Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 24
Capítulo XXIII - Natureza


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Ainda era cedo, mas o sol já estava quente. Os adolescentes dos segundo e terceiro ano estavam no parque ecológico e caminhavam no gramado um pouco úmido enquanto ouviam Rubens falar.

 

“Temos aqui um clássico exemplo de fungo, galera! Não é impressionante?” ele comentou animado apontando para um cogumelo e alguns alunos reviraram os olhos.

 

“Claro que é, professor. Acordar oito da manhã pra vir andar no mato embaixo desse sol é o melhor programa de fim de semana do mundo!” Cebola respondeu fazendo alguns colegas rirem.

 

“Sem gracinhas! Vamos continuar a trilha.” o professor falou e os jovens continuaram o caminho.

 

Denise e Sofia estavam ao lado de Jeremias, a ruiva tinha seu braço entrelaçado ao dele e a outra tirava algumas fotos de plantas.

 

“Nem pra você oferecer sua fazenda pra gente visitar, Jerê. Seria muito mais legal que andar nesse mato.” Denise comentou ajeitando seu moletom, que estava na cabeça, a fim de proteger a cabeça e o pescoço do sol.

 

“Tá se convidando pra ir na casa dele, Denise? Nossa.” Sofia comentou risonha.

 

“Miga, eu conheci a vó dele e ela gostou de mim, imagina o tanto de podre que eu não ia descobrir desse rapaz!” a ruiva disse e Jeremias riu.

 

“Pensei que tinha saído dessa.” ele falou.

 

“Jamais!” Denise exclamou e a outra riu.

 

“Como ela conhece sua avó, Jerê? ‘Tô achando vocês muito próximos, hein...” Sofia perguntou e o rapaz riu.

 

“Foi por acaso, mas eu estou sonhando ou você também tem ciúmes de amizade?” ele perguntou e ela negou.

 

“Não, só acho engraçado que vocês nem se falavam e agora até o bracinho ‘tá junto.” respondeu apontando para o braço de Denise junto ao dele, a ruiva não se moveu.

 

“Tá esperando o que pra juntar também? Vamos fazer uma corrente.” Denise sugeriu rindo e Jeremias abriu o braço para Sofia entrelaçar o dela e ela riu enquanto fazia isso.

 

“Olha que gracinha, atrapalhando os outros na trilha.” Jeremias comentou.

 

Sofia ainda sorria com eles quando ouviu uma conversa atrás de si.

 

“Olha o Jeremias! Acha que ele ‘tá pegando a Denise?” uma garota perguntou.

 

“Não sei, mas se estiver ele tem sorte e ao mesmo tempo não. Pegou a princesa e acabou levando o dragão junto.” um garoto respondeu rindo com os amigos.

 

O sorriso de Sofia morreu enquanto ela tirava seu braço do de Jeremias, fazendo com que ele e a outra a encarassem, eles não haviam ouvido a conversa.

 

“Aconteceu alguma coisa, Sofia?” Jeremias perguntou.

 

“Não! É só... é só o calor! O sol ‘tá muito quente.” mentiu e Denise a observou, mas não disse nada.

                                                                            *

Um pouco mais à frente, próximo do professor, Ramona mal havia aberto sua sombrinha roxa com flores amarelas quando ouviu risos.

 

“A outra ali trouxe sombrinha! Quantos anos você tem? Noventa?” uma garota zombou e a ruiva apenas deu de ombros.

 

“Você ‘tá rindo de quê? Ela ‘tá se livrando do sol e você aí. Cadê seus gados pra emprestar boné?” Nimbus defendeu e a moça o encarou feio.

 

“Grosso!” ela exclamou e o rapaz riu.

 

Ramona sorriu envergonhada.

 

“Obrigada, Nimbus.” agradeceu e ele sorriu para ela.

 

“Imagina. Legal a sombrinha!” ele disse rindo e logo voltou a falar com amigos.

 

Ramona, sem perceber, ficou alguns segundos observando o rapaz enquanto Rubens falava sobre plantas. Quase se assustou ao sentir alguém entrar embaixo de sua sombrinha, mas não se surpreendeu ao ver que era Do Contra.

 

“Oi! Posso me esconder aqui? Tem gente me perguntando se participar do levante dá nota e eu cansei de falar que não.” falou e ela riu voltando seu olhar para a direção de Nimbus.

 

“Ué, isso também é visibilidade.” comentou e ele negou.

 

“Mas não é uma visibilidade boa. Pra onde você ‘tá olhando?” o moreno disse e seguiu o olhar da amiga. Ao reparar em quem ela olhava, com aquele olhar, suspirou.

