Uzumaki Ahmya Shinden: Livro do Sol Nascente escrita por Hannah


Capítulo 27
Vermelho sangue


Notas iniciais do capítulo

Um ano depois da morte de Azumi, Ahmya investe tudo se seu treinamento. Seu sonho é continuar o trabalho de Yahiko e de sua mãe, restaurando a Akatsuki e melhorando seu país.



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Cerca de um ano havia passado desde a morte de Azumi. Algo estava acontecendo, algo grave. Na verdade, todo o país da Chuva parecia estar mudando. 

Como a Ahmya vivia no interior, não se deslocava para outras cidades e interagia com as pessoas o mínimo necessário exigido pela cordialidade da vida em sociedade, as notícias a chegavam de forma difusa e fragmentada.

Nos últimos meses, dezenas de pessoas passaram pelos arredores em direção à fronteira. 

A maior parte delas parecia carregar um temor secreto que, de tão assombroso, sequer era mencionado. Nenhuma se demorou, todos tinham o mesmo objetivo de deixar o país da Chuva.

Ahmya iniciou os estudos na academia na manhã seguinte à partida de Shisui. 

Quando não estava concentrada nas lições dos professores, treinava sozinha em casa. Uma vez ao mês treinava com o irmão. 

Assim, todas as informações sobre os acontecimentos do mundo que a chegavam vinham de conversas atravessadas dos adultos que, quase sempre, cochichavam entre si.

Entre os corredores da academia e o caminho de casa ela ouvia frases como “ninguém sabe quem são.”, “Mataram Hanzo e tomaram o poder”, “dizem que foi necessário apenas um homem”, “eles o chamam de Deus. Ele possui até um anjo mensageiro”.

Essas conversas geravam sentimentos dúbios para Ahmya. Por um lado ela se sentia temerosa. Apesar de estar relativamente distante de Amegakure, aquele que dominasse o poder na capital teria o controle sobre todo o país. 

E, se a vila central estava passando por uma revolução aparentemente sangrenta como diziam, os impactos da guerra civil não tardariam para chegar no interior.

Mas, por outro lado, no canto mais obscuro de seu coração, Ahmya sentia-se contemplada.

Ela começava a perceber a recusa ao combate por parte das pessoas que amava como uma das causas de sua morte. E sabia que estava longe de ser forte o suficiente para matar Hanzo com as próprias mãos. No fundo, a Uzumaki sentia-se grata a quem o fez.

Apesar de tudo, aquele dia começou de forma comum. 

Com quase sete anos, Ahmya acordou cedo e se dirigiu à ala médica no complexo que dividia-se como hospital e academia. 

Ela estava determinada a dominar o ninjutsu que nunca foi capaz de apresentar à sua mãe. Os últimos meses tinham sido dedicados ao treino das artes da cura. 

A menina chegava ao hospital ainda antes da academia abrir e recebia supervisão de ex colegas de trabalho de Azumi. 

Ainda assim o progresso era lento. 

Ahmya já conseguia lidar com procedimentos básicos, mas estava longe de dominar o estilo com propriedade... como era o caso de sua mãe. 

A filha não tinha nenhuma habilidade com venenos e as suturas ainda lhe eram uma tarefa trabalhosa.

Depois de uma manhã cansativa de intensa dedicação, Ahmya fez uma pausa para o almoço e deslocou-se por um corredor do hospital. 

No final do corredor um grupo de seis ou sete pessoas, todos eles funcionários, estava reunido cochichando algumas palavras entre si. Ela se aproximou.

“Há algo errado?” a voz da menina parecia muito mais adulta do que costumava ser um ano antes. 

Os médicos se entreolharam.

Alguns segundos demoraram até que algum adulto decidisse se pronunciar. Foi Mahina quem falou. A mulher costumava ser a assistente de confiança de Azumi.

“Ahm… Ahmya-chan.” Mahina tinha uma expressão preocupada e parecia ainda não ter se decidido sobre as palavras que usaria “há um homem… um ninja. Ele está na sala de emergência e…”

Ahmya não estava entendendo onde a mulher queria chegar. Ela estava relutante em concluir a frase. 

A colocação da menina teve a intenção de encorajar a mulher a prosseguir “Está tudo bem, você pode dizer o que houve”

A médica a encarou um pouco perplexa. A expressão no rosto da menina indicava uma maturidade muito superior à sua idade. 

“A verdade é que há um shinobi no hospital aguardando tratamento. Ele possui ferimentos leves e um mais profundo no abdome” 

Mahina fez mais uma pausa, mas continuou, esforçando-se para ser objetiva “ninguém teve coragem de barrar a entrada dele, mas agora todos estão relutantes em atendê-lo. Ele é… um apoiador de Hanzo Salamandra”.

O coração de Ahmya pulsou e sua cabeça latejou. Mesmo não contando com muitas explicações, ela entendia perfeitamente o que se passava. 

O homem na emergência era um subordinado daquele apontado como culpado pela morte da idealizadora e antiga diretora do hospital.

“Eu vou” Ahmya soou determinada. 

A intenção da menina era controversa. Por um lado, ajudar alguém a quem deveria odiar seria o primeiro passo para reprimir a escuridão que crescia em seu coração e a assustava. 

Mas, por outro, um desejo obscuro de olhar nos olhos do homem que poderia, inclusive, estar envolvido com a morte de sua mãe a atraía.

Os adultos se encararam agitados. 

Watanabi Daisuke, um shinobi de Amegakure que agora era o novo diretor da instituição e vinha supervisionando pessoalmente o treinamento de Ahmya nas artes da cura, interrompeu o chiado produzido pelos outros e  tomou a palavra com firmeza. 

