Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 21
Capítulo XX - Diversão


Notas iniciais do capítulo

Gosto de enxergar a chegada do capítulo vinte, pela minha contagem e não do site, de todas as minhas fanfics como um marco, então é claro que teria algum momento especial pra vocês hehe



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Os dias no internato passavam de maneira estranha. Denise vinha tentando, até demais para seu gosto, fazer com que Carlito deixasse que realizassem uma festa de boas-vindas, mas ele estava irredutível. Diante disso, o jornal entrou em ação, não com fofocas, e sim entrando em contato com o diretor, porém havia uma diferença: Denise não fora convidada para essa conversa, soube apenas quando foi chamada na sala da direção.

 

“O que queria comigo? Por que todo mundo do jornal ‘tá aqui?” ela perguntou assim que entrou e viu mais onze pessoas ali na sala.

 

“Denise, seus colegas vieram me propor uma oferta irrecusável sobre aquele assunto da tal festa. Então, se estiver de acordo, hoje mesmo vocês poderão fazer tudo para que a festa aconteça amanhã à noite.” ele falou.

 

Denise franziu o cenho.

 

“Que oferta? Não ‘tô sabendo de nada.” perguntou.

 

O adulto sorriu satisfeito.

 

“A proposta é que o jornal mude totalmente em troca da festa. Quando eu digo totalmente são em termos de conteúdo e direção.” explicou e a ruiva arregalou os olhos se virando para os colegas, que não esboçavam reação alguma.

 

“Isso é sério? Estão me expulsando do jornal, que eu mesma criei, e nem tiveram coragem de falar na minha cara?” ela questionou incrédula.

 

“Chegamos a essa decisão depois de você ter vetado a matéria sobre o Toni por uma questão de amizade. Além do fato de você ser a única reconhecida, já passou pela sua cabeça que as tantas pessoas que sofreram com seu jornal podiam ser nossos amigos e que aguentamos ver eles sofrendo?” Narcisa falou.

 

“Que lindo seu discurso, Narcisa. Mas se sempre incomodou vocês, por que só agora que vieram falar? Parece bem conveniente.” a outra disse olhando demoradamente para Maria Melo, era uma das que mais confiava.

 

“É pegar ou largar.” Carlito se manifestou, era muito interessante a ele que Denise, a mais corajosa e perigosa deles, saísse do jornal.

 

A ruiva riu sem humor.

 

“Tá, eu saio! Mas que fique bem claro que a festa foi uma ideia que EU trouxe! Então EU quero participar disso!” ela exclamou apontando para si.

 

“Temos caráter, não vamos tirar seu mérito.” um outro membro falou e ela riu.

 

“Enfia o caráter no... esquece. Eu poderia dizer que seria um prazer ver o jornal indo pro buraco, mas vou desejar boa sorte.” falou e logo saiu pisando duro.

 

Assim que fechou a porta, Denise passou o antebraço no rosto, algumas lágrimas queriam cair, mas ela não deixaria.

 

                                               *

A notícia da festa se espalhou bem rápido, logo todos falavam sobre isso e faziam planos. Os membros do jornal conseguiram, de um jeito invejável, que parentes patrocinassem a festa, isto é, conseguiram comes, bebes e música. Apenas a decoração ficaria nas mãos de Denise, que contou com a ajuda do grupo de arte.

 

No dormitório 220A, Cebola terminava de calçar seus sapatos enquanto contava a Cascão sobre Mônica, há semanas não falava direito com ela.

 

“Deixa eu ver se entendi... você falou que realmente usa uma máscara e do nada ficou frio com a mina que você quer pegar? Qual é o teu problema, Cebola?” o amigo questionou.

 

“Eu não devia ter dito aquilo! Eu me deixei levar pelo momento, nem conheço a mina.” Cebola respondeu e o outro bufou.

 

“Não conhece porque não quer! Pelo visto, ela parece ter um interesse em você, seja amizade ou não. Você ‘tá sendo burro, cara!” Cascão disse sincero.

 

“Cascão, põe na cabeça! Populares até podem se envolver com quem não é popular, mas não rola conversa produtiva, é só ficada. Lembra do meu caso com a Milena? A Denise não fodeu com tudo só porque ela queria me pegar, foi também porque ‘tava dando popularidade pra quem não era do grupo! Mônica já ‘tá sabendo muito sobre mim, e isso não devia acontecer!” Cebola explicou e Cascão negou com a cabeça.

 

“Cebola, na boa, vale a pena abrir mão de tudo só pra ser popular? ‘Tá na cara que seu grupo não pode ser considerado nem de conhecidos, um não sabe porra nenhuma do outro!” começou e o outro o encarou.

 

“Aí quando você finalmente acha alguém que não ‘tá nem aí pro seu status e tentou te conhecer melhor, você liga o foda-se? Ah, Cebola... vai se ferrar! Fica aí pensando que sua popularidade vai te fazer feliz e quebre a cara! Mas não vai ser por falta de aviso!” Cascão falou e saiu do quarto.

 

Cebola ficou lá parado com a boca aberta, sempre seria estranho ouvir Cascão falando sério, mas sempre era algo construtivo. Parou de pensar nisso e deixou o quarto.

 

                                               *

Caminhando pelo corredor estavam Mônica e Magali falando banalidades quando Cebola passou por elas, o rapaz sequer olhou fazendo com que a novata bufasse.

 

“Eu nunca vou entender esse moleque, Magali!” reclamou e a amiga a encarou.

 

“Por quê?” perguntou, andava por fora do relacionamento dos dois por conta da rotina cheia que vinham tendo.

 

“Lembra que eu te disse que tivemos um papo super legal na semana que dei o fora no Nikolas? Então! Desde então ele simplesmente parou de falar comigo e no reforço é todo frio, parece até os professores daqui.” a outra respondeu.

 

“Não é por causa da correria da semana? Acho que monitores têm mais trabalho que a gente, e ultimamente ‘tá foda.” Magali comentou pegando um livro de sua mochila.

 

“Eu também pensei que seria isso, mas não!” ela falou e a amiga crispou os lábios.

 

“Estranho.... Mô, eu preciso devolver esse livro. A gente se vê depois!” falou e a amiga assentiu enquanto a outra se afastava.