 

“Eita... não sabia que você era a fim do meu irmão.” Do Contra comentou calmamente e ela o encarou de olhos arregalados.

 

“O quê? Eu não...  Eu admiro! Ele é um cara legal! Só devo ter conversado com ele tipo uma vez e... é isso.” Ramona falou e o amigo riu.

 

“Calma! Não é um interrogatório. É que... tipo assim... acho que você não faz muito o estilo dele.” ele falou e ela franziu o cenho.

 

“Como assim? Qual seria o tipo dele? Por curiosidade.” a moça perguntou e ele olhou para os lados, estavam perto apenas de Rubens.

 

“Eu chuto que tipo o Xavier.” sussurrou e a ruiva tombou a cabeça.

 

“Xavier? Aaaah! Entendi!” falou e o outro assentiu.

 

“Pois é, mas ninguém sabe, então é um segredinho nosso.” ele disse piscando um olho e a ruiva assentiu.

 

“Claro, sem problemas.” falou e ele assentiu.

 

“Não fica triste, 'tá? Você pode acabar achando alguém parecido com ele pelo IL.” consolou e a moça riu.

 

“Ficar triste por um crush não correspondido? Eu era invisível na outra escola, Do Contra, nunca tive um crush que não fosse platônico.” Ramona revelou rindo e ele riu.

 

“Quem sabe se sua sombrinha fosse vermelha? Dizem que é a cor do amor.” o rapaz comentou e a moça não evitou o riso.

 

                                                                          X

Um pouco atrás deles, Tikara, Xaveco, Nikolas e Penha caminhavam sem prestar atenção em nada que Rubens falava, os dois atletas conversavam com Penha e o outro usava o celular escondido.

 

“Por que vocês dois ‘tão com a mochila do Timóteo e de mais alguém que não sei quem?” Nikolas perguntou guardando o aparelho, Marocas estava perto.

 

“Ah, nós dois somos novos no time, então é meio que um trote.” Tikara respondeu ajeitando a alça da mochila.

 

“Carregar peso dos outros? Eu chamo de idiotice.” o dono dos dreads comentou.

 

“Não ‘tá pesado! E outra, melhor que sofrer trote no vestiário, vai por mim.” Tikara comentou com um riso.

 

Penha estava com uma camisa xadrez na cabeça e espantando alguns insetos enquanto Xavier a enchia de perguntas.

 

“E tipo assim, o que vocês fazem pra nunca se ferrar?” o loiro perguntou.

 

“Opa! Essa eu também quero saber!” Tikara se aproximou.

 

A moça riu, toda a estranheza de se aproximar de novas pessoas parecia sumir se tratando deles.

 

“A gente só fala o que eles não querrem ouvir e como muita gente nos idolatra, tentar ferrar com a gente pode ferrar pra eles. E eu, particularmente, consigo acabar com alguém só com o olhar.” respondeu e os dois riram.

 

“Duvido! Você não é tão chata assim.” Tikara falou.

 

Penha o encarou de um jeito frio.

 

“O quê?!” exclamou e ele desviou o olhar incomodado.

 

“N-nada.” respondeu e ela riu.

 

“Viu?” ela disse e os dois negaram com a cabeça.

 

“Como você lidou com esse olhar, Nik?” Xaveco perguntou ao amigo, que riu e olhou para Penha.

 

“Não sei. Em um momento eu perdi o medo.” respondeu e ela sorriu para ele.

 

Antes que ele falasse mais alguma coisa, sentiu ser abraçado pelos ombros. Era uma garota de cabelos castanhos cacheados do terceiro ano.

 

“Nikzinho, meu amor, temos que conversar!” a garota disse e Penha a encarou dos pés à cabeça.

 

“Fala, Hortênsia!” Nik respondeu sem se importar muito com a aproximação dela.

 

A moça olhou para Penha.

 

“A sós.” pediu puxando o rapaz para trás.

 

Penha franziu o cenho se sentindo mais incomodada do que queria.

 

“Quem é essa?” perguntou.

 

“Se você que já estudava aqui não sabe, imagina eu! Já vi eles conversando umas vezes lá na biblioteca, mas nunca perguntei quem era.” Xaveco respondeu.

 

“E nunca tiverram curriosidade?” ela perguntou e os dois negaram.

 

“Não, ainda mais depois do fora que ele levou da Mônica! Nem nos metemos mais no assunto ‘vida amorosa do Nik’.” Tikara comentou com um riso e o loiro deu-lhe uma cotovelada.

 

“Tikara!” repreendeu apontando para Penha com a cabeça.

 

Antes que Tikara respondesse, Timóteo se aproximou deles.

 

“Novatos! Juntem-se a nós!” falou puxando os dois com a intenção de dar mais tarefas a eles, como levar suas garrafas de água.

