Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 22
Capítulo XXI - Diálogo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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O beijo entre Magali e Cascão havia ativado inúmeras emoções, e não havia sido apenas nos dois. Gabriela havia visto o beijo e não conseguiu se mover enquanto encarava a cena, que doía. Assim que pararam, e logo saíram correndo, trombaram consigo e sequer a viram.

 

A loira riu sem humor enquanto ia até a mesa pegar um pouco de ponche, não havia provado até então. Assim que levou o copo à boca, engasgou-se ao virá-lo de uma vez.

 

"Inexperientes têm que ir com calma, sabia?" uma voz masculina soou e a moça bufou.

 

"O que você quer, Marco Antônio? Isadora não 'tá aqui pra forçar a gente a interagir!" exclamou.

 

"Tem razão, mas temos que ser independentes, não acha?" sugeriu e a loira suspirou enquanto enchia mais um copo.

 

"Vamos lá pra fora." ela falou séria e ele riu.

 

"Tá me chamando pra brigar? Menina corajosa!" falou e a moça não evitou um riso.

 

Do lado de fora havia algumas pessoas, mas não pareciam se importar com quem quer que os rodeasse. Gabriela se sentou em um banco e o rapaz fez o mesmo.

 

"E ai? Se divertindo enquanto bebe por um amor não correspondido?" perguntou e ela arregalou os olhos.

 

"Como você sabe?" ela perguntou e foi a vez de Toni ficar surpreso.

 

"Eu 'tava brincando. Mas já que você revelou… aposto que é o Cascão." supôs e ela bufou. Já ia dar outro gole rápido em sua bebida quando ele segurou sua mão a impedindo.

 

"Pelo jeito que você engasgou, acha mesmo que virar desse jeito é uma boa ideia?" ele perguntou.

 

Gabriela tremeu a mão. Em segundos, ela simplesmente jogou a bebida no gramado, junto do copo, e abraçou os joelhos, onde escondeu o rosto. Por mais que Toni tivesse literalmente falado sobre a bebida, ela criou outra interpretação: beber, algo que nunca fazia, por conta da cena que presenciara não iria deixá-la melhor.

 

"Como você consegue ser tão desprendido?” ela perguntou de repente.

 

O rapaz deu um gole em sua bebida enquanto cruzava as pernas.

 

“Sei lá, eu me importar demais só vai me deixar na merda. Sem ofensas.” respondeu e ela revirou os olhos.

 

“Mas não se importar com nada já é demais! Como ele pode já estar ficando com outras enquanto eu ‘tô aqui sofrendo?! Isso não é justo!” Gabriela disse e ele riu, ela estava desabafando.

 

“Queria que ele ficasse sofrendo pra sempre? Na real, nem você devia estar sofrendo.” Toni falou sincero.

 

“Você acha que eu não sei disso? Duvido que você saiba como é ser rejeitado, então não tem moral pra falar nada.” ela disse e ele riu.

 

“Você realmente acha que eu fico com toda mina que dou em cima? Não é assim que funciona, mas eu tenho em mente que em algum momento eu vou me decepcionar com a vida, e é isso.” ele disse e a moça o encarou boquiaberta.

 

Toni riu enquanto olhava dentro de seu copo.

 

“Cacete... essa foi profunda! O que mais colocaram nesse ponche além de álcool?” ele perguntou e a moça riu, esquecendo um pouco de sua decepção.

 

“Você às vezes é um cara interessante. Pena que faz bullying.” comentou.

 

“Eu não faço bullying, só faço algumas brincadeirinhas e mostro quem é que manda.” o rapaz explicou.

 

“Acho que nem você acredita nisso. Sabe... as pessoas que você irrita também se decepcionam com a vida e têm que lidar com isso e com as suas idiotices. Imagina, Toni, você passou por uma dessas suas decepções e vem um escroto que fica te enchendo sem você fazer nada pra ele, não seria pior?” ela perguntou e ele bufou.

 

“Eu sei mais sobre isso do que você imagina.” rebateu.

 

“Então por que continua fodendo com a vida dos outros? Aquele dia você disse que todo mundo só conhece uma parte sua, não tem como conhecer as outras e mudar a imagem que temos de você se você nunca mostra!” ela disse e o rapaz revirou os olhos.

 

“Por que o foco veio em mim de repente? Vamos, vou ser um cara legal e vou te ajudar.” falou enquanto pegava o copo que ela havia jogado.

