Encontrando nossos corações escrita por Éclair Cerise


Capítulo 9
Impedimento.


Notas iniciais do capítulo

pessoal, nem vou me alongar muito por aqui porque eu to muito eufórica com esse cap e acho que vou acabar dando com a língua nos dentes kkk
só vou lhes desejar uma boa leitura ♥



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Hermione

As semanas se passaram em um piscar de olhos, e pela primeira vez, o tempo pareceu me engolir de uma forma desnorteadora. Nunca me senti tão exausta.

Apesar de tudo, eu estava mais alegre que o normal, mesmo não admitindo nunca em voz alta o motivo do meu repentino bom-humor. Desde o envenenamento de Ronald, decidi que não seria muito saudável para mim continuar ignorando nossa amizade. Claro, eu estava mais cautelosa que o normal, porque ainda não conseguia ficar por perto quando Lavender e ele estavam juntos – Harry podia jurar que todas as vezes que ele escutava a voz da garota, eu parecia ter desaparatado.

— Não podemos desaparatar em Hogwarts! – eu respondia em um tom entre a brincadeira e a impaciência, devido todas as vezes que eu já explicara isso aos meninos.

Harry sempre se zangava comigo por deixá-lo sozinho com aqueles dois, mas eu não podia evitar. Não me preocupava com mais nada além de sair o mais depressa possível da cena... primeiro porque eles ainda se enroscavam feito um par de enguias, como se todo momento fosse o último. E só Merlin sabe o quanto eu estava evitando sofrer mais. Segundo porque eu escutara a bronca que Lavender deu em Ron quando ele saiu da ala hospitalar em minha companhia, além de sempre me olhar com azedume. Acho que ela ainda não esquecera que nos pegou em uma situação delicada, para não dizer constrangedora.

Então na realidade, minha amizade com Ron se limitava aos momentos em que a namorada não estava presente. Isso não era muito animador, pois ela estava sempre junto dele, o dia todo. Mas ele sempre se esgueirava para dentro da biblioteca, ou em alguma sala de aula vazia, para que conseguíssemos falar sobre algum assunto mais sério.

Além de estar tentando manter meu equilíbrio emocional naqueles dias, eu, Harry e Ron estávamos pensando em uma forma de extrair a memória que o prof. Dumbledore incumbira a Harry. Nossas estratégias eram tão mirabolantes que eu caía na gargalhada todas as vezes, principalmente por causa de Ron.

Ele sempre fora engraçado, isso era fato. Ele era atrapalhado demais, e seu sarcasmo e deboche sempre estiveram presentes. Mas talvez fosse por conta de nossa amizade recém reatada, ou o alívio de que ele estivesse bem... não sei dizer ao certo, mas estava mais risonha que o normal. Talvez fosse porque eu podia vê-lo de perto novamente...

***

— Por que você está sorrindo?

Mesmo que eu tivesse a plena consciência de que estávamos a um metro de distância, me assustei com sua voz.

— É crime agora? – rebati. Por mais que eu o amasse, não conseguia respondê-lo de uma forma mais gentil.

— Não, é que... bem, é que faz tempo que não te vejo sorrir assim... – Ron comentou, repentinamente encarando o cadarço de seus sapatos – Você fica... linda.

Levei uns segundos para processar o que estava acontecendo, enquanto sentia meu rosto esquentar. Ele estava me dizendo...?

— Ahn, obrigada – não sei por que, mas meu rosto enrijeceu. Ele acabara de elogiar meu sorriso e faço uma careta.

Olhei para os lados e reparei que Harry cochilava abertamente sobre o rolo de pergaminho que estava escrevendo. Senti os olhos azuis de Ron sobre mim e decidi não me trair tão cedo. Peguei o tinteiro aberto que Harry havia deixado na mesa e o tampei – evitaria acidentes. Mas não pude protelar mais, eu mesma já tinha acabado meu trabalho e levei tempo demais devaneando, enquanto o ruivo, aparentemente, terminava o dele.

— Bem...