 

Penha negou com a cabeça enquanto olhava para trás algumas vezes.

 

“Ei, Penha! A Gabriela ‘tava te procurando pra falar de um treino hoje.” era Flávia ali.

 

“Aff! Não ‘tô a fim de treinar hoje, não.” respondeu se virando para ela.

 

“É importante, né?” a outra comentou, às vezes as duas conversavam quando estavam na aula extracurricular de pintura, mais ainda desde que Penha vinha tentando melhorar seu comportamento.

 

“Me fala uma coisa... conhece aquela menina ali?” comentou apontando com a cabeça para a direção em que Nikolas estava e Flávia olhou.

 

“A Hortênsia? Sim! Ela é do terceiro ano e sei que é amiga da Narcisa, então deve ser do jornal também.” respondeu e a outra crispou os lábios.

 

Nikolas logo retornou e parecia desanimado.

 

“E ai? Quem erra aquela?” Penha perguntou.

 

“A Hortênsia. Você não conhece ela? Oi, Flávia!” perguntou e a outra cumprimentou de volta.

 

“Não e nem tenho vontade.” respondeu fria.

 

“Que pena, porque você vai.” Nikolas respondeu forçando um sorriso, algo que a fez cruzar os braços.

 

“Por quê? Porque ela é sua namorradinha?” perguntou e ele negou enquanto Flávia se interessava pela conversa.

 

“Não! De onde você tirou isso?” o rapaz perguntou e Penha deu de ombros.

 

“Sei lá, vocês parrecerram bem próximos. Pensei que você conhecesse pouca gente.” ela disse.

 

“Eu conheço bastante gente, só não sou amigo de todos. Ela é do terceiro ano e também é da monitoria de matemática, por isso.” explicou e ela riu se sentindo um pouco aliviada.

 

“Pensei que você erra o único maluco que gostava tanto assim de matemática.” ela falou e ele fingiu estar ofendido.

 

“Suas palavras machucam, Penha. Meu coração está em lágrimas.” o rapaz brincou e a moça riu alto junto de Flávia.

 

“Nem peguei pesado!” Penha exclamou e ele riu.

 

“Nik, dá pra dar uma forcinha aqui?!” a voz de Xaveco, que carregava cinco garrafinhas de água, suplicou e o amigo foi ajudá-lo.

 

Penha se virou para Flávia, que tinha um sorriso malicioso.

 

“Que carra é essa?” perguntou e a outra levantou os braços em rendição.

 

“Nada. Só acho legal você e o Nikolas.” ela disse e a outra deu de ombros e, sem perceber, olhou para onde os meninos estavam e percebeu que ele olhava para ela, no mesmo instante, os dois desviaram o olhar.

 

                                               *

Já era cerca de uma da tarde quando Rubens deu um momento de pausa para os adolescentes comerem seus lanches. Diferente do que os alunos esperavam de um dia fora do internato, aquele dia estava bastante entediante, o fato de o sol estar quente e o professor falar o tempo todo de coisas relacionadas à disciplina contribuíam para isso.

 

“Podem dar umas voltas antes de irmos embora, mas perto, hein?!” autorizou enquanto se sentava em um tronco.

 

Após alguns minutos, em um outro tronco, Magali se sentou sozinha enquanto olhava em volta, Mônica havia sumido de suas vistas. A veterana gostava das explicações de Rubens, mas também estava achando aquele dia muito cansativo. A moça bebia água quando alguém se sentou ao seu lado. Era Cascão.

 

“E ai, Magá!” cumprimentou e ela sorriu.

 

“Oi, Cascão! Não tenho te visto durante a semana toda! ‘Tá se escondendo de mim?” ela perguntou e ele negou.

 

“Nada, o Átila ‘tá pegando muito no meu pé. Mas você também anda sumida!” respondeu.

 

“Meu pai não ‘tá ajudando o grupo de música com nada, a gente ‘tá tendo que ir atrás de tudo e ‘tá difícil.” ela explicou.

 

“E como ‘tá? Conseguiu alguma coisa?” o rapaz perguntou.

 

“Conseguimos só os instrumentos, que já são nossos, e uma sala não deve ser tão difícil assim. Mas ainda temos que achar um melhor horário, dia, um professor... Olha, Cascão... se eu soubesse que seria tão difícil assim, teria pensado duas vezes antes de topar entrar!” ela disse com um riso.

 

Cascão também riu enquanto colocava as mãos na nuca.

 

“Acho que todo mundo é meio assim. Na emoção do momento é tudo aquilo, mas depois dá uma canseira...” ele disse e ela o olhou.