 

“Me ajudar? Em quê?” a loira perguntou.

 

“Se desprender! O primeiro passo é jogar fora o que já não significa nada a você. Eu já volto!” ele disse entregando o copo plástico a ela e saindo correndo em seguida.

 

“Esse menino acha que caio nesse papo de coach...” comentou com um riso presunçoso.

 

Gabriela encarou o copo em suas mãos por alguns segundos enquanto lembrava da cena que presenciara e de outros momentos com Cascão. Após isso, jogou o copo no lixo enquanto soltava o ar pela boca. Toni não demorou a retornar com as mãos para trás, como se escondesse algo.

 

“Pronto? O passo dois é aproveitar!” falou e ela o encarou.

 

“Como assim?” perguntou e ele logo mostrou uma bola de vôlei.

 

“Você não gosta de vôlei? Bom, agora você vai jogar contra um bêbado sem ser a capitã dele.” ele disse jogando a bola para ela.

 

A loira pegou a bola na mão e a encarou antes de sorrir e logo lançar de volta para ele. Toni era um péssimo jogador de vôlei e falava demais enquanto jogava, mas, sem se dar conta, Gabriela já não pensava no beijo de Magali e Cascão, nas aulas, nas responsabilidades de uma aluna bolsista, na posição de capitã do time de vôlei, em nada! Apenas focava em se divertir, e só ali percebeu o quanto sentia falta disso.

 

                                                         *

Nem tão perto e nem tão longe dos dois, Do Contra estava deitado no gramado quando viu alguém se aproximar. Era Ramona.

 

“Te encontrei! ‘Tá cheio de menina te procurando.” ela comentou.

 

“Justamente por isso estou aqui, estou fugindo. Só te vi agora, ‘tá bonita hoje.” respondeu e ela riu passando as mãos nos cabelos.

 

“Você também ‘tá, mesmo que esteja com a camiseta preta que sempre te vejo aos fins de semana. Parabéns pelo show, foi muito legal. E tenho notícias quentíssimas! Eu ouvi pessoas falando que agora viram um motivo pra ser favorável ao levante!” Ramona exclamou e ele sorriu.

 

“Isso é ótimo! ‘Tá tudo indo bem mais longe do que pensei que iria!” o moreno disse e ela riu se sentando ao lado dele.

 

“É até assustador! Acha que o Carlito vai barrar?” ela perguntou.

 

“Não sei, mas agora temos mais força!” Do Contra respondeu.

 

“E talvez mais haters, mais exposição...” ela dizia até ele tocar em seu ombro.

 

“Ramona... não se preocupe! Você não ‘tá sozinha!” ele disse e ela deu de ombros.

 

Os dois ficaram em silêncio apenas sentindo o vento que começava a ficar gelado e alguns sons de insetos noturnos que ficavam no gramado.

 

“Você disse que veio pra cá porque queria interagir mais. Acha que na sua antiga escola teria esse resultado se depois do levante você voltasse pra lá?” o rapaz perguntou de repente.

 

Ramona riu.

 

“Vai parecer estranho o que eu vou dizer, mas... acho que, a essa altura do campeonato, eu prefiro o IL em vez da minha escola antiga.” a ruiva revelou e ele a encarou surpreso.

 

“Sério? Por que você odiava tanto assim sua antiga escola? Bullying?” perguntou e a moça negou.

 

“Nem todo mundo tem lembranças ruins da escola por causa de bullying, tanto que eu nunca sofri durante o tempo que estudei lá. Mas eu era muito excluída. Por um tempo, eu não me importei com isso, até gostava da minha própria companhia, mas às vezes... eu me sentia meio solitária.” começou e o rapaz a olhou interessado.

 

“Aqui no IL, por mais que tenha momentos de raiva, eu fiz alguns amigos muito legais. Mas e você? Gostava da sua antiga escola?” concluiu com uma pergunta ao fim e ele olhou para o céu.

 

“Ah, eu já era o menino estranho lá. Então as experiências não são tão diferentes assim.” ele comentou com um riso.

 

“E isso nunca te incomodou?” a moça perguntou.

 

“Na verdade, não! Eu escolhi seguir um estilo, e se eles não aceitam... fazer o quê?” falou e ela sorriu enquanto reparava em Do Contra: seus alargadores e outros adereços na orelha, seu topete cheio de gel e até seu esmalte já descascado pareciam brilhar, talvez fosse pela luz da lua, ou talvez fosse pela sinceridade que o amigo emanava.

