Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 17
Capítulo XVI - Segundas impressões


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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O calor crescia conforme o início da tarde ia se aproximando. Na biblioteca pública, o quarteto fazia um trabalho sobre o carnaval sem ânimo algum. Cascão tinha sua atenção voltada para uma carreira de formigas subindo a parede; já Magali tentava focar em sua escrita enquanto ouvia uma pequena discussão entre Cebola e Mônica.

 

“Carnaval combina muito com você, Cebola. Sabe por quê? Porque tem máscaras!” Mônica provocou.

 

“Combina com você também, tem muita safadeza.” ele rebateu sem tirar os olhos da folha.

 

“Eu já te disse! Aquilo ‘tava equivocado!” a novata se defendeu.

 

“E eu já te disse que não uso máscara nenhuma!” o rapaz falou.

 

“Gente, na boa, esse papo de falsidade não acaba?” a de cabelos longos perguntou enquanto soltava sua caneta.

 

“Sua amiga aí que colocou na cabeça que eu sou falso, não sei na onde. Né, Cascão?” Cebola respondeu e o outro olhou com um lápis apoiado entre a boca e o nariz.

 

“Hã?” Cascão perguntou.

 

“Cascão ‘tá só o corpo aqui, não vai conseguir lembrar o quanto você é duas caras. Não é possível que alguém seja tão de boa em um momento e tão ruim em outros, gente!” Mônica falou.

 

“Eu ‘tava pensando aqui... acham que dentro dos formigueiros as formigas se reconhecem como?” o capitão do time perguntou e os demais o encararam de cenho franzido.

 

“Volta pra realidade, Cascão!” Cebola disse.

 

“Tá... por que vocês dois ‘tão brigando tanto? Desde que chegaram ‘tão nessa.” Cascão perguntou apoiando o rosto na mão.

 

“Eu tenho motivos! Vinha eu com a expectativa lá no alto porque ia ajudar um amigo e duas... bom, duas outras pessoas, quando vejo esse indivíduo empurrando um senhora! Depois de ajudar a senhora, eu mudei de rua pra evitar certos contatos, mas sabe como é difícil fugir de gente problemática.” Cebola contou com um riso enquanto apontava para Mônica, que abriu a boca incrédula.

 

“Ah, para de mentir, moleque! Eu trombei sim com uma senhora, mas você não ajudou ninguém! E eu quis te seguir pra ter certeza que não iria deixar a gente na mão!” ela rebateu.

 

Cebola levantou a sobrancelha.

 

“Por que eu faria isso?” perguntou.

 

A de cabelos curtos apontou para ele.

 

“Tá vendo?! É duas caras, sim! Na escola você é um aluno ruim e fora dela não!” exclamou.

 

“Isso é tudo coisa da sua cabeça! Eu sempre fui um ótimo aluno! Pode perguntar pra qualquer pessoa.” Cebola se defendeu.

 

Mônica automaticamente olhou para os outros veteranos, que concordaram.

 

“É verdade, ele tem nota alta.” Cascão confirmou.

 

“Não é esse tipo de bom aluno que eu ‘tô falando, eu falo no sentido de respeitar os outros! Ele faz trote e depois é  gente fina na monitoria! Não entendo isso!” Mônica disse.

 

“Você é péssima com combinados, né? O que acontece no reforço, fica no reforço não te lembra nada?” Cebola disse e a moça deu de ombros.

 

“Não precisa fingir, Cebola. Eu também faço reforço com você e... você realmente é outra pessoa lá.” Magali apoiou a amiga.

 

“Tá vendo? Não é paranoia minha!” Mônica falou.

 

Cebola revirou os olhos, estava ficando cada vez mais difícil manter suas aparências.

 

“Olha, eu não devia dizer isso, mas monitores precisam de uma conduta boa pelo menos lá, por isso eu finjo que sou de boa quando ‘tô lá.” explicou e Mônica estreitou os olhos.

 

“Eu não acredito em você.” ela disse e ele deu de ombros.

 

“Problema seu.” disse tranquilo.

 

“Me responde, Cebola, por que você entrou na monitoria já que odeia ser um cara legal?” Magali perguntou e ele a encarou.

 

“Pensei que a filha do diretor soubesse que são os professores que escolhem os alunos, e o aluno que quer nota, aceita.” falou.

 

“E vale a pena pra você, bad boy?” Mônica perguntou e ele riu.

 

“Claro que vale, eu posso fazer a merda que quiser que não me ferro. Além de eu ser popular, eu sou útil. Lamento que vocês não tenham a oportunidade de serem fodas como eu.” Cebola disse presunçoso e os três o encaravam com tédio até Cascão puxar o pé da cadeira do outro, que quase caiu, e as meninas rirem.

