Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 23
Capítulo XXII - Reviravoltas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/798512/chapter/23

Os corredores do internato estavam barulhentos naquela segunda, o assunto era a festa e o quanto havia sido um bom momento. Muitos jovens pareciam bem animados com a semana, mas três pessoas em especial já imaginavam o quanto a semana seria complicada, uma vez que logo cedo tiveram que ir até a sala da direção.

 

Carlito falava ao telefone com alguém enquanto Magali, Jeremias e Do Contra estavam sentados no sofá em frente à mesa do diretor. Assim que o mais velho desligou o telefone, encarou cada um.

 

“Estive pensando, falando com algumas pessoas e cheguei a uma conclusão: eu autorizo o grupo de música.” falou e os três ficaram boquiabertos.

 

“O quê?!” perguntaram em uníssono.

 

“Qual é a pegadinha? O senhor é um vendi...” Do Contra falava até levar uma cotovelada de Jeremias.

 

“O que fez o senhor mudar de ideia?” Magali emendou uma pergunta.

 

Carlito deu de ombros.

 

“Não sou esse monstro que vocês pensam. E outra, o filho de um grande colaborador é novato e gostou muito dessa festa.” respondeu.

 

Magali e Jeremias sorriram enquanto o dono do topete revirou os olhos.

 

“Engraçado que só agora que o lucro veio que o senhor ficou favorável.” comentou.

 

“O que, garoto?” o diretor perguntou e Jeremias abraçou os ombros de Do Contra.

 

“O local! Algum responsável! Os instrumentos! Precisamos disso!” o novato falou forçando um sorriso.

 

“Isso eu deixo nas mãos de vocês. Não estão fazendo um levante? Então lutem!” o mais velho falou e os três franziram o cenho.

 

“Que maravilha!” Do Contra falou irônico.

 

Carlito riu.

 

“Agora se quiserem abandonar a ideia...” ele disse e os três negaram.

 

“Vamos até o fim!” Magali exclamou e ele assentiu.

 

“Ok, podem ir.” liberou-os e os três saíram.

 

Do lado de fora, Do Contra encarou os dois.

 

“Vocês têm medo dele, né?” ele perguntou com a feição entediada.

 

“Não se trata de ter medo dele, Maurício! E sim do que ele pode fazer, ele ainda é o diretor.” Magali explicou.

 

“O cara é um completo vendido, o jornal não me deixa mentir.” ele lembrou.

 

“Do Contra, eu sei que você é um cara de espírito rebelde, mas pensa bem! Tem mais gente envolvida nisso além de você. Ele pode até não te fazer mal, mas e com a gente? E com a Ramona?” Jeremias perguntou e o dono do topete mordeu o lábio, havia esquecido desse detalhe.

 

“Verdade, foi mal, gente. Me empolguei! Bom, ele deixou muita coisa nas nossas costas.” falou.

 

“Sim, precisamos de um dia da semana, um professor, um lugar, instrumentos... pensando bem... precisamos de tudo!” Magali comentou.

 

Os três fizeram uma careta de insatisfação.

 

“Tá, isso vai ser difícil. Mas acho que a gente consegue aos poucos.” Do Contra falou e os outros assentiram.

 

                                      *

Enquanto isso, na quadra, Átila tinha em mãos duas listas que continham os nomes de quem Cascão e Gabriela haviam escolhido para os times que representariam o internato na competição interescolar. Assim que terminou de ler, encarou os dois.

 

“Vocês têm certeza dessas escolhas?” ele perguntou.

 

“Sim!” responderam em uníssono.

 

“Olha, eu dei autonomia a vocês dois, mas tenho que atentar a alguns fatores: eu que irei treiná-los, já que vocês também vão participar dos jogos; precisamos do apoio da torcida, e com esse time eu não sei se isso vai acontecer; e tem o Carlito, o fator ‘escândalo’ e ‘puxa-saquismo’ entra na história.” Átila alertou.

 

“Não sei a Gabriela, mas eu fiz essa lista pensando nisso e na maneira que eu disse que agiria como capitão.” Cascão falou.