O silêncio que pairou entre nós chegava a ser assustador. Ron me encarava, como se quisesse dizer alguma coisa, enquanto eu olhava para todos os cantos, determinada a não encontrar seus olhos. Não ficávamos sozinhos desde o dia no qual eu quase me declarara para ele, e naquele momento, eu sabia que não conseguiria aguentar uma situação dessas por muito tempo. Eu estava cheia de coragem naquela ocasião, mas não tinha pensado na situação como um todo, como o fato de ele ainda ter uma namorada e não se desgrudar dela.

E ao mesmo tempo, como eu queria beijá-lo!

Os olhos dele dançavam como um par de safiras. Eles não estavam displicentes e leves como sempre, mas tinham uma seriedade que eu só tinha visto pouquíssimas vezes – e todas elas, devo acrescentar, eram em casos em que nossas vidas corriam perigo.

— Hermione – ele chamou lentamente, parecendo ponderar as palavras. Eu apenas acenei com a cabeça, o incentivando a falar – É que... bem... eu estou curioso sobre uma coisa.

Suas palavras me despertaram de seus olhos brevemente, intrigando-me. Acenei novamente para que ele continuasse.

— Hum... não vai ficar brava comigo, hein – ele soltou uma risadinha nervosa, embora os olhos continuassem sérios. Seus pés balançavam freneticamente sob a mesa.

— Fala logo, Ronald – pedi um pouco impaciente e ele sorriu, fazendo minha barriga explodir de expectativa. As sardas perto dos olhos dele estavam quase invisíveis.

— Tudo bem... é que... bem, eu queria saber o que aconteceu naquele dia em que estávamos na enfermaria – ele me olhou timidamente.

Não podia dizer que não esperava por esse momento. Apesar de não ser curiosíssimo, nosso último momento a sós deixaria qualquer um se perguntando o que tinha acontecido ali. De fato, se fosse comigo, eu não esperaria nem um dia para perguntar o que foram aquelas lágrimas, aquelas declarações e o principal... o que eu queria dizer a ele antes que Lavender nos interrompesse.

Mas eu sabia que aquele momento não era o momento para lhe contar tudo. Enquanto Ronald me olhava com certa expectativa, pensei bem no que dizer. Antes de mais nada, eu sabia que ele tinha namorada. E apesar de não gostar nadinha dela, não parecia certo ser mais uma opção para que ele pudesse escolher.

Vocês me entendem, certo?

— Ah, Ron... o estresse somado com todo o resto me deixou emotiva – respondi com um sorriso amarelo, pouquíssimo convincente.

Ron pareceu um tanto frustrado com a minha resposta, mas assentiu uma vez.

— Então você não tem mais nada a dizer?

A voz ríspida dele me magoou um pouco, mas fiquei muito irritada. Como ele podia me cobrar alguma coisa?

— Não, não tenho nada a dizer além do que já disse – me levantei bruscamente, assustando aquele idiota e finalmente acordando Harry, que me encarou com uma grande interrogação nos olhos verdes. Ele olhava de mim para Ronald, e foi quando percebi que o corpo do ruivo estava curvado em direção ao meu. Senti meu rosto pegar fogo e puxei minhas anotações e meu trabalho e os coloquei de qualquer maneira na mochila enquanto marchava para fora da biblioteca.

Eu mesma estava meio perdida. Como aquela conversa acabou daquela maneira tão rápida e abrupta?

Mas eu sabia da resposta.

Ronald Weasley sempre mexia comigo, e estava cada vez mais difícil esconder isso.

***

— Pode falar comigo agora?

Bufei pesadamente, e desviei os olhos do livro em meu colo. Ron estava trajando o uniforme da equipe de quadribol e levava sua vassoura no ombro direito. Os cabelos ruivos estavam molhados, dando-lhes o mesmo tom dos nuques de bronze; sua pele corada levemente pelo exercício e pela exposição ao sol faziam com que as cicatrizes pelos braços ficassem mais evidentes. Ron as tinha conseguido no final do ano passado, quando lutamos no Departamento de Mistérios. E apesar de ele ter uma certa insegurança em relação às suas marcas, eu gostava delas – mostrava o quanto era corajoso.

Pisquei algumas, lembrando-me de que ele estava ali.

— Pois não? – tentei ser o mais cordial, ou no mínimo, o mais educada possível. Mas ainda assim minha voz saiu com um pouco de ironia.

