Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 4
Capítulo III - Resposta


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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A manhã havia começado gelada. O som do sinal que alertava ser hora de acordar fez com que os jovens se remexessem mais cansados do que foram dormir, já que o dia anterior havia sido bastante cheio.

 

No dormitório 220A, Cebola ria enquanto amarrava seu cadarço, o rapaz havia levantado antes do horário para fazer um trote com Tikara. Além deles, no quarto também estava Cascão, que resmungava enquanto se sentava em sua cama.

 

"Que canseira… ué? Acordou antes do sinal?" perguntou ao ver que o outro já estava pronto.

 

"Hoje é dia de escolher as atividades extras e os esportes. Quero ser o primeiro!" Cebola respondeu.

 

Cascão bocejou preguiçosamente.

 

"Ai, Cebola, tu tem é obsessão por conseguir as coisas primeiro, seu esporte nem é concorrido e... Caramba! Eu sou o capitão do time! Tenho que estar lá pras inscrições!" ele exclamou jogando as cobertas para cima e descendo da cama.

 

Cebola riu e olhou para o dono das feições asiáticas, que havia acabado de acordar.

 

"Que barulheira logo cedo!" comentou com a voz sonolenta.

 

"Barulheira? Tu 'tá no internato, irmão! Tem que acordar a essa hora se quiser tomar café da manhã!" Cascão falou enquanto procurava um uniforme.

 

Tikara se sentou bocejando e olhou para Cebola, que estava sorridente.

 

"Tenham um bom dia!" o veterano desejou saindo em seguida.

 

O de cabelos lisos olhou para Cascão, que pulava enquanto vestia suas calças por cima de seu samba-canção.

 

"Sabe se o Nikolas já desocupou o banheiro?" perguntou.

 

"O banheiro 'tá livre. Nikolas deve ter… mano! O que aconteceu com sua cara?!" Cascão respondia a até olhar para o rapaz.

 

Tikara franziu o cenho e saiu da cama indo até o banheiro e encarando seu reflexo. Seu rosto tinha vários rabiscos feitos com lápis de olho, que variavam entre palavras, desenhos e borrões pretos.

 

"CEBOLA FILHO DA PUTA!" ele gritou do banheiro e Cascão não evitou o riso.

 

"Recomendo tu tirar esses rabiscos, a galera cai matando em quem tem essas coisas desenhadas. Boa sorte." ele disse e logo saiu às pressas.

 

                                            *

Enquanto isso, no quarto 226A, Jeremias xingava Toni, que apenas ria.

 

"Qual o teu problema, véi? Você pintou partes do meu cabelo de azul!" o de cabelos crespos exclamou zangado.

 

"Relaxa. É com papel crepom, isso sai fácil." Toni disse.

 

"Sério isso? Você acordou mais cedo só pra passar isso no meu cabelo?" o outro questionou incrédulo.

 

"Você mesmo disse que gostava mais de azul, realizei seu desejo. De nada." o loiro disse pegando sua mochila.

 

"Olha… não vale a pena discutir com um marmanjo pior que criança" Jeremias falou negando com a cabeça.

 

Toni olhou irritado.

 

"Sou mais homem que você!" exclamou.

 

"É sim, tão homem que precisa ficar fazendo trote bobo pra chamar a atenção. Ah, quer saber, não vou perder meu tempo com você!" o outro bufou enquanto entrava no banheiro.

 

O som da porta se fechando fez Xaveco, que havia dormido novamente, acordar.

 

"O que aconteceu?" ele perguntou já colocando os pés no chão, porém, para a sua surpresa, pisou em algo molhado.

 

Toni, que até então olhava para a porta do banheiro zangado, começou a rir enquanto o outro olhava enojado para o chão.

 

"Que isso?" Xaveco questionou encarando o líquido amarelado em que havia pisado.

 

"Você é sonâmbulo, sabia? Achou que o chão era um mictório." o de cabelos lisos respondeu.

 

Xavier arregalou os olhos sentindo as bochechas esquentarem.

 

"É mentira dele, Xavier. Isso daí é suco que ele jogou aí. Recomendo limpar antes que fique grudando." Do Contra, que ninguém havia percebido ainda estar lá, revelou.

 

Toni bufou.

 

"Nossa, Do Contra, como você é chato!" exclamou negando com a cabeça e saiu em seguida.

 

O cacheado olhou para o moreno.

 

"Valeu por avisar." agradeceu e o outro assentiu.

 

"De boa." o outro falou antes de deixar o quarto, ele também já estava vestido.

