Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 3
Capítulo II - Amado ou odiado


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/798512/chapter/3

A manhã chegou bem rápida, mas ainda assim não era possível saber quem era colega de dormitório de quem já que as aulas começavam às oito e os alunos só ficavam livres para irem aos dormitórios pouco antes do jantar, que acontecia às sete.

 

Para a surpresa dos novatos, o professor não atrasou um minuto sequer. Outra surpresa era o fato de que a sala era silenciosa durante as aulas e, como o uso de celulares era restrito, comunicavam-se à moda antiga, isto é, por papeizinhos.

 

O professor explicava a matéria de um jeito bastante mecânico enquanto vários papéis passavam de mesa em mesa, com exceção das dos novatos e de Magali.

 

Em uma carteira que ficava no meio da sala, Mônica tentava não se entediar com a aula quando sentiu um cutucão nas costas.

 

"Passa pro lado." uma garota sussurrou.

 

A moça não questionou, apenas passou o papel para um rapaz de dentes avantajados, que abriu o papel, riu, olhou para os novatos e passou o bilhete para trás. Atrás do rapaz estava Denise, que esboçou um sorriso após ler o que recebeu.

 

"Professor, posso ir ao banheiro? É rapidinho!" ela levantou a mão e fez o pedido.

 

"Pode ir." o professor respondeu sem parar de escrever na lousa.

 

A ruiva dobrou o pedaço de papel e guardou no bolso de sua calça moletom verde, que fazia parte do uniforme junto de uma camiseta branca, e saiu da sala. Assim que ela saiu, um dos inspetores praticamente marchou até lá dentro com uma prancheta em mãos.

 

"Bom dia, alunos! Bom dia, professor! A direção convoca todos os alunos para o discurso de início do ano letivo!” o homem falou desnecessariamente alto e como se fizesse parte do exército.

 

"Nossa, precisa gritar assim? Oito da manhã, mano." Cebola sussurrou no fundo da sala.

 

"O pesadelo só 'tá começando." Penha comentou.

 

O professor abandonou o giz em cima da mesa.

 

"Certo. Vamos para o auditório, pessoal. E depois voltaremos para a aula." ele disse e os alunos se levantaram não muito animados.

 

Magali caminhava até a saída com os demais quando sentiu alguém trombar em si propositalmente. Era Cebola.

 

"Papai gosta de se aparecer, hein?" ele disse tocando em seu ombro e logo se aproximou da namorada.

 

A moça suspirou irritada, mas não disse nada. O que ela não percebeu foi que seu suspiro não passou despercebido por uma outra pessoa.

 

                                                                     *

No auditório cheio, o diretor, um homem franzino de cabelos castanhos claros que não transmitia autoridade nenhuma, estava em pé atrás do púlpito enquanto aguardava todos os alunos chegarem. Assim que todos chegaram, o diretor forçou um sorriso mínimo.

 

"Bom dia e sejam todos bem-vindos de volta. Aos novatos, sou o diretor Carlito Fernandes e, em nome de toda equipe do Internato Limoeiro, estamos muito felizes em vê-los! Vou apresentar as principais regras do internato." ele falou e muitos bufaram tendo em mente que seria demorado.

 

"Começando pelas aulas! O horário de entrada é oito da manhã em ponto, nem um minuto a mais e nem um minuto a menos. Vocês literalmente moram aqui, não tem razão para se atrasarem, então… em caso de atrasos, o aluno não poderá assistir àquele horário e, para não ficar de bobeira, terá que aguardar na biblioteca enquanto estuda por lá e, é claro, precisa ir atrás das anotações e mostrar ao professor, que decidirá se concede ou não o visto." começou.

 

"Todos vocês precisam escolher alguma atividade extracurricular, que será realizada três dias na semana no período da tarde. Nos outros dois, vocês têm algumas outras aulas. Como prezamos pelo aluno, também é necessário que escolham um esporte ou grupo de estudo avançado em determinada disciplina, ou, por que não, os dois."  continuou.

 

“Quem escolhe os dois é mais louco que o professor Licurgo.” um aluno comentou alto.

 

“Eu não sou louco!” o professor exclamou.

 

"Silêncio! Como vocês já devem imaginar, prezamos pela perfeição no aprendizado, então, as notas também precisam atingir essa meta. Para isso, em todas as salas há alunos de notas favoráveis que auxiliam no reforço, e eles podem ajudar vocês. Porém, se as notas baixas persistirem, haverá uma reunião com os pais desse aluno para que procurem outra instituição." o diretor falou.

 

"Nossa, que cuzão!" uma voz soou mais alta em meio a vários cochichos de incredulidade.

 

"Silêncio! Ainda sobre as aulas, bagunça e conversa paralela durante as aulas não são toleráveis! Sala de aula é lugar para aprender e não para papear ou fazer zorra. A única exceção é alguma aula que o docente tenha em mente o diálogo." Carlito disse e mudou a página.