— Se não for demais para você ceder seu precioso tempo... – Ronald resmungou, mas percebi que ele estava usando o sarcasmo para esconder seu nervosismo.

Droga, eu não conseguia ficar brava com ele muito tempo.

— Bem, sente-se... – convidei. Ele, no entanto, apenas olhou para mim e me ofereceu a mão livre.

— Se não se incomodar, eu queria conversar em outro lugar – sua voz parecia meio rouca de repente.

Senti meu corpo se arrepiar com aquele pedido, e eu sabia muito bem que não seria uma boa ideia ficarmos sozinhos, não com aquele tipo de reação.

No entanto, eu também não conseguia apenas dizer não.

Peguei sua mão e o segui.

Andamos por um tempo sem dizer nada um ao outro. Subimos até um corredor vazio, perto da Torre da Corvinal e Ron abriu uma porta atrás de uma tapeçaria e me conduziu para dentro. Eu o encarei, desconfiada.

— Ron, o que você...

— Eu só preciso muito conversar com você sem que sejamos interrompidos... – ele não me olhava nos olhos, mas eu sentia firmeza em suas palavras. Era meio estranho vê-lo tão decidido daquela maneira.

Subimos uma ligeira escada em caracol, e me vi em uma pequena sala redonda. No lado oposto da escada, uma pequena janela com parapeito se abria para os jardins. Com certeza era um depósito – havia carteiras e mesas inutilizadas, cortinas comidas pelas traças, pilhas de livros de edições passadas, vassouras quebradas, vestes antigas e surradas...

— Eu, ahn... – Ronald se sentou em uma das cadeiras sujas de poeira. Pareceu não se importar em sujar suas vestes. Me sentei no parapeito da janela, e esperei.

O rosto dele pegou fogo antes de respirar fundo e começar.

— Hermione... eu não quero mais brigar com você, mas eu estou intrigado... – ele me encarava diretamente agora e meu peito deu uma volta olímpica dentro do peito – Na verdade, estou sentindo muitas coisas nesse momento – se remexeu inquieto e suspirou – Estou frustrado, e ao mesmo tempo eufórico, e com expectativas... eu nem sei muito bem se eu interpretei certo, e... eu não sei se você sente o mesmo. Sabe, na ala hospitalar... eu pensei que... bem... pensei que você ia me dizer uma coisa importante.

Os olhos azuis dele não deixavam os meus se desviarem. Por um momento, pensei que pudesse estar alucinando de alguma forma, meu corpo estava estressado de tanto cansaço.

No entanto, Ronald me encarava de forma muito real enquanto deixava com que eu processasse o que ele tinha dito. Eu não podia fugir, podia? Ele estava no meu caminho para que eu pudesse correr porta afora. Mas eu sabia que era só o medo que me impelia a não lhe contar sobre meus sentimentos.

Eu não sabia como continuar aquela conversa, eu não podia simplesmente colocar tudo ali nu e cru, se ele não tinha a possibilidade de ser meu. Ele tinha alguém que o esperava além de mim, alguém que ele partilhava seus beijos e carinhos, alguém com quem ele andava de mãos dadas e que por mais que eu odiasse admitir, gostava dele o bastante para perceber que eu o amava também, a ponto de me enxergar como uma ameaça.

Ela era meu único impedimento.

— Ronald... – senti as lágrimas brotarem nos meus olhos enquanto fazia o meu melhor para olhar direto em seus olhos cheios de expectativa – Eu não posso. Tem muitas coisas que eu gostaria de te dizer, mas não assim... não aqui em um depósito para não sermos interrompidos pela Lavender...

— Hermione...

— Eu não posso simplesmente te dizer o que eu quero tanto porque eu não quero me sentir mais como a última opção, ou como alguém que é segura porque está sempre por perto – as lágrimas teimosas caíram pelo meu rosto, mas não me importei. Ron me encarava, parecendo que também queria chorar.