 

“Filho da mãe!” exclamou antes de jogar uma bolinha de papel no colega de quarto que revidou e, em questão de segundos, as meninas também participavam de uma guerrinha de papéis amassados em meio a risadas.

 

A brincadeira acabou quando a bibliotecária apareceu zangada.

 

“Vou pedir que limpem essa bagunça e deixem à biblioteca. Estão incomodando os demais usuários.” ela disse de braços cruzados e eles obedeceram com um riso reprimido.

 

Assim que deixaram o prédio, explodiram em risadas altas.

 

“Muito bem, gente! Fomos expulsos da biblioteca!” Magali comentou com um riso.

 

“Não é a primeira vez que sou expulsa de algum lugar.” Mônica disse.

 

“E sente orgulho disso?” Cascão perguntou com um riso.

 

“Não, mas, no caso das escolas, foi pra me defender. Diferente de certas pessoas, eu não saio ilesa das coisas.” Mônica disse e Cebola riu.

 

“Caralho, você cismou comigo! Mas se acha que me incomoda sair ileso das coisas, está enganada.” ele disse e a moça não segurou a risada.

 

“Claro! Quem seria idiota de se incomodar?” Magali comentou fazendo Mônica rir mais.

 

“Você parece não gostar.” Cebola comentou.

 

“Não sei na onde que eu saio ilesa! Eu não apareci no jornal esses dias e sempre sou xingada por aí?” Magali rebateu.

 

Cebola a encarou antes de se virar para Cascão.

 

“Ela não era cheia de respostas assim, né? Sempre ficava com cara de medo.” observou.

 

“Magali ‘tá desabrochando, e isso é ótimo.” Cascão disse sorrindo para Magali, que desviou o olhar com um sorriso envergonhado.

 

Mônica abraçou a amiga pelos ombros.

 

“Muito bom mesmo! Eu ‘tô morrendo de fome e fomos expulsos da biblioteca. Como vamos terminar o trabalho pra eu poder comer em paz?” ela perguntou.

 

“Acho que só um de nós pode terminar, falta pouca coisa.” Cebola comentou enquanto olhava as horas no celular.

 

Os outros três se entreolharam.

 

“Comigo não morreu!” Mônica gritou antes de sair correndo puxando Magali, que a acompanhou rindo.

 

“Partiu!” Cascão falou antes de também sair correndo.

 

Cebola encarou boquiaberto e riu.

 

“Que bando de arrombado...” comentou ainda surpreso enquanto ria alto e ia para a sua casa se sentindo estranhamente bem.

 

                                               *

Já era cerca de uma e meia da tarde quando Gabriela e Ramona chegaram na casa de Sofia, a dona dos cabelos castanhos morava incrivelmente perto do internato.

 

“É esse endereço mesmo?” Ramona perguntou enquanto olhava de novo a mensagem.

 

“Sim! Ela mesma disse que era bem atrás do IL.” a loira confirmou apontando para o prédio alto do internato enquanto apertava a campainha.

 

“Nossa, é que...” Ramona falava surpresa quando uma voz masculina soou.

 

“Ela mora do lado do IL e nunca vai pra casa. Realmente é impressionante.” era Toni se aproximando com as mãos nos bolsos.

 

“Ué, eu pensei que você nem ia vir. Ligou o foda-se ontem!” Gabriela comentou.

 

“Eu não liguei o foda-se, eu disse que tinha o número da Sofia, ou seja, eu deixei claro que viria.” ele falou.

 

“Não ficou claro, não.” Ramona comentou.

 

“Aí já é um problema de compreensão seu.” o rapaz rebateu e a ruiva deu de ombros, não levava muito a sério as pessoas daquele grupo.

 

Sofia não demorou a atender o portão com um sorriso.

 

“Oi, meninas! E Toni.” ela cumprimentou, a animação foi maior quando falou com as meninas.

 

Gabriela riu enquanto cutucava Ramona.

 

“Acho que hoje o clima pesa. Mas o Toni que tente se escorar na gente pra ver...” ela disse baixo e a outra assentiu.

 

Os adolescentes entraram na casa bem arrumada e foram até a cozinha, onde já estava um notebook, cadernos e canetas.

 

“Então, gente, eu já me adiantei um pouco e fiz o trabalho. Eu trouxe pra vocês darem uma olhadinha e...” Gabriela falava pegando uma folha de sua mochila quando ouviu um riso irônico de Toni.

 

“Ih... já ‘tá querendo se aparecer.” Toni comentou.

 

“Como que é?” ela questionou.

 

“A ‘sora disse que era pro grupo todo fazer, então não faz muito sentido usar uma coisa que só você fez.” ele respondeu.