 

"Mudando para o tópico vestuário, só podem ficar sem seus uniformes após o horário de atividades de cunho escolar, que vão até as cinco e meia da tarde. Tanto que, a partir das seis, vocês têm liberdade para caminhar pela instituição; ir para o dormitório ou ficar com os amigos. Mas essa questão já nos leva ao próximo tópico.” falou e mudou a página novamente.

 

"Horários! Aqui no IL temos horários para tudo. Às oito começam as aulas; o intervalo é às dez e meia; as aulas da manhã terminam às uma e vinte; e o almoço é às uma e meia. A partir das duas começam as atividades extracurriculares e aulas do período da tarde que vão até, como dito anteriormente, às cinco e meia da tarde, com um intervalo às quatro.” leu.

 

“Às seis da tarde, o cardápio do jantar é colocado no painel e servido às sete. Após o jantar, vocês têm um tempo livre que vai até às dez da noite, que é quando tem o toque de recolher, isto é, nesse horário todos já devem estar nos quartos e as luzes são apagadas." ele completou o tópico.

 

"O próximo tópico é sobre o dormitório. Talvez alguns de vocês não tiveram a chance de conhecer os colegas ainda, mas são quatro por quarto. Acho que nem preciso dizer que brigas lá dentro são proibidas, assim como desorganização e quebra de privacidade, isto é, nada de mexer no que é do seu colega. Amigos podem se visitar, mas devem voltar para seu quarto quando for hora de se recolher. Lembrando que conduta indevida causa expulsão." ele disse e mudou a folha.

 

"Por fim, sobre os fins de semana. Como a maioria de vocês é menor de idade, os pais que buscam ou autorizam mediante a aviso prévio. Pode ser no fim da sexta feira ou começo de sábado. Aos que ficarão nas dependências do IL, os fins de semana são mais livres para ficarem com as roupas que quiserem e frequentar a biblioteca, a quadra ou qualquer outro lugar aqui dentro e podem além de usar o celular e se reunir aos amigos que também ficarão." completou a leitura.

 

Os alunos, que já não aguentavam mais ouvir a voz nem muito fina e nem muito grossa do diretor, acharam que já poderiam deixar o auditório quando o mais velho continuou.

 

"Outra coisa! Aqui trabalhamos com punições. Se brigarem, serão punidos; se desrespeitarem as regras, serão punidos; se desrespeitarem algum funcionário, serão punidos. Mas existem exceções. E outro aviso, nos corredores dos dormitórios sempre têm inspetores, no feminino são inspetoras. Então vocês estarão sendo ouvidos, e qualquer som suspeito será investigado!" ele exclamou.

 

Os alunos encararam o diretor, que ajeitava as folhas lidas.

 

"Já terminei. Podem ir para as suas salas." ele disse e os jovens deixaram o local.

 

                                            *

De volta à sala de aula, a demora no auditório havia feito com que a aula do professor estivesse bem perto do fim. Então ele decidiu fazer algo que não havia feito no começo.

 

"Novatos, venham até a frente da sala para uma breve apresentação." ele pediu.

 

Enquanto para alguns não havia sido nada demais, outros sentiram um frio na barriga. Já os veteranos, decidiram prestar atenção em quem se apresentava.

 

"Quem começa?" Jeremias perguntou.

 

"As damas primeiro." Tikara sugeriu.

 

Mônica e Ramona se entreolharam e a morena abriu um sorriso.

 

"Pode começar." ela disse se encostando na lousa.

 

Ramona olhou para a sala toda, que a encarava de volta, e só naquele momento reconheceu alguns rostos: o trio que lhe passara a informação errada, a garota gordinha que estava com eles e Do Contra, que parecia não se importar com a apresentação.

 

"Meu nome é Ramona." ela disse não muito alto.

 

"E...? Só isso?" o professor perguntou.

 

"É. Não tenho muito a dizer." ela respondeu.

 

"Que tal que você gosta de quebrar regras? Justamente aquela tem uma punição alta." Cebola gritou.

 

A sala pareceu curiosa e Ramona encarou atônita.

 

"Que tal o que a trouxe ao internato?" o professor sugeriu.

 

"Ah, pra me socializar mais." ela respondeu simples.

 

"Hoje é o primeiro dia de aula, Chuchu! Muita gente vai se socializar com você." Denise comentou com um sorriso, que Ramona não soube identificar se era bom ou ruim.

 

"Muito bem. Próxima." o professor disse.

 

Mônica não desencostou da lousa.

 

"Meu nome é Mônica, vim porque tive uns problemas na outra escola e já aviso que não gosto de gente que trata os outros mal, como já vi acontecendo nesta sala." ela disse simples.

 

Penha riu.

 

"Mal chegou e já quer dar uma de revolucionárria. Cada uma…" comentou sem pudor algum.

 

"E você…" Mônica ia rebater quando o professor a interrompeu.

 

"Sem brigas! Próximo!" ele exclamou.

 

Os rapazes se entreolharam e Jeremias decidiu falar.

 

"Sou Jeremias. Vim porque meus avós acham que eu continuar na fazenda que eles moram e na escola que tem lá perto não me ajudaria no futuro." ele respondeu.