 

“Eu escolhi pelo que observei ao longo dos treinos e algumas aulas de educação física. Não adianta de nada eu colocar alguém que não vai levar a sério ou conseguir fazer o time ganhar.” Gabriela disse.

 

O professor respirou fundo.

 

“Certo... espero que tenham em mente que Carlito pode tentar mudar isso.” ele disse e os dois assentiram.

 

“Sim, mas ele nem liga tanto assim pra esporte.” Cascão comentou.

 

“Tudo bem, podem ir pra aula agora.” o professor falou e os dois saíram.

 

Gabriela e Cascão não se falavam há bastante tempo, nem mesmo na quadra. Aquilo estava deixando o rapaz desconfortável e o fazia se sentir culpado. Aproveitando que tinha um assunto em comum com ela, decidiu iniciar uma conversa.

 

“Decisão difícil essa de montar o time, né?” falou e ela o olhou.

 

“Pra mim não foi tão difícil assim, mas não duvido nada que alguém vai vir me encher por isso.” respondeu.

 

“Eu tenho certeza que muita gente vai me xingar, mas é aquele velho ditado: Foda-se!” ele disse e ela riu.

 

Os dois continuaram caminhando em silêncio quando o rapaz bufou.

 

“Gabriela! Foi mal, ok? A gente se envolveu num rolo enorme e eu nem perguntei como você ficou com tudo isso.” ele disse e ela suspirou e olhou para longe, atrás de Cascão, onde viu Toni que parecia acabar com a paciência de alguém.

 

“Cascão... só joga fora o que não tem mais nenhum significado e aproveita a vida!” a moça falou com um sorriso e o rapaz sorriu abertamente antes de puxá-la para um abraço.

 

“Fica bem!” exclamou e ela riu.

 

“Você também! Mas vamos falar de outra coisa? Quem você escolheu?” ela disse e logo os dois seguiram o caminho falando sobre os times.

 

                                      *

As aulas da manhã estavam passando de maneira lenta como sempre, porém, para a surpresa dos alunos, o professor de biologia entrou animado, o que era raro.

 

“Bom dia, meus queridos alunos! Trago ótimas notícias! Como estamos estudando os cinco reinos, Monera, Protista, Fungi, Plantae e Animalia, consegui uma autorização para acamparmos neste fim de semana! Ou seja, sábado quero ver vocês com as malinhas arrumadas para um dia em contato com a natureza! A vice-diretora, e coordenadora, Marocas irá conosco!” ele disse animado.

 

Alguns alunos comemoraram o fato de um dia fora da rotina, já outros reclamaram da escolha da atividade.

 

“Pra que mandar a gente pro meio do mato? Dá pra descobrir sobre essas coisas aí sem sair do IL.” Denise reclamou.

 

“Não, Denise! Vai ser bom sair desses muros um pouco!” Cascão comentou.

 

“Jeremias vai se sentir em casa!” Toni provocou.

 

“Vemos que você não sabe que uma fazenda e uma floresta são coisas diferentes, Toni.” Jeremias rebateu.

 

“Isso não é perigoso?” Xaveco perguntou.

 

“Não, fazemos isso todos os anos com alunos do segundo e terceiro ano e é tranquilo. É uma chance que vocês têm de interagir diretamente com os veteranos de vocês.” Rubens respondeu.

 

“Isso já aconteceu este ano, a gente chamou de trote da madrugada!” Nikolas comentou.

 

“Não se preocupem! Agora que já sabem a novidade... Abram as apostilas na página cem!” falou e logo se virou para a lousa.

 

                                               *

Assim que os alunos foram liberados para o almoço, Denise caminhava devagar rumo ao refeitório quando Sofia e Jeremias pediram que esperasse no corredor.

 

“O quê?” ela perguntou cruzando os braços.

 

Sofia estava com as mãos para trás.

 

“Nós dois sabemos o quanto sua saída do jornal foi algo triste pra você.” Jeremias começou e olhou para Sofia.