 

“É, mas vale a pena. Igual o que você fez no time! Achei sua atitude incrível!” ela disse.

 

O moreno riu enquanto olhava para o chão.

 

“Sabe, Magali, agora eu sei porque você ficou tão pilhada naquele dia.” ele disse.

 

“Hã?” a moça perguntou de cenho franzido.

 

“Sua decisão de ir contra o que seu pai diria e ter cantado foi foda pra caramba e me animou pra ir fundo com minha ideia de montar o time do jeito que eu montei. Mas depois que eu fiz isso, eu super entendi seu surto.” Cascão começou.

 

“Dá um medão ter que lidar com gente te julgando pela sua escolha, mesmo sendo boa. Um monte de gente aplaudiu, mas o Cebola não fala comigo desde aquele dia, o Átila direto fala que o time que eu escolhi precisa ser muito bom, os puxa-sacos dos populares me olham torto... e isso é tão estranho!” desabafou.

 

Magali o olhou por alguns segundos e sorriu compreensiva enquanto tocava em sua mão.

 

“Cascão, relaxa! Você não passou pano pros bullyings dos populares! Isso é um passo gigantesco pra mudar esse tanto de injustiça do IL. Você é um grande capitão e seu time vai ir bem! Mas, pra gente saber disso, precisa aceitar o desafio.” falou repetindo uma parte do conselho que ele deu quando ela não sabia que decisão tomar a respeito do show.

 

O atleta a encarou com um sorriso.

 

“Quero te ver torcendo por mim.” falou e ela assentiu.

 

“Pode contar comigo!” exclamou e o rapaz a abraçou.

 

Ambos gostavam da sensação boa que compartilhavam, mais ainda quando estavam tão perto. O abraço durou pouco, mas, antes de se separarem, trocaram um olhar bem parecido com aquele de quando estavam sentados no muro, porém, diferente daquele dia, quando se aproximaram não foram interrompidos por algum inspetor.

 

Os dois aproximaram os rostos um do outro e fecharam os olhos. Em questão de segundos, os lábios se tocaram levemente formando um beijo calmo. O ato não durou muito já que um som de alguém limpando a garganta os interrompeu. Era o professor.

 

“O que estão fazendo?” perguntou.

 

“O que parece, professor.” Cascão respondeu simples enquanto Magali sentia o rosto queimar.

 

“Ainda estamos em um tipo de aula, sabiam?” ele questionou.

 

“Tá chata igual.” Cascão comentou baixo e Magali o deu um cutucão.

 

“Cascão! Desculpe, professor Rubens!” a moça se desculpou.

 

“Hunf! Seu pai não vai gostar nada de saber o que você anda fazendo, dona Magali.” alertou e a morena levantou do tronco.

 

“Ah, ‘sor! Meu pai não precisa saber disso! Pode ser um segredinho nosso, por favor!” ela pediu juntando as mãos e o mais velho suspirou.

 

“Tudo bem, mas ‘tô de olho!” falou e saiu de lá.

 

Cascão também levantou.

 

“Professor Rubens sempre tira a diversão das coisas, esse passeio aqui ‘tá uma chatice!” comentou.

 

“Eu tenho que andar na linha, ainda sou estudante de um internato.” Magali comentou e o rapaz riu.

 

“Pensei que tinha abandonado a carreira de princesa do IL.” zombou e ela riu.

 

“Eu perdi meu título, lembra? Com sua ajuda, inclusive.” respondeu e ele levantou as mãos em rendição.

 

“Só falei umas palavras. Mas não fica triste, você pode não ser mais a princesa do IL, mas ainda é uma princesa.” Cascão falou com um sorriso enquanto piscava um olho.

 

Magali corou.

 

“Ah, Cascão! Para de falar essas coisas.” falou brincando com uma mecha de cabelo e o rapaz riu.

 

“Não ‘tá mais aqui quem falou. Tenho que ver umas coisas com os meninos, ‘tão fazendo trote com Xaveco e Tikara e podem pegar pesado. A gente se vê.” falou beijando-a na bochecha e saindo em seguida.

 

A morena umedeceu os lábios enquanto sorria observando o rapaz se afastar.

 

                                               *

Sentados na grama, Mônica deslizava as mãos nos cabelos de Cebola, que estava com a cabeça deitada em seu colo. Os dois, desde o dia em que se beijaram pela primeira vez, estavam ficando em segredo. Naquele momento, inclusive, estavam um tanto afastados dos demais.

 

“Esse seu cafuné deixou meu dia melhor, sabia?” ele comentou e ela riu.

 

“Ficaria melhor se você voltasse a falar com o Cascão, não acha?” Mônica sugeriu e ele bufou enquanto se sentava.