 

"Tá se sentindo no Cocoricó na cidade, né? Cadê o cavalo e as galinhas?" Toni zombou fazendo outros rirem.

 

Jeremias esboçou um riso irônico.

 

"É exatamente assim que me sinto, amigão. E os animais não puderam vir, pelo visto a vaga de pet da escola já tinha sido ocupada por você." ele respondeu simples e calmo fazendo o professor olhar surpreso e os alunos vaiarem.

 

"Uou! O moleque tem garra!" Cebola riu ao dizer.

 

O loiro olhou tão surpreso que não achou alguma resposta cabível.

 

"Próximo!" o professor disse enquanto umedecia os lábios, estava tentando não rir da falta de fala de Toni.

 

Tikara e Xavier se entreolharam e o loiro fez sinal para que o moreno falasse.

 

"Sou Tikara e fui mandado pra cá sem um motivo aparente." ele respondeu enquanto olhava rapidamente para Denise, que riu.

 

"Que pena." ela comentou enquanto encarava as próprias unhas.

 

"Mó cara de nerd que esse daí tem." um aluno comentou.

 

"Verdade. Ô Gabriela, perdeu seu posto de mais inteligente da sala." Cebola gritou.

 

Gabriela deu de ombros.

 

"Não sabemos ainda." ela disse encarando Tikara, que olhava para a janela.

 

"Próximo!" o professor chamou.

 

"Sou Xavier. Vim pra cá porque… porque disseram que aqui vou me encontrar." ele respondeu desconfortável.

 

Os demais pareceram confusos.

 

"Se encontrar? Como assim?" Cascão perguntou.

 

"Eu não sei bem, também não entendi." o loiro respondeu.

 

"Nossa, que patético! Vai ver erra pra encontrar alguém tão patético quanto você pra fazer amizade. E, pelo visto, até já achou." Penha falou venenosa enquanto olhava na direção de Nikolas, que se sentava na carteira ao lado da de Xavier.

 

O dono dos dreads não disse nada, apenas negou com a cabeça.

 

"Então vocês são almas gêmeas." Mônica comentou fazendo alguns alunos vaiarem e Penha a olhar feio.

 

"Parem com essas vaias! Daqui a pouco vem alguém perguntar o que 'tá acontecendo aqui! Vocês ouviram as regras." o professor alertou.

 

"Não, professor, ninguém ouviu aquela ladainha do tamanho do mundo. O homem ficou um tempão falando as coisas que a gente recebe num panfleto quando faz a matrícula." Cascão falou.

 

"E outra, ele tem uma informante aqui na sala. Lembrando que o que acontece na sala, fica na sala, hein, Magali!" Denise exclamou.

 

Magali deu de ombros.

 

"Manda um xaveco aí, Xavier. Fiquei curioso com a ideia de terem te mandado aqui pra passar o rodo." Cebola pediu.

 

"Não conseguiria nem em sonho." outro aluno zombou.

 

Xavier olhou surpreso.

 

"Eu… hã… xavecar quem?" ele perguntou.

 

"Nem precisa! Só de olhar pra você dá pra ver que é o rei do xaveco, só que furado." Denise zombou.

 

"Achamos seu apelido. Só olha por onde anda, Xaveco." Toni falou com as mãos no encosto da cadeira.

 

Xaveco não se incomodou com o apelido, muito pelo contrário, já era chamado assim por outras pessoas por quem tinha apreço. Então, apenas deu de ombros.

 

"Podem voltar aos seus lugares." o professor disse e logo o sinal soou.

 

                                         *

O intervalo e as aulas que vieram depois passaram lentas e cansativas. Para a felicidade dos alunos, nos últimos minutos da penúltima aula, um inspetor foi alertar que não teriam a última aula e que as demais daquele dia seriam canceladas,  uma vez que ainda faltavam algumas coisas a serem resolvidas e muitos alunos precisavam terminar de organizar suas coisas, sem contar que aqueles que representavam os grupos de esporte e estudos avançados precisavam se organizar. Porém, só poderiam ir para seus dormitórios após o almoço.

 

Assim que o sinal bateu, os alunos arrumaram suas coisas para fazerem algo enquanto não chegava o horário do almoço. Magali saiu da sala direto para seu armário para guardar um livro quando uma pessoa se aproximou. Era Penha.

 

"Vim te dar um recadinho. Infelizmente, toda a minha influência não serviu de nada pra mudar de dormitórrio, então já aviso desde já: fique forra dos meus esquemas! Não querro saber de funcionárrios do seu papai me investigando!" ela exclamou.

 

"Não pretendo me meter em sua vida, Penha." a outra respondeu.

 

"Acho bom mesmo!" Penha disse se juntando ao namorado e a Toni em seguida.

 

Magali respirou fundo e abriu seu armário. Assim que o fechou, assustou-se com a pessoa que estava parada ali.

 

"AAAH! Mônica, né? Você me assustou!" exclamou com a mão no peito.