 

“Sabe, Do Contra... acho que quem não tenta te conhecer ‘tá perdendo uma grande oportunidade.” Ramona disse e ele riu enquanto a olhava.

 

“Eu digo o mesmo de você, Mona.” falou e ela sorriu.

 

Os dois caíram em outro momento de silêncio, mas não era desconfortável, era, na verdade, algo estranhamente reconfortante.

                                               *

Durante a correria, Magali e Cascão se separaram dos demais. O rapaz a guiou até um lugar bem iluminado que a moça não se lembrava de já ter ido, ficava atrás da quadra, onde havia um muro baixo e sem cercas elétricas e alguns caixotes encostados ali. Cascão subiu nos caixotes e estendeu a mão para Magali, que a pegou e ambos se sentaram no muro. O muro era relativamente grosso, possibilitando assim que se sentassem de uma maneira mais confortável

 

“Não sabia que tinha um lugar desses aqui! Um muro baixo desses e sem cerca elétrica...” ela comentou e ele riu.

 

“De dia aqui é usado pelos funcionários pra fumar e eles sabem que alguém pode tentar fugir. Mas aos fins de semana têm uns horários tranquilos que não têm ninguém, então tem gente que usa pra fugir do internato.” ele disse.

 

“Incrível como eu, que estudo aqui faz tempo, nem sonhava na existência desse lugar!” ela disse e ele riu.

 

“Ah, é que você não fica aqui em fim de semana. O tédio é tanto que dá vontade de desbravar.” o rapaz falou e Magali assentiu olhando para a rua movimentada.

 

Cascão a olhou, o vento balançava os cabelos da moça que parecia diferente de todos os outros dias. Parecia ter um brilho no olhar e um sorriso automático.

 

“E ai? Hoje deve estar sendo uma noite e tanto pra você!” ele comentou e ela riu.

 

“Sim! Eu vi meu pai e meio que falei na cara dele que queria deixar de lado o rótulo de filha perfeita do diretor.” revelou e ele riu.

 

“Corajosa! Acha que ele surta?” perguntou e a moça deu de ombros.

 

“Acho! Mas sabe... agora eu posso dizer que pelo menos uma vez eu dei voz à adrenalina correndo solta nas minhas veias. E isso é uma sensação única!” exclamou e ele assentiu.

 

“Sei como é. ‘Tô orgulhoso!” falou e ela suspirou.

 

“Obrigada, Cascão! Devo muito a você!” ela disse e ele negou.

 

“Eu só dei uma ideia, você podia muito bem ter negado.” o moreno disse e a moça o olhou bem.

 

A troca de olhares entre eles já não era mais a mesma, era como se os dois tivessem vontade de se aproximar mais e mais, mas ainda faltava coragem. O som do relógio da igreja começou a badalar, eram onze da noite, horário combinado para a festa acabar.

 

Magali sabia que precisava ir embora, havia feito um combinado. Sabia mais ainda que talvez ouviria seu pai falar muito em seu ouvido. Diante desses pensamentos futuros, decidiu ter mais um ato de coragem da noite.

 

“E ai, Cascão... como foi... como foi o beijo?” ela perguntou tímida.

 

Cascão lambeu os lábios.

 

“Essa é uma pergunta difícil, eu não sei te responder como foi, só que foi bom. Muito bom.” falou com um sorriso que fez a moça sorrir mais.

 

Os olhares se tornaram serenos, estavam bem perto. Perto suficiente para outro beijo. Mas, para o azar dos dois, o celular da moça tocou alto os fazendo se afastar. Magali atendeu com o semblante frustrado, era seu pai.

 

“Eu tenho que ir, meu pai foi embora, mas mandou um uper. Tenha uma boa noite, Cascão.” ela desejou após dar um beijo na bochecha do rapaz e descer do muro.

 

Cascão sorriu.

 

“Boa noite!” desejou e observou a moça se afastar a passos rápidos enquanto lembrava do beijo e sentia vontade de repetir o ato.

 

                                               *

A noite passou depressa depois das onze. Diferente dos outros domingos, aquele tinha bastante alunos, principalmente por terem bebido do ponche alcoólico e não terem a mínima vontade de darem satisfação aos pais.