 

“De novo isso, Mônica? Ele não me colocou no time! Eu pensei que a gente era amigo!” Cebola exclamou e a moça cruzou os braços.

 

“Pera lá, Cebola! Você fala como se você tivesse sido um santinho nesse tempo todo. O Cascão teve um ótimo motivo pra te barrar do time!” ela disse e ele suspirou.

 

“Mas eu sou um bom jogador!” defendeu-se.

 

“Pode até ser, mas fez merda e precisava ver que tudo tem consequências! Na minha opinião, o Cascão mostrou ser seu amigo de verdade justamente por tentar fazer você ver isso.” Mônica disse.

 

Cebola crispou os lábios enquanto as palavras da moça o atingiam em cheio.

 

“Talvez eu fale com ele. Mas e se agora a gente parasse de falar dele e desse uns beijinhos?” ele perguntou fazendo um biquinho que a moça beijou várias vezes.

 

Os dois continuavam se beijando quando ouviram alguém se aproximar e se esconderam atrás de um arbusto. Eram Milena e Felipe.

 

“Felipe, para! Você seguiu em frente há um tempão e fez questão de esfregar isso na minha cara! Me deixa seguir em frente também!” a moça exclamou e o rapaz bufou.

 

“É por causa daquele Tikara, né?” Felipe perguntou.

 

“Não! É porque eu cansei e precisamos pôr um ponto final.” ela disse e o loiro bufou e saiu sem dizer nada enquanto ela se escorava em uma árvore.

 

No arbusto, Mônica olhou para Cebola.

 

“Vamos lá falar com ela.” sugeriu e ele olhou incrédulo.

 

“Tá maluca? Eu evito ao máximo falar com ela. Passado é passado!” o rapaz disse e a moça deu de ombros.

 

“Tá bom! Eu falo!” ela disse saindo de lá.

 

Mônica não conversava muito com outras pessoas além de Magali, mas tinha facilidade com conversas.

 

“Tava aí esse tempo todo?” Milena perguntou ao ver a outra se aproximar.

 

“Sim. Eu acabei ouvindo sua conversa.” Mônica disse e a outra deu de ombros.

 

“Bom, se algum dia for se envolver com o Felipe... boa sorte. Eu não tenho sorte, Mônica! ‘Tá bom que agora tem o Tika... ele é um amor e eu gosto muito dele, mas sei lá...” Milena desabafava sem nem perceber.

 

“Eu também já tive muito azar com moleques. Mas sabe, Milena, ainda tem uns carinhas legais por aí. Não sei como é sua relação com o Tikara, mas você falou o nome dele de um jeitinho...” comentou e a cacheada riu.

 

“É que eu tenho medo de me magoar de novo e de magoar ele. A gente quase ficou duas vezes, mas sempre dava alguma merda. Talvez seja um sinal...” ela confessou, Mônica transmitia confiança.

 

“Vou te contar um segredo. Eu não ficava com ninguém desde que saí da outra escola, na minha cabeça qualquer um iria espalhar boatos igual ele fez. Mas esse carinha que eu ‘tô ficando... é diferente. Eu não ia com a cara dele no começo, e ele é bem metidinho e irritante, mas ele tem mostrado ser uma pessoa... nem sei como dizer!” ela disse sorrindo abobada e a cacheada riu.

 

“Irritante e metido? Você ‘tá ficando com o Cebola?” perguntou brincalhona e a outra arregalou os olhos sentindo a voz sumir.

 

“Eu ‘tava brincando, mas parece que você ‘tá mesmo!” comentou com um riso.

 

Mônica suspirou.

 

“Acho que mentir agora ficaria impossível.” falou e a outra riu mais.

 

Na moita, Cebola engoliu em seco. Seu rompimento com Milena não havia sido um dos melhores, então, tinha em mente que ela falaria algo que fizesse Mônica desistir de ficar consigo, estava prestes a levantar de lá e tomar uma atitude impensada quando a conversa continuou.

 

“Comigo o Cebola era um cara meio confuso e ridículo, Mônica. Dá pra notar que aquela popularidade dele sobe à cabeça às vezes. Mas você fala dele de um jeito que faz parecer que com você é diferente.” Milena confessou e a outra olhou sem entender.

 

“Como assim?” perguntou.

 

“Faz tempo que eu fiquei com ele, talvez ele tenha amadurecido. Ou então com você as coisas são realmente diferentes. Se for isso, aproveitem.” a veterana explicou e Mônica sorriu abertamente.