 

Mônica cruzou os braços de um jeito que aumentou o medo da outra. A de cabelos curtos, ao perceber a expressão, riu.

 

"Que cara é essa? Parece estar com medo de mim!" ela disse.

 

"De-deveria?" Magali perguntou e a outra riu mais.

 

"Claro que não, eu sou da paz. Eu vim te perguntar uma coisa e, depois do que vi aqui, quero saber mais ainda a resposta." Mônica disse.

 

"Pode falar." a de cabelos longos disse mais aliviada.

 

"Por que você deixa eles te tratarem assim?" a outra perguntou direta.

 

Magali tremeu o lábio inferior.

 

"Ér… porque eles são bem influentes." respondeu com dificuldade.

 

"E a filha do diretor não é?" Mônica perguntou.

 

"Não desse jeito positivo que você pensa. E…" Magali falava até parar de repente.

 

"O quê?" a outra questionou.

 

Magali olhou para trás de Mônica e logo puxou a de cabelos curtos, fazendo com que as duas começassem a correr.

 

"Magali?! Por que estamos correndo?!" Mônica perguntou.

 

"Por causa do trote!" a outra respondeu.

 

"Trote?" a novata questionou.

 

"Quando chegarmos em um lugar mais tranquilo, eu te explico melhor. Agora corre!" ela respondeu e as duas continuaram correndo.

 

Nos corredores acontecia uma correria em meio a muita farinha de trigo, tinta, fubá e até mesmo ovos. Para a surpresa dos novatos, os inspetores pareciam ter simplesmente sumido ao passo que vários alunos estavam com camisas no rosto cobrindo suas identidades. Outra surpresa para os novatos era o fato de que quem atacava sabia exatamente a quem atacar e, alguns, seguravam outros para isso.

 

Mônica, quando viu a cena, apertou o passo ao lado de Magali, que conhecia bem a escola.

 

                                            *

O tempo parecia passar bem devagar para os novatos, que tentavam a todo custo se esconder dos ataques. Em um banheiro masculino, Tikara tentava tirar cascas de ovo que ficaram presas em seus cabelos, que estavam mais verdes do que pretos por causa da tinta. Assim que ouviu a porta se abrir, correu para dentro de uma cabine.

 

"Tem certeza que aqui é seguro, Nik?" uma voz familiar soou.

 

"Só enquanto toma um fôlego, fugir dos trotes é uma tarefa quase impossível. Pode limpar o rosto, eu 'tô segurando a porta." outra voz também foi ouvida.

 

O péssimo cheiro de ovo misturado com tinta fez com que Tikara decidisse arriscar ser atacado por aqueles que estavam do lado do fora. O moreno saiu e deu de cara com um loiro com a cabeça embaixo da torneira e um moreno segurando a maçaneta da porta para cima.

 

"Cara, 'cê tá péssimo!" o dono dos dreads, que estava limpo, comentou.

 

"Um grupo com umas cinco pessoas me viu e começou a jogar ovo e tinta verde. Como você fugiu dos ataques?" ele perguntou indo até a outra torneira.

 

"Porque ele não é novato, simples." Xaveco falou saindo debaixo da torneira e chacoalhando a cabeça.

 

"É trote, cara. Tipo boas-vindas." Nikolas falou.

 

O dono das feições asiáticas bufou.

 

"Me sinto super bem vindo! E aqueles inspetores que tentam passar imagem de fodão? Não vi nenhum!" ele comentou zangado.

 

"É uma tradição já. Os inspetores somem quando tem trote porque já aconteceu de prenderem um inspetor dentro da sala do zelador." Nikolas revelou.

 

"E o que aconteceu?" Xaveco perguntou curioso enquanto se escorava na pia.

 

"Nada, não sabem até hoje quem foi. Daquela vez eles cobriram as câmeras, mais funcionários foram vítimas do trote e praticamente tomaram o IL. Como ia ficar feio pra reputação deste ‘lugar perfeito’, eles abafaram o caso e permitem o trote." o veterano explicou.

 

"E aluno novo sofrer trote não suja a imagem?" o loiro perguntou.

 

"Não, as pessoas veem como uma descontração pra depois pegar firme. E outra, se você resistir demais ao primeiro trote, os outros ficam piores." ele revelou.

 

"Outros?" Tikara perguntou enquanto secava o rosto com um pedaço de papel.

 

"Durante um tempo eles vão encher muito o saco de vocês, ninguém sabe ao certo o motivo, mas fazem. Tem gente que é contra os trotes, mas são muito poucos." Nikolas explicou.

 

"Que merda, hein! Eu 'tô morrendo de fome! Como saímos daqui?" Tikara perguntou.

 

"O almoço é às uma e meia e eles param pra comer, agora são… meio dia e cinquenta. Não podemos nos esconder aqui pra sempre, é melhor sairmos." o veterano sugeriu após olhar as horas em seu celular.

 

"Diz isso porque não é você que ‘tá sofrendo trote, né?" Xaveco disse.

 

"Você acha mesmo que eles não vão vir atrás de ninguém em banheiro? É o lugar mais óbvio!" o outro rebateu.

