Play with Fate escrita por Lilium Longiflorum


Capítulo 13
Judith




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Um prisioneiro de guerra… quem poderia ser? Comecei a buscar em minhas lembranças do torneio, algum nome, alguma imagem, mas o único que vinha era o próprio Liu Kang. Não deu tempo de eu perguntar para Jacqui, pois quando já vi, ela havia desligado o telefone. 

Não que eu estivesse subestimando Bi-Han, mas se o prisioneiro era mesmo o Liu, eu teria que bater muitas palmas por ele ter conseguido resgatar o rapaz. Pode ser também que o monge estivesse foragido e por isso fora mais fácil a sua captura pelos Lin Kuei. Decidi que iria assim que acordasse, se é que eu conseguiria dormir bem depois dessa notícia. 

Resolvi deitar na minha cama e esperar o sono vim. A verdade é que eu esperava que tudo aquilo fosse um pesadelo bobo, toda essa guerra, a perda de Sonya e as dores de Jessie. Com esse desejo, deixei a culpa de escanteio, pelo menos por um momento e me apeguei ao sono.

(...)

Acordei assustado por volta das seis e meia da manhã, com meu celular tocando num volume alto. Eu não me recordava de ter colocado ele a essa altura, parecia que acordaria a casa inteira. Levantei-me, meio zonzo, e vi que era alguém me ligando com insistência.

— Alô!

— Cage, pensei que já estaria aqui! — disse Jacqui num tom de pressão.

— Ah, querida! Você não me disse o horário que eu deveria estar aí. Eu ia te perguntar, mas você já havia desligado.

Ela fez uma pausa. Pude ouvir algo caindo da mesa, parecia algo pesado, mas não perguntei nada. Passado alguns instantes ela disse:

— Pode se arrumar para vir. — ela bufou — Desculpe tê-lo acordado dessa forma.

Eu estava prestes a falar sobre como o jeito temperamental dela lembrava ao da Sonya da outra linha temporal, mas recordei que ela não sabia da história. Então segurei minha língua. Apenas respondi:

— Tudo bem. Já já estarei aí.

— Obrigada, Cage.

Em seguida, Briggs desligou. 

Joguei meu celular na cama e fui tomar uma ducha rápida. Saí do banheiro me secando e separei minhas roupas para vestir. Me vesti, penteei meu cabelo, calcei meus sapatos e desci para tomar meu café.

Me deparei com Judith molhando uma planta da sala e se assustou ao me ver.

— Caiu da cama, menino?

Dei uma risada e respondi:

— Vou ter que sair agora.

— Vai para Washington?

— Sim, Judith. Entrei nessa jornada e não posso sair tão cedo.

Ela respirou fundo e disse enquanto caminhava em direção a cozinha.

— Vou preparar o seu café. Espere na sala de jantar.

Senti um ar de pesar na sua fala. Eu imaginava o quanto ela poderia estar sofrendo, pois eu sentia que ela gostava da minha companhia e... me via como um filho. E não vou negar, eu a via como uma mãe, uma grande mãe. 

Judith veio parar na minha vida de uma forma muito triste, que é algo que não gosto de lembrar. Veio do México, de forma clandestina, para tentar uma vida melhor aqui na América. Eu ia sempre a um restaurante badalado aqui em Los Angeles e ela trabalhava lá. E numa noite, ela quebrou algo sem querer e o dono, a flor da pele, ia bater nela quando eu o impedi. Dei um soco nele e levei Judith pra casa. Ela estava apavorada e contou que era uma imigrante ilegal, falava um inglês ainda carregado com sotaque espanhol, mas eu conseguia entende-la. Foi daí que tive a ideia de colocá-la pra trabalhar na minha casa. Arrumei tudo o que precisava e legalizei sua estadia na América. 

Aquilo era um pouco do que eu lembrava sobre história de Judith, as memórias de momentos juntos de mãe e filho, se é isso que posso dizer, estava vindo dia após dia e era um conforto para o tempo difícil em que eu estava passando.