 

No dormitório 226B, Denise acordou com o sol batendo em seus olhos e se assustou ao perceber que estava no internato. Assim que se sentou na cama, sentiu a cabeça girar e olhou para frente, onde Milena ajeitava os cabelos.

 

“Que horas são?” a ruiva perguntou com a voz sonolenta.

 

“Nove. Hoje estenderam o horário de café da manhã, então se correr consegue comer.” a outra respondeu.

 

Milena já ia deixar o local quando se virou para a ruiva.

 

“Denise, muito legal sua ideia da festa. Foi incrível.” falou e a outra riu.

 

“Você me elogiando? Vai chover hoje! Mas a ideia real da festa foi do Tikara, eu só coloquei em prática.” Denise confessou e a cacheada pareceu pensar por um instante.

 

“Ah... legal.” ela disse e saiu.

 

Denise ouviu o estômago roncar e foi rapidamente fazer sua higiene para ir tomar café da manhã. Assim que deixou o quarto e foi até o refeitório, que estava todo molhado, pegou seu café da manhã e foi até Sofia, que comia tranquilamente.

 

“Bom dia, Sofia! Não acredito que ‘tô aqui em pleno domingo!” ela disse e a outra riu.

 

“Ontem você bebeu demais, Denise. Tanto que você tentou beijar um certo alguém!” falou e a outra deu um gole em seu café.

 

“Quem?” perguntou e a amiga alargou o sorriso.

 

“O Jerê!” exclamou e a outra engasgou.

 

“O Jeremias?! O nosso amiguinho?! Caramba!” Denise exclamou incrédula com as mãos nos olhos e a outra ria.

 

A ruiva tirou a mão de um dos olhos e encarou Sofia.

 

“E tipo assim... eu consegui?” perguntou tentando fingir desinteresse.

 

Sofia olhou maliciosa.

 

“Por que a pergunta? Queria ter conseguido?” perguntou.

 

“Ah, Sofia... não vou mentir, ok! O Jeremias é bonito!” ela disse e a amiga riu.

 

“Você não conseguiu, lamento. Mas, me fala... Pegaria?” perguntou e a ruiva deu um gole em seu café desviando o olhar.

 

“Acho que nem preciso de resposta depois dessa!” Sofia falou com um riso.

 

Logo o assunto delas apareceu no refeitório e várias meninas estavam em seu encalço.

 

“Olha lá! As menininhas do primeiro ano tudo em cima dele!” Denise comentou negando com a cabeça.

 

“Não são só menininhas do primeiro ano.” Sofia apontou para uma conhecida cabeleira rosa, que fez a ruiva bufar.

 

Jeremias logo foi até elas.

 

“Tá fazendo sucesso, hein? Até a Narcisa.” Denise comentou e Sofia começou a rir.

 

“Só vieram me dizer que gostaram de ontem, nada demais.” ele disse.

 

“Nossa, pegou todas elas ontem?” a ruiva perguntou.

 

“Não. O que é tão engraçado, Sofia?” Jeremias respondeu fazendo uma pergunta ao fim e Sofia limpou o canto dos olhos.

 

“Nada não, é que Denise tem ciúmes de amizades, Jerê.” respondeu e o rapaz sorriu para a ruiva que tinha um bico e braços cruzados.

 

“Ah, meu coração é muito grande, não se preocupe.” o novato brincou enquanto abraçava a ruiva que riu, mais ainda pela feição maliciosa de Sofia.

 

“Sofia! Eu ‘tô vendo essa tua cara safada aí!” comentou.

 

“Cuidado, Sofia, estamos diante da chefe do jornal. Irritar ela pode ser um perigo.” Jeremias brincou e Denise negou com a cabeça.

 

“Era, querido. Eu ‘tô fora do jornal.” confessou e os dois arregalaram os olhos.

 

“O quê?!” perguntaram em uníssono.

 

“Os outros membros se juntaram pra me tirar e pelo visto ‘venderam’ o jornal pro Carlito já que o conteúdo vai mudar. Aposto que sempre teve alguém que ficava repassando tudo pra ele!” a moça explicou.

 

“Nossa, Dê! Sinto muito!” Sofia disse e Denise negou com a cabeça.

 

“Ah, relaxa. Eles logo vão ver que manter um jornal sem as polêmicas que eu levava vai ser difícil.” ela disse com um riso.