 

"O cara tem razão. Vamos lá!" Tikara disse e Xaveco suspirou.

 

Os três saíam sorrateiros quando deram de cara com uma garota loira sem marcas de tinta.

 

"AH!" os dois novatos gritaram.

 

"Calma! Vou ajudar vocês! Venham comigo!" ela disse.

 

"Vou porra! Como eu vou saber que você não 'tá levando a gente pra uma enrascada?" Xaveco questionou.

 

"Eu não gosto de trotes! Sofri pra caramba ano passado! Confia em mim!" a moça disse.

 

Os dois novatos olharam para Nikolas e ele para onde sombras se aproximavam.

 

"Gabriela, vamos confiar em você." ele disse e ela sorriu.

 

"Ótimo, por aqui! Mi e Cascão acharam um esconderijo!" ela disse correndo e eles correram com ela.

 

Ao chegarem lá, deram de cara com uma pessoa com uma camiseta cobrindo o rosto.

 

"Sabia que era cilada, porra! Eles vão encher a gente de tinta e sei lá o que mais!" Xaveco disse prestes a correr quando uma mão agarrou seu braço. Era Cascão.

 

"Relaxa, cara! É a Milena! Ela 'tá disfarçada. Agora entrem, rápido." ele disse puxando o loiro e os outros foram até uma salinha cheia de cadeiras velhas que ficava embaixo da escada.

 

Milena tinha em mãos uma sacola com farinha e ovos. Os demais não viam nada, apenas ouviam.

 

"Procurei aqui tudo, não tem ninguém. Esses novatos 'tão espertinhos esse ano." a voz dela soou.

 

"Certeza que tem veterano ajudando… aí é foda. Vamos atrás de mais novatos, vem com a gente?" outra voz, uma masculina, soou.

 

"Vou só fazer uma pausa. 'Tô cansadona. Um novato da minha sala correu tanto que quase perdi o fôlego." ela disse e risadas foram ouvidas.

 

"Fechou então. Daqui a pouco a gente volta, certeza que algum aparece por aqui. É cheio de esconderijo." a voz masculina soou.

 

Os dois novatos olhavam para um lado quando Milena apareceu de outro.

 

"Pronto. Mas não vai durar muito." ela falou.

 

"Fiquem aqui por mais alguns minutos e fujam pros andares de baixo, é mais perto pra irem pro refeitório depois. Boa sorte, novatos!" Cascão disse e os três veteranos saíram correndo.

 

"Não quero nem saber o motivo de eles ajudarem a gente, só quero descansar!” Xaveco comentou se sentando no chão junto dos outros dois.

 

                                            *

Na área verde, Jeremias estava escondido em um arbusto com várias manchas de tinta verde e farinha pelo corpo. O rapaz olhava para um lado quando sentiu o sol, que já estava quente, sumir de suas costas. Assim que se virou, deu de cara com Sofia, que tinha um saco de farinha em mãos, e logo mais quatro pessoas com o rosto coberto se aproximaram dela.

 

"Porra… agora fodeu." ele falou enquanto era cercado.

 

"Seguinte, Jerremias..." a voz soou e o rapaz soube na hora quem era.

 

"Ah, vocês são aquele trio da minha sala. Eu mereço…" ele balbuciou enquanto eles se revelavam.

 

"Ei! Eu 'tô aqui também!" Denise exclamou.

 

"Claro, e você também." ele revirou os olhos.

 

"Nós gostamos desse teu jeito, então viemos fazer uma proposta." Cebola disse e ele franziu o cenho.

 

"Proposta?" repetiu.

 

"Junte-se a nós e ninguém vai mexer com você. Você que vai mexer com os outros. O trote não dura só um dia, Jeremias, tem várias outras maneiras de dar boas-vindas aos novatos." Toni propôs.

 

"O que nos diz?" Penha perguntou estendendo a mão.

 

O de cabelos crespos olhou para a mão da moça e franziu o cenho.

 

"Se forem jogar tinta, prefiro a azul. Cansei da verde." ele respondeu decidido, fazendo o trio, e Denise, rir.

 

"Que engraçado, ele é ingênuo!" a ruiva disse.

 

"Você acabou de perder uma chance de ouro. Mas temos umas outras pessoas em mente. Sofia, ele é todo seu." Cebola disse enquanto se virava junto dos outros quatro e recolocava seu “disfarce.”

 

Sofia olhou para Jeremias e sorriu.

 

"Corre." ela sussurrou e ele a encarou desconfiado.

 

"Você vai jogar o que em mim?" perguntou.

 

"Nada, é a chance de você fugir." ela disse ainda com a voz baixa e o rapaz sorriu para ela antes de levantar e começar a correr.

 

Os demais olharam bravos para a dona dos cabelos ondulados.

 

"Porra, Sofia! Deixou ele escapar!" Cebola exclamou.

 

"Ele é muito rápido pra mim. Eu 'tô cansada." ela mentiu.