Sentei-me na sala de jantar e não demorou muito para que ela viesse com o copo de suco de laranja numa mão e o prato com misto quente no outro. Colocou-os na mesa e ia saindo quando a chamei dizendo:

— Fique aqui.

Ela deu um sorrisinho e sentou numa cadeira diagonal a minha. Enquanto ela me olhava comer, dizia:

— Eu não paro de pensar na história que você falou sobre a tal linha do tempo. É… tão confusa.

Engoli um pedaço do pão e respondi:

— Imagine pra mim. Minha mente ainda está uma bagunça. Há coisas que acontecem que… parece um sonho, é bagunçado demais...

— Então, essa guerra que está acontecendo é realmente fruto do que você fez, de ter entrado nessa fenda…

— Acredito que seja, mas não dependeu apenas de mim. Procuro pensar que não fiz isso sozinho. Pessoas tomam decisões, certo? Não decido por todo mundo. 

Não sei o motivo de eu ter falado isso. Minha decisão de ter salvado Bi-han da morte foi algo bom, mas trouxe consequências para vida de muitas outras pessoas. Não vou dizer que fui feliz nessa fala, pois não fui. Mas eu precisava segurar, pelo menos um pouco, a mão do destino que não parava de me golpear com a culpa.

Terminei de tomar meu café e antes de subir para o quarto, perguntei se Jessie já tinha ido embora. 

— Ela ainda está dormindo.

Anui com a cabeça e subi. Passei pelo quarto em que ela dormia, pensei em olha-la, mas resolvi não abrir a porta, não queria acorda-la. Entrei no meu quarto, peguei a carteira, coloquei em meu colete e peguei o chaveiro que me levaria pra Washington. Judith ficou me olhando encostada na porta e perguntou:

— Volta hoje, menino?

— Espero que sim. 

— Que Deus lhe proteja! — falou ela com as mãos postas, como se fosse rezar.

Sorri e disse:

— Amém.

Em seguida, apertei o botão do chaveiro e uma luz forte brilhou em meus olhos, forçando eu fecha-los antes que aquela luz me cegasse.

(...)

O quartel general das FE aparentava estar tranquilo naquela manhã de sábado.

Abri a porta de vidro da capsula que me cobria e saí, indo em direção à sala de Jacqui. Bati na porta e ela logo abriu, mas com um sorriso preocupado.

— Bom dia, Cage.

— Bom dia — falei entrando na sala.

Ia sentar na cadeira ali disposta quando ela pediu para que eu a acompanhasse. Jacqui me conduziu para fora da sala e entramos num corredor onde havia diversas outras portas. Até que entramos em uma onde a porta parecia um pouco mais pesada, devido à dificuldade de Jacqui abrir. Entramos e me deparei com um ambiente iluminado apenas com algumas lâmpadas fracas. Havia duas pessoas sentadas em uma espécie de banquinho – era o que aparentava ser – duas mulheres. Elas se levantaram e pude ver o primeiro rosto. De traços asiáticos e olhar firme, ela logo me cumprimentou:

— Sou Harumi Hasashi.

Apertei sua mão firme e me impressionei com a força que ela tinha. Anui com a cabeça cumprimentando-a e em seguida, ao saudar a outra mulher logo a reconheci. Era Jade, mas não aquela que eu havia conhecido. Ela tinha um olhar fraco, desesperado e cansado. As linhas de expressão já estavam aparecendo bem. Ela usava uma espécie de capuz e sua máscara cobrindo parte do rosto, mas eu podia ver alguns fios brancos, que saltavam de um lado a outro entre os demais fios de cabelo.  

Não teve como não sentir pena de Jade.

— Ah Cage — falou a edeniana tirando a máscara e com voz titubeante — anda bem conservado.

— Jade, nunca pensei que te encontraria...

— Tão acabada? — ela disse com uma risada titubeante — É o que Sindel mais deseja.

Jacqui chamou Harumi e me disse:

— Vou deixar que vocês conversem.

Em seguida, elas se retiraram. Achei estranho tudo aquilo, olhei para Jade e perguntei:

— Por que quis me ver?


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