 

Cebola observava tudo com a boca aberta. Se Milena, que o xingou inúmeras vezes quando romperam, sequer tentou impedir Mônica de se envolver, o que o impedia de também seguir em frente? Ou até mesmo o que o impedia de fazer o que ele mesmo dissera à Mônica e deixar o passado, e todas as suas máscaras, no passado? Pensando nisso, saiu da moita.

 

“Oi, Milena!” cumprimentou e ela acenou com a cabeça.

 

“Cebola! Não se preocupem, não vou falar pra ninguém sobre vocês. Mas vê se não faz merda, garoto.” ela disse saindo em seguida.

 

Mônica sorriu para o rapaz, que a encarou por alguns segundos também sorrindo. Cebola não entendia como era possível um sentimento crescer tanto em tão pouco tempo, mas não queria que isso parasse, com ela realmente era diferente. O moreno ia se aproximar dela para um beijo quando ouviu a voz de Toni.

 

“Cebola, o que você ‘tá fazendo aqui?” ele perguntou.

 

A voz de Toni lembrou o rapaz o motivo de não deixar o passado, e suas máscaras, no passado: ele ainda era um popular, e gostava dos privilégios que isso trazia.

 

“Nada.” respondeu seco e Mônica revirou os olhos.

 

“Oi, Moniquinha! Sabe o que Isadora me disse? Logo vamos ensaiar juntos! Ou seja, já posso treinar minhas cantadas e as beijocas.” o loiro disse fazendo um biquinho e a moça o olhou feio.

 

“Toni, se toca! Para de falar merda!” Cebola xingou.

 

Toni olhou surpreso para o amigo.

 

“Hã? Espera aí... ‘cês dois ‘tão...” perguntou apontando para um e depois para o outro.

 

Mônica cruzou os braços e olhou para o moreno, que engoliu em seco. Cebola sabia que só tinha duas respostas, mas ambas tinham alguma consequência: se dissesse que sim, Toni poderia o alertar sobre relacionamentos entre populares e não populares, algo que não queria ouvir; se dissesse não, Mônica ficaria irritada, algo que não queria fazer. Diante da dúvida, decidiu ignorar o conselho de Mônica.

 

“Não, a gente só ‘tava conversando.” respondeu e o outro assentiu.

 

“Ah, tá. Mas e ai, Mônica...” o loiro falava até a moça rir sem humor.

 

“Me esquece, garoto! E Cebola, não se preocupe, só vou falar com você no reforço, não vou te incomodar mais fora dele.” Mônica disse e saiu pisando duro.

 

Toni observou com um riso.

 

“Ih, cara. A menina emputeceu do nada. Surtada!” falou e saiu de lá risonho.

 

Cebola suspirou enquanto passava a mão no rosto.

 

“Eu sou um idiota!” xingou-se.

 

                                               *

Tikara havia conseguido fugir dos colegas de time por alguns minutos, o rapaz decidiu dar umas voltas quando viu Milena sozinha sentada em um tronco olhando para o nada. Fazia um tempo que não se falavam, principalmente por o conselho de Átila ter soado como ameaça.

 

O rapaz a observou com um sorriso e se aproximou sorrateiramente da moça, que parecia distraída.

 

“Um beijo pelos seus pensamentos.” sussurrou e Milena, por impulso, deu um soco no rosto do rapaz.

 

“Ai! Tikara? Nossa! Desculpe!” ela disse se aproximando do rapaz que massageava a bochecha.

 

“Já vi que requisito de capitão é ter mão de ferro.” ele comentou sem perceber.

 

“Hã?” ela perguntou e ele negou.

 

“Não é nada, não.” falou e a moça deslizou sua mão no rosto dele.

 

“Eu te machuquei, né? Desculpe, Tika! É que você me assustou, eu sempre tenho que ficar alerta com aqueles meninos da quadra me enchendo e...” ela falava e ele riu.

 

“Calma! ‘Tá tudo bem. Não é o primeiro soco que eu levo. No que ‘cê ‘tava pensando? Parecia estar distante.” ele disse e ela riu tirando a mão do rosto dele e se sentou novamente, deixando espaço para ele se sentar também, e ele o fez.

 

“Relacionamentos passados. Hoje eu falei com o Felipe, pus um ponto final na nossa estranha relação.” revelou e o rapaz não segurou o sorriso.

 

“Nossa, que situação complicada.” falou com um sorriso enorme fazendo a morena rir.

 

“Pela sua cara vejo o quanto ficou triste.” a moça comentou irônica e ele riu.

 

“Não vou mentir, eu não gosto do Felipe e nem ele de mim.  Não posso dizer que fiquei triste, Mi.” Tikara falou e ela assentiu.

 

“Acho que nem de mim ele gosta, ele só quer um estepe.” a moça falou.

 

“Que cara idiota!” o dono das feições asiáticas comentou e a cacheada assentiu enquanto o olhava bem.