 

"Gordo é foda, viu? Atrás dele! Vamos dar a tinta azul que ele pediu." Toni disse e logo os três correram.

 

Denise ficou e encarou a amiga por alguns segundos, mas logo saiu andando.

 

Sofia suspirou enquanto se sentava no banco e olhou para as próprias mãos cheias de farinha e logo para vários novatos que sofriam o trote. Nenhum deles parecia feliz com aquilo.

 

"Qual o objetivo disso?" questionou-se.

 

                                             *

Enquanto isso, correndo já bem cansada, Ramona havia se perdido, estava em um corredor que sequer sabia da existência. A moça estava com seus óculos sujos de tinta e farinha quando ouviu passos e risadas se aproximarem.

 

"Cadê aquela menina? Essa farinha 'tá me sujando tudo!" uma voz soou.

 

"Ramona é o nome dela. Tenho uma tinta verde aqui, vai ficar igualzinho uma mamona!" outra voz soou risonha.

 

A ruiva olhou em volta e suspirou prestes a desistir de correr. Porém, para a sua surpresa, ouviu passos de quem corria e logo sentiu ser puxada para dentro da sala, que julgou ser do zelador pela vassoura que bateu em seu ombro.

 

"Mas o quê…" ela falava até ouvir um “sh”. O cheiro que sentia era de produtos de limpeza misturado com perfume masculino.

 

"Caralho, a mina é uma bruxa! Sumiu!" um dos veteranos disse.

 

"Deve ter ido pro andar de cima. Vamos lá." uma voz feminina os passos se afastaram.

 

Não demorou para Ramona sair da sala e tentar olhar para a pessoa que a ajudou. Porém, além de a pessoa simplesmente correr e gritar um “corre”, a moça nem teve tempo de olhar, já que deu de cara com mais quatro pessoas que lhe jogaram farinha e ovos.

 

                                                                              *

Após alguns minutos, que pareceram horas para os novatos, o horário de almoço fez com que o trote acabasse. Todavia, assim que o almoço acabou, os inspetores reapareceram pedindo aos alunos que fossem para seus dormitórios para que a limpeza fosse feita.

 

Mônica tinha poucas manchas de farinha pelo corpo por ter conseguido fugir com a ajuda de Magali. As duas haviam conversado bastante durante a fuga e almoço a ponto de iniciarem uma amizade.

 

"Então ninguém quer ser seu amigo por você ser filha do diretor? Que ridículo!" a de cabelos curtos exclamou.

 

"Eu sou vista como cagueta." explicou.

 

"E nem os novatos?” a outra perguntou.

 

"Ultimamente não tem entrado muito novato, sabe? Sem contar que novato geralmente se junta a novato, ano passado entraram três: a Gabriela, a Milena e o Cascão. Todos de escolas diferentes, mas viraram amigos no mesmo dia.” Magali revelou.

 

“E você nem tentou se integrar?” Mônica perguntou.

 

“Ah, eles logo ouviram que eu era cagueta, então nem tentei.” ela disse e a outra riu.

 

"Deixa eu adivinhar, foi aquele trio escroto da tal Penha que falou isso." chutou.

 

"Exatamente. Falando neles, eu recomendo que você fique esperta, Mônica. Se eles pegam raiva, podem fazer da sua vida um inferno aqui dentro." Magali alertou.

 

"Ai, Magali, se eles quiserem me atacar, eu ataco de volta! Não tenho medo deles. Mas e ai? Qual o seu dormitório?" Mônica respondeu com uma pergunta ao fim.

 

A de cabelos longos suspirou.

 

"220. O mesmo que o da Penha…" ela respondeu.

 

Mônica sorriu enquanto abraçava a outra pelo ombro.

 

"Nem tudo são notícias ruins. Eu 'tô no mesmo dormitório que você!" ela exclamou.

 

Magali sorriu abertamente.

 

"Mesmo? Isso é incrível!" disse dando um pulinho.

 

"E quem é a outra? Disseram ser quatro." Mônica perguntou.

 

"A Gabriela! Sabe a loirinha que o Cebola disse que perdeu lugar pro Tikara? Ela." Magali disse.

 

A novata deu de ombros.

 

"Queria que fosse aquela outra chata lá. Aquela ruiva, sem ser a Ramona." Mônica comentou.

 

A veterana arregalou os olhos.

 

"A Denise? 'Cê é doida, Mônica! Aquela lá é uma das pessoas mais fofoqueiras daqui! Ela que comanda o jornal da escola, se ela descobre um podre seu, o internato inteiro descobre junto." revelou e a outra riu.

 

"Por isso mesmo. Mantenha seus amigos perto e inimigos mais ainda." Mônica citou.

 

Magali riu.

 

"Eu dispenso essa. Hoje podemos dar umas voltas pelo internato!" ela disse.

 

"Ótima ideia! Só quero tomar banho primeiro." Mônica disse e a outra assentiu.

 

                                           *

No quarto perto dali, Ramona havia acabado de sair do banho e se sentou em sua cama se sentindo exausta. Não demorou para que alguém entrasse no quarto.