 

“Então Jerê e eu passamos nossa tarde de domingo na biblioteca e fizemos um presente pra você!” ela disse e entregou um caderno todo personalizado com a capa escrita “Melhores (ou piores) momentos de Denise no jornal” e adesivos, só aquilo fez a ruiva sorrir.

 

Assim que Denise abriu o caderno, escancarou a boca incrédula: os dois haviam feito alguns recortes de jornais antigos com as suas matérias, nas margens tinham mensagens que variavam entre piadinhas sobre algo escrito, desenhos, puxões de orelhas sobre matérias pesadas e outras coisas. O sorriso de Denise de repente sumiu assim que ela fechou o caderno e abaixou a cabeça.

 

“Ih... você não gostou? Foi ideia do Jerê!” Sofia disse apontando para o rapaz, que a encarou incrédulo.

 

“A ideia foi mais sua do que minha! Eu só ajudei! Mas eu disse que esse monte de coisa ia ficar exagerado!” ele disse e logo olharam para Denise, que riu e levantou a cabeça com algumas lágrimas nos olhos e um sorriso doce.

 

“Vocês dois não existem! Muito obrigada!” agradeceu sincera enquanto os abraçava fortemente.

 

Os dois retribuíram e fizeram um high-five sem que Denise visse.

 

“Só topei participar porque sua bad poderia atrapalhar o andamento do roteiro.” Jeremias brincou e a ruiva riu alto enquanto guardava o caderno em sua mochila após secar suas lágrimas.

 

“Chuchu, eu sei que você me ama! Eu causo isso nas pessoas!” ela disse jogando para o lado uma de suas marias-chiquinhas e abraçando a amiga pelo ombro.

 

“Não foi o que eu escrevi sobre uma matéria sua.” o rapaz provocou e ela riu irônica.

 

“Ah, eu conheço muito bem a letra da Sofia! Então vou saber o que você escreveu e tudo que for fofinho eu vou jogar na sua cara, e o que não for eu ignoro.” Denise disse.

 

Sofia olhou para os amigos com um sorriso, sentia-se extremamente confortável ao lado deles. A morena andava com eles quando ouviu uma voz feminina a chamar. Era Penha.

 

“Sofia! Eu posso falar com você? É rapidinho!” pediu.

 

Os outros dois olharam para a amiga que assentiu. Denise encarou Penha, ela tinha uma feição diferente da habitual, não havia marcas de superioridade ou deboche.

 

“Depois eu acho vocês, tentem manter a paz e harmonia sem mim.” Sofia falou.

 

“Com ela se achando assim? Vai ser difícil.” Jeremias falou e Denise riu.

 

“Vai ter que me aguentar, more!” falou e os dois saíram.

 

A dona dos cabelos compridos alisou o próprio braço enquanto Sofia cruzava os seus.

 

“Pode falar, Penha.” falou sem demonstrar muita paciência.

 

A outra não se incomodou com isso, apenas respirou fundo e olhou nos olhos de Sofia.

 

“Desculpe!” falou e a outra não escondeu a surpresa em ouvir a amiga pedindo desculpas.

 

“O quê? Você se desculpando?” questionou.

 

Penha baixou o olhar.

 

“Eu precisei me ver completamente sozinha pra ver que fui uma péssima amiga com você! Você foi a primeirra amiga que tive aqui e eu simplesmente deixei que falassem com você daquele jeito, não te apoiei quando você saiu do grupo quando viu que ‘tava te fazendo mal e... na verdade, acho que não te apoiei em momento nenhum de uns tempos pra cá.” confessou.

 

Sofia ficou alguns segundos em silêncio processando tudo, seu silêncio fez Penha assentir e se virar.

 

“Tudo bem, você tem motivos pra não me desculpar.” ela disse e já ia sair quando sentiu ser abraçada.

 

“É claro que te desculpo, Penha! Eu só ‘tô surpresa!” Sofia disse e a de cabelos compridos sorriu.

 

“Surpresa com o quê?” perguntou.

