Uzumaki Ahmya Shinden: Livro do Sol Nascente escrita por Hannah


Capítulo 26
Irmãos


Notas iniciais do capítulo

Com Uzumaki Azumi e Uchiha Takashi mortos, um ao outro tornou-se o que os meio-irmãos Ahmya e Shisui tinham de mais importante para proteger.



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Shisui não teve problemas para sair de casa. Em função da morte recente de seu pai, ele recebeu alguns dias de licença das missões. 

Além disso, ninguém entenderia como antinatural que um garoto de doze anos que acabara de perder o pai se afastasse e isolasse nos primeiros dias. 

Nem mesmo sua mãe reagiu com mágoa quando ele anunciou que precisaria de algum tempo para colocar a cabeça no lugar. 

Embora também tenha perdido alguém importante, Karime estava cercada de amigas. Mesmo junto de seu filho mais novo, um garoto de dois anos chamado Sasuke, Uchiha Mikoto se ofereceu para fazer companhia à amiga viúva por alguns dias.

Nessas condições, Shisui partiu.

Ele deslocou-se para a Chuva em velocidade máxima e chegou um pouco antes do sol se pôr. 

Enquanto esperava, Shisui sentou-se sobre o galho da mesma árvore onde esteve quando conheceu Ahmya.

O funeral seria no quintal da propriedade. Em frente às flores que cresciam debaixo da cerca jazia um túmulo recém tampado com uma pequena placa. 

Logo Shisui entendeu. O corpo de uma kunoichi morta em combate não era algo que uma criança deveria ver.

Com um estalo, Ahmya apareceu de pé com o mesmo louva-deus de antes pousado em seu ombro. 

Shisui saltou da árvore para o quintal evitando fazer barulho. Assim que o viu, o inseto deixou a menina e pousou no galho de um arbusto próximo.

Ahmay não se virou. Ela estava com a cabeça baixa olhando para o lugar onde o corpo de sua mãe descansava. 

Quando Shisui a alcançou, posicionando-se de pé ao lado da criança, ela finalmente o encarou. 

“Shisui-niisan” as palavras saíram como um sussurro. 

Uma corrente de lágrimas escorreu pelo rosto de Ahmya. A infelicidade parecia ter levado embora todo o brilho infantil que, há poucos dias, habitava aqueles grandes olhos.

Mas havia mais uma coisa…

Ahmya tinha a pupila dilatada e, seus olhos negros, agora estavam vermelhos.

Shisui procurou não demonstrar espanto ou qualquer reação. Sua irmã estava em luto e confortá-la era mais importante que debater aquele poder.

Silenciosamente, ele passou o braço atrás da cabeça da criança e levou a mão ao pequeno ombro. 

Com o movimento ele a aproximou gentilmente de si. As palavras por trás do gesto eram ‘Você não está sozinha, seu irmão mais velho está aqui’.

Algo que Ahmya pareceu ter compreendido bem.

Em um movimento rápido e inesperado ela se virou e abraçou fortemente o irmão. Como se naquele momento a menina caísse em um abismo e o corpo de Shisui fosse a única opção para segurar-se.

Ahmya chorava silenciosa. Depois do abraço, os dois irmãos viraram-se para o túmulo. E os olhos da mais nova retomaram sua coloração natural.

‘Ela não percebeu?!’

Cobrando o irmão de seus pensamentos, a pequena Uzumaki alcançou a mão dele com a sua própria. Ela não moveu os olhos ou o rosto, estes mantinham-se fixos no túmulo da mãe. 

Os dois ficaram em silêncio de mãos dadas. Ambos tinham acabado de perder alguém. E, embora não tenham colocado em palavras, a presença do outro era o que mantinha os dois de pé.

Depois de alguns minutos, o inseto que os assistia abriu as asas e pousou um pouco à frente dos humanos. Mas Ahmya  se adiantou.

“Magami-kun, eu faço”. Apesar da evidente tristeza, sua voz era firme e o animal assentiu com a cabeça.