 

Jeremias parecia ligar algumas peças.

 

“Há pouco tempo a Narcisa veio me chamar pra fazer parte do jornal, queria que eu fosse pra coluna de arte.” comentou.

 

“E você aceitou?” as duas perguntaram.

 

“Não, eu não ‘tava a fim de caçar mais trabalho.” o rapaz respondeu.

 

“Não deixa de entrar por minha causa, Jeremias. É uma boa oportunidade de visibilidade pro levante.” Denise falou.

 

Jeremias riu.

 

“O levante já ‘tá bem visível, tanto que acho que o Carlito vai surtar. E, como eu disse, não quero mais trabalho.” ressaltou.

 

“É... e também sabemos que sem mim você não duraria uma semana lá. Eu era a alma de lá!” exclamou e os outros dois se entreolharam.

 

“Sinto muito, Denise. Sei o quanto você gostava do jornal.” ele disse e a ruiva suspirou.

 

“Eu ‘tô bem. Enfim! Vou ligar pro meu pai porque eu não sei se quero passar o resto do meu domingo no internato.” ela disse enquanto deixava a mesa.

 

Os dois a observaram com certo pesar, sabiam o quanto ela devia estar arrasada.

 

                                               *  

Fora do internato, na casa de Penha, a moça assistia a um programa entediante quando a mãe apareceu na sala com um sorriso sugestivo.

 

“Por onde anda o Nikolas, Penha? Ele nunca mais apareceu aqui.” ela perguntou.

 

“Eu ‘tô fazendo monitorria de segunda, não tem muito motivo pra ele vir aqui.” respondeu.

 

“Ah, sim... E ele é seu namorado?” a mais velha perguntou sem rodeios e a filha tirou os olhos da televisão para encará-la.

 

“O quê?!” questionou.

 

“Ficante então? Eu vi vocês ontem e não sei como vocês chamam isso.” ela disse e Penha riu.

 

“Isso o quê? A gente só ‘tava jogando!” esclareceu.

 

“Nada mais?” a mãe falou um tanto decepcionada, fazendo a filha rir mais.

 

“É, somos amigos agorra.” respondeu e a mais velha assentiu.

 

“Ah, sim... é que vocês dois estavam tão bonitinhos ontem que eu pensei que logo teria um genro que me conhece, que você não tem vergonha de mostrar sua realidade...” falava e a filha franziu o cenho ainda risonha.

 

“Ai, mãe... eu nunca pensei no Nikolas desse jeito.” comentou e a mais velha riu.

 

“Foi só um pensamento meu.” falou saindo da sala.

 

Penha riu mais um pouco enquanto pensava nas palavras da mãe. Sem conseguir se controlar, lembrou do rosto de Nikolas com apenas uma mecha de dread solta e alguns outros momentos com ele, um sorriso bobo brotou em seus lábios.

 

“Eu ‘tô ficando maluca!” comentou ainda sorrindo com seus pensamentos.

 

                                               *

Na casa de Tikara, os meninos, que haviam ido até lá, haviam aproveitado que Denise não estava para irem jogar na sala, onde a televisão era maior. O dono das feições asiáticas ainda estava zangado com Xavier já que depois de correr atrás dele simplesmente perdeu Milena de vista e logo teve que ir embora.

 

“Deixa eu ver se entendi... você foi correr atrás do Xaveco em vez de ir ficar com a Milena que ia te beijar? Porra, Tikara! Mas tu foi muito burro também!” Nik comentou.

 

“Na hora eu não pensei nisso! Só queria dar na cara do Xavier, não que eu não queira mais.” Tikara falou.

 

“Eu já pedi desculpas! Eu não tinha visto ela! Mas, Tikara, se você chegou nela uma vez, vai conseguir chegar outra.” Xaveco comentou.

 

“Não, Xavier! Em festas a emoção é outra, nunca vai ser a mesma coisa!” o de cabelos lisos exclamou.

 

“Onde você se escondeu, Xaveco?” Nikolas perguntou e o loiro engoliu em seco ao lembrar da noite passada e das coisas que havia feito.

 

“No banheiro masculino e... acreditam que ouvi gente batendo uma e até mesmo se pegando?! Gente sem noção, né?” ele comentou nervoso.

 

“É mais normal do que você imagina.” o veterano comentou despreocupado e Tikara pareceu não se importar.