 

Mônica suspirou enquanto se perguntava o motivo de Cebola estar tão estranho.

 

                                               *

Do Contra colava um cartaz do levante quando ouviu uma conversa sobre a festa e viu ali a oportunidade perfeita de mostrar a Carlito e aos alunos céticos que o grupo de música seria algo bom. Assim que viu Denise, tentou dar a ideia.

 

“Não sou eu que ‘tô mexendo com música!” ela disse.

 

“Mas você não é uma das pessoas mais influentes do internato? Consegue isso pra gente!” ele comentou e a moça bufou.

 

“Quem ‘tá nesse grupo de música que até hoje não existe, afinal?” Denise perguntou.

 

“Fisicamente! Mas é pra isso que está acontecendo o levante, entende? Agora certeza-certeza, tem eu, a Magali e o Jeremias.” respondeu e ela riu.

 

“Magali? Essa menina dá problema, viu? Mas até que você deu sorte... faz assim, fala pro Jeremias falar com a Narcisa, a do cabelo rosa. Só posso ajudar nisso.” falou saindo em seguida.

 

Do Contra não entendeu, mas a sorte parecia estar ao seu lado já que viu os dois bem perto, ele lia um cartaz e ela parecia voltar de algum lugar.

 

“Jeremias! Magali! Tenho que falar com vocês.” ele chamou e os dois foram até ele.

 

“Vocês ‘tão sabendo da festa de boas-vindas, né? Então, eu pedi à Denise pra colocar a gente nessa, é a melhor forma de conseguir visibilidade. Jeremias, parece que você é o único que consegue convencer a Narcisa a deixar a gente tocar, não entendi muito bem.” Do Contra falou.

 

“Ou, ou, ou... não acha que aí é visibilidade demais? Uma coisa seria eu entrar no grupo de música, outra seria eu, a filha do diretor, mostrar pra escola toda que sou a favor do levante.” Magali falou.

 

O veterano levantou a sobrancelha.

 

“Ué, mas você disse naquele dia que...” ele falava até ela interromper.

 

“Eu sei que eu disse pra não se preocupar, mas....” ela dizia sem saber como completar.

 

“Olha, Magali, sem querer ser chato, mas não faria muito sentido você entrar no grupo sendo que tem medo de assumir que é favorável a ele.” Do Contra falou.

 

A moça tombou a cabeça para os lados.

 

“Não é medo! É que... são várias questões!” ela exclamou.

 

“Deixa ela pensar um pouco, cara. É uma situação séria.” Jeremias enfim falou.

 

“Claro, podem pensar. Mas... eu vou pedir que me deem uma resposta até o almoço! A festa é amanhã e, se vocês toparem, a gente precisa ver tudo!” Do Contra disse saindo.

 

“Pensa com carinho, Magali.” Jeremias falou e saiu.

 

Magali mordeu o lábio inferior enquanto andava de um lado para o outro, uma grande decisão estava em suas mãos.

 

“Oi, Magali! Parece preocupada.” a voz de Cascão a despertou de seus devaneios, ela nem havia percebido sua aproximação.

 

“Ai, Cascão... Eu sou super favorável ao levante e surgiu a chance de a gente se apresentar na festa. Isso seria incrível, já que é a oportunidade de trazer visibilidade, mas eu sou uma medrosa que não quer decepcionar o pai, mas que também quer deixar de ser a filha perfeitinha do diretor e ser... Magali! Apenas uma aluna que tem opinião contrária ao diretor, como qualquer outra.” desabafou e o rapaz arregalou os olhos.

 

“Eita, deixa eu ver se entendi! Você quer participar do levante, porque gosta de música, mas tem medo de decepcionar o coroa que não curte?” ele perguntou.

 

“Resumiu bem! Ai, Cascão... eu não sei o que fazer! E eu tenho que tomar uma decisão pra ontem!” ela disse nervosa.

 

Cascão sorriu.

 

“Magali, relaxa! Sua situação é bem foda, mas dá pra ver que você não gosta de ser só a filha perfeita do diretor, então acho que seria bom pra você mesma seguir sua própria opinião sem medo. Seu pai pode até ficar chateado, mas acho que se você ignorar essa explosão aí dentro... você vai ficar mais chateada ainda.” sugeriu a voz calma, que fez a moça relaxar.

 

“Obrigada, Cascão. Você me deu uma luz aqui!” ela disse e ele sorriu.

 

“Que isso. Se é você que vai cantar na festa, já sei que vai ser foda! Tu tem cara de que canta bem.” comentou.

 

“Ah... nem canto tanto assim.” ela disse envergonhada.

 

“Vamos ver na festa? Mas pra isso... precisa topar o desafio.” ele disse e a moça sorriu para ele.

 

“Quero te ver na primeira fila.” Magali falou corajosa e ele sorriu abertamente.

 

“Pô, aí sim! Vou estar lá! Agora preciso ir, falou!” ele disse e saiu rapidamente.

 

Uma simples conversa com Cascão fora suficiente para que ela tivesse coragem de seguir sua própria opinião e ignorar o que os outros diriam. E essa foi uma sensação incrível.

 

“Cadê aqueles dois?” ela questionou para si com um sorriso e correu.

 

                                                         *

Após a aceitação de Magali, Jeremias, que também aceitou, ficou encarregado de falar com Narcisa durante o primeiro intervalo. Na sala de aula, os alunos estavam dispersos por conta do repentino evento que aconteceria no sábado. A porta se abriu e, de lá, entrou Narcisa.

 

“Bom dia, gente! Vocês já devem estar sabendo da festa de amanhã e que a decoração será feita pelo grupo de arte! Mas toda ajuda é bem-vinda, então quem puder vir ajudar, vai ganhar um pontinho na média de arte! Voluntários?” ela perguntou e várias pessoas se aproximaram da lista que ela levou.

 

“Narcisa, eu sou do grupo de música, sabe? E acho que essa seria uma oportunidade de ouro pra mostrar que valemos a pena!” Jeremias aproveitou a oportunidade e ela suspirou.

 

“Lindinho, o Carlito não é a favor do levante, não vai dar.” ela disse.