 

O loiro bufou olhando para o chão cheio de suco e procurou por alguma roupa suja sua para limpar.

 

                                           *

No dormitório de mesmo número com o B na frente, Ramona havia acordado há um tempo e até se arrumou, mas voltou para sua cama e ficou encarando o teto até ser chamada por Milena.

 

"Não vai tomar café da manhã? Você 'tá aí olhando pro teto desde que fui tomar banho." a cacheada comentou.

 

A ruiva sorriu olhando para baixo.

 

"Ah, eu 'tava pensando na vida. Você 'tá indo lá?" ela perguntou.

 

"Sim, pode vir comigo se quiser." a outra convidou e Ramona assentiu sorridente.

 

"Quero sim!" exclamou e desceu de sua cama.

 

Sofia observava as duas enquanto prendia seus cabelos em duas marias-chiquinhas altas. As duas não haviam percebido, mas ela sorria com a interação. Assim que deixaram o quarto, Denise saiu do banheiro.

 

"Você ouviu, Denise? Parece que Ramona e Milena fizeram amizade." Sofia comentou.

 

"Por que está animada com isso? 'Tá pensando em fazer trote envolvendo as duas? Está finalmente se revelando, Sofia?" a ruiva perguntou com um sorriso e a outra negou.

 

"Claro que não! Eu achei legal que a Ramona não está mais sozinha. Não é fácil ser novato em meio a tanta sacanagem, Denise. Aliás, fico feliz que você não fez nenhum trote com ela." respondeu e Denise riu.

 

"Agora entendi porque você não atacou o Jeremias, você tem pena dos novatos. Quando você era novata, ninguém teve pena de você! Devia aproveitar que pode dar o troco." ela comentou colocando seu sapato.

 

"Dar o troco em quem não tem nada a ver?" a outra rebateu.

 

Denise suspirou.

 

"Você fala como se os trotes fossem a coisa mais horrorosa do mundo, não é como se a gente pegasse tão pesado assim. É só uma brincadeirinha pra descontrair, pra dar boas-vindas." defendeu.

 

"Não acho engraçado. Nenhum novato se sente bem-vindo." Sofia disse e a outra bufou.

 

"Ai, Sofia, não fui eu que inventei o trote, ok?" falou terminando de calçar suas botas.

 

"Mas você pode não fazer mais! Por isso te parabenizei por não ter feito nada com a Ramona, já que ano passado com a Milena e Gabriela você…" ela falava até ver o sorriso da amiga.

 

"Digamos que eu te decepcionei. Eu fiz sim um trote com a Ramona." Denise disse e a outra franziu o cenho.

 

"O que você fez?" Sofia questionou e o sorriso da outra se alargou.

 

                                            *

Ainda no prédio amarelo, no quarto 220, Mônica havia acordado mais cansada do que fora dormir. Assim que olhou para o lado, após sentir algo, arregalou os olhos e gritou. Lá havia um moletom com touca "de costas" para si.

 

A moça olhou em volta e percebeu estar sozinha. Mordeu o lábio inferior, caminhou até a cama e cutucou o "corpo" algumas vezes, não obtendo resposta.

 

"Ei! Ei! Acorda!" ela disse decidindo chacoalhar o corpo e, assim, perceber que não era uma pessoa, e sim um travesseiro dentro da roupa.

 

"Mas que palhaçada é essa?!" questionou para o nada e logo ouviu uma risada.

 

"Você tinha que ter visto a sua carra!" Penha falou risonha enquanto saía do banheiro.

 

"Quantos anos você tem garota? Dez?" Mônica questionou zangada.

 

Penha deu de ombros enquanto caminhava até a cômoda e se escorava lá.

 

"Que culpa eu tenho que isso é o mais perto que você vai chegar de dormir com alguém? Pelo menos sentiu um cheirro gostoso de homem. Mas não se anime, é do moletom do meu namorrado." ela disse e a outra pegou o travesseiro e o lançou em direção à outra.

 

A de cabelos longos desviou do travesseiro fazendo com que ele caísse em um porta-joias de vidro que ficava em cima da cômoda. Assim que o objeto colidiu com o chão, Mônica olhou atônita para os cacos enquanto Penha sorria com a boca aberta.

 

"Ih… de quem serrá que erra? Meu, obviamente, que não é, isso é bijuterria barrata. Eu acho que é da sua amiguinha, hein? Cuidado com o dirretor." ela falou debochada.

 

"Ai, sai daqui, Penha!" Mônica exclamou indo pegar os cacos de vidro.

