Love is blue escrita por Lola


Capítulo 18
Capítulo 18 - Eu preciso de você


Notas iniciais do capítulo

Olá olá hehe
Chegamos a um dos melhore caps. Fiquei particularmente feliz com esse aqui. Talvez muitos de vocês leitores irão discordar da minha visão do que aconteceu... Mas tentei fazer o mais fiel possível ao que interpreto da série. Estamos chegando ao grande momento entre nosso casal... (emoção)
Obrigada a todos que comentaram, AMO cada um deles.

Sem mais delongas, bora pro AP da Sara =)



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Capítulo 18 - Eu preciso de você

 

“Se me abraçares, não partas.”

Maria do Rosário Pedreiro



Grissom abriu as janelas do carro em movimento, sentindo o ar quente da tarde ir de encontro a seu rosto. A imagem de Sara dançou por sua memória, ela sentada diante de si, sorrindo serenamente, dizendo que só estava em Vegas por conta dele. Seu coração aqueceu e apertou, sentindo-se cada vez mais perdido. Deixou então que seus pensamentos voltassem para cada encontro que tiveram no passado. Lembrou-se de San Francisco, de quando ela chegou em Vegas, das inúmeras vezes em que ela se abalou com um caso, todos eles envolvendo algum tipo de violência doméstica. Uma luz se acendeu de repente em seu cérebro, e como se tudo fizesse sentido, percebeu os comportamentos ressentidos de Sara em casos sempre parecidos. Por que não havia percebido nada antes? 

Ele sabia bem a resposta. Qual foi a última vez que realmente olhou para Sara Sidle? Grissom não se lembrava, pois havia passado todo esse tempo completamente assustado com o que poderiam significar seus sentimentos. Foram quase sete anos evitando uma verdade simples e clara, desviando e buscando caminhos mais curtos ou avessos a realidade. Ele era apaixonado por ela. E não sabia o que fazer sobre isso. Não tinha coragem de fazer algo sobre isso. O medo e falta de habilidade eram tão grandes, que tudo que fez foi fugir.

Parou o carro diante seu apartamento, disposto a mudar essa situação. Mesmo que ainda sem coragem, ele precisava olhar para ela e entender. O que ele deixou passar todo esse tempo que esteve fugindo? 

Por que eu não percebi nada disso antes?

A pergunta ficou ecoando por sua cabeça, enquanto saia de seu carro e rumava para o apartamento de Sara. Respirou fundo algumas vezes, enquanto subia as escadas, disposto a colocar em evidência não seu lado supervisor, mas aquela parte que não tinha medo de falar ou usar as palavras. Pois de uma coisa ele tinha certeza: ele não iria despedir Sara Sidle, pois ele precisava dela. 

 

(...)

 

“Às vezes tudo que precisamos é de um minuto de coragem insana. Mesmo que com consequências absurdas, expressar nossas emoções pode ser libertador.” Sara escreveu em seu caderno da terapia, sabendo que suas palavras não eram completamente verdades, mas sentindo-se daquela forma. Havia aprendido em seu aconselhamento que se não conseguia falar com alguém sobre seus sentimentos, então que ela pudesse escrevê-los, usando isso como uma ferramenta para colocar um pouco para fora tudo que a sufocava. 

Era exatamente isso que estava fazendo enquanto ouvia música e bebia uma cerveja. Escreveu o equivalente a duas páginas de pura aleatoriedade e sentimentos confusos, buscando colocar em perspectiva tudo que se passava em sua mente. Porém seu raciocínio foi interrompido por algumas batidas na porta. Desligou o som e se levantou, suspirando com frustração por imaginar qual dos seus colegas havia vindo falar que ela passara dos limites.

Olhou pelo olho mágico em sua porta e nem mesmo se surpreendeu.

Grissom.

Abriu a porta e o encarou.

— Bom, se você está aqui, boa coisa não é - disse de forma sincera.

— Posso entrar?

Sara fez um leve aceno com a mão para que ele passasse.

— Quer saber se estou bêbada? - perguntou mostrando a garrafa em sua mão, usando um tom pacifico porém irônico.