 

“Ah, mas seria uma participação bem pequenininha... só duas músicas já faria a gente feliz! O grupo de música estaria em débito com o jornal.” argumentou e ela o encarou.

 

“Tá bom, só duas músicas. Mas só faço isso porque temos uma dívida com você.” ela disse e ele logo entendeu o motivo de ele ser o único que conseguiria convencê-la.

 

“Obrigado, Narcisa, não vai se arrepender.” falou e ela sorriu.

 

“Espero. E vou pedir que toquem músicas family friendly. Do tipo que teria um selo Carlito approves.” a moça alertou e ele assentiu com um riso.

 

Magali e Do Contra olharam para a moça deixando a sala e depois para Jeremias, que fez uma joia com a mão.

 

“Ok, agora de volta pra aula!” o professor falou se virando para a lousa.

 

                                               *

O dia passou rápido e logo já era sábado de manhã. Não muito longe do internato, os pais de Do Contra estavam no mínimo surpresos com a presença de três pessoas que se diziam amigos do caçula e não de Nimbus. Esses três eram Jeremias, que tivera permissão de sair do internato, Magali e Xaveco, que havia sido chamado por seu conhecimento da parte técnica.

 

“Jerê, uns amigos do Nimbus emprestaram a guitarra e violão, disseram pra você ser cuidadoso.” Do Contra disse apontando para duas capas de violão.

 

“Pode deixar!” respondeu enquanto ia olhar.

 

“Acham que isso vai dar certo? Porque não temos nem um dia inteiro pra ensaiar! E eu trouxe meu teclado escondida!” Magali falou pessimista.

 

“Vai! Não se preocupe!” Do Contra garantiu.

 

“A Ramona não é da banda?” Xaveco perguntou com um bocejo.

 

“Não, ela não toca nenhum instrumento, assim como quase todo mundo que apoia o levante.” o morador da casa respondeu.

 

“Mas acha que o Carlito vai permitir um grupo com só três pessoas que tocam alguma coisa? O teatro, por exemplo, tem bastante gente.” Jeremias perguntou.

 

“Eu duvido que não tenha mais ninguém que toque! Enfim... temos que escolher as duas músicas!” Do Contra disse.

 

“Magali, você que conhece o Carlito melhor que a gente, que tipo de música ele aprovaria?” Xaveco perguntou.

 

Magali pensou por um instante.

 

“Acho que mpb e pop-rock.” respondeu.

 

“Não consigo imaginar ele ouvindo nenhuma dessas! Eu sempre tive uma dúvida... seu pai é formado na área da educação?” o loiro perguntou e ela riu.

 

“É! Ele já foi diretor antes, mas acho que a pressão dos ricões corrompeu.” respondeu.

 

“Triste, agora ao trabalho!” Do Contra exclamou.

 

                                      *

Enquanto isso, no internato, nem todos os alunos que deram os nomes estavam presentes no local. Na quadra, onde aconteceria a festa, estava uma verdadeira bagunça. Os jovens que estavam com tesouras, tinta, tecido TNT, cartolina, EVA e muitos outros materiais corriam de um lado para o outro para ajudar na decoração sob a supervisão da professora de arte.

 

Milena estava sentada no chão cortando um pedaço de EVA quando alguém se sentou ao seu lado, não tinha dado muita atenção até perceber quem era.

 

“Tikara! Você por aqui?” ela perguntou enquanto tirava os cabelos dos olhos.

 

“Vim ajudar! Até arrastei o Nikolas!” ele disse apontando para o dono dos dreads, que parecia não estar nada animado.

 

“Vacilo arrastar o menino pra cá. Mas e ai? Animado com a festa?” ela perguntou.

 

“Claro! Eu sou um cara festeiro!” Tikara respondeu e ela riu.

 

“Ah, é? Então eu vou te ver descendo até o chão?” perguntou e ele sorriu.

 

“Ai depende, você vai descer comigo?” perguntou sem pudor nenhum e ela olhou surpresa, mas com interesse.

 

Inesperadamente, Tikara sentiu algo acertar em sua cabeça. Os dois olharam e deram de cara com uma cabeleira loira carregando um rolo de tecido TNT.

 

“Foi mal.” ele falou.

 

“Felipe! Nem tinha como você acertar ele!” Milena observou.

 

“Já pedi desculpas pro seu amiguinho. Mimi, me ajuda a cortar isso? É rapidão.” ele pediu e a moça assentiu, só porque queria agilizar tudo.

 

O loiro sorriu para Tikara enquanto ficava bem próximo da cacheada. O moreno revirou os olhos enquanto ia atrás de algo para fazer além de fuzilar o veterano com o olhar.

 

                                              *

Nikolas se perguntava o motivo de ter aceitado acompanhar Tikara. Estava fazendo um barquinho de papel quando assustou ao ouvir uma pessoa o chamar.

 

“Fazendo corpo mole, rapaz?” era Penha com um sorriso e, pela primeira vez, de cabelos presos em um coque frouxo.

 

“Eu nem devia estar aqui! Fui arrastado pelo gado do Tikara.” falou e ela olhou na direção de Tikara, que ajudava alguém.

 

“Por que gado? Ele ‘tá ajudando! O que você devia estar fazendo.” ela disse.

 

“Ele veio por causa da Milena, por acaso teve que ajudar.” o rapaz revelou e ela assentiu.

 

“Ah, sim. Mas e você? Já que ‘tá aqui... vem ajudar!” convidou.

 

“Ajudar no quê? Aliás, você ajudando é bem surpreendente.” ele disse a seguindo e ela riu.

 

“Faço E.A de arte, querridinho, fui intimada a ajudar. Estou pintando o painel, toda ajuda é bem-vinda.” ela disse e o rapaz assentiu.

 

Chegando lá, Nikolas viu que tinta “voava” para todos os lados, com isso, olhou para o pulso de Penha e viu ali algo que seria útil.

 

“Me empresta um?” perguntou e ela olhou para o próprio pulso, havia um elástico de cabelos que ela não estava usando.

 

A moça assentiu e entregou. Ela só se virou por alguns segundos, para pegar um pincel e, quando se virou, sorriu surpresa: Nikolas tinha seus dreads presos para cima com uma única mecha solta, era uma visão rara.