 

A outra saiu aos risos enquanto a de cabelos curtos pegava os cacos e xingava Penha.

 

                                         *

Um pouco distante dali, Magali saía da sala do diretor, onde sempre tomava café da manhã com o pai, quando decidiu já fazer suas inscrições nas aulas extracurriculares e esportes.

 

A moça caminhou até onde ficavam as inscrições para os esportes, que estava estranhamente vazio, e deu de cara com algo que não imagina ver: Cascão e Gabriela trocavam um beijo intenso. Por algum motivo, aquilo a fez sentir algo estranho, mas apenas deu meia volta. Porém, os dois a viram.

 

"Magali? Veio se inscrever pra algum esporte?" a voz de Cascão fez com que a moça parasse de andar e se virasse para eles, que já haviam se separado.

 

"Ér… eu ia, mas…" ela dizia sem jeito.

 

"Por favor, não fala pro seu pai o que viu aqui!" Gabriela pediu.

 

Magali negou.

 

"Não, eu não vou dizer." afirmou.

 

Cascão pegou um formulário e uma caneta.

 

"E ai? Vai entrar pro fut' este ano? O time de futebol feminino 'tá precisando." ele perguntou entregando as coisas à Magali.

 

"Hum… não. Eu prefiro vôlei!" a morena respondeu.

 

Gabriela sorriu.

 

"Então já digo pra se preparar! Este ano sou a capitã do time e ele tem bastante gente!" a loira exclamou animada.

 

"Legal. Acho que vai ser divertido…" a morena disse assinando a folha rapidamente.

 

"Todo ano é! Esporte é vida!" Cascão comentou sorridente.

 

"Quarta é o primeiro treino! Depois do almoço, lá na quadra." a loira alertou.

 

"Valeu! Tchau, gente." Magali disse e saiu rapidamente.

 

Gabriela olhou para Cascão.

 

"Acha que ela vai dedurar a gente?" ela perguntou e o rapaz negou.

 

"Não acho que ela seja essa X-9 que o povo fala. Eu nunca vi ela caguetando ninguém, deve ser só boato." Cascão comentou e a loira deu de ombros.

 

"Talvez, mas vamos ser mais discretos." ela disse e ele beijou sua bochecha.

 

                                         *

No refeitório, Ramona estava com Milena comendo enquanto falavam sobre as atividades que aconteceriam às tardes.

 

"A gente tem aulas do currículo duas vezes por semana, esse ano é de terça e sexta. As atividades extras são de quinta e o esporte de quarta; já às segundas são os estudos avançados pra quem faz. Se você não faz, de segunda você fica livre pra fazer o que quiser ou ficar um tempinho a mais na atividade extra." a cacheada explicou.

 

"Eles não brincam com isso de horário... você faz o quê?" Ramona perguntou.

 

"Eu jogo futebol; faço estudos avançados em biologia; e minha aula extra é inglês." a outra respondeu.

 

"Parece cansativo.” a ruiva observou.

 

"Bastante! Mas foi a melhor maneira que achei ano passado de aguentar este internato. Eu me ocupava pra fugir de bullie e acabei me interessando mais pelos estudos e fiz amizade com a Gabi." Milena revelou com um sorriso.

 

"Ela também faz esse monte de coisa?" a outra perguntou.

 

"Sim, só que diferentes das minhas. É que além disso, nós somos bolsistas, isso meio que obriga a fazer de tudo um pouco. Mas chega de falar de mim! Denise te deixou em paz hoje?" a cacheada perguntou e a ruiva sorriu.

 

"Sim! Nem vi ela hoje." respondeu.

 

"Torço por você, porque ano passado ela fez eu não ter sossego durante o ano todo." a cacheada falava até o assunto da conversa aparecer na mesa.

 

"Oi, Coleguinhas de cela! Jornal da escola pra vocês!" Denise entregou um exemplar para cada uma e logo saiu saltitante.

 

"Não vou ler isso, aposto que ela colocou sobre o trote de ontem ter sido um sucesso." Milena comentou e Ramona lia por cima até notar algo.

 

"Milena… essa matéria fala sobre mim!" ela exclamou.

 

"O quê?!" a outra questionou incrédula.

 

"Aqui: alguns novatos são mais ingênuos, minha colega de cela/dormitório é um exemplo disso. A menina veio na intenção de se socializar. Bom, não que ela não vá, pelo estado que ficou no pós-trote deu pra ver o quanto se socializou (risos), mas entrar em um internato e dizer com orgulho que veio pra se socializar… é digno de pena." Ramona leu de cenho franzido e voz trêmula.