 

“Ah... é que você ‘tá diferente! Mesmo sabendo que no fundo você não é uma pessoa ruim, é surpreendente ouvir você pedindo desculpas pra alguém!” Sofia respondeu e a outra riu.

 

“É uma novidade pra mim também, mas é que eu querro ser uma pessoa melhor, sabe? Muita coisa tem acontecido na minha vida.” Penha falou e a outra sorriu.

 

“Que notícia maravilhosa! Fico muito feliz!” Sofia disse e Penha devolveu o sorriso.

 

As duas não seguiram o mesmo caminho, mas ambas tinham um grande sorriso orgulhoso.

 

                                                         *

Em uma mesa, Magali contava à Mônica sobre o que seu pai havia contado acerca do acordo que ele tinha com Denise. A novata olhou surpresa, mais ainda por nunca terem prestado atenção nisso.

 

“E eu ‘tô me sentindo culpada! Ela teve a liberdade de infernizar a vida de um monte de gente pra princesa aqui não ser zoada naquela droga de jornal! Que ódio!” Magali exclamou.

 

“Vish, miga. E eu achando que você ia me falar sobre como foi com o Cascão depois que a gente se desencontrou. Mas não se sinta culpada, você não sabia e foi seu pai que quis fazer acordo com o jornal, lembra disso!” Mônica disse e a outra passou as mãos no rosto e depois nos cabelos.

 

“Verdade. Eu nem ‘tava com cabeça pra pensar em Cascão, mas já que é isso que você quer saber... a gente foi até atrás da quadra e...” ela dizia e a outra sorria esperançosa.

 

“Se pegaram de novo! Me fala que foi isso, Magali!” a novata disse e a outra riu.

 

“Queria, mas não rolou. A gente sentou no muro e conversamos um pouco, tem um muro baixo e sem cerca elétrica aqui no IL e eu nem sabia!” ela disse e a amiga assentiu.

 

“Bom saber disso... mas e ai? Ficou só na conversa?” perguntou.

 

“Sim, mas não foi perda de tempo! Eu perguntei o que ele achou do meu beijo, e ele disse que foi muito bom!” ela respondeu e Mônica gritou, alto o suficiente para olharem para a mesa delas.

 

“Mônica! Eu não quero aparecer no jornal de novo!” falou e a amiga negou.

 

“Desculpe, não me controlei! Mas isso é ótimo, Magá! É a prova que vocês vão se pegar de novo!” exclamou e a outra riu.

 

“Bom... nunca se sabe. E você? O que fez quando nos separamos?” Magali perguntou.

 

“Me perdi de todo mundo, então não fiquei muito.” respondeu simples.

 

As duas iam continuar a conversa quando um membro do jornal apareceu na mesa.

 

“Oi, meninas! Magali, eu adoraria fazer uma entrevista com você e os meninos pro jornal de semana que vem.” ele disse.

 

“Semana que vem? Por que tão longe?” Mônica perguntou.

 

“Algumas mudanças estão acontecendo.” o rapaz respondeu.

 

“Eu não sei onde eles estão.” Magali respondeu à pergunta e ele bufou.

 

“O Jeremias é fácil de achar, agora aquele Do Contra... o menino some! Enfim, vou ver se encontro ele e volto pra te chamar!” ele disse e saiu.

 

“Entrevista? Acho que vou fazer que nem o Do Contra e dar uma sumidinha.” Magali disse e Mônica riu.

 

                                      *

A monitoria de matemática parecia estar mais divertida naquela tarde, os alunos do primeiro ano estavam bastante animados com seus resultados na prova e isso deixou Nikolas mais animado que o comum enquanto explicava um pouco mais sobre funções.

 

“Nik, confesso que ‘tô começando a gostar de função!” Luca comentou sorridente.

 

“Mas a monitoria fica melhor quando você vem meio cheirado.” uma garota brincou e ele riu.

 

“Não ‘tô cheirado. Só feliz por vocês terem ido bem na avaliação.” ele disse.