 

“O quê?” ele perguntou e ela balançou a cabeça.

 

“Nada! Não tinha nenhum limpo, aqui pega!” falou jogando o pincel, cuja tinta amarela tocou no único dread livre.

 

Nikolas olhou para o cabelo e para a moça que tinha um sorriso amarelo.

 

“Opa...” falou e ele riu antes de tocar o pincel na ponta do nariz da moça.

 

“Agora estamos parcialmente kits.” falou enquanto se aproximava do painel e Penha apenas riu se juntando a ele.

 

                                                                           *

De um outro lado, Mônica fazia alguns recortes quando a pessoa que tanto pareceu ignorá-la apareceu.

 

“Oi!” cumprimentou e a moça revirou os olhos.

 

“Hoje você fala comigo direito, né? Eu realmente não te entendo, Cebola!” ela disse voltando a atenção para o que fazia.

 

O rapaz suspirou.

 

“A gente pode esquecer isso e...” ele falava até ela o olhar feio.

 

“Não! A gente não pode esquecer isso! Não sei você, mas eu não forço amizade com alguém que claramente não quer ter amizade com ninguém!” interrompeu.

 

“Eu nunca disse que não queria sua amizade! Mas eu não devia ter dito tudo aquilo sobre mim! É que eu sou... você não é...” ele falava sem saber como completar.

 

“O quê? Popular? Nossa, descobriu a América! Escuta aqui, Cebolácio, se pra vocês populares amizade é aguentar ser tratada como lixo, eu não quero nada com você!” Mônica exclamou.

 

“Não é isso! É que eu nunca me exponho desse jeito! Ninguém sabe sobre o que eu te disse, e eu me senti... vulnerável! E não gosto de me sentir assim.” ele falou sincero, algo em Mônica despertava isso.

 

A novata suspirou.

 

“Querer uma amizade em que você pode ser você mesmo não é vulnerabilidade. É amor próprio.” falou enquanto se afastava.

 

Cebola mordeu o lábio e juntou toda coragem que tinha e a chamou.

 

“Espera, Mônica! A gente pode... a gente pode recomeçar? Eu quero fazer diferente!” exclamou e a moça o encarou por alguns segundos, o embaraço que ele demonstrava tornava nítida sua sinceridade.

 

“Podemos tentar!” ela disse voltando até onde ele estava e o rapaz sorriu.

 

“Valeu. Mas eu também quero te conhecer, o que te trouxe ao IL? Sua família é de boa? Você gosta de estudar aqui?” perguntou e ela sorriu.

 

“Eu vim porque fui expulsa da minha antiga escola por causa de briga e boatos. Eu sou filha única e meus pais se preocupam com a minha formação, principalmente porque sou meio estourada e isso pode trazer umas advertências.” respondeu e Cebola riu.

 

“Percebi, você quase deslocou meu ombro aquele dia e agora há pouco achei que ia me bater.” falou e ela riu.

 

“Não é pra tanto. E sobre eu gostar daqui... acho que acostumei. Tem a Magali, que é uma grande amiga, e muita gente legal, mas ainda tem gente que estraga as coisas, como a Penha e a Denise. Você que já ficou com as duas, o tempo todo elas são um porre?” ela perguntou e ele riu.

 

“Eu não fiquei com as duas, só com a Penha.” esclareceu e ela franziu o cenho.

 

“Ué... mas Denise não fodeu seu esquema com a Milena porque queria te pegar?” ela perguntou e ele tombou com a cabeça.

 

“Ela até queria, mas eu nunca quis. Fora que não era só por isso que ela enchia o saco da Milena. Essa relação de popular com quem não é popular é complicada, Mônica, e eu acho que Denise tinha algum interesse a mais nisso, mas sei lá.” começou.

 

“Sobre elas serem ‘um porre’ o tempo todo, eu não sei te responder. Já que eu ‘tô contando tudo mesmo, mais cedo ou mais tarde você vai acabar sabendo que não temos contato nenhum fora do IL.” concluiu surpreendendo a moça.

 

“Mas você não namorava com a Penha?” ela perguntou e ele riu.

 

“Nós dois somos populares, isso acontece às vezes. E observa o grupo: Toni, o pegador; Denise, a do jornal; você não conheceu, mas tinha a Carmem, a influencer bonitona; a Sofia, o escudo; Penha, a temida. E eu? Eu só era um cara inteligente que fazia alguns trotes. Então queria melhorar minha imagem e o namoro de gente influente vira um modelo a ser seguido. Então, eu me aproximei da Penha, a gente ficou, começou a namorar e acho que fingimos tão bem que tinha um sentimento que acreditamos nisso.” respondeu sincero.

 

Mônica encarou boquiaberta.

 

“Então seu grupo de amigos... não é amigo?” questionou e ele riu, mas não disse nada. Apenas fez um som de “puf” enquanto simbolizava uma explosão com as mãos próximas à cabeça, como se dissesse que a mente dela expandiu.

 

“Caramba! Então ‘cês são mais idiotas do que eu pensava.” comentou rindo e o rapaz negou com a cabeça.

 

“Tá vendo por que a gente nunca fala?” ele comentou.

 

“Ah, Cebola, dá um tempo! É muito idiota andar com quem não te interessa só pra ser popular!” ela disse.

 

“Agradeço se parar de me julgar. Estou abrindo meu coração aqui!” ele disse e ela negou com a cabeça.

 

“Foi mal, foi mal. Mas tem uma coisa que não entendo... se vocês simulam essa amizade, por que vocês faziam bullying com a Sofia?” perguntou.

 

Cebola lambeu os lábios.

 

“Eu só posso falar por mim. Começou como uma brincadeira e... durou.” ele disse sem jeito.

 

Mônica levou a mão à testa.

 

“Muita informação de uma vez. Mas é bom te conhecer melhor, Cebola. Você é uma pessoa muito interessante!” ela exclamou e ele sorriu.

 

Os dois trocaram um olhar demorado, era como se o conforto que já sentiam aumentasse e despertasse outra questão: o interesse amoroso. Porém logo quebraram o contato visual.

 

“Nada de corpo mole aqui! Tem muito trabalho a ser feito!” a professora apareceu e os dois continuaram a fazer alguma coisa.