— Ambos sabemos que esse não é o problema - Grissom caminhou um pouco para dentro, e se virou novamente para encarar a mulher.

Ele estava disposto a saber a verdade, e não iria permitir que Sara desviasse o assunto.

— Falei com Catherine - ele disse.

— Ecklie?

— Ele quer que te despeça.

— Imaginei - Sara disse resignada, sem nenhuma surpresa com a informação - Posso te oferecer alguma coisa?

— Claro. Uma explicação.

Grissom disse tudo com muita calma. Eles estavam ali parados de frente um para o outro, e o pensamento de minutos antes não parava de assombrá-lo. Por que eu não percebi nada antes?  

— Eu… Perdi minha cabeça - meneou a cabeça. Então se virou e afastou-se de Grissom, incomodada com seu escrutínio.

— Isso tem acontecido muito - Sara ficou em silêncio, então insistiu - Sabe porquê?

— Que diferença faz? Fui despedida.

Grissom não pensou duas vezes antes de responder:

— Faz diferença pra mim.

Sara pensou brevemente sobre as palavras de Grissom, porém elas não tiveram impacto real sobre como estava se sentindo naquele momento. Estava cansada daquele jogo, de todos os sinais duplos, da confusão que era sua vida.

— Tenho um problema com autoridades - começou a dizer de forma displicente - Escolho homens que estão emocionalmente indisponíveis - apontou para Grissom - Sou autodestrutiva… - pensou um pouco - Todas acima.

— Já passou uma semana sem racionalizar? - Grissom disse, ignorando a fala de Sara.

A mulher desviou o olhar demonstrando impaciência. Aquele não era um momento em que ela estava com paciência para as informações e divagações de seu supervisor.

— È do “Big Chill” - Explicou a citação, ignorando a expressão de Sara - Um dos personagens está a explicar um fato básico da vida… Que a racionalização é mais importante para nós do que… sexo.

Sara senta-se em sua poltrona, encarando Grissom - Eu não estou racionalizando nada. Passei dos limites com a Catherine e fui insubordinada com Ecklie.

— Porquê?

— Deixa isso - Sara desviou o olhar, nitidamente incomodada com aquela conversa.

— Não, Sara.

— O que você quer de mim? - ela pergunta de forma impaciente. 

Grissom nunca demonstrou real interesse por sua vida nos últimos anos. Nunca quis realmente saber sobre sua vida ou sua história ou como se sentia sobre qualquer coisa. Tudo que ele fez foi sempre fugir e desviar suas tentativas de aproximação.

— Quero saber por que anda tão zangada.

Sara o encarou em silêncio por alguns segundos, sentindo um bolo de emoções subir por sua garganta, descer novamente para o estômago, embrulhando tudo.

— Não, você não quer saber.

— Sara…

— Por que agora, Grissom? - ela o desafiou - o que mudou para de repente você estar interessado?

— Eu sempre estive interessado.

Sara riu, passando a mão nervosamente pelos cabelos - Não, você não tem o direito de me dizer isso.

Grissom fechou os olhos, respirou fundo, abriu-os e encarou Sara.

Ela estava certa em não confiar nele. Eles haviam passado os últimos anos distantes, e de repente ele queria que ela conversasse com ele sobre seus sentimentos. 

— Eu preciso de você - as palavras saíram antes que ele pudesse pensar.

— O laboratório precisa de mim - ela contrapôs. 

Eles ficaram em silêncio. Sara sentada olhando de forma ameaçadora para Grissom, e este com as mãos cravadas nos bolsos da calça, punhos cerrados.

— Okay, você está certa - ele se aproximou de onde ela estava, sentando-se no sofá maior - Eu… Eu sei que não fui um bom amigo pra você nos últimos tempos.

Sara não pode evitar uma risada amarga escapar, mesmo que mínima. Grissom percebeu.

— Mas isso não significa que eu não me importe - ele disse em um fôlego só - ou que eu não tenha percebido seu envolvimento em casos de violência doméstica.