 

"Ramona! Não disse que hoje muita gente iria se socializar com você? Se divertiu?" Denise perguntou com um sorriso irônico.

 

A de cabelos curtos revirou os olhos.

 

"Não, eu não me diverti levando ovada." respondeu e a outra riu.

 

"Ah, Chuchu, pelo menos desse trote você se livrou. Os outros não têm essa pegada." Denise disse piscando um olho.

 

A porta se abriu novamente revelando Milena, que estava ao lado de Gabriela.

 

"Vamos, Sofia, tem gente demais neste quarto. Tenho que ouvir alguns novatos e veteranos pra primeira matéria do ano." Denise disse e Sofia, que já estava no cômodo antes, suspirou cansadamente, mas a acompanhou.

 

As outras duas olharam para Ramona.

 

“Oi, Ramona! Sou Milena e essa é Gabriela, eu sou sua colega de quarto. E, se não nos viu, somos da sua sala!” a morena disse.

 

“Oi!” a loira também cumprimentou.

 

Ramona olhou surpresa.

 

"Oi. Vocês parecem amigáveis... como conseguiram fazer trote?” ela perguntou.

 

As duas negaram.

 

"Não participamos de trote. Entramos ano passado e foi quase o ano todo aturando a encheção de saco daquele trio ridículo.” Gabriela respondeu.

 

“Só vim pegar um caderno, vamos pra biblioteca mexer com coisas dos estudos avançados e do time, quer vir?" Milena convidou.

 

A ruiva negou.

 

"Prefiro descansar." ela disse e as duas assentiram.

 

"Ok. Bom, então desejo boas-vindas e boa sorte." a de cabelos longos disse antes de pegar algo em sua mochila e sair com a loira.

 

Ramona observou a porta se fechar lembrando de quando alguém havia a ajudado e tentou imaginar quem poderia ser.

 

                                                                                    *

No prédio verde, Tikara chacoalhava seus cabelos para cair água em Nikolas que, para a felicidade do dono das feições asiáticas, era seu colega de quarto.

 

"Joga água na mãe!" Nik exclamou se levantando de sua cama, onde estava deitado, e o outro riu.

 

"Você me ajudou a fugir do trote, virou figura materna." o outro zoou.

 

"Então me mama." o dono dos dreads brincou, fazendo Tikara rir alto.

 

"Glub, glub.” respondeu também brincalhão.

 

“Que horror, cara!” o veterano falou e o novato se sentou em sua cama, que também ficava no baixo.

 

“E ai, mano? Como foi o seu trote quando você entrou aqui?" Tikara perguntou.

 

"Foi justamente aquele que eles praticamente tomaram o IL. Lembro até hoje do trabalho que foi limpar aquela tinta dos meus dreads.” Nikolas lembrou.

 

"Você é um guerreiro. E por que você estuda aqui no internato?" o outro perguntou.

 

"Uns parentes diziam que eu ficava tempo demais na internet, então vim parar num lugar que você só pode usar internet aos fins de semana. É foda.” ele respondeu.

 

"Pela segunda vez, você é um guerreiro. Eu acho que eu também tenho essa questão familiar no meio, só que por culpa do puto do meu padrasto." o novato começou enquanto se deitava.

 

"A filha dele estuda aqui. E minha mãe e o pai dela querem que sejamos amigos, mas não rola." concluiu.

 

"Por quê? Quem é a filha dele?"  Nik perguntou.

 

"A Denise." o outro respondeu e Nikolas olhou surpreso.

 

“A da nossa sala? Então você ‘tá no céu! Não vai ser zoado por nada.” falou e o dono das feições asiáticas negou.

 

“Não é como se ela gostasse de mim, então talvez eu esteja até pior.” explicou e, no mesmo instante, a porta se abriu.

 

“Ah, e ai, gente? Conseguiram fugir ilesos?” era Cascão.

 

“A gente até tentou, mas logo fomos atacados de novo. Achei incrível que viram o Nikolas e não jogaram nada nele. Como sabiam que eu era novato e ele não?” Tikara comentou.

 

“Ué, por causa da lista que a Denise pegou. Tu não viu uns papéis rodando pela sala? Era lista com tudo sobre os novatos. Eles repassam isso pra uns... ‘representantes’ de cada sala.” Cascão respondeu.

 

Tikara olhou para Nikolas.

 

“Não disse? ‘Tô fodido do mesmo jeito.” ele disse.

 

“Triste sua realidade. Se me dão licença, tenho que tomar banho.” Nikolas disse tirando sua camisa e logo entrando no banheiro.

 

O de cabelos lisos olhou para Cascão, que havia subido na cama sobre a de Nikolas.

 

 “Me fala uma coisa... Cascão, né?” ele disse e o outro assentiu.

 

“Isso mesmo!” exclamou.

 

“Por que você e as meninas não nos atacaram?”  ele perguntou.

 

“Véi, ano passado tomamos um banho de tinta com farinha e ovo. Tive que tomar três banhos! Então as duas decidiram que iriam ajudar outros novatos a não sofrer daquele jeito e eu abracei a ideia.” ele respondeu.