 

                                      *

O dia passou agitado e a noite não tardou a cair, a quadra estava bem enfeitada com vários símbolos musicais e uma enorme faixa de “boas-vindas”. Havia algumas mesas, bem poucas, espalhadas pelo local e uma mesa bem grande com vários salgadinhos, sucos, refrigerantes e a bebida que fez brilharem alguns olhos: ponche. O motivo do brilho não era a novidade, e sim que corriam boatos que aquela bebida, em especial, havia sido oferecida pelo terceiro ano e era muito provável que estivesse batizada. Um pequeno espaço tinha uma mesa de DJ e suporte de instrumentos, era onde o grupo de música se apresentaria.

 

O grande momento havia chegado, Carlito já havia feito seu discurso de boas-vindas e já ia deixar a quadra, uma vez que não queria ficar lá com os adolescentes, quando a fala do DJ chamou sua atenção.

 

“Agora recebam o grupo de música!” ele falou e logo o trio apareceu.

 

Carlito não foi o único surpreso com a presença de Magali, mas, diferente dos alunos, seu olhar intimidador poderia surtir efeito na moça que estava, claramente, indo contra a ideia de modelo a ser seguido.

 

Os três se aproximaram dos microfones e bateria e Jeremias olhou para Do Contra e Magali como se perguntasse se queriam que ele falasse, o baterista parecia ocupado com as letras e Magali havia paralisado.

 

“Boa noite, gente! Sou Jeremias... essa é Magali e nosso baterista é o Do Contra.” o novato falou e esperou eles se apresentarem, mas como não falaram precisou tomar as rédeas.

 

“Sei que devem estar surpresos em nos ver aqui, principalmente o diretor, mas é por uma causa: a importância da música, inclusive durante esse nosso processo de formação!” continuou e, vira e mexe, olhava para os colegas, Do Contra e Xaveco mexiam com os fios que, de última hora, falharam, e Magali ainda tinha o olhar perdido.

 

A moça estava amedrontada e nervosa, tanto que sentiu como se tivesse esquecido todo o ensaio e como ficar parada sem as pernas tremerem, mas foi aí que ouviu um “psiu, Magali” vindo da plateia e olhou. Era Cascão levantando os dois polegares com um sorriso acolhedor, ele realmente estava na primeira fila, bem de frente para ela ao lado de Mônica, que também sorria.

 

Aquilo não só a fez sorrir como também lhe trouxe forças.

 

“Jerê tem toda razão!” falou de repente fazendo todos a olharem, mas não se sentiu intimidada.

 

“O objetivo do levante não é ficar contra as regras do internato, e sim permitir que a experiência musical faça parte da nossa vida. Principalmente porque é difícil lidar com as várias coisas que acontecem aqui. Então... espero que vocês apoiem a gente e façam parte dessa causa sem medo!” ela exclamou e os rapazes, seus amigos e até mesmo pessoas que duvidavam de sua força sorriram.

 

Seu pai tinha um olhar atônito, mas o olhar da moça não se direcionou para ele por muito tempo, e sim para os meninos enquanto fazia um “dois” com a mão, e eles logo entenderam que ela queria ser a primeira a cantar, já que sua música solo era a segunda.

 

“Chega de papo, né? Eu sou novato, quero me sentir bem-vindo! O nome dessa agora é Lágrimas e Chuva, Kid Abelha!” Jeremias falou e Do Contra bateu uma baqueta na outra três vezes.

 

Logo em seguida, Jeremias começou com toques leves na guitarra e Do Contra primeiro tocou na bateria completando com os pratos, tudo de maneira animada. Enquanto isso, Magali fazia um apoio com seu teclado. Após a introdução, a guitarra se uniu a toques mais vivos do teclado com o apoio da bateria.

 

Magali umedeceu os lábios e se aproximou do microfone.

 

“Eu perco o sono e choro, sei que quase desespero, mas não sei por quê-ê! A noite é muito longa, eu sou capaz de certas coisas que eu não quis fazer-er! Será que alguma coisa nisso tudo faz sentido? A vida é sempre um risco, eu tenho medo do perigo...” Magali começou a cantar enquanto balançava o corpo conforme o som.

 

A voz de Magali havia surpreendido muitos ali presentes, ao mesmo tempo que era melodiosa e afinada, possuía o sentimento de força e coragem que, somados a sua pequena dancinha, tinha um poder hipnótico, tanto que Cascão encarava boquiaberto sem conseguir piscar.

 

Os três continuaram tocando animados e a animação deles era passada à plateia que, em poucos segundos, os acompanhavam com palmas e balanços parecidos aos de Magali ou mais animados.

 

Lágrimas e chuva molham o vidro da janela, mas ninguém me vê-ê! O mundo é muito injusto, eu dou plantão nos meus problemas que eu quero esquecer-er! Será que existe alguém ou algum motivo importante, que justifique a vida ou pelo menos este instante?! Eu vou contando as horas! E fico ouvindo passos! Quem sabe o fim da história? De mil e uma noites de suspense no meu quarto...” continuou fechando os olhos enquanto aproveitava apenas o momento e as palmas que os acompanhavam.

 

Quando a música acabou, aplausos fortes e assobios fizeram os três sorrirem com a recepção. Jeremias, que estava mais perto, fez um high-five com a moça, que sorriu enquanto colocava uma mecha de cabelo para trás. Deu uma breve olhada para a plateia e se deliciou com os sorrisos, mas um em especial parecia se deliciar com o seu, e isso só a fez sorrir mais.

 

“Uh! Infelizmente só temos duas músicas, mas a segunda é a alma do nosso levante! O nome dela é Uma canção é pra isso, Skank.” ela disse já sem pudor ou receio algum, mesmo que seu pai ainda estivesse lá os assistindo.

 

No mesmo instante, Do Contra deu batidas fortes e animadas na bateria e o teclado e guitarra logo acompanharam na mesma intensidade.

 

“Thurururu! Thurururu! Thurururu! Thurururu!” Jeremias e Magali começaram bem divertidos a ponto de esquecerem a timidez e pularem fazendo outras pessoas pularem também.