 

"Mano… que escrota!" Milena exclamou olhando em volta à procura de Denise.

 

"Eu… eu vou reclamar na direção!" a de cabelos lisos disse levantando e, no mesmo instante, o sinal tocou.

 

"Acho melhor deixar pra fazer isso no intervalo. Temos aula agora e atrasos são complicados aqui. Eu posso tentar pedir pra alguém me substituir nas inscrições de hoje e te acompanho se você quiser." Milena disse.

 

Ramona negou.

 

"Não precisa, você é bem ocupada e… eu dou um jeito. Vamos pra sala!" ela disse e a outra assentiu.

 

                                           *

Não só as aulas como o dia todo passou bastante cheio para os alunos, principalmente por suas atividades do período da tarde já terem começado. Muitos acabaram nem se vendo em intervalos ou, até mesmo, no almoço, que também fora usado para as inscrições. Já era noite, no horário do jantar, quando finalmente se encontraram.

 

Nikolas, Tikara e Xaveco jantavam em uma mesa enquanto falavam sobre o ocorrido da manhã.

 

"Então o Toni jogou suco no chão pra fingir que era xixi? Cara… que idiota!" o dono dos dreads exclamou incrédulo.

 

"O foda é que eu 'tava quase acreditando. Mas como tudo pode piorar, uns caras vieram me chamar de ‘sonequinha molhada’. Aquele Toni é um filho da puta!" Xaveco exclamou zangado.

 

"E você, Tikara? Dormiu demais pra faltar da primeira aula?" Nik perguntou.

 

O dono das feições asiáticas engoliu seu suco.

 

"Queria! O arrombado do Cebola desenhou uma rola na minha cara e escreveu um 'Cebola manda'. O cara escreveu com lápis de olho e eu não conseguia tirar!" Tikara disse.

 

Nikolas riu.

 

"Queria ter visto, com todo respeito." ele disse.

 

"Onde 'cê tava que não viu? Vocês são do mesmo quarto." Xaveco perguntou após engolir sua comida.

 

"Eu fui me inscrever nas coisas e mexer com reforço." o outro respondeu disse.

 

"Reforço? Já vai ter aula de reforço?" Tikara perguntou.

 

"Não, eu que dou reforço! Ajudo o primeiro ano em matemática, daqui a pouco a gente tem uma primeira avaliação pros professores saberem quem precisa ou não." ele explicou.

 

"Então você é nerd? Agora entendo porque era tão solitário antes dos heróis aqui aparecerem na sua vida." Xaveco disse apontando para si mesmo e Tikara.

 

Nikolas riu.

 

"Nossa, como eu sou grato, Heróis. O super sonequinha e seu fiel escudeiro Kara, com K, rabiscada" zombou risonho e os demais também riram.

 

"Em que vocês se inscreveram? Eu me inscrevi no futebol e escrita criativa." Tikara mudou de assunto.

 

"Eu escolhi informática e estudos avançados em matemática." Nikolas disse.

 

"Você é corajoso em mexer tanto com matemática. Eu escolhi informática também, mas decidi fazer futebol e xadrez." o loiro falou.

 

"Dois esportes?" Nikolas perguntou.

 

"Tô fora disso de estudo avançado, não tenho esse tanto de sanidade em plena época de novato. Mas eu gosto de xadrez e futebol. A propósito, quem que mexe com esses grupos, Nik?" o cacheado perguntou.

 

"Eu não sei, eu não faço parte de nenhum." ele respondeu.

 

"Que veterano sabido..." Tikara zombou.

 

"Se foder, Tikara. Acabou meu suco, já volto." Nikolas disse saindo em seguida.

 

"Xaveco, eu 'tava pensando em me vingar do Cebola. Você pode fazer o mesmo com o Toni." Tikara comentou.

 

Xaveco engoliu sua comida com dificuldade.

 

"Sei não, cara. Não quero ter mais problemas com ele." o loiro respondeu.

 

"Só uma resposta aos trotes. Eu perdi uma aula por culpa daquele corno e ‘tão te chamando de sonequinha molhada por aí. Isso é muito queima filme." o outro argumentou e Xaveco bufou.

 

"No que você 'tá pensando?" ele perguntou e o outro riu.

 

                                          *

Ramona voltava da sala da direção mais desanimada do que foi, haviam lhe dito apenas para relevar o ocorrido. A moça ouvia tantos cochichos sobre isso que até perdeu a fome, decidiu ir direto até a biblioteca e se sentou no chão em uma parte vazia.