 

“Nik, chega aqui. Não entendi como chegou nesse resultado ainda.” Penha chamou e ele foi enquanto os demais conversavam entre si.

 

“Qual sua dúvida, Penhazinha?” perguntou e ela riu.

 

“Penhazinha? Eu sou alguns centímetros mais alta que você, querridinho. Então, eu não entendi de onde veio esse númerro, me perdi.” ela falou apontando para o caderno.

 

Era bastante comum que Nikolas ficasse bem perto da pessoa quando fazia alguma explicação, uma vez que ele acompanhava cada passo que a pessoa fazia ao realizar o cálculo. Porém, justo naquele momento, em que o rapaz estava perto, Penha lembrou do que sua mãe falou. Com a intenção de afastar os pensamentos, balançou a cabeça, mas seus cabelos bateram no rosto de Nikolas.

 

“Ai! Acho que um fio de cabelo seu entrou no meu olho.” ele comentou enquanto piscava freneticamente.

 

“Ih, foi mal. Vem cá, deixa eu assoprar.” ela disse se aproximando do rosto dele.

 

A moça segurou o rosto dele com as duas mãos e fez um bico para assoprar e de fato assoprou. Assim que Nikolas sentiu o cabelo sair do olho, conseguiu olhar para Penha e notou que estavam bem perto, seus olhos foram diretamente para o biquinho que ela ainda fazia, era como se ela fosse o beijar. Penha também tinha uma visão bem de perto do rapaz, e sua mente novamente pareceu brincar com ela a fazendo lamber os lábios.

 

“Nik! Dá um help aqui!” o chamado de Mônica despertou os dois que sorriram sem jeito.

 

“Ér... deu pra entender, Penha?” perguntou e ela assentiu.

 

“Sim! Valeu!” a moça agradeceu e ele logo foi até Mônica.

 

Os dois não entendiam ao certo o que acabara de acontecer, mas tentaram mudar seus próprios pensamentos.

 

                                                         *

Assim que a monitoria de matemática acabou, Mônica correu até a sala onde encontraria Cebola. O rapaz, como sempre, já estava lá.

 

Hello, Cebola!” cumprimentou animada e ele sorriu.

 

“Hello! You are so happy today! What happened with you?” perguntou e ela riu.

 

“Ah, o Nik ‘tava animadão hoje, ‘tava meio contagiante. E o fim de semana foi legal, isso anima a gente.” ela respondeu e ele assentiu.

 

“Entendeu minha pergunta? Acho que estamos avançando bem.” falou e só então a moça percebeu que havia entendido e começou a rir.

 

“Nossa, nem sei como isso aconteceu.” ela disse e ele riu.

 

“Me fala uma coisa... você ainda mata seus ensaios de teatro?” perguntou e ela negou.

 

“Isa me xingou tanto naquele dia que nunca mais eu fujo de um ensaio em toda minha vida. Por quê?”  ela disse.

 

“Porque hoje uns alunos do primeiro tinham um trabalho de música em inglês pra fazer e acho que isso pode ser bom pra você se aproximar mais da língua.” Cebola disse e ela assentiu.

 

“Acho uma ótima ideia! Mas quem sabe inglês aqui é você, então você começa cantando.” ela disse e ele franziu o cenho.

 

“Quem disse que eu vou cantar? Eu vou colocar a música e você diz o que entendeu.” ele falou.

 

“Vaaai! Pode ser divertido pra você também.” Mônica disse e ele riu enquanto pegava seu celular.

 

“Não, minha voz de anjo está cansada.” o moreno falou e ela riu debochada.

 

“Voz de anjo? Você?” ela perguntou.

 

“Exatamente. Que música você quer?” ele perguntou e a moça sorriu sapeca pegando o próprio celular, que estava guardado na mochila.

 

“Essa!” mostrou e ele leu antes de encará-la.

 

Countdown? Sério?” Cebola comentou.

 

“Exatamente! Agora coloca!” ela exclamou e ele riu enquanto colocava.

 

Os dois se sentaram e apenas o som da música era ouvido. Mônica olhou para Cebola e sorriu ao ver que ele cantarolava bem baixinho.