A menina soltou a mão do irmão e esfregou o rosto para limpar as lágrimas. Depois caminhou alguns passos à diante, posicionando-se de pé sobre o túmulo da mãe. 

De costas para Shisui, Ahmy fez um movimento com as mãos que ele não conseguiu ver. Ela agachou-se de uma vez batendo a palma da mão estendida no chão.

“Arte ninja: selamento do fio vermelho do destino”

Algumas linhas vermelhas se expandiram a partir do ponto da palma da mão estendida, formando o desenho composto por símbolos e palavras, com uma espiral no centro. 

As linhas do desenho continuaram seguindo até encontrar a extremidade dos vértices do túmulo. Logo todo o desenho desapareceu.

Embora tenha se esforçado para não transparecer, Shisui ficou impressionado com a cena. 

'Fuuinjutsu?! Com tão pouca idade…’

Ahmya parecia ter lido os pensamentos do irmão. Ao se virar, enquanto colocava-se de pé, ela já tinha uma resposta. 

“Minha mãe me ensinou esse jutsu. Eu levei quase dois anos para dominar esse e ainda não está perfeito” a infelicidade ainda não tinha deixado seu rosto “mas segurança sempre foi o mais importante para ela”.

 

***

 

Depois do sepultamento, o louva-deus se despediu de Ahmya e desapareceu. 

Os dois que ficaram adentraram o interior da casa que, para a mais nova, se colocava como um gigantesco vazio.

Shisui preparou uma refeição para ambos e anunciou que ficaria por cinco dias. A menina sorriu ainda melancólica e mal tocou na comida.

“Nii-san todos estão mortos…” os dois estavam à mesa um de frente para o outro, mas Ahmya tinha o olhar cabisbaixo. 

Com essas palavras ela se lembrou que perdeu outras pessoas importantes, além da própria mãe. Os louva-deuses a contaram.

“Midori-sama conversou comigo antes de voltarmos. Ela sabia tudo sobre a minha mãe. Os louvas-deuses também investigaram a região onde a encontraram.” 

Os olhos da criança começaram a umedecer-se e sua voz tornava-se mais trêmula. Mas ela continuou em um evidente esforço para segurar o choro.

“Acho que Hanzo Slamadra não estava feliz com a Akatsuki e preparou uma emboscada. De alguma forma, minha mãe percebeu e tentou salvar os nossos amigos. Mas..”

Ahmya fez uma pequena pausa, se dissesse as palavras ‘minha mãe foi morta’ ela não conseguiria mais segurar as lágrimas. Então pulou essa parte.

“Ranzo deve ter levado os corpos da tia Konan, do Yahiko-sensei e do Nagato. Eu… eu não posso enterrá-los...”

Ao final da frase as lágrimas presas escaparam pelos olhos da menina.

“Você é a única família que sobrou para mim, nii-san... E eu nem precisava ter o mesmo sangue para considerá você como um irmão”

Em silêncio, o mais velho deu a volta na mesa e sentou-se ao lado da criança que encostou sua cabeça cansada abaixo do ombro dele. 

Shisui a aconchegou, acomodando em seu corpo toda a fragilidade exposta de Ahmya “eu... sinto o mesmo, imouto”.

 

***

 

Shisui depositou Ahmya já dormindo em sua cama e acomodou-se na sala. Durante a noite sua cabeça zumbia pela quantidade de novas informações. 

Mas sua maior preocupação era a segurança da irmã. Os pacifistas estavam mortos. Isso poderia gerar um forte abalo na região...

Se Azumi não era o alvo de Hanzo Salamandra, mas um efeito colateral, era provável que não viriam atrás de Ahmya. E ela era habilidosa, mas ainda tinha apenas cinco anos.

Shisui não tinha a menor dúvida de que a irmã mais nova havia despertado o Sharingan, mas ela própria parecia não ter consciência disso. Talvez o abalo emocional tenha ofuscado a percepção das mudanças em seu corpo. 

Era muito comum entre os Uchiha que crianças que despertassem o Sharingan muito jovens não percebessem ou recorrecem àquele poder. Muitas vezes por medo do que ele poderia representar ou da sensação que emanava.