 

"Não acho que vir pra cá com a intenção de socialização é ingenuidade. Acho que pensar que todo mundo vem pelo mesmo motivo que é." uma voz masculina conhecida soou e ela olhou.

 

"Oi, Maurício!" ela cumprimentou não muito animada.

 

"Oi! Pode me chamar de Do Contra. O que faz aqui sozinha? Te vi mais cedo com Milena e pensei que estaria com ela." ele perguntou enquanto se sentava no chão ao lado dela.

 

"Ela é legal, mas 'tá sentada com um monte de gente que não conheço." a ruiva respondeu.

 

"Socialização não é isso? Falar com desconhecidos?" Do Contra perguntou.

 

"Não é assim que funciona." a moça respondeu.

 

O moreno a encarou.

 

"Você parece desanimada. Logo agora que faz parte do grupo de xadrez." ele comentou.

 

Ramona franziu o cenho.

 

"Como você sabe?" ela perguntou.

 

"Eu faço parte dele! Mas e ai? Está mal por causa da matéria da Denise? Não é todo mundo que concorda com ela." o rapaz disse.

 

A ruiva respirou fundo, no meio desse ato sentiu o perfume de Do Contra, era amadeirado e familiar.

 

"Trotes, apenas isso. Me responde uma coisa… foi você que me ajudou ontem na sala do zelador?" ela perguntou.

 

O rapaz riu.

 

"Sim, fui eu. Mas não sei se adiantou muito, já que no fim das contas você levou ovada." respondeu e ela sorriu.

 

"Ajudou um pouco, eu acho. Mas por que me ajudou?" perguntou.

 

"Eu me senti mal por não ter te ajudado muito no domingo. E sei como é ser novato!" Do Contra respondeu.

 

"Obrigada, pelo menos tem gente que se importa. Se for esperar pela direção…" ela reclamou e ele esticou a perna, mostrando seu all star sujo.

 

"Tem uma coisa que você precisa saber sobre o IL, Ramona. Aqui é escola de fidalgo, se você é filho de alguém importante, você sai ileso de qualquer coisa. E é por isso que pessoas como Toni, Penha, Cebola e Denise sempre se dão bem." ele revelou.

 

"Mas isso é injusto!" Ramona exclamou.

 

"Assim como a vida." ele disse simples.

 

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos até o rapaz se levantar.

 

“Eu vou nessa, recomendo não ficar muito aqui à noite. Ser esquecida aqui é bem fácil. A gente se vê.” ele disse saindo em seguida.

 

Ramona olhou para ele se afastando e quis sorrir, realmente quis, mas ao olhar para o jornal ao seu lado a vontade se foi.

 

                                         *

Mônica corria pelo refeitório à procura de Magali, assim que a achou, foi até ela.

 

"Magá! Preciso te perguntar uma coisa séria!" ela exclamou.

 

"Mônica, também precisava te ver. Pode falar primeiro." a outra disse.

 

"Sabe aquele porta-joias que fica na cômoda? De quem é?" perguntou.

 

"Meu, por quê?" Magali respondeu e a outra se sentiu aliviada.

 

"Ai, amiga! Eu fui jogar um travesseiro naquela chata e acabou acertando nele que caiu e quebrou. Prometo que trago um novinho quando eu sair daqui no fim de semana!" Mônica exclamou.

 

Magali sorriu compreensiva.

 

"Ah, não tem problema. Mas por que você ia jogar um travesseiro na Penha?" perguntou.

 

"Aquela menina colocou um travesseiro com moletom do meu lado e eu tomei um susto. Ela veio falar merda e eu fui revidar. Essa é a segunda parte do trote? Infantilidade?" a outra falou.

 

A de cabelos longos tombou com a cabeça.

 

"Não necessariamente. Era sobre isso que eu queria falar com você." ela disse e um grupo de rapazes passou rindo.

 

"Me chama também, Mônica." um deles disse.

 

"Sou bem discreto, saio cedinho!" outro disse e eles saíram rindo.

 

Mônica olhou para a amiga.

 

"O que foi isso?" questionou.

 

"O grupo de Penha até faz uns trotes 'leves', mas eles espalham boatos falsos. Às vezes eles desmentem, mas só no fim do ano. Então é o ano todo aguentando gente te zoando." Magali explicou.

 

A outra bufou.

 

"Ah, tenha paciência! E o que essa louca disse?" perguntou.