 

“Você gosta dessa música! Sem mentir!” ela disse e ele riu negando com a cabeça.

 

“Tá! Eu gosto de pop! É legal.” confessou e ela levantou o puxando.

 

“É mesmo, mas a gente não fica parado enquanto ouve Beyoncé.” ela disse enquanto dançava e o puxava para dançar também.

 

Cebola não relutou nem por um segundo, estava se divertindo ao lado de Mônica, ela segurando em suas mãos e pulando era ainda mais inspirador. Mônica, por sua vez, sorria por conta da ausência daquela falsa personalidade de Cebola, era muito mais confortável estar com o verdadeiro ele.

 

Os dois esqueceram da monitoria enquanto dançavam e riam, nem mesmo na festa haviam se divertido daquele jeito. Talvez fosse porque estavam apenas os dois ali ou pela energia positiva que um passava para o outro. Durante uma parte da música, que havia repetido algumas vezes sem que notassem, em que acontecia uma contagem regressiva, os dois se aproximaram bastante e quando chegaram no número três, já não cantavam, apenas se olhavam com sorrisos e um pouco ofegantes.

 

Quando chegou no dois, os olhos de Mônica foram até a boca de Cebola que mordeu seus próprios lábios após umedecê-los enquanto seu olhar estava todo voltado para a garota baixa à sua frente.

 

Quando chegou ao um, e a música acabou, Mônica não percebeu quando ficou nas pontas do pés e Cebola não percebeu quando abaixou a cabeça, mas os dois perceberam quando os lábios se tocaram, tanto que logo os olhos se fecharam e as mãos dela alcançaram sua nuca e as dele sua cintura. Os dois tinham um misto de curiosidade somada à atração, era como se tivessem urgência em explorar a boca alheia, mas ao mesmo tempo tinham vontade de aproveitar cada milésimo de segundo.

 

O ósculo só chegou ao fim por causa de uma batida na porta que os fez se afastarem um pouco perdidos.

 

“Hã? Pode entrar!” Cebola exclamou e um zelador entrou.

 

“Tá na hora de fechar a sala, Cebolácio! E que música é essa? Sabe que não pode mexer em celular!” ele disse e o rapaz balançou a cabeça.

 

“Nossa, eu perdi totalmente a noção do tempo. Ér... Mônica, pode ir!” ele disse e ela assentiu.

 

“Ah, sim. Obrigada pelo bei... pela monitoria! Foi ótima! Aprendi muito!” falou e pegou suas coisas e tropeçou no balde que o zelador carregava.

 

“Êêêh, menina! Olha por onde anda!” ele disse e ela se desculpou e quase trombou com a porta entreaberta antes de sair.

 

O zelador olhou para Cebola.

 

“Aconteceu alguma coisa aqui dentro?” ele perguntou.

 

“Monitoria.” Cebola respondeu óbvio.

 

“De quê? Como usar a língua?” o homem perguntou e outro forçou uma risada.

 

“Inglês é uma língua. Eu tenho que ir agora! Falou!” disse saindo rapidamente com suas coisas e o zelador riu enquanto começava a limpar a sala.

 

                                               *

O fim da tarde foi marcado com um chamado coletivo para a quadra, era o tão esperado momento em que os membros que formariam o time que iria para a competição interescolar seriam divulgados.

 

“Pessoal, é com muito orgulho que chamo aqui na frente nossos capitães Cássio e Gabriela para mostrarem quem escolheram para os times.” Átila falou e os dois foram até lá.

 

“Vamos começar pelo time de vôlei. Lembrando que as escolhas foram feitas por eles, que estiveram observando vocês durante esse tempo.” ele disse e pegou a lista de Gabriela.

 

“Vôlei feminino: Denise; Gabriela; Isadora, Penha...” ele lia e alguns nem ouviram o resto.

 

Na arquibancada, Penha tinha os olhos arregalados sentada ao lado de Nikolas, o momento de mais cedo parecia ter sido ignorado por ambos. Os amigos do rapaz também estavam lá e não se incomodaram com a presença da morena.