Algo que, de certo modo, trazia uma sensação de alívio para o jovem Uchiha. Um poder daquela magnitude exigia grande maturidade e, também, um preço caro a se pagar.

Ele torcia para que o Sharingan de Ahmya levasse mais algum tempo para se manifestar novamente. E, a menos que isso acontecesse espontaneamente, não pretendia contar com esse poder para garantir a segurança dela.

Mesmo porque, o resultado poderia ser o oposto disso.

Levá-la para a Folha também não era uma opção. Uma Uchiha ilegítima seria perseguida por ambos os lados, o clã e a vila. 

Se a população já maldizia Uzumaki Naruto que mal sabia falar. E, justiça seja feita, foi o maior responsável por salvar a vida de todos no incidente com o demônio de Nove-Caudas que quase destruiu Konoha dois anos antes. O que fariam com uma estrangeira nas condições de Ahmya?

Shisui adormeceu sem uma resposta para as suas preocupações. E acordou pela manhã com grandes olhos pretos curiosos, mirando-o encolhido no futon improvisado no meio da sala.

Ahmya acordou cedo e visivelmente mais disposta, embora ainda não tivesse recuperado o brilho infantil que costumava emanar de sua figura alegre.

Assim que se alimentaram, Ahmya pediu que o irmão a treinasse. Eles exercitam-se juntos a maior parte do tempo em que Shisui esteve ali.

Ela estava interessada em taijutsu. E entregava-se às sessões até o limite da exaustão. 

“Minha mãe e a Akatsuki não estão mais aqui. Vou precisar ficar forte logo se quiser proteger o meu povo” sua voz carregava uma determinação inabalável.

Ahmya evidentemente havia superado a recusa da mãe por práticas ostensivas. Isso não era exatamente algo bom, mas ajudaria a manter sua segurança.

Durante dois dias, muitos moradores passaram pela residência para prestar condolências. 

A senhora que costumava cuidar de Ahmya estava visivelmente abalada. 

Ela convidou a menina para se juntar à sua família. E, embora a oferta tenha sido recusada pela pequena, colocou-se disponível para qualquer forma de assistência.

Também alguns professores da academia local e ex-colegas de trabalho de Azumi, vieram prestar homenagens. 

O shinobi que assumiu a direção do hospital-escola sugeriu que a criança iniciasse seus estudos assim que passado o período de luto e garantiu que a supervisionaria pessoalmente.

Dessa forma ela ocuparia seus dias e estaria sempre às vistas de todos.

Shisui já sabia que Azumi era uma pessoa estimada na região. E ser lembrado disso lhe trouxe algum conforto. 

Embora não tenha escapado da morte, seu legado como pacifista criou uma corrente de proteção para a filha.

Nessas condições, o mais velho deixaria a menor ficar. E com certa tranquilidade. 

Esse também era o desejo da menina. Nos intervalos entre os treinamentos, ela só falava em continuar o trabalho de sua mãe e da Akatsuki. 

Shisui entendeu a mudança de humor da irmã como uma forma bonita de superar o luto. O que, para alguém que é metade Uchiha, era bastante incomum. 

Ver a irmã se distanciando das características predominantes do clã, era algo que definitivamente acalmava seu coração. 

Livrar Ahmya da maldição de ódio dos Uchiha, também era uma preocupação do mais velho.

Antes do mais velho partir, Magami o louva-deus mensageiro, garantiu que deixaria um de seus subordinados vigiando Ahmya constantemente. 

Não seria um inseto dotado de inteligência como os outros. Este era da espécie louva-deus dragão e tinha o tamanho de um pônei. Mas era ágil e proficiente em combate.

Quando se despediram, Shisui se comprometeu que visitaria a irmã ao menos uma vez ao mês. Assegurou-se de que ela possuía ao menos o básico para se manter segura e confortável e passou algumas orientações para o louva-deus.

Shisui retornou para sua outra vida. Aquela onde habitavam as responsabilidades que, diferente dessa, ele não escolheu assumir.


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