 

"Disse que você 'tava com um cara do seu lado na cama. Eu consegui contornar a situação com meu pai dizendo que era falso, mas sabe como são os boatos." Magali revelou.

 

Mônica riu sem humor.

 

"Mano… que gente desocupada!" ela exclamou.

 

"Esquece eles. Vamos comer que eu ‘tô com fome!" a outra exclamou.

 

As duas foram pegar suas refeições e Mônica encarou uma mesa que era bem iluminada e perto de onde vinha vento da área verde.

 

"Aquela ali é uma boa." ela apontou com o queixo e Magali fez uma careta.

 

"Logo aquela? Justo a que a Penha senta com o bando dela?" a outra questionou.

 

Mônica riu.

 

"Assim fica até melhor! Vamos lá, se eles quiserem, a gente se espreme pra caber todo mundo." ela disse.

 

"Não sei, Mônica…" Magali hesitou.

 

"Relaxa, vai dar certo!" a outra afirmou e as duas foram até lá.

 

Era perceptível o olhar que muitos alunos lançavam para elas, podia ser tanto por conta dos boatos que corriam sobre Mônica quanto pelo fato de estarem se sentando na mesa do grupo mais influente do internato. E, como esperado, não demorou para que os três aparecessem.

 

"Olha só… se perderam?" Cebola comentou.

 

"Não, se quiserem se sentar aí, fiquem à vontade." Mônica falou despreocupada.

 

"Você não entendeu, querrida. Essa mesa é nossa!" Penha exclamou.

 

"Engraçado, não 'tô vendo seu nome nela." a outra rebateu.

 

Magali estava alerta com uma das pernas fora do banco para caso precisasse se levantar, mas Mônica não tinha essa intenção.

 

"Mônica, né? Por que não vai sentar com o cara que você dormiu?" Toni comentou malicioso.

 

"Toni tem razão!" Cebola completou.

 

Mônica riu.

 

"Foi uma noite longa, sabe? Ah, que erro o meu, é claro que vocês não sabem. Devem durar pouco, beeem pouco." ela zombou e o sorriso dos dois morreu.

 

Magali crispou os lábios para reprimir o riso.

 

"E você? 'Tá rindo de quê?" Toni questionou.

 

"Olha como fala com ela, garoto!" Mônica apontou o dedo para o loiro, que a encarou.

 

"Escuta aqui, Mônica! Aqui é nossa mesa e sua amiguinha sabe muito bem disso. Então sai!" Penha disse sem paciência.

 

Mônica cruzou os braços.

 

"E se eu não sair? O que vai fazer?" ela perguntou.

 

Penha estreitou os olhos. Mas, para a surpresa dos demais, apenas se sentou e cruzou as pernas.

 

"Ué?" os rapazes balbuciaram.

 

A novata estreitou os olhos e voltou a comer.

 

O clima na mesa era péssimo, olhares de raiva se encontravam e ninguém dizia nada. Mas tudo acabou quando Penha abraçou o namorado.

 

"Sabe, Mônica, esse aqui é meu namorradoCheirroso, né? Deve dar até vontade." tentou provocar.

 

Mônica deu um gole em seu suco.

 

"É sim, adoro cheiro de abacaxi." ela disse pouco antes de jogar seu suco em Cebola.

 

"Você 'tá louca? Qual o seu problema, garota?" ele questionou olhando para a própria camiseta molhada.

 

"Revanche pelo que sua namoradinha fez hoje cedo! Assim ela vê que não ‘tá lidando com uma boba igual a ela." exclamou olhando para Penha que levantou e deu um soco na mesa.

 

"Agorra você me irritou, dentuça do carraio!" a outra exclamou e já ia partir pra cima de Mônica, que estava pronta para brigar.

 

Magali deu um grito e os meninos incentivaram Penha. Porém, o inspetor chegou.

 

"As duas! Pra direção!" ele exclamou.

 

As duas olharam para ele.

 

"Eu? Você sabe quem eu sou?" Penha perguntou.

 

"Uma garota encrenqueira. As duas, agora!" ele disse apontando para o corredor e as duas saíram da mesa.

 

Magali deixou a mesa e os meninos se entreolharam incrédulos.

 

"A Penha foi pra diretoria? A Penha?" Cebola questionou sem acreditar e o outro assentiu com a mesma reação.

 

                                               *

Não muito longe dali, Jeremias estava sentado com vários atletas, dentre eles estavam Cascão, Gabriela e Milena. Quando o rapaz fez sua inscrição, com Timóteo, foi convidado a andar com eles e aceitou após ver que muitos ali eram legais.