 

“Faz tempo que você não fala comigo. O Átila te assustou?” perguntou e ele desviou o olhar.

 

“Ele não me assustou! Ele só... bom...” Tikara falava confuso.

 

“Se te tranquiliza, ele sempre fala aquilo, mas na real ele não dá a mínima.” ela revelou e o rapaz olhou com um riso.

 

“Sério? E eu realmente acreditei naquilo? Que merda, hein?!” comentou.

 

“Não se culpe, Átila pode ser amedrontador.” Milena falou com um riso.

 

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos até o rapaz respirar fundo e decidir tomar coragem.

 

“Milena! Aquele dia na quadra... você ia... você ia me beijar?” perguntou e ela assentiu.

 

“Ia! Mas eu ‘tava pensando que ter dado errado talvez fosse um sinal.” respondeu e Tikara engoliu em seco quase sentindo o coração falhar uma batida.

 

“Hã?” perguntou e ela o olhou.

 

“Mas... eu vi que não era isso, era só... sei lá! Só sei que eu gosto de você, Tika.” Milena revelou e ele sorriu abobado.

 

“Mileninha, eu gosto de você desde a primeira vez que te vi, não brinca com meu coração desse jeito.” Tikara falou e ela riu.

 

O rapaz olhou para a moça que, como na primeira vez que haviam se visto, o sol batia em seu rosto trazendo um brilho a mais na pele negra e nos cachos. Os dois estavam bem perto, tanto que os joelhos se tocavam. Tikara queria muito beijá-la, mais ainda após ter a certeza que ela também gostava de si, mas queria que fosse o momento perfeito então estava planejando enquanto tinha seus olhos nos dela. Milena, por sua vez, também queria beijá-lo, o interesse que vinha nutrindo por Tikara crescia conforme ele mostrava interesse, além disso, tinha curiosidade em saber como seria o beijo de um rapaz bonito como ele, que estava na sombra, mas o brilho estava nos olhos.

 

De súbito, a moça o puxou para um beijo quebrando todos os planos de Tikara que, no fim das contas, sentiu-se melhor ainda por ela ter tomado a atitude e ter lhe propiciado a descoberta do sabor que aqueles lábios carnudos possuíam. Por mais que já tivesse idealizado algumas vezes, ele se surpreendeu, era melhor do que imaginava, tanto que aprofundou com sua língua. Já Milena, também se surpreendeu, via Tikara como um rapaz que tinha atitudes, mas que com ela ficava tímido, então, vê-lo beijá-la com fervor era uma surpresa boa.

 

O beijo parecia melhorar cada vez mais conforme as mãos de um passeavam pelos cabelos e nuca do outro, porém a voz zangada de Rubens os interrompeu.

 

“Mas será possível? Este parque ecológico inspira tanto assim vocês? Milena e Tikara, podem ir se separando!” ele repreendeu e dois pararam o beijo.

 

“Desculpe, professor Rubens.” ela disse enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha.

 

“Não vai se repetir.” Tikara falou lambendo os lábios.

 

Rubens se virou e os dois se entreolharam com um sorriso antes de darem um selinho. O loiro se virou novamente, de olhos estreitos, e os dois disfarçaram.

 

“O quê? A gente ‘tá esperando o senhor sair pra gente sair também.” Milena falou segurando o riso.

 

“Vão na frente, vou ver se tem mais adolescente aqui perdido.” falou e os dois saíram risonhos.

 

                                               *

Xaveco estava entediado junto de Timóteo e outros rapazes do time, então decidiu deixar o local e ir atrás dos amigos. Porém sentiu ser puxado para fora da trilha.

 

“Mas o quê?” ele questionou e olhou em volta.

 

“Xavier! Faz tempo que ‘tô adiando essa conversa, já que você sempre ‘tá com aqueles perdedores ou tem gente no dormitório.” era Toni.

 

O cacheado bufou.

 

“O que foi agora?!” questionou.

 

“Por sua culpa, eu fui tirado do time!” exclamou e o outro riu sem humor.

 

“Ué, você faz bullying e a culpa é minha? Ah, vai se foder!” exclamou mostrando os dedos médios.

 

“O que você disse, moleque?” perguntou se aproximando de Xaveco, que não se mexeu, em vez disso, cruzou os braços.

 

“Mandei você ir se foder! Eu cansei, Marco Antônio, cansei! Desde que eu coloquei meus pés naquela merda de internato você enche meu saco! Por quê? Eu nunca fiz nada pra você!” Xavier desabafou furioso.

 

Toni recuou, mas não queria demonstrar hesitação.

 

“É porque você é novato.” respondeu e o outro riu.