 

“Uma canção é pra acender o Sol... no coração da pessooa! Pra fazer brilhar como um farol... o som depois que ressooa...” Jeremias começou e logo fez um toque um tanto elaborado na guitarra.

 

Denise, sem mais nem menos, puxou palmas altas que logo foram correspondidas.

 

“Uma canção é pra trazer caloor, deixar a vida mais quente. Pra puxar o fio da paixãão, no labirinto da gente. Pra consertar, pra defender a cidadela... pra celebrar, pra reunir bairro e favela...” continuou animado.

 

A música continuava animada e os três tocavam com sorrisos felizes. Na plateia, a repercussão era boa tanto em termos de animação quanto pelo andamento do levante, muitas pessoas falavam sobre finalmente enxergarem algum motivo para apoiá-lo.

 

Já os membros do jornal ponderavam se pediam mais uma música ou não, mas decidiram não pedir. Tanto pelo fato de o DJ estar lá, quanto por terem combinado apenas duas.

 

Assim que a música acabou e eles agradeceram lembrando a importância do levante, Magali foi beber água e, no meio do caminho, deu de cara com seu pai.

 

“O que foi isso, Magali? Como eu vou dizer que o levante não é algo bom quando minha própria filha faz parte dele? Esse é o exemplo que você quer passar?” ele questionou sério.

 

Magali respirou fundo e olhou nos olhos do pai.

 

“Não sei, pai. Só sei que eu quero, pelo menos uma vez na minha vida, ser a Magali! E não a filha do diretor, que tem que servir de modelo o tempo todo.” falou firme e decidida.

 

Carlito olhou surpreso, nunca havia visto a moça falar com tanta convicção. Embora ela estivesse contra ele, o homem não conseguia xingá-la por isso.

 

“Certo.” falou e saiu sem olhar para trás.

 

A moça respirou fundo e logo gritou quando sentiu ser tirada do chão. Era Mônica a abraçando.

 

“Magaliiii! Você foi incrível!” a novata dizia animada.

 

“Tenho que concordar, ‘cês manjam.” Cebola falou. Magali se surpreendeu com a presença dele, mas não disse nada.

 

“Valeu, gente! Foi muito legal!” ela disse sentindo a falta de uma pessoa, mas logo recebeu outro abraço.

 

“Magali do céu! O que foi aquilo? Eu ‘tô hipnotizado até agora! Vocês realmente ensaiaram isso hoje?” Cascão perguntou animado e ela sorriu mais.

 

“A gente ficou a tarde toda ensaiando. Pelo visto, o Do Contra já tocou nessas bandas de garagem e o Jeremias não é de hoje que participa de apresentação musical, foram muito importantes pra tudo dar certo.” ela disse.

 

“Não tira seu crédito, não! Sem você não teria dado certo!” Cascão disse e ela encarou o chão.

 

Mônica e Cebola trocaram um olhar malicioso, uma tarde inteira trabalhando juntos os aproximou mais.

 

“A gente ‘tá atrapalhando alguma coisa?” Cebola perguntou malicioso.

 

“Tá! Eu ‘tô aqui falando com a cantora e você atrapalhando, vai se ferrar!” Cascão disse brincalhão e Cebola riu com a boca aberta.

 

“Olha a audácia... vai se ferrar você!” Cebola rebateu e as duas riram.

 

A conversa foi interrompida por Timóteo, que apareceu segurando uma garrafa de água vazia.

 

“Fala aí, galerinha! Uns amigos e eu vamos jogar um joguinho saudável, ‘cês tão a fim?” convidou.

 

“Que joguinho saudável, Timóteo?” Cebola perguntou.

 

Titi sorriu enquanto batia a garrafa na mão.

 

“Verdade ou desafio?” Mônica perguntou.

 

“Não... é uma mistura de jogo da garrafa com pera, uva, maçã ou salada mista. Venham, vai ser legal!” ele disse já saindo e os demais deram de ombros enquanto o seguiam.

 

“Miga, que jogo é esse das frutas?” Magali sussurrou para a amiga.

 

“É um jogo velho desses que rola beijo. Se você não quiser jogar, a gente não joga.” Mônica disse e Magali, sem perceber, olhou para Cascão. A amiga percebeu.

 

“Olha... pode ser que você beije outra pessoa, mas a gente dá um jeitinho.” ela disse piscando um olho e Magali riu, a adrenalina do show ainda estava em suas veias, então não viu problema nenhum em participar da brincadeira.

 

                                               *

Em uma das mesas, Denise já havia bebido bastante ponche a fim de se divertir e de esquecer um pouco todo o ocorrido do jornal, então estava levemente bêbada. Ela ia deixar a mesa, enquanto Sofia não voltava, quando Jeremias a impediu de cair.

 

“Denise, tudo bem?” perguntou e ela riu.

 

“Tudo, gato! Vem sempre aqui?” ela perguntou piscando um olho, como se fosse flertar.

 

Jeremias riu.

 

“Venho e você ‘tá bêbada.” observou e ela riu alto.

 

“Tô nada! Só bebi isso aqui.” falou gesticulando com a mão indicando pouco.

 

“Sei... Cadê a Sofia?” perguntou.

 

“Sabia que você é muito bonito?!” ela perguntou e ele riu.

 

“Vamos tomar um arzinho, Denise.” ele disse a ajudando a caminhar, estavam perto da área verde.

 

“Sabia que eu já vi uma galinha com seu nome? Ah, não... era Jurema! Galinha é o Timóteo.” Ela disse rindo e ele riu divertido.

 

Assim que chegaram na área verde, ele se sentou com ela ao seu lado e olhou em volta, para a sua sorte, Sofia apareceu.

 

“Ai, que susto que eu levei quando ela sumiu. Ela bebeu muito ponche.” ela disse.

 

“Percebi. Ela vai pra casa?” ele perguntou.

 

“Acho que hoje é uma boa ela dormir aqui... eu vou ficar, então eu cuido dela. Vamos, Denise!” ela disse ajudando a amiga a levantar.

 

“Precisa de ajuda?” ele perguntou e a amiga negou.

 

“Não precisa, a inspetora de lá é chata, vai te trazer problemas.” falou e Denise sorriu para Jeremias.

 

“Beijo!” ela disse mirando na bochecha de Jeremias e acertando no ar.