 

"Tá, este ano temos que ganhar do Colégio Limoeiro. O time ‘tá cheio de gente foda!" Cascão disse animado.

 

"De vôlei também! Isso é incrível!" Gabriela exclamou.

 

"Ai, gente, para que ‘tá me deixando triste." Milena comentou.

 

"Por quê? Não gosta desses esportes?" Jeremias perguntou.

 

"Não, é que virei capitã do time de futebol feminino. E não teve uma inscrição, só gente indo pro vôlei ou saindo da escola." ela respondeu desanimada.

 

"Relaxa, Mi, se precisar, a gente coloca um disfarce e joga com você." Cascão disse piscando um olho.

 

"Tá querendo me ajudar ou ferrar mais?" a cacheada perguntou com um riso.

 

"Virou capitã e perdeu a humildade? Que feio, Milena." Gabriela brincou.

 

"A verdade dói!" a outra também brincou fazendo os demais rirem.

 

Jeremias já havia acabado de comer quando olhou para o lado e viu uma pessoa.

 

"Gente, já volto." ele avisou se levantando.

 

"Vai lá, Sonic." Timóteo disse.

 

"Sonic?" o outro perguntou.

 

"Teu cabelo ainda ‘tá azul, ouvi uns caras te chamando assim." ele disse e o outro apenas saiu rindo.

 

                                        X

Sofia estava sentada sozinha em uma mesa terminando seu jantar. Até pouco tempo Denise estava com ela, mas a ruiva saiu para fazer alguma coisa.  A moça bebia seu suco quando sentiu um toque em seu ombro.

 

"Oi, Sofia!" o rapaz cumprimentou e a moça quase engasgou.

 

"O-oi, Jeremias. Me assustou." ela disse e ele sorriu.

 

"Foi mal. Vim te agradecer por ontem, você foi muito legal." Jeremias disse.

 

Sofia sorriu.

 

"Ah, que isso. Quer dizer... não fique tão feliz, eu… ‘tava cansada." ela falava tranquila até perceber que era observada por outros alunos.

 

O rapaz olhou de relance para onde ela olhava.

 

"Ah, entendi. Você tem que parecer bullie em público. Bom, então saiba que agradeço seu cansaço e lamento que tenha que fingir ser quem não é." ele disse deixando a moça sem palavras.

 

"Esse Sonic 'tá te enchendo, Sofia?" Denise apareceu já de braços cruzados.

 

Sofia negou com a cabeça e o rapaz levantou os braços.

 

"Já 'tô de saída, Miss fofoca." ele disse saindo em seguida.

 

Denise olhou para Sofia após observar Jeremias se afastando.

 

"Ele 'tava te enchendo, Sofia?" ela perguntou.

 

"Não! Ele veio… ah, esquece." Sofia disse pegando sua bandeja e saindo.

 

Denise franziu o cenho para isso.

 

                                            *

Após um tempo de espera, a vice-diretora falou separadamente com Mônica e Penha. Primeiro com Mônica, que apenas deixou claro que haviam regras sobre tumultos, mas que a perdoou por serem seus primeiros dias. Já com Penha, as coisas foram mais sérias.

 

"Penha, você sabe muito bem que sua situação aqui mudou! Sua mãe trabalha aqui pra compensar sua mensalidade, você não pode fazer essas coisas!" ela exclamou.

 

"Mas ela que começou!" Penha argumentou.

 

"E eu não conheço sua fama de bullie? Já disse que você precisa parar com isso! E saiba que mais alguma ocorrência, seus problemas serão bem maiores, moça! Pode sair!" a vice-diretora exclamou e a moça saiu irritada.

 

Assim que chegou no dormitório, as outras meninas estavam lá e a encararam.

 

"Cadê sua influência agora?" Mônica questionou sarcástica e Penha apenas a olhou feio e entrou no banheiro sem dizer nada.

 

Magali e Gabriela olharam incrédulas.

 

"Uau! Você calou a boca da Penha!" Gabriela exclamou.

 

"Talvez assim ela aprende que nem todo mundo tem medo dela. Tenho que ir falar uma coisa com a Isadora, eu entrei no grupo de teatro e nem sei de nada!" a morena disse saindo em seguida.

 

Magali olhou para Gabriela e, pela primeira vez, decidiu puxar conversa com ela.

 

"Que outras atividades você vai fazer?" perguntou e a outra se virou para ela ainda sentada.

