Play with Fate escrita por Lilium Longiflorum


Capítulo 15
Mais um corpo




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Como uma morte pode causar tantas desgraças naquele mundo? Enquanto eu abraçava Jade, pensava em quantas injustiças ela havia passado após a morte de Kitana. 

Acho que Sindel sempre foi racista e preconceituosa. Queria colocar Edenia em uma bolha e isola-la dos outros reinos, principalmente do Plano Terreno. Será que havia sido uma boa ideia ressuscitar Sindel para matar Shao Khan? Se bem me lembro na outra linha temporal, Liu Kang havia conseguido matar o imperador arrancando seu coração, e tudo bem! E Quan Chi não estava lá para ressuscitá-lo. Não tinha que trazer a rainha de volta a vida. 

Mas o que ia adiantar eu lamentar o que aconteceu? O leite já havia sido derramado, mas enquanto alguém não limpasse o leite, muitos ainda iriam padecer por causa dessa maldita guerra.

Após dar um abraço apertado em Jade, ela me segurou pelos braços e disse, em lágrimas:

— Não sei o que eu poderia fazer mais para que essa guerra acabe… queria fazer algo…

— O melhor a se fazer — a interrompi — é permanecer escondida. É certeza que Sindel irá te matar caso te encontre.

— Tenho um sentimento de impotência dentro de mim. É horrível.

Ela baixou a cabeça e chorou de soluçar. Senti um nó na garganta e sentia a necessidade de protegê-la. Abracei-a novamente e ficamos assim por alguns minutos. 

Ouvi duas batidas na porta e o trinco se mexendo. Harumi abriu a porta devagar e olhou para nós. Jade estava com a cabeça deitada em meu peito olhando para o lado contrário da porta, e eu olhei para Harumi. 

— Preciso de você. — falou Harumi — desculpe a interrupção. 

Jade se afastou de mim e disse segurando meu rosto:

— Faça o que for preciso, Johnny.

Sorri para ela e respondi:

— Eu farei.

Deixei a edeniana sozinha naquela sala escura, enquanto eu acompanhava Harumi. Chegamos em uma sala um pouco maior que a que eu estava. Era bem mais clara, mas algo me assustava: era uma mesa onde havia um corpo coberto com um lençol de uma malha grossa. Jacqui estava com a mão na boca e quando me viu, se aproximou, mas não disse nada. 

Engoli seco e perguntei:

— Quem é?

Briggs mordeu o lábio inferior, passou a mão pelas suas tranças e respondeu:

— O irmão de Bi-han.

As lembranças de Kuai Liang na outra linha temporal vieram vagas, mas  suficientes para recordar do grande homem que Kuai havia se tornado. Um coração bondoso que sempre estava disposto a ajudar e dar uma segunda chance para aqueles que ninguém dava. Eu tinha certeza, pelo que Bi-han falava, que Kuai não era diferente nessa linha. 

Aproximei-me do corpo e Jacqui me acompanhou. Toquei no lençol e perguntei:

— Posso?

Jacqui olhou de um lado para o outro e disse:

— O certo seria Bi-han ver primeiro, mas se você deixar do mesmo jeito que encontrou.

Apenas anui com a cabeça. Devagar, tirei o lençol e vi apenas a cabeça e  busto. Era ele mesmo, sem barba, mas com uma mancha ao redor do olho esquerdo, o nariz com sangue seco e um corte na boca. Parece que apanhou muito antes de morrer. Mas para confirmar perguntei:

— Espancaram-no antes de morrer?

— Acho que sim... A causa da morte foi traumatismo craniano. Foi encontrado em uma vala próxima da Floresta morta. 

Cobri o rosto do defunto e saí da sala. Mais uma morte nas minhas costas e sinceramente não estava fácil eu lidar com isso. Eu fiquei imaginando como Bi-han reagiria. Sentei-me num sofá disposto quase ao lado da sala onde eu estava antes. Coloquei as mãos na cabeça e comecei a pensar qual seria a próxima morte ou qual passo eu teria que dar. Foi então que percebi que alguém sentou próximo a mim. 

— Cage — Harumi me chamou — está tudo bem com você?

Levantei minha cabeça e fiquei olhando um pouco para o teto. Olhei para o lado e sorri:

—  Eu não sei te dizer.

Ela anuiu com a cabeça e falou:

— Hanzo falou a mim que estou viva graças a você.

Dei uma risada um pouco debochada, olhei para ela e falei:

—  Ele fez o que Raiden pediu naquele dia. Só isso.

—  Mas você o convenceu, não deixou que ele matasse Bi-han. 

Percebi o quão grata ela estava sentindo por estar viva. Harumi achava que ela tinha que ser grata a mim, mas eu não me sentia digno, de verdade. Em tese eu, com essa minha simples escolha, acabei sacrificando uma porrada de vidas para que Harumi e seu filho estivessem vivos. Eu não sabia o que sentir, meus sentimentos estavam muito confusos. Ver Kuai morto daquela maneira me deixava com um sentimento de impotência gigantesco. O que agora eu temia, era a reação de Bi-han ao ver seu irmão morto.

De repente, a sala dos equipamentos de teletransporte ficou movimentada. A porta se abriu. Primeiro saíram dois guardas Lin Kuei e em seguida Bi-han com Hanzo ao lado. Bi-han vestia seu traje: uma túnica preta bem trabalhada em detalhes em azul,com uma faixa azul marinho na cintura. Estava sem o capuz e olhava em direção a sala onde estava o corpo. Hanzo vestia seu uniforme, com detalhes em marrom e amarelo. Sempre carregava sua katana no lado esquerdo. O cabelo estava preso em forma de coque e tinha em seu rosto uma barba rala. Sua feição era séria e também olhava reto em direção a sala. Sim, Hanzo estava levando-o para reconhecer o corpo de seu irmão.

Eu estava com uma tensão em meus ombros e sentia que Bi-han não iria reagir bem a morte do irmão. 

Todos entraram na sala e de repente ouvi um grito desesperado de lá de dentro. Coloquei minhas mãos em meus ouvidos, senti um aperto em meu coração. Levei um susto quando vi Bi-han vindo em minha direção furioso. Os guardas e alguns soldados tentaram impedi-lo, mas ele foi muito mais rápido. Levantou-me com tal brutalidade e disse em total desespero segurando-me pelo colarinho:

— Por que não deixou que Scorpion me matasse? Por que entrou naquela maldita fenda? Por quê? Isso que aconteceu com meu irmão é culpa sua!! 

Jacqui junto com outro guarda Lin Kuei conseguiram afastá-lo de mim. Bi-han se debatia enquanto o outro guarda e mais dois soldados da FE segurava-no, mas ainda dizia:

— Você é o culpado da morte de Kuai.

Eu tentei segurar as lágrimas, mas não me contive e coloquei a mão na minha boca. Quando ele falou essa frase senti como um espinho penetrasse em meu coração. Jacqui me virou para ela, me sacudiu, segurou meu rosto e perguntou:

— Por que ele está dizendo isso Johnny? O que você fez? O que você sabe da morte de Tundra??

Olhei por trás de seus ombros e vi que Nightwolf estava ali próximo, acompanhando toda a confusão de longe. Ele apenas anuiu com a cabeça, como se desse permissão para que eu contasse a verdadeira história.

— Johnny! Fala para mim. —  ela pediu em tom de desespero.


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