 

“Uau, que mira boa. Boa noite, Sofia. E boa noite, Denise.” Jeremias desejou e Sofia simplesmente carregou a amiga.

 

                                               *

No meio da quadra, as músicas altas animavam aos jovens que de fato se sentiam, provavelmente pela primeira vez, bem-vindos. Milena bebia suco de laranja, não estava com vontade de consumir o ponche alcoólico como vários outros adolescentes faziam, estava distraída quando Tikara apareceu.

 

“Eu diria que foi difícil de te encontrar, mas a luz própria facilitou.” ele disse e ela riu.

 

“E ai, Tika? Não te vi descendo até chão, mentiu pra mim.” falou e ele riu.

 

“A gente tinha um combinado.” ele disse e ela riu terminando seu suco e jogando o copo em uma lixeira ali perto.

 

“Boa memória! Não é funk, mas tem o mesmo efeito.” ela disse puxando o rapaz que deixou ser levado.

 

A música era um pop bastante dançante, Milena sabia dançar, mas se surpreendeu ao notar que o rapaz se movia bem rápido em passos de dança divertidos. Os olhos do rapaz estavam presos aos dela e ambos esboçavam sorrisinhos.

 

“Não é que você sabe dançar?” ela comentou e ele se aproximou.

 

“Sei fazer muita coisa que você nem imagina!” comentou e ela levou as mãos até a nuca dele.

 

“Tipo o quê?” perguntou brincando com o “pezinho” do cabelo dele.

 

“Mover minha língua em um céu.” respondeu olhando para a boca da cacheada que sorriu com interesse.

 

“Mesmo? Me mostra?” perguntou e o rapaz se inclinou para beijá-la, porém, sentiu um puxão para trás.

 

“Tikara, caramba! Tem celular de enfeite? Do tempo que ‘tô te ligando pra perguntar que hora tu vai embora! O Nikolas simplesmente sumiu.” a voz de Xavier soou e o moreno bufou irritado.

 

“Xavier... corre!” exclamou e o outro franziu o cenho. Foi aí que ele percebeu o que havia feito.

 

“Eita... eu... foi mal.” disse e o amigo o olhava feio.

 

“Corre!” exclamou e o loiro sorriu antes de correr e Tikara correr atrás dele.

 

Milena começou a rir, mas não pôde deixar de se sentir levemente frustrada pela interrupção.

 

                                      *

No refeitório vazio e pouco iluminado, Penha se sentou por alguns segundos enquanto deitava a cabeça na mesa.

 

“Penha?” ouviu uma voz repentina e gritou até se virar e ver um corpo se levantando de um banco.

 

“Nikolas, carralho! Assusta a mãe!” exclamou e o rapaz riu.

 

“Foi mal! Eu ‘tava jogando e só vi alguém aparecendo. O que faz por aqui? Não devia estar aproveitando a decoração que você mesma fez?” perguntou e ela respirou fundo enquanto se recuperava do susto.

 

“Eu posso perguntar o mesmo.” respondeu.

 

“Eu só vim porque minha mãe me obrigou, acredita que ela ficou amiga da mãe do Xavier e do Tikara? Então vieram com papo de que era bom ter os três pra um ficar de olho no outro. Sei onde eles ‘tão? Não faço ideia! Eu queria mesmo era estar jogando.” ele disse e ela riu.

 

“Eu vim pra esquecer da vida, mas é meio impossível!” a moça falou.

 

“Esquecer da vida? Por quê?” ele perguntou e ela o encarou, confiava nele.

 

“Ai, Nik, minha vida virrou de cabeça pra baixo desde que minha mãe e eu ficamos mais pobres. E pra ajudar, eu vejo meus ‘amigos’ se divertindo e eu fico pra trás, sozinha!” desabafou.

 

“Já pensou em falar isso pra eles?” o rapaz perguntou.

 

“Amigos entre aspas, não farria diferrença eu falar pra eles. A única que realmente erra minha amiga erra a Sofia e eu fiz a proeza de afastar ela.” falou.

 

“A Sofia parece ser uma pessoa legal, talvez ela te perdoe.” o rapaz disse e Penha apoiou a cabeça na mão enquanto o olhava.

 

“Acha que eu merreço perdão?” perguntou.

 

“Depende, você se arrependeu mesmo?” perguntou frisando a palavra “mesmo.”

 

“Sei lá, acho que sim. Não sou habituada a pedir desculpas pra ninguém, mas... eu querro ser uma pessoa melhor.” confessou.

 

“Você ‘tá tentando mudar, dá pra ver. Talvez você devesse tentar falar com ela, mesmo que ela não te desculpe.” sugeriu e ela sorriu.

 

“Pode ser, mas hoje não. Sabe se minha mãe ‘tá na cozinha? Acho que essa festa já deu pra mim.” Penha perguntou olhando para lá e ele riu.

 

“Ela ‘tá lá, mas ‘tá rolando um truco lá dentro! Acho que deveria deixar elas se divertirem um pouco.” respondeu e a moça deu de ombros.

 

“O que você ‘tá fazendo sozinho aqui? Cadê seus amigos?” ela perguntou.

 

“Não sei, mas Xavier gosta de dançar, então deve estar fazendo isso. Já o Tikara... deve estar dando em cima da Milena. Eu sobrei, então vim jogar.” Respondeu.

 

“Que jogo?” ela perguntou se aproximando dele.

 

“É de ligar pontos, mas é meio impossível de vencer.” mostrou.

 

“Posso tentar?” perguntou e ele entregou.

 

“Vai em frente.” falou e ela começou a jogar enquanto ele explicava as técnicas.

 

Da cozinha, a mãe de Penha os observava junto das outras cozinheiras.

 

“Acho que você vai ganhar um genro!” uma delas disse e a mãe de Penha riu.

 

                                      *

Xaveco conseguiu fugir do furioso Tikara ao se esconder em um banheiro vazio. O rapaz entrou em uma das cabines e ficou em completo silêncio enquanto recuperava a respiração.

 

O rapaz pretendia ficar pouco tempo lá, mas, ao ouvir a porta se abrindo, ficou um pouco mais pensando que fosse o amigo, porém, o que ouviu, fez ter certeza que não era, todavia, não conseguiria sair de lá.