 

“E você, Nik? Por onde andou?” o loiro perguntou a fim de mudar de assunto.

 

“Eu ‘tava no refeitório com a Penha jogando no meu celular e ouvindo as tias da cantina jogando truco.” respondeu e Tikara o encarou.

 

“Espera aí! Penha? A da nossa sala?” perguntou de cenho franzido.

 

“Sim.” ele respondeu.

 

“Desde quando vocês são amigos? Ela não fazia bullying com você?” o amigo perguntou e só então o dono dos dreads lembrou que Tikara não sabia da história.

 

“Ih, Tika, esses dois são amiguinhos. A história do bullying era na verdade... esquece!” Xavier falava até ver o rosto sério de Nikolas, Penha havia pedido para não contar.

 

“Como assim "esquece?" Por que você sabia disso e eu não?” Tikara perguntou.

 

“Porque eu sou o favorito! Quem mesmo Nik conheceu primeiro? O pai aqui!” Xaveco falou presunçoso.

 

“Quem mesmo é seu colega de quarto?” Tikara questionou Nikolas, que revirou os olhos.

 

“Sem drama, gente. Não vamos esquecer que populares nunca podem ter amizade com quem não é popular. O Xaveco só sabe porque ‘tava no lugar certo na hora certa.” explicou.

 

“Que nada, é porque sou um cara observador e porque o Nik tentou me livrar dos trotes do Toni.” Xaveco disse.

 

“Xavier!” repreendeu e o cacheado deu de ombros.

 

“Relaxa, Nik! A gente pode confiar no Tikara! Também foi por ele!” falou.

 

“Também foi por mim? Não sei se você é corajoso ou bobo.” Tikara comentou brincalhão e o outro negou com a cabeça.

 

“Mal agradecido!” exclamou e os três riram.

 

“Tika, ela que pediu pra ele não falar nada e o mocinho obedeceu à risca.” Xaveco zombou.

 

“Eu sei guardar segredos! Vocês que são dois sem-vergonhas que contam as coisas pros outros.” Nikolas disse.

 

“Você talaricou o Cebola e a gente que é sem-vergonha?” Tikara rebateu e o outro bufou.

 

“Não! Não sei nem da onde vocês tiraram isso! Somos apenas amigos!” exclamou e os dois riram.

 

“Tá negando demais... aí tem segredinho.” Tikara zombou dando uma leve cotovelada em Xavier que riu.

 

Nikolas revirou os olhos.

 

“Cês são idiotas demais!” exclamou e os dois riram.

 

Para a surpresa deles, a porta se abriu e de lá entrou Denise.

 

“Não gritem! Ainda estou de ressaca e meu pai nem sonha.” ela disse e foi para seu quarto.

 

Os três apenas assentiram e abaixaram o volume da televisão enquanto continuavam trocando zombarias.

 

                                               *

Um pouco mais tarde, na hora do almoço, a mesa da casa de Magali estava muito silenciosa. O pai da moça não havia dito absolutamente nada acerca da noite anterior, mas sua expressão não parecia nada boa.

 

“Vai ficar com essa cara até quando?” a esposa perguntou.

 

“Lina, eu não ‘tô bom hoje. Aquela festa de ontem só me trouxe dor de cabeça!” ele disse.

 

“Diz isso porque Magali tocou no show? Tenha dó, Carlito!” exclamou.

 

“Não é só por isso, mas tocamos em um ponto importante! A filha do diretor que foi contra uma regra dele!” ele exclamou.

 

“Eu não fui contra uma regra, pai, eu só queria me divertir um pouco e ser favorável a uma coisa que é boa! Um grupo de música não vai acabar com nada do internato!” Magali explicou.

 

“O problema desse levante eu falo na segunda junto do seu grupinho, então aguarde. Agora o problema é que você devia dar o exemplo, Magali.” ele disse.

 

“Dar exemplo de quê? Pra quem? Todo mundo me vê como uma idiota, e eu ficando contra ou a favor não iria influenciar ninguém, as pessoas de lá nem gostam de mim, pai!” ela disse.

 

“Isso não é verdade! E a imagem de perfeição do internato...” Carlito falava até a esposa dar um soco na mesa.

 

“É verdade sim! Você que fechou os olhos e os ouvidos pra realidade! Todo mundo sabe que aquela joça de perfeita não tem nada! E tudo começa com o diretor, que piora mais ainda a própria imagem por ter a cara de pau de fazer vista grossa pras atrocidades que os filhinhos de papai fazem!” a mãe de Magali exclamou zangada.