 

“Muito legal, mas o que vocês ganham com isso?” ele perguntou e Cascão riu.

 

“Sabe, cara... já é foda ter que sair do conforto da sua casa pra vir pra esse inferninho aqui com um monte de bullie. Como a direção caga pra isso, alguém tem que ajudar. A gente não ganha nada, mas também não perde.” ele explicou e Tikara sorriu.

 

“E como são os outros trotes? Ouvi dizer que tem.” ele perguntou e Cascão crispou os lábios.

 

“Olha... os outros são mais diretos. O povo acha um jeito de te encher e é isso.” ele disse e o outro assentiu desanimado.

 

Antes que falasse mais alguma coisa, o outro membro do dormitório chegou. Assim que ele viu Tikara, riu.

 

“Olha só! Tem novato da minha sala no mesmo dormitório que eu! Isso vai ser divertido! Fala aí, Cascão! Quem é o outro?” era Cebola.

 

“O outro é o Nikolas. Se me dão licença, eu vou puxar um ronco.” ele respondeu se deitando.

 

Tikara se sentou em sua cama enquanto Cebola o encarava.

 

“Sabe, Tikara... dormir de olhos abertos é mais fácil do que você pensa.” ele comentou e logo foi para a cama acima da sua.

 

O novato bufou.

 

                                      *

No dormitório 226A, Xaveco secava seus cabelos sozinho no quarto quando a porta se abriu. Quem entrou fora Do Contra.

 

“E ai.” ele cumprimentou e foi para uma das camas de baixo e deitou pegando a revista que já estava lá.

 

O loiro o observou curioso e ponderou se devia ou não falar com ele.

 

“Como é seu nome?” decidiu perguntar.

 

“Maurício, mas me chamam de Do Contra.” o outro respondeu sem olhá-lo.

 

“O meu é...” ele falava até o moreno o olhar.

 

“Xavier, eu sei. Eu sou da sua sala.” falou e o loiro olhou surpreso.

 

“Mesmo? Nem tinha percebido.” ele disse sincero.

 

“Que bom. Espero que continue assim.” ele disse voltando à sua leitura.

 

Xaveco decidiu não falar mais nada, mas logo a porta se abriu.

 

“E ai! Oi, Xavier! Oi...” era Jeremias ali todo sujo de tinta e farinha.

 

“Maurício, também conhecido como Do Contra.” o outro respondeu.

 

“Oi, Do Contra! O banheiro ‘tá livre? Essa tinta ‘tá me pinicando demais.” Jeremias perguntou.

 

“Tá! Pode ir lá.” Xaveco disse terminando de passar a toalha em seu cabelo.

 

Jeremias logo começou a tirar seu uniforme fazendo Xaveco encarar surpreso, o rapaz era bastante forte. O moreno pareceu perceber.

 

“Ih, cara, foi mal. Eu acho que sou alérgico a essa tinta e ‘tava me incomodando tanto que acabei nem perguntando se vocês se incomodam com gente sem camisa.” ele falou.

 

“Eu não dou a mínima, às vezes fico também.” DC falou indiferente.

 

“Ah... eu... é de boa também!” Xaveco disse confuso.

 

“Certo.” ele disse e ia entrar no banheiro quando o outro membro do dormitório chegou. Era Toni.

 

“Caralho! Não acredito que tive essa sorte! Dois novatos no mesmo quarto que eu! Tem o estranho também, mas isso é detalhe! Sejam bem... Vindos!” ele disse se aproximando e completou a frase jogando farinha nos dois.

 

“Filho da puta! Foi bem no meu olho!” Jeremias exclamou enquanto coçava os olhos.

 

“Se tivesse aceitado a proposta, isso não teria acontecido. E você, Xaveco? ‘Tá limpinho demais!” ele disse jogando todo o resto da farinha na cabeça do cacheado.

 

“Mas tu é chato, hein!” ele comentou enquanto batia em seus cachos.

 

“Que chato o quê! ‘Tô até sendo legal, podia ser tinta. Agora, se me dão licença... preciso de um banho!” ele disse já entrando no banheiro.

 

“Ei, eu ia entrar!” Jeremias disse ainda coçando os olhos.

 

“Foda-se!” disse de dentro do banheiro.

 

DC negou com a cabeça enquanto olhava de relance para os novatos.

 

“Eu até diria que logo ele para, mas tiveram o azar de cair no mesmo dormitório que o Toni.” ele falou e os novatos bufaram enquanto iam para suas respectivas camas.

 

O dia acabou passando mais rápido que o habitual já que a limpeza do internato foi bastante demorada e os alunos puderam ficar soltos pelo prédio ou ficarem em seus quartos. Para a felicidade dos veteranos, que amavam o primeiro dia de aula, aquele parecia estar sendo melhor que o anterior; já para os novatos, tanto pelo trote quanto pelas descobertas de quem estavam em seus quartos, aquele havia sido um dia odiável.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Internato Limoeiro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.