“Ahmya-chan já é capaz de estancar hemorragias e realizar suturas. Com esses procedimentos poderemos mandar o homem seguir seu caminho” 

A expressão de Daisuke parecia enfatizar que ter contato com o aliado de Hanzo era um direito da menina.

A Uzumaki confirmou abaixando a cabeça e se dirigiu para a sala de emergência.

O aliado de Hanzo estava deitado sobre uma maca, com o peito nu. O homem apresentava arranhões e escoriações no rosto, braços e um buraco profundo no tronco. 

Assim que  a menina entrou na sala, a enfermeira ao lado do homem veio em sua direção. 

Com a mão um pouco trêmula a funcionária a entregou uma folha de papel onde constava o registro do paciente e relatório dos procedimentos preliminares. 

A enfermeira curvou-se em sinal de respeito, seu rosto apresentava uma expressão de alívio. Ao se recompor ela deixou o lugar.

Ahmya leu o relatório enquanto caminhava em direção ao paciente. Seu objetivo era tratar o ferimento mais profundo e mandá-lo embora. Era o que todos esperavam.

O relatório indicava que o paciente foi atingido por uma espécie de cano. Ele próprio havia retirado o objeto de seu corpo, então no relatório da enfermeira constava ‘perfuração por objeto cilíndrico não identificado’.

O objeto tinha atravessado o corpo do paciente, atingindo o baço. 

Os ferimentos de entrada e de saída possuíam um formato circular. Não era problemático. Desde que tomadas as precauções para evitar hemorragia e infecção, a lesão não seria tão grave.

Ao chegar à maca a menina encarou o paciente nos olhos. Ele parecia catatônico. Não em função de seu quadro de saúde. Seus olhos estavam vidrados no teto. 

Ele parecia paralisado como se o pânico da situação que o mandou para o hospital ainda o dominasse.

Ahmya solidarizou-se com o homem. Não era uma imagem bonita de se ver, menos ainda de se viver na pele. 

Ainda assim, o fato de ele estar semi inconsciente a deixou confortável. Não precisaria falar com aquela pessoa.

A Uzumaki repetiu em sua mente as palavras ‘não importa quem ele é’ algumas vezes e pôs-se ao trabalho.

Ela posicionou suas mãos infundindo chakra sobre o ferimento. 

O sangramento intenso já estava parcialmente estancado pelo trabalho da enfermeira. A função de Ahmya era analisar as condições do órgão danificado, decidir-se pela amputação parcial ou cauterização, realizar o procedimento e aplicar a sutura. 

A análise inicial revelou que alguns detritos do objeto que atingiu o homem ainda estavam em seu corpo. Eram muito pequenos, mas se não fossem removidos provocariam uma grave infecção.

Ahmya se sentiu um pouco nervosa. Aquele procedimento exigia que ela usasse seu chakra para criar pequenas quantidades de água e manipular o líquido para remover os detritos.

Embora fosse melhor em manipular este elemento na natureza do que produzi-lo com chakra, era uma quantidade pequena de água e ela estava confiante de que conseguiria.

Os detritos no órgão eram muitos e muito pequenos. Ahmya recorreu ao uso de sua técnica sensorial, para localizar os objetos intrusos no corpo do paciente. 

O chakra da médica estagiária inundava o peito dilacerado do paciente, isolando e deslocando lentamente os fragmentos de arma.

Até então, a maior parte dos procedimentos realizados por Ahmya aconteciam de forma técnica, quase mecânica. 

Mas no momento em que seu chakra tocou diretamente o primeiro fragmento, sua cabeça girou.

Inexplicavelmente a imagem de Nagato irrompeu em sua mente. Foi como um estalo. Mas o inesperado trouxe consigo todas as outras figuras e emoções. 

A escuridão que se apropria do sentimento de luto, invadiu seu coração de Ahmya.

Enquanto tratava o ferimento, as imagens de Azumi e dos companheiros da Akatsuki chegavam claramente à mente da criança órfã. 

Em seu delírio, ela podia visualizar claramente seu paciente os atacando.

Uma sensação de mudança da natureza e sentido de seu chakra percorreu o corpo de Ahmya. Mas ela não deu atenção.

Era como se a escuridão que saia de seu coração se espalhasse por cada uma das células que ela deveria curar. 

Sem perceber exatamente o que fazia e concentrando-se nos fantasmas em sua mente, Ahmya usava seu chakra para movimentar os fluidos na região danificada do corpo de seu paciente.

O ferimento, até então estancado, voltou a sangrar. 

A menina olhava para o buraco no abdome do homem acompanhando o retrocesso do tratamento, mas ela não conseguia parar. 

Quanto mais sangue escorria, mas chackra ela infundia.

Os olhos fixos da criança no ferimento em ebulição espelhavam todo o rancor que habitava seu coração. 

O poder que saía de suas mãos carregavam uma intenção maligna, provocando escoriações e intensificando a hemorragia no interior do corpo do paciente.

O sangue agora jorrava para fora do corpo do homem, na mesma velocidade em que a especulação de como a mãe e os amigos morreram inundava sua mente. 

Mais chakra. Mais sangue. Mais chakra. Mais sangue. A sequência se repetia. 

O homem na maca tornava-se cada vez mais pálido.

“Arrrgh” um suspiro de agonia e o aliado de Hanzo estava morto.

O gemido trouxe Ahmya de volta para a realidade. 

Ela levou suas mãos à frente do rosto. Estavam cobertas de sangue. 

Todo seu campo de visão parecia inundado pelo vermelho que impregnava suas mãos.

A vermelhidão escureceu aos poucos. Ahmya desmaiou. 


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