 

“Teu rabo! Tem um monte de novato e é só em mim que você bate, só em mim você vem descontar suas raivas... Por que você faz isso, cara?” questionou e o outro bufou.

 

“Porque você é fraco!” o veterano respondeu alto.

 

“E o que você tem a ver com isso, Toni? Se eu sou fraco ou não, isso é um problema meu!” rebateu e o outro ia retrucar quando Xaveco pareceu perceber algo.

 

“Espera aí... você me puxou pra fora da trilha. A gente ‘tá perdido! Uma cobra vai aparecer aqui! Ou então um urso! Um...” falava desesperado andando de um lado para o outro.

 

“Calma, garoto, a trilha é...” Toni falava e Xaveco o olhou feio já sem a pouca paciência que lhe restara.

 

“Ah, cala a tua boca! Olha a merda que você me meteu só pra vir me falar merda! Sabe de uma coisa, Toni, você é muito bom em ameaçar, bater, beijar as meninas, enfim, mas isso nunca vai mudar o fato de que você é um lixo que se acha melhor que todo mundo, mas não é porra nenhuma! Eu tenho pena de você!” exclamou sério.

 

Toni estava boquiaberto e sem argumentos, nunca haviam falado assim com ele em todos os anos de internato e, além disso, vários pensamentos advindos das falas de sua mãe, de Gabriela e do próprio Xaveco vieram à tona, e isso era algo que queria fugir.

 

Antes que ele conseguisse dizer alguma coisa, uma voz chamou o novato. Era Nimbus. O de cabelos cacheados suspirou aliviado enquanto o outro colocou sua melhor expressão de presunção.

 

“Tá vendo, Xavier? Mandaram o Nimbus atrás de mim! Quem é o lixo agora?” ele riu e sua surpresa foi que o moreno passou reto.

 

“Caramba, Xaveco! Por que você saiu da trilha? Deixou um monte de gente preocupada! Sorte que eu conheço bem essa região. Ah, o Toni ‘tava com você! Gabriela foi a única que comentou que não via ele há um tempo.” Nimbus disse e o de cabelos lisos olhou atônito.

 

“Gabriela? Só ela?” Toni perguntou e o outro nem respondeu.

 

“É até muito! Foi mal por ter preocupado a galera, Nim.” Xaveco falou e o mais velho reparou na expressão irritada que Xavier olhou para Toni.

 

“O Toni ainda te incomoda, Xaveco?” ele perguntou.

 

“Sendo bem sincero, Nimbus, incomoda! Eu vou ir ver os outros, valeu mesmo por vir atrás.” respondeu saindo em seguida.

 

Toni ia sair dali quando Nimbus o impediu.

 

“Ô Toni, por que você não mexe com alguém que sabe que vai revidar?!” questionou sério.

 

“Ai, Nimbus, não ‘tô com cabeça pra seu moralismo, não.” Toni falou.

 

“Engraçado que todo mundo tem que ter cabeça pra ouvir as merdas que você fala. Escuta aqui, Marco Antônio, diferente de você, o Xavier ‘tá no time, e você sabe que eles cuidam dos deles! Então fica esperto! E outra, se por acaso você irritar ele de novo e o time não fizer nada, eu vou fazer!” Nimbus falou sério e saiu zangado em seguida.  

 

Toni riu sem humor, mas no fundo sentiu algo que nunca pensou que sentiria: estava com inveja de Xavier. O novato parecia estar em um degrau muito mais alto que ele, fosse pela maneira de resolver os problemas, sem violência física, ou fosse pelo apreço que todos tinham por ele, uma vez que muitos se preocuparam com seu sumiço. De repente, toda sua popularidade se reduziu a nada. O loiro sentia um nó na garganta quando ouviu uma voz feminina.

 

“Toni! O que você ‘tá fazendo aí ainda? O Rubens ‘tá chamando pra ir pro ônibus. Ele disse que ninguém ‘tá dando a devida importância.” era Gabriela.

 

O rapaz, sem falar nada, foi até a loira e a abraçou. A moça olhou confusa antes de se afastar.

 

“O que você ‘tá fazendo, moleque?” ela questionou.

 

“Obrigado! Obrigado por ter lembrado de mim.” sorriu e saiu em seguida.

 

A loira olhou confusa, mas seguiu o caminho.

 

Rubens e Marocas fizeram uma outra chamada após repreenderem Xaveco e Toni e todos foram para o ônibus. Julgando pelas mistas expressões dos jovens, algo dizia que aquela tarde de sábado ainda estava longe de acabar.


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Notas finais do capítulo

Hortênsia apareceu na edição "Encontro marcado", da primeira série de TMJ.



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