Play with Fate escrita por Lilium Longiflorum


Capítulo 14
Jade




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Jade olhou tudo em volta, foi até os banquinhos e os arrastou para a parte mais iluminada da sala. Pediu, então, que eu sentasse ao lado batendo a mão em um dos banquinhos. Sentei ao seu lado e ela ficou de cabeça baixa por alguns instantes, como se estivesse puxando algo de sua memória para me contar. Ela passou a mão na cabeça, sem tirar o capuz e disse:

— Fiquei muito feliz ao saber que você vai nos ajudar a por fim nessa guerra.

Respirei fundo e percebi que eu não estava preparado para saber sobre tudo o que eu havia causado com minha atitude. Olhei para Jade e perguntei:

— Mas me fale. O que aconteceu com você? Sei por cima sobre a morte acidental de Kitana.

A edeniana engoliu seco e percebi que não deveria ter mencionado o último fato. Ela abaixou a cabeça e eu coloquei a mão sobre seu ombro.

— Ah Jade, me perdoe. Não devia ter falado isso.

— Tudo bem, Cage — ela disse colocando a mão sobre a minha — é algo que não consigo tirar mais da memória.

— E como você estava lá?

Jade olhou para o alto e respondeu:

— Eu vi tudo. Liu Kang acertou o nunchaku*  em cheio no lado esquerdo da cabeça de Kitana. Ela caiu de bruços e fiquei sem reação. Liu Kang foi até ela e percebeu que se formou uma poça de sangue no chão. Já imaginei o que havia acontecido e minhas pernas simplesmente não se moviam e minha voz não saia de jeito nenhum...

Naquele momento, Jade baixou a cabeça e colocou a mão na boca. Percebi que eu não deveria fazer com que ela me contasse a história da morte da Kitana.

— Jade, me desculpa, eu...

— Cage – ela pousou a mão na minha – eu preciso te contar o que realmente aconteceu. Tem muita história circulando por aí. Principalmente histórias que a própria rainha Sindel tem inventado.

— Bem, eu ouvi a história por cima de tudo o que aconteceu. Mas onde está Liu Kang agora? Ele foi preso? Morto?

— Vou continuar a história com mais detalhes para você entender o que realmente aconteceu. Liu Kang começou a chacoalhar o corpo de Kitana desesperado e chamava o nome dela em voz baixa, mas ela não reagia. Aproximei-me do corpo e virei a cabeça dela... eu quase vomitei. Fez um buraco na cabeça dela. Liu ficou desesperado e dizia: “Foi sem querer, eu juro. O que eu faço agora?”. Como estávamos sozinhos ali, eu quis acobertá-lo e tirar a culpa dele.

— Mas por que? Sindel entenderia que foi um acidente.

— Não, não mesmo – falou a edeniana meneando a cabeça – já fazia um bom tempo que Sindel implicava com Liu Kang. A verdade é que ela queria que um homem de Edenia mesmo fosse seu noivo. Tudo o que ela queria era um pé pra acabar com o noivado dos dois.

— E o que vocês fizeram?

— Escondi o nunchaku e forjamos um acidente, como se ela tivesse caído de cabeça no chão. Sindel ficou arrasada ao saber da morte da filha e eu podia sentir que o ódio dela por Liu Kang havia aumentado, mesmo eu e ele falando essa nossa versão.

— E como você fez pra se livrar do nunchaku?

— Eu joguei no mar, logo após a cremação do corpo da Kitana. Liu Kang não conseguiu participar da homenagem fúnebre. Depois de um mês, Sindel descobriu tudo, não sei como e me prendeu num calabouço. Sindel foi atrás de Raiden e declarou guerra contra o Plano Terreno. Raiden tentou, de todas as formas, resolver de uma forma pacífica, mas de nada adiantou.

— E Liu Kang?

— Ele simplesmente sumiu do mapa. Ninguém sabe o seu paradeiro, nem mesmo Raiden. Eu... acho que ele se suicidou em algum lugar desconhecido, para que não encontrassem o corpo.

Engoli seco e uma angústia tomou conta de mim. Não conseguia imaginar que Liu Kang ter tirado a própria vida. Mesmo assim, perguntei:

— Mas ele mencionou algo sobre isso?

— A última vez que eu o vi, ele falou que não sabia quanto tempo ia aguentar a pressão de ser um assassino.

— E por quanto tempo você ficou presa?

Ela deu uma risada sem graça e respondeu:

— Se Hanzo e Bi-Han não tivessem me resgatado daquele calabouço horrível, acho que já estaria morta. Como eu sofri naquele lugar... Nos primeiros dias fui presa em uma coluna e levei várias chicotadas. Teve uma vez que partes das minhas costas ficaram em carne viva. Pensei que eu ia morrer, pois não sarava.

Pousei minha mão no ombro de Jade e disse:

— Agora entendo o motivo de estar tão abatida. Realmente você é uma guerreira.

Acho que foi o sorriso mais franco que eu já vi na minha vida. Eu podia ver em seus olhos que há tempos ela não era elogiada, há tempos ela não era reconhecida pelas coisas que havia feito como era elogiada por Kitana. 

— Isso foi um elogio não é? - ela perguntou.

— Aqui no Plano Terreno sim. 

As lágrimas escorriam daquele rosto tão sofrido. 

— Todos os dias enquanto eu trabalhava forçada naquela prisão, eu tentava lembrar os momentos alegres que passei, não só com Kitana, mas com todos vocês do Plano Terreno. Mas preciso lhe confessar que… acho que me arrependo de ter acobertado Liu Kang. A minha vida virou de ponta cabeça do dia pra noite. Por várias vezes desejei ter fugido ou de lá atrás eu não ter aceitado a oferta de Shao Khan, para ser a guarda costas de Kitana. Acho que minha vida seria bem melhor.

E eu pensava assim antes de entrar na fenda, que minha vida seria melhor se meus amigos não tivessem morrido naquele massacre, ou se eu tivesse evitado que Hanzo matasse Bi-han… Respirei fundo e disse:

— Infelizmente acho que tudo isso era pra acontecer.

O meu íntimo gritava: "Não era!" E não era mesmo. Eu tinha causado e aquilo pra mim foi mais uma mancha na capa de herói que eu mesmo criei.


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Notas finais do capítulo

*nunchaku: é uma arma de artes marciais do conjunto de armas do kobudo e consiste de dois bastões pequenos conectados em seus fins por uma corda ou corrente.



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