— Se você quer saber, no dia da enfermaria, eu fiquei preocupada sim. Eu não conseguia dormir havia dias, porque eu estava pensando em como a nossa amizade tinha se tornado algo tão estranho. Eu estava furiosa com você, porque mais uma vez, você não prestou atenção o suficiente e fez besteira, Ronald – enquanto eu desabafava, ele continuava quieto, os olhos brilhantes – Eu fiquei muito mal por ter ficado com raiva de você. Quando o vi pálido e com a respiração fraca, pensei que te perderia para sempre, e eu precisava que você soubesse...

Assim como na enfermaria, chorei torrencialmente, sem conseguir dizer mais nada. Senti a mão de Ron acariciar meu braço, mas me desvencilhei.

— Hermione... – seus olhos estavam rasos de água, e ele parecia extremamente confuso, mas parecia que entendera minhas palavras.

Passei por ele antes que eu falasse mais do que devia e comecei a descer as escadas. Ron pareceu sair de seu estupor e em duas passadas, alcançou meu pulso e me segurou ali, contra a parede. Meu peito descia e subia, numa respiração entrecortada, com o susto daquela atitude dele, e eu podia ver que a vermelhidão não abandonara seu rosto. Nossos olhares não se perdiam mais um do outro, e pude perceber que ele sempre soube o que eu o queria lhe dizer – só queria escutar dos meus lábios.

Mas antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ou talvez sair correndo, Ronald Weasley tomou meus lábios nos seus.

Eu não sabia muito bem como reagir. Em um primeiro momento, meus olhos se arregalaram de surpresa com aquele gesto, mas só durou um segundo. Os lábios quentes e macios de Ron se moldaram de uma forma perturbadora aos meus, e eu senti meu corpo derreter quando ele gentilmente passou os dedos compridos pela minha nuca, aprofundando o beijo.

De repente, senti que estava ficando muito quente ali.

No momento em que nossas línguas se entrelaçaram, meu corpo foi tomado por uma urgência quase indecente. Eu não respondia por mim, e nem queria, porque meus lábios se moviam vorazmente com os dele, enquanto minhas mãos lhe agarravam os cabelos vermelhos e o trazia para mais perto. Ele parecia tão faminto quanto eu, tão necessitado quanto eu.

Não nos separamos de imediato. Entre um beijo e outro, ele mordiscava meus lábios, com um sorrisinho bobo no rosto. Mas quase imediatamente, ele me beijava novamente daquela forma ávida e cheia de subentendidos. Era engraçado como a gente pode se enganar, eu apostava que ele não beijava tão bem assim. Afinal, quantas vezes pareceu que ele queria engolir Lavender pelos corredores e...

Lavender!

— É melhor a gente parar por aqui – desviei meus olhos dos dele e o empurrei. Pelo canto do olho, reparei que tínhamos nos exaltamos demais. Os cabelos de Ron estavam surpreendentemente despenteados, e minha blusa estava um pouco acima do meu umbigo.

— Hermione... – quando tentou falar, sua voz estava rouca e eu tremi quando escutei meu nome nela. Reuni toda minha força de vontade para fazer o que era certo.

— Não dá, Ronald. Não assim, não agora – disse sem encará-lo e saí porta afora.

Desta vez, ele me deixou ir.


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Notas finais do capítulo

E AI, PESSOAL? HERMIONE VOLTOU COM TUDO HEIN! kkkk
brincadeiras a parte, foi bem dificil para mim escrever essa capitulo, porque a hermione já tinha meio que uma opinião formada sobre seus sentimentos, entao fiquei receosa de só colocar mais do mesmo. daí refiz todo o capitulo e saiu esse beijaço maravilhoso (nao sei pq, mas meio que veio o beijo do gil e do lucas do bbb na minha cabeça enquanto eu escrevia, me perdoem, sou meio aleatoria kkkk).
o que será que o ron está pensando, será que ele ficou abalado, abobado, maravilhado? os três? no prox cap a gente vai ver o que acontece! as consequências vêm, né k
antes de ir, gostaria de agradecer quem tá comentando e acompanhando! é muito gostoso escrever e ser lida. fazia muitos anos que eu nao me propunha a fazer uma fic maior que one-shots e com certeza o retorno de voces me deixou super empolgada e feliz.
adoraria saber o que vocês acharam desse cap! espero que vocês tenham gostado e até o próximo capítulo ♥