Ponto. Ele finalmente havia conseguido tocar no assunto que o assombrou desde que saíra do laboratório. Algo lhe dizia que aquele era o ponto chave de tudo, e ainda não tinha certeza se estava preparado para lidar com o que Sara poderia lhe contar.

Sara desviou o olhar, sentindo um gosto amargo em sua boca. Era o gosto de todo um passado.

— Por favor, Grissom… Não...

— Fale comigo… - ele abaixou o tom de voz - Sara… Por que não confia em mim?

As palavras ficaram suspensas entre eles, pesadas como os sentimentos que ambos sentiam, mas sem lugar para repousar. Grissom viu quando Sara desviou os olhos, viu como eles estavam marejados.

— Por que dói, Grissom… - ela o encarou - Dói confiar em você… Dói falar sobre isso.

Ele não soube o que dizer. Sara tinha aquele poder sobre ele. Falar sobre sentimentos já não era algo que conseguia com facilidade, porém, ela tinha a capacidade de minar a mínima habilidade que ainda lhe restava de juntar palavras e formar frases.  

Sara apoiou seus pés na mesinha de centro, segurando suas pernas em um meio abraço. Era uma posição de defesa. E era exatamente assim que ela se sentia naquele momento. Sua mente se inundou de lembranças sobre sua infância. Ela se sentia a mesma criança indefesa de antes.

— Ok - foi tudo que ela disse, e ele percebeu que ela estava abaixando um pouco a guarda.

Grissom manteve o silêncio, esperando que ela se sentisse confortável para falar quando quisesse e o que quisesse. Passaram-se longos minutos. Ele viu como o peito de Sara subiu e desceu de forma descompassada, mostrando como ela estava em algum tipo de luta interna. Quando finalmente ela começou a falar, seu tom era calmo e sereno, porém completamente encharcado de uma emoção triste. 

— È engraçado… As coisas que você embra e as coisas que não lembra, sabe? - Seus olhos se mantiveram fixos em algum ponto estranho que não fosse Grissom - Havia um cheiro de ferro no ar. Salpicos na parede do quarto. Havia um policial novo vomitando.... Lembro da mulher que me levou para a casa de acolhimento - voltou seu olhar para Grissom rapidamente, desviando logo em seguida - Não consigo me lembrar o nome dela… O que é estranho, sabe, porque… Não conseguia largar a mão dela.

Grissom ouviu tudo atentamente, sentindo um misto de emoções que não era capaz de nomear. Mas ele não podia demonstrar isso agora, ele precisava estar ali por Sara.

— Bem… A mente tem os seus filtros.

— Lembro dos olhares - ela continuou - Eu era “a menina cujo pai foi esfaqueado até a morte” - Sara encarou Grissom novamente, deixando claro toda a tristeza que sentia - Acha que há um gene do crime?

Grissom não estava esperando por uma pergunta como aquela, mas mesmo assim respondeu com cautela - Eu não acredito que os genes transmitam comportamento violento.

Os olhos de Sara se encheram mais de lágrimas - Eu não sabia disso na minha casa… As brigas, as gritarias, as idas ao hospital. Achava que era assim que todos viviam… Quando minha mãe matou meu pai… - sua voz falhou - ...descobri que não era.

Então ela não pode mais tentar ser forte. Aquele era o seu limite. O choro irrompeu sem que pudesse contê-lo por mais tempo, e quando percebeu Grissom estava segurando sua mão. As lágrimas escorreram por seu rosto, e uma angústia enorme tomou conta de seus sentidos. Porém, mesmo que sentisse ter perdido completamente o controle daquele momento, não pode deixar de se sentir ser tomada por uma vulnerabilidade excruciante. Grissom agora tinha total conhecimento da pior parte de sua história, e não haveria mais dúvidas de como ela estava estragada. Aquilo lhe deu impulso para conter um pouco o choro, puxar sua mão do aperto de Grissom e se levantar da poltrona que estava sentada.