 

“Enfim sós!” uma voz masculina soou e outra masculina riu.

 

Em questão de segundos, Xavier ouviu sons de beijos seguidos de respiração ofegante. O loiro não via nada e sequer sabia quem eram, mas o som que era para incomodá-lo não estava surtindo esse feito, muito pelo contrário, estava o excitando.

 

“Caralho... eu não devia estar gostando disso!” comentou consigo mesmo enquanto sentia um formigamento na virilha.

 

“Isso.” ouviu um sussurro de prazer e mordeu o lábio.

 

Xavier era um adolescente de dezesseis anos, ou seja, já havia atendido aos seus anseios de adolescente cheio de hormônios várias vezes, mesmo que nem sempre imaginar as mulheres, que todos os outros diziam funcionar, funcionava para ele. Um “inchaço” em sua região pélvica estava se tornando algo incômodo, então respirou fundo e fechou os olhos esperando que passasse, porém, os gemidos ao lado não o ajudavam.

 

“Eu me odeio!” exclamou prestes a levar a mão até a fonte do incômodo.

 

Seus olhos ainda estavam fechados, mas o som fazia com que sua mente fosse longe, tão longe que um corpo, um toque no ombro e um sorriso apareceram: tudo pertencia a Nimbus. Conforme Xaveco fazia alguns movimentos, uma sensação boa se aproximava conforme ele tentava reprimir qualquer suspiro, todavia, uma batida forte na porta o interrompeu, não só ele, os amantes ao lado também.

 

“Meninos? O que fazem aqui?” a voz de um inspetor soou.

 

“O que a gente faz num banheiro?” um deles falou como se nada estivesse acontecendo.

 

“Certo... tive a impressão de ouvir barulhos suspeitos.” O inspetor falou.

 

“Tá assistindo coisa pesada demais.” o outro falou.

 

O funcionário pareceu sair e logo os dois rapazes saíram também, mas Xaveco ficou ali com o pensamento nublado e sem a ereção, havia se desfeito por conta do medo de ser pego.

 

O rapaz respirou fundo e deixou o ar escapar pela boca.

 

“O que eu acabei de fazer?!” questionou-se alto olhando para a porta que tinha alguns rabiscos.

 

                                      *

Mônica, Cebola, Magali e Cascão acompanharam Timóteo por bastante tempo, o rapaz parecia tentar achar as pessoas certas para jogar com eles. Assim que se reuniu com outras pessoas, todos se sentaram em círculo e ele colocou a garrafa no meio.

 

“Funciona assim, alguém gira a garrafa e pra quem apontar o bico, vai participar da outra parte. Pras coisas ficarem mais legais: pera é beijo na mão; uva é beijo na bochecha; maçã é selinho; e salada mista é beijo de língua, moleque!” Titi falou animado.

 

Magali olhou em volta, já havia visto os demais jogadores, mas conhecia apenas Cascão, Cebola e Mônica.

 

“Vou girar, vamos ver quem começa!” Titi disse e girou.

 

O bico da garrafa caiu em Magali, a moça engoliu em seco.

 

“A princesinha do IL. Se bem que agora não é mais princesa, né, gatinha?” um dos garotos disse e levou um tapa na nuca.

 

“Fala direito com ela!” Cascão repreendeu.

 

“Vai lá, alguém cobre seus olhos e pergunta se é esse ou não. Mas não pode ser a Mônica! Ela vai roubar, certeza!” Titi falou.

 

“Mentiroso!” Mônica exclamou.

 

“Eu vou, relaxa. Não quero rolo com o diretor.” Cebola disse rindo.

 

Magali, naquele momento, se arrependeu de aceitar a brincadeira. Assim que Cebola cobriu seus olhos sentiu a barriga gelar.

 

“É esse?” perguntou.

 

“Não!” respondeu sem saber quem era.

 

“É esse?” perguntou de novo.

 

“Não!” respondeu.

 

“É esse?” ele perguntou apertando os olhos dela, era como se quisesse dar um recado.

 

“É!” decidiu acreditar.

 

Magali ouviu o riso de Mônica e alguns “aeee” e outros “shh”.

 

“Pera, uva, maçã ou sala mista?” Cebola perguntou com um riso.

 

A moça pensou por um instante se confiaria ou não em Cebola, podia ser qualquer pessoa ali e se não fosse a pessoa que queria, não teria volta. Porém, estava passando por um momento de tantas novas experiências que decidiu ir fundo.

 

“Salada mista.” escolheu e todos começaram a gritar.

 

Assim que Cebola tirou as mãos dos olhos da moça, ela quis abrir um enorme sorriso: era Cascão.

 

“É agora, gente! A princesa vai beijar o sapo!” Cebola brincou.

 

Magali se aproximou de Cascão sentindo um misto de nervosismo e curiosidade. Olhou para os lábios de Cascão e lambeu os seus. O rapaz, por sua vez, também tinha uma certa curiosidade em saber como seria o beijo de Magali.

 

Assim que os lábios se tocaram, Magali sentiu o chão sumir de seus pés e chegar às nuvens; assim que a língua dele pediu passagem, e ela cedeu, uma explosão que lembrava o ponche alcoólico de tutti-frutti invadiu sua boca a fazendo retribuir na hora. Cascão, por sua vez, achava que nunca mais iria se surpreender com um beijo na boca até aquele momento, por mais que tentasse, não conseguia descrever como era o beijo de Magali, só que a vontade era que durasse mais.

 

Os dois se separaram quando o ar faltou em meio às vaias dos demais. A brincadeira ia continuar quando um funcionário apareceu.

 

“Que isso? Jogo da garrafa? Podem parar com isso agora!” ele gritou e os adolescentes levantaram e correram dali.

 

“Corre, princesa!” Cascão falou para Magali enquanto a puxava pela mão e ela riu gostosamente, aquela noite havia sido melhor do que esperava.


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Notas finais do capítulo

Músicas usadas no capítulo

Lágrimas e chuva - Kid Abelha (usei a versão de estúdio)

Uma canção é pra isso - Skank

(OFF) Vocês viram o traço da terceira série de TMJ? Tá lindooo ♥



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