 

“O quê?! Eu ‘tô no time?!” ela questionou surpresa.

 

“Pela bolada que você me deu naquele dia, tinha que estar mesmo.” Nikolas comentou e os meninos riram.

 

“Você que é mole, Nik. Para de inventar desculpa!” Tikara comentou.

 

“Eu não gosto de vôlei, aquilo foi uma salvação.” o outro disse.

 

“Antes fosse só vôlei.” o de cabelos lisos falou.

 

“Você vai jogar em que posição, Penha?” Xaveco perguntou.

 

Penha ainda achava estranho ter os amigos de Nikolas falando consigo, por mais que os três se dessem muito bem, eram muito diferentes que o dono dos dreads.

 

“Não sei ainda.” respondeu.

 

Os nomes dos times de vôlei masculino e feminino haviam sido falados, e já seria dito os de futebol. Átila deu uma rápida olhada para Cascão que assentiu.

 

“Agora o time de futebol, mas não está em ordem alfabética. Timóteo, Xavier, Tikara, Cássio...” ele lia e a plateia já comentava surpresa, novatos haviam entrado para o time.

 

Xaveco e Tikara deram um forte high-five.

 

“A gente ‘tá no time, caralho!” Tikara exclamou.

 

“Novato fazendo história.” Xaveco comentou com um riso.

 

Assim que Átila terminou de ler, metade da quadra olhava atônita para Cascão, o motivo era não só pelo fato de ele ter escolhido novatos, mas principalmente por Toni e Cebola, que sempre entravam no time independente de qualquer coisa, não terem sido escalados.

 

“O Cascão ‘tá ficando maluco? Ele não escalou a gente, Cebola!” Toni exclamou.

 

“Eu ‘tô tão surpreso quanto você!” Cebola falou.

 

Diferente de Gabriela que não precisou explicar sua escolha, o falatório e xingamentos que Cascão recebia havia o feito pedir a palavra a Átila que concedeu. O rapaz tinha uma feição séria e decidida.

 

“Galera, deixa eu explicar uma coisa: durante esse tempo todo, eu reparei em todo mundo do grupo de futebol e anotei quem seria uma boa escolha, sendo novato ou veterano, por isso escolhi sim novatos pra representar o IL porque eu sei que eles conseguem. E desde que eu entrei, eu deixei claro que sou um cara de princípios, então quando o treinador disse que quem se metesse em encrenca iria pro banco, eu topei e deixei claro que quem fizesse bullying ou qualquer outro tipo de palhaçada desse tipo iria pro banco também.” começou.

 

“Um cara foda que eu queria no time apareceu há um tempo no jornal e até hoje ‘tá no banco por isso. Segui a regra. Não fazer bullying também é regra, então dois membros que sei que vocês queriam no time, e eu também porque são bons jogadores, que fizeram bullying, também ‘tão fora. Pode ser que outras regras do IL não funcionem pra eles, mas no nosso time, a regra vale pra todo mundo.” continuou e muitos começaram a cochichar.

 

“Por fim, treinador, Gabriela e o time de vôlei, Milena e o time de futebol feminino, meu time e torcida... essa é a minha visão, eu não coloco no time que vai representar o IL, todos nós, gente que fere os outros a troco de nada. Então, se vocês são contra meu pensamento, eu posso sair do time e outra pessoa assume. A escolha é de vocês.” concluiu.

 

A quadra se tornou silenciosa, todos estavam surpresos com a fala de Cascão. Por mais que fosse sabido que ele era contra o bullying, não imaginavam que ele teria coragem de aplicar as regras às duas pessoas populares, sendo um deles seu amigo. Um tímido aplauso surgiu no meio da multidão e foi se multiplicando em segundos sendo seguido por assobios e gritos.

 

“CASCÃO! CASCÃO! CASCÃO!” começaram a gritar e o rapaz olhou surpreso, já estava até pensando em quem indicaria para seu lugar.