Grissom sentiu-se extremamente pequeno e inútil. Nem em suas piores divagações havia imaginado uma história como aquela. E ele sabia que havia mais. Sara tinha contado apenas um resumo simples dos fatos. Ele tinha medo de pensar sobre o relato completo. E mesmo assim, tudo o que ele conseguiu fazer foi segurar sua mão.

Nenhuma palavra. Nenhum abraço. Apenas silêncio.

Sara se desvencilhou de seu aperto, levantou-se e entrou no que ele imaginou ser o seu banheiro.

O que ele iria fazer agora? Ele precisava fazer alguma coisa, dizer alguma coisa. Eles terem chegado em uma situação como aquela era completamente responsabilidade de sua supervisão falha. E mais profundamente, de sua amizade frágil. Se em algum momento ele houvesse parado de pensar apenas em si mesmo e olhado para Sara, talvez eles já tivessem tido aquela conversa, talvez ele haveria percebido como ela não estava bem. Mas seus pensamentos estavam bagunçados demais. Não estava sendo possível racionalizar como deveria.

Sara saiu do banheiro. Rosto lavado, olhos e nariz vermelhos.

Ela caminhou até a cozinha, bebeu um pouco de água, voltando logo em seguida para a mesma poltrona de antes. Sentou-se e encarou Grissom, buscando as melhores palavras para encerrar aquele momento o mais breve possível.

— Grissom… Vai ser melhor assim, vamos… Vamos deixar as coisas

como estão…

— Desculpe? - ele não entendeu.

— Eu não sei se quero voltar para o laboratório.

Grissom franziu o cenho, não acreditando no que estava ouvindo - Não, Sara… Eu não estou demitindo você.

— Eu errei, passei dos limites - ela disse com falsa calma - Tudo isso… tudo isso que eu te contei sobre mim e minha família… Eu não quero que você sinta pena ou -

— Eu não sinto pena de você, Sara - Grissom falou firme, espantado que ela pudesse esperar isso dele - Eu já não ia demiti-la antes de conversarmos, e continuo com o meu posicionamento.

Sara sentiu um pouco do aperto em seu peito afrouxar - Obrigada.

— Eu deveria… Eu deveria ter conversado com você antes - ele disse de olhos baixos - Eu falhei como seu supervisor - ele então a encarou - Mas principalmente falhei como seu amigo. Me perdoe.

Sara pode sentir a sinceridade em suas palavras. Mas por algum motivo aquilo também foi dolorido. Talvez por ter cada vez mais certeza de que ela e Grissom estavam em um processo de proximidade e distanciamento. Ele estava ali diante de si demonstrando interesse e cuidado com ela, porém não da maneira que ela mais gostaria de receber. Talvez aquilo era o máximo que ele podia oferecer à ela. Talvez ela precisasse começar a se acostumar com apenas ter a amizade de Grissom. 

Ela então sorriu - Tudo bem… - E agora? Ela pensou - Catherine, ela não vai gostar de saber - 

— Eu vou falar com ela - Sara lhe lançou um olhar preocupado - Não se preocupe, não vou dizer nada sobre o que me contou…

— Ecklie?

— Você vai cumprir sua suspensão e eu vou falar com ele.

Sara sentia-se imensamente envergonhada por toda a situação. Mesmo não se arrependendo do que disse, e nem acreditando estar errada no que defendeu, não gostava das proporções que tudo aquilo tomou.

— Obrigada, Grissom.

Ele lhe deu seu melhor sorriso de lábios tortos. Então levantou-se, preparado para ir embora.

— Agora eu preciso ir.

Sara também se levantou.

Caminharam em silêncio até a porta. Sara abriu para que Grissom pudesse sair.

— Mais uma vez obrigada - ela disse.

— Apenas descanse - ele disse - Vou te ligar mais tarde para dizer como ficaram as coisas.

E sem esperar mais, virou e saiu.

Sara fechou a porta atrás de si e a trancou. Encostou o corpo na madeira fria e respirou fundo, sentindo seu coração bater desregular.


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Notas finais do capítulo

Podem ser muito sinceras eim hehehe aguardando os comentários de vocês sobre o cap.



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