamente mantinha uma boa forma, além de um sorriso encantador de canto de boca. “Parece que Robert estava certo sobre a fama de Grissom”, pensou consigo mesma, rindo sobre o que seu amigo pensaria se confirmasse ter achado o homem bonito. Aquela era sua deixa, precisava começar a fazer o que prometera para seu chefe.

Levantou-se, agora já com a roupa seca, pegou sua garrafinha de água embaixo da cadeira, e foi rumando para onde Grissom estava.

— Boa tarde, Dr Grissom, meu nome é Sara. Stewart me pediu para acompanhar o senhor enquanto estiver ministrando a conferência aqui na universidade.

— Sara Sidle, certo? – Grissom jogou sua mochila nas costas, segurando vários livros em um dos braços.

— Sim, sou eu – ela sorriu.

— Muito prazer, Gil Grissom – o homem estendeu a mão livre para a mulher, lhe oferecendo um sorriso gentil.

— O prazer é meu – sorriu de volta.

— Antes da palestra eu dei uma checada nos inscritos, e vi que teria uma perita de nome Sara participando – ele sorriu novamente, falando animado – logo percebi que poderia ser você pelas respostas inteligentes. E Stewart me falou sobre você também.

Sara sentiu o rosto corar, mas não se deixou intimidar com os elogios, ou seria um pequeno flerte? – Obrigada, gosto de pensar que sou boa no que escolhi, pelo o menos me esforço.

Grissom assentiu, parecendo gostar bastante da resposta - Vejo que já se recuperou do acidente de mais cedo...

— Acidente?

— Com a garrafinha.

— Oh – Sara riu envergonhada – Eu estava um pouco distraída...

Grissom não disse nada, apenas ficou olhando gravemente para ela, como quem observa o experimento mais interessante dessa terra.

— Então...

— Desculpe – disse ele – fiquei bastante impressionado com suas respostas hoje. Você estuda antropologia?

— Física, mas comecei a trabalhar recentemente no laboratório aqui de São Francisco.

Grissom sorriu novamente – Então você trabalha para o Stewart! Ele definitivamente faz um ótimo trabalho no laboratório dele. Eu havia dito sobre não haver necessidade de alguém andando atrás de mim o tempo todo. Imagino que a senhorita tenha suas coisas pra fazer.

Sara sorriu, mas não disse nada. Afinal, ela realmente começou a pensar que adoraria um jantar com aquele cara.

— Stewart gosta de tratar bem seus palestrantes, e ele me disse que vocês são amigos.

— Sim, eu o conheci quando estava começando minha carreira de CSI em Minneapolis – Grissom sorriu saudosista – Mas de qualquer forma, hoje você pode se considerar livre de suas obrigações comigo, não tenho intenção de fazer nada diferente, apenas voltar para o hotel e descansar.

— Você tem certeza? Posso te indicar alguns locais para jantar, ou levá-lo a qualquer lugar da cidade que precise de alguma coisa.

— Não se preocupe, provavelmente vou jantar no hotel mesmo, e preciso muito dormir um pouco. Quando saí de Vegas tinha acabado de encerrar um turno duplo e ainda não descansei.

— Certo.

— Bom Sara, foi um prazer conhecê-la – esticou novamente sua mão para a mulher – Espero vê-la amanhã.

— Claro, até amanhã.

E dizendo isso, Sara se virou e continuou seu caminho, pensando que um hambúrguer seria a melhor escolha depois de tudo.

Quando chegou a seu apartamento, pode sentir o cansaço de horas sentada na mesma posição tomar conta de seu corpo. Tirou os sapatos e se jogou no sofá, pensando qual o melhor local para conseguir um hambúrguer mais tarde. Definitivamente o restaurante de frente o auditório era o melhor. Levantou-se em um pulo indo para o banheiro tomar um banho. Sentia-se feliz e mais relaxada. Ela amava sua profissão, amava estudar. Amava. E mesmo depois de enfrentar tantas dificuldades em sua vida, pelo o menos disso poderia se orgulhar no fim do dia.  


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Notas finais do capítulo

bora, bora!



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