 

Cascão sorriu e devolveu o microfone a Átila, que sorriu orgulhoso.

 

                                               X

Os membros do time precisaram ir assinar uma espécie de termo de compromisso, Átila era bem exigente. Assim que Tikara terminou de assinar, viu Milena, a pessoa que queria ter visto o dia todo que simplesmente sumiu.

 

“Mi! Por onde andou?” ele perguntou e ela sorriu.

 

“Coisas de aulas mesmo. Mas olha só... meu pupilo entrou no time! Que orgulho!” ela disse abraçando o rapaz que sorriu.

 

“Cascão é um cara legal. E seu time? Sei que são poucas, mas acho que o povo deveria conhecer.” ele disse e ela sorriu fraco se afastando um pouco.

 

“Ah... o futebol feminino foi cortado do interescolar.” revelou e ele olhou surpreso.

 

“Nossa... eu lamento.” o rapaz disse e ela negou com a cabeça.

 

“Não, tudo bem. A gente meio que já sabia! É mais pela diversão!” Milena disse e ele sorriu.

 

Os dois ficaram em um silêncio constrangedor. Tikara queria falar sobre a noite de sábado, mas não tinha coragem.

 

“E então? Conseguiu pegar o Xaveco?” ela perguntou e ele riu.

 

“Eu fui um idiota em correr atrás dele. Primeiro porque ele sumiu, e segundo porque eu te deixei sozinha, foi mal.” ele disse e a moça negou com a cabeça.

 

“Tudo bem, até que foi engraçado você correndo atrás dele. Bom... eu preciso ir, as meninas precisam de um pouco de ânimo depois de agora.” a veterana disse e ele assentiu.

 

“Tá bom.” O moreno falou abrindo e fechando os braços sem saber se a abraçava ou se apenas acenava, haviam quase se beijado no fim de semana e o fim foi bem desastroso.

 

Milena se afastou um pouco e logo olhou para trás com um sorriso.

 

“Que cabeça a minha, ‘tava esquecendo de te dar os parabéns por ter entrado no time.” ela disse retornando.

 

Tikara franziu o cenho.

 

“Hã? Mas você me parabenizou, Milena.” falou e ela riu.

 

“Sim, mas não do jeito que eu queria.” a moça falou e foi até ele.

 

O rapaz não estava entendendo nada, mas foi ela o abraçar e lançar um olhar fixo em sua boca que ele entendeu o recado, ela queria beijá-lo, mesmo depois do fiasco que fora o sábado. Faltavam milímetros de distância entre eles quando ouviram um apito forte atrás deles que se separaram em um pulo.

 

“O que os pombinhos pensam que estão fazendo?” era Átila ali.

 

“Nada, treinador. Eu só ‘tava parabenizando o Tika por ter entrado no time.” ela disse enquanto pousava a mão no ombro dele que assentia.

 

“Apenas isso.” ele falou zangado.

 

Átila estreitou os olhos.

 

“Bom, tenho que ir animar as meninas. Tchauzinho.” Milena disse e saiu rapidamente.

 

O novato já ia sair quando Átila o impediu.

 

“Tikara, sei que ela andou te treinando e isso é bom, Milena é uma excelente jogadora, mas você está no time agora. E é novato, ou seja, precisa mostrar mais ainda que não foi um erro ter sido escolhido. Namoricos são distração, e distrações são um problema para o time, e nesse caso pra vocês dois.” ele disse e logo saiu.

 

Tikara revirou os olhos irritado.

 

“E essa agora... Universo, será que é pedir demais beijar aquela deusa sem ser interrompido? Ela vai desistir de mim, universo! Assim você me fode!” reclamou olhando para o teto da quadra e logo deixou o local sem ânimo algum.

 

O resto da tarde não demorou a ceder lugar para a noite e a semana pareceu recheada de atividade, que praticamente impediam a comunicação dos alunos, pareceu voar. Em um piscar de olhos, o grande dia de um passeio em conjunto fora do internato havia chegado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Música usada no capítulo

Countdown - Beyoncé



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Internato Limoeiro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.