 

Magali encarou surpresa, era a primeira vez que via a mãe se posicionar.

 

“Você nem sabe do que está falando! O que isso tem a ver com a Magali?” o marido questionou.

 

“O que isso NÃO tem a ver com ela?! Por que você acha que ela não tem amigos? Ou que todos a veem como idiota, como ela mesma acabou de dizer? Porque tem que passar essa falsa imagem de perfeitinha em um lugar que é extremamente imperfeito, Carlito! Você tentou tanto salvar essa sua mentira de ‘local perfeito’ que acabou com a imagem da sua filha, espero que esteja feliz!” ela exclamou.

 

“Acha que não me importo com ela, Lina? Dai-me paciência! Eu fiz um acordo com aquelazinha, que FELIZMENTE saiu do jornal, justamente pra ela ter paz!” rebateu.

 

Magali arregalou os olhos.

 

“Como que é? De quem o senhor ‘tá falando?” questionou.

 

“Como de quem, Magali? Da Denise! Eu dei alguns privilégios a ela para que você não aparecesse naquele jornal.” ele confessou.

 

Magali não ouviu mais nada da discussão dos pais, apenas lembrava de momentos em que Denise a provocava, mas nunca fazia nada; assim como quando o jornal foi suspenso e a ruiva a culpou. A moça apenas deixou a mesa e foi para seu quarto com aquela informação enquanto se sentia mal.

 

“Meu pai deixou ela livre pra tirar a paz dos outros só pra eu ficar em paz... que merda!” exclamou com as mãos no rosto.

 

                                               *

Naquele dia, Cebola havia ficado no internato e estava achando bem entediante. Mesmo que dividisse o dormitório com Cascão, não o viu o dia inteiro já que ficou bastante tempo na biblioteca. Já era tardezinha quando finalmente o viu.

 

“Pensei que tinha ido embora.” Cascão comentou com uma pasta em mãos.

 

“Não, fiquei estudando. E ai? Ficou com a Magali...” comentou subindo e descendo as sobrancelhas.

 

“Ela beija mó bem! Eu até imaginava isso, mas ainda sim fiquei surpreso.” Cascão revelou com um sorriso.

 

“Que rapaz apaixonado.” o outro comentou.

 

“E você? Ficou com a Mônica?” perguntou e Cebola negou.

 

“Não, eu me separei dela enquanto corria e não vi ela depois. Que pasta é essa?” perguntou apontando para o objeto.

 

“Ah, o Átila ‘tava aqui! Parece que amanhã é o grande dia de escolher quem vai pro time. Então eu andei ocupado pensando em cada detalhe.” respondeu.

 

Cebola olhou diretamente para a pasta.

 

“Eu ‘tô no time?” perguntou.

 

Cascão riu.

 

“O que te faz pensar que eu vou te falar? Você não é melhor que ninguém pra saber antes.” respondeu.

 

“Vacilão! Eu que apertei o olho da Magali pra ela te escolher e é assim que me agradece?” Cebola comentou e o outro franziu o cenho.

 

“Pra que tu fez isso, Cebola? E se a menina nem quisesse me beijar?” perguntou e ele riu.

 

“Ah, Cascão! Se ela não quisesse, não teria escolhido salada mista!” falou.

 

“Ela não sabia quem era.” o outro rebateu.

 

“Sabia sim! Por que eu tentaria fazer ela beijar o Titi ou aqueles caras que eu nem sabia quem eram?” Cebola perguntou.

 

“Sei lá, você tem um caráter duvidoso.” o atleta respondeu e levou um soquinho no ombro.

 

“Caráter duvidoso... eu sou um anjo!” disse e o outro riu.

 

“Com chifres.” Cascão completou guardando a pasta na gaveta e entrando no banheiro.

 

Cebola olhou para a gaveta, queria saber se estaria no time. Mas decidiu não olhar, tinha em mente que o amigo o escolheria.

 

O resto do domingo passou bem depressa, logo a segunda havia chegado, mas a festa do fim de semana dava a ideia de que aquela segunda seria diferente.


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Notas finais do capítulo

(OFF com spoiler) Olha eu aqui de novo pra falar da terceira série kkkk eu fiquei tão feliz em saber que Milena vai aparecer :D ♥



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