“Shisui-niisan” Ahmya já o esperava há mais de vinte minutos. Se Shisui se deslocasse na velocidade média dos shinobis normais, ela teria sentido sua presença ainda antes.

Ao ver que a menor o esperava, o irmão sorriu.

As visitas de Shisui pareciam um momento deslocado da rotina de Ahmya. 

Na maior parte de seus dias ela dedicava quase todo o tempo a alguma modalidade de treinamento, apenas conversava com os outros aquilo que fosse necessário e procurava preencher todas as horas com atividades que considerasse útil para o progresso de suas habilidades.

Apenas uma vez ao mês ela sorria.

Ahmya nunca mencionou o incidente com o homem no hospital a Shisui. Ela própria sentia medo do que havia acontecido. Daisuke, o diretor do hospital, considerou o óbito como acidental.

Ahmya procurava não pensar sobre os sentimentos que a dominaram naquela ocasião. 

Mas, quanto à parte técnica, essa não lhe saía da mente. E ocupava boa parte de sua rotina.

A jovem Uzumaki vinha estudando a anatomia humana exaustivamente. E praticava suas novas descobertas no mesmo ritmo.

Embora não gostasse de matar, ela conseguiu reproduzir os efeitos causados no incidente com o seguidor de Hanzo em peixes e pequenos roedores.

Além de hemorragia, Ahmya se descobriu capaz de executar distensão muscular, paralisia, hipoglicemia, redução da sensibilidade tátil, entre tantas outras formas de interferência na saúde de seres vivos.

Apesar do sofrimento animal provocado por seus experimentos, ela se apegava fortemente à ideia de que precisava tornar-se forte para proteger seu povo e continuar o trabalho da Akatsuki.

Mas não era esse o motivo de seu entusiasmo com a chegada do irmão. Ao menos não por hora.

Shisui já estava à sua frente e Ahmya aguardava ansiosamente para revelá-lo uma descoberta que a ocorreu enquanto estudava um outro assunto. 

“Uchiha Shisui do corpo cintilante”, a menina sorriu abertamente, na expectativa de expressar o quão orgulhosa estava de seu irmão.

Até o momento de sua pesquisa, ela nunca havia sido informada sobre o clã ao qual o irmão pertencia. E também não detinha muitas informações sobre o tipo de shinobi que ele era.

Foi uma surpresa quando a mais nova virou a página do livro e viu estampada a fotografia de seu irmão.

“O-onde você ouviu isso?!” ele a encarou com espanto.

“Está no livro ‘Ninjas excepcionais e suas habilidades’, ‘volume 3: como se prevenir dos ataques de Konohagakure’”

Ahmya pegou o irmão pela mão e o conduziu até a varanda da casa. 

Sobre o chão de madeira um pesado livro com o título mencionado. A menina sentou-se sobre as pernas e, sem retirar o objeto do lugar, o abriu em uma página marcada.

No manuscrito, uma fotografia acompanhada do título ‘Uchiha Shisui, o shinobi do corpo cintilante’, informações relativamente detalhadas sobre seu estilo e técnicas de combate. 

No final da página a informação, ‘Altamente perigoso. A menos que você seja um jounin experiente não o enfrente. Recue e solicite reforços’.

A página de Shisui se localizava no capítulo intitulado ‘Sementes da ameaça: a nova geração shinobi de Konohagakure’. 

Ele pegou o material e folheou. A ante capa trazia o brasão de Amegakure. Aquele parecia ser um material escolar exigido pela academia.

Os primeiros capítulos eram dedicados a apresentar a história e os impactos causados pela Folha ao país da Chuva no decorrer das três Grandes Guerras. 

Shisui que, embora ainda tivesse treze anos já era um jounin de Konoha, se sentiu envergonhado. 

Ele já conhecia aquelas informações. Durante as guerras sua valia ocupou o País da Chuva causando miséria e destruição. Ele definitivamente se incomodava com isso. Mas também preocupava-se com a interpretação da irmã sobre aqueles arquivos.

“Você é famoso, nii-san.” os olhos de Ahmya reluziam orgulhosos “você é um verdadeiro gênio da sua geração”

Shisui voltou os olhos do livro para a mais nova e sorriu docemente 

“Isso não é sobre fama, mocinha. São raras as pessoas que viram as minhas habilidades ao vivo e sobrevivem para escrever sobre elas”

A voz do mais velho tornou-se mais grave, como se ele lamentasse, e seu sorriso desapareceu “...e isso não deveria ser algo bom.”

A menina abaixou a cabeça “eu entendo…” as palavras do irmão fizeram Ahmya se sentir fútil e imatura.

“Não se preocupe com isso. Esse tipo de lição é mais difícil de aprender do que qualquer jutsu. O verdadeiro shinobi é a pessoa sem rosto que protege o mundo de sua própria escuridão” 

O sorriso voltou a habitar o rosto do mais velho. 

“Mas sei que você se sairá bem nisso também.”

Ahmya o encarou como quem havia conseguido aprender a lição. E Shisui procurou mudar de assunto. 

“E o treinamento? Há algo novo para me mostrar?” 

Ambos se encaravam expressando tranquilidade, a aura afetiva e entusiasmada dos encontros estava de volta.

Eles treinaram combate por quase três horas seguidas. No final, Ahmia pediu uma pausa antes que estivesse esgotada demais. Ela tinha uma coisa importante para mostrar.

A mais nova pediu que o irmão estendesse o braço e posicionou as pequenas mãos sobre o antebraço estendido.

O mais velho sentiu um fluxo de chakra percorrer a região na qual a menina tocava. 

Era uma sensação semelhante à de um procedimento de cura. Em alguns segundos Shisui sentiu seu braço latejar e adormecer. Com a dormência ele mal conseguia mover os dedos da mão.

O irmão olhou para a pequena impressionado. “Como...”

Ela já esperava uma reação semelhante, então se apressou na resposta.

“Bom... na verdade isso foi um erro da primeira vez. Eu percebi enquanto praticava ninjutsu médico. Quando ficava nervosa demais, o que deveria ser cura se transformava em outra coisa.”

Ahmya se lembrou que havia partes da história que ela não queria revelar, então encurtou. 

“Em resumo, eu posso usar os princípios de infusão de chakra do ninjutsu médico e em alguns casos da liberação de água ou fogo para manipular o chakra no corpo das pessoas de outras formas. Acho que vou chamá-lo de ‘manipulação celular’”

“Isso é ótimo” Shisui estava de fato orgulhoso. Mesmo tão jovem, Ahmya tinha acabado de criar seu primeiro jutsu.

O reconhecimento do mais velho preencheu o coração da irmã, o que ficou estampado no rosto da mais nova.

“Mas ainda há muito o que trabalhar. É evidente que você precisa de tempo em contato direto com o oponente para realizar essa técnica. O que, em um combate, te colocaria em situação de perigo. Você terá que pensar em estratégias para superar os pontos fracos desse jutsu”

“Sim...” Ahmya já sabia disso. Mas as palavras do irmão abalaram um pouco seu orgulho.

“Você já sabe por que me chamam de o ninja do corpo cintilante. Talvez ainda tenha algo que eu possa ensinar a você”