 

"Nossa, eu vou fazer um monte de coisa! Tenho o vôlei, o teatro que prometi que faria e ainda tenho os estudos avançados e reforço em química. E você?" ela respondeu e fez uma pergunta.

 

"Ah, eu escolhi o vôlei, inglês e estudos avançados em biologia! Acho que vai ser legal." Magali respondeu e a outra riu.

 

"Legal eu não sei, agora produtivo… eu tenho certeza! Preciso terminar umas tarefas, depois falamos mais sobre atividades." ela disse e a outra riu assentindo.

 

Penha apenas foi para a sua cama e se cobriu até o rosto.

 

                                                *

Enquanto isso, fora dos dormitórios, Tikara e Xaveco riam enquanto esperavam o resultado de suas vinganças: o loiro havia substituído o shampoo de Toni por uma embalagem com água, tinta guache rosa e glitter; já o moreno havia pegado as roupas de Cebola que haviam ficado em cima da cama, era uma mania do rapaz deixar sua roupa lá antes do banho.

 

Os dois tentavam segurar o riso encostados na parede e não demorou para que os chuveiros desligassem e logo fossem ouvidas as vozes dos dois veteranos.

 

"Por que meu shampoo ‘tá com… o quê? Tinta?! Glitter?!" a voz de Toni soou raivosa.

 

"Quem foi o corno que pegou minhas roupas?" a voz de Cebola soou também zangada.

 

Os dois riram alto do lado de fora e, enquanto se divertiam com a revanche, esqueceram de correr dali. Sendo assim, não demorou para dois adolescentes enrolados em toalhas saírem e darem de cara com um Tikara que segurava as roupas de Cebola e um Xavier que ria até demais.

 

"Ah, vocês ‘tão fodidos!" Toni exclamou e os dois novatos correram dali.

 

"Não, Toni. Tenho uma ideia melhor!" Cebola impediu o loiro de correr atrás deles.

 

A dupla correu até a área verde e ficaram lá, rindo e tomando fôlego. Como já era quase hora do toque de recolher, logo voltaram prontos para lidar com a ira dos dois. Porém, para a surpresa deles, ou não, os dois veteranos barraram a porta com alguma coisa.

 

"Já que vocês dois são os fodões que zoam, durmam fora do quarto, otários." Toni disse do lado de dentro.

 

"Nem sabem fazer trote!" Cebola disse também dentro de seu quarto.

 

"Se a gente não sabe fazer trote, por que suas roupas estão com a gente e o cabelo do Toni deve estar rosa?" Tikara falou ousado.

 

"Como que é moleque?!" os veteranos falaram em uníssono prestes a abrir a porta.

 

"Corre, Xaveco, corre!" Tikara exclamou e os dois correram dali aos risos.

 

Os dois correram até a sala multimídia, onde se esconderam atrás dos sofás que tinham ali. Um inspetor entrou, olhou um pouco sem passar da porta e logo a trancou. Os dois olharam para a porta trancada e para a sala toda que era iluminada apenas pela luz da lua que entrava pela janela.

 

"A gente vai ter que dormir aqui, irmão." Tikara disse.

 

"Será que não vai dar merda amanhã cedo?" Xaveco perguntou.

 

O outro deu de ombros.

 

"A gente 'tá na merda de um jeito ou de outro, pelo menos peitamos aqueles dois idiotas. Mano, eu queria muito ter visto o Toni de cabelo rosa!" o moreno comentou risonho.

 

"Não sei se eu queria ver o Cebola de toalha, ele é meio sequinho." Xaveco falou baixo.

 

"Hã?" Tikara perguntou.

 

"Eles devem estar putinhos! Acha que vai sobrar pro Nik?" o loiro perguntou.

 

"Acho que não. E ele estuda aqui há dois anos, acho que uns truques de fuga ele já sabe." o de feições asiáticas disse.

 

Os dois se deitaram de frente para a janela.

 

"Acho que meu avô ficaria orgulhoso por eu ter ido até o fim com o trote, mas diria que fui um frango por ter corrido." Xaveco comentou com um riso.

 

"O meu pai eu não sei o que diria, eu nunca o conheci. Mas meu padrasto… acho que também não sei, não falo muito com ele." Tikara revelou.

 

"Tu não gosta dele?" o loiro perguntou.

 

"Não vejo como uma figura paterna, sabe? Mesmo que ele tente. Acho bom a gente dormir, temos que ficar atentos pra quando abrirem a sala amanhã." ele disse e o loiro assentiu com um bocejo, havia sido um dia cheio.


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