 

“Acho que não tem como ela saber.” Ramona comentou.

 

“Tem, sim! Sofia sabe muito bem que o meu grupo já se fodeu por causa disso.” Toni falou.

 

“Ah, o seu grupo nem se ferra! Você que ‘tá querendo dar uma de bom rapaz.” Gabriela disse.

 

O loiro cruzou os braços.

 

“Ô Gabriela, me diz o que eu ganho tentando dar uma de ‘bom rapaz’ pra cima de uma pessoa que era do meu grupo; uma novata invisível e você?” ele perguntou e a loira abriu e fechou a boca, fazia sentido.

 

“Ele não ‘tá mentindo, Gabi. A gente realmente já se ferrou por causa disso! Tem uns professores que não ‘tão nem aí com o status do grupo.” Sofia revelou.

 

“Tá! Vamos fazer o trabalho juntos.” a loira disse guardando o papel.

 

Os jovens ficaram um tempo fazendo o trabalho, a grande surpresa das duas que não tinham contato com Toni ou Sofia era que os dois trataram o trabalho com bastante seriedade. Embora ninguém trocasse quase nenhuma palavra um com outro, era possível perceber que todos levaram a sério.

 

“Acho que acabamos!” Sofia disse após digitar o último ponto final.

 

“Ótimo! Se eu correr consigo pegar meu ônibus.” a loira falou.

 

“Já precisa ir? Pensei em fazer alguma coisa, pra gente se falar um pouco mais!” a dona da casa disse olhando apenas para as meninas.

 

“Preciso! A gente se fala no IL!” Gabriela levantou e Toni também.

 

“Vou aproveitar o portão aberto!” Toni falou indiferente, sabia que depois de sua séria discussão com Sofia ela não seria a mesma consigo.

 

“E você, Ramona? Pode ficar mais? Vou adorar falar mais com minha colega de quarto!” Sofia perguntou e Ramona forçou um sorriso.

 

“Posso...” respondeu e Sofia sorriu.

 

“Legal, vou abrir o portão pra vocês.” ela disse para os loiros.

 

                                               X

Assim que saíram da casa de Sofia, Gabriela deu uma rápida corrida até o ponto de ônibus, mas não fora o suficiente já que o transporte havia acabado de sair.

 

“Droga!” praguejou zangada e se sentou no banco, esperaria o próximo.

 

A loira passou as mãos nos cabelos e quase se assustou ao ver Toni sentado ao seu lado.

 

“O que você ‘tá fazendo aqui?!” questionou e ele a encarou como se a resposta fosse óbvia.

 

“No ponto de ônibus? O lugar onde a gente espera ônibus?” ele perguntou e a moça deu de ombros.

 

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos até ela o quebrar.

 

“Achei legal que você levou o trabalho a sério.” ela disse.

 

“Eu sempre levo, cheguei ao segundo colegial de algum jeito.” o rapaz respondeu.

 

“Colando?” ela perguntou e o rapaz a encarou.

 

“Só porque eu não sou um aluno aplicado igual a você quer dizer que o tempo todo eu não quero nada com nada?” respondeu com outra pergunta.

 

“Não, é que você e seu grupo podem fazer o que quiserem que não se lascam. Fora que tem o Cebola que é super inteligente, se ele passar cola pra vocês, vocês passam em todas as matérias.” a moça disse.

 

Toni riu enquanto se levantava.

 

“Tem razão, eu realmente pego muita cola do Cebola. Mas eu posso ser surpreendente, assim como você pode ser bastante cruel.” ele disse e ela riu.

 

“Cruel? Eu? Qual de nós dois faz trotes, Toni?” ela perguntou.

 

“E qual de nós dois disse que eu nunca conseguiria fazer nada se não fosse colando?” ele devolveu e ela abriu e fechou a boca.

 

“E-eu não quis dizer isso.” a moça falou sem graça e o loiro começou a rir.

 

“Tô zoando contigo! Relaxa!” falou e ela o encarou não acreditando que era realmente uma brincadeira.

 

“Tá.” ela disse e ele se espreguiçou.

 

“Aproveitando que estou aqui, sobre a ideia da Isadora...” ele disse e ela riu.

 

“Não sei o que se passa na cabeça da Isa, real.” a loira disse.

 

“Eu também não, mas não tem muito como fugirmos daquilo. Então acho que precisamos conversar de vez em quando.” o rapaz falou e a moça assentiu.

 

“Assumo que você sabe levar as coisas a sério quando necessário, então vou fazer um esforço pra não revirar os olhos a casa frase sua. Em nome da arte.” Gabriela disse e ele riu.

 

“Vou fazer o mesmo, mas em nome da nota.” Toni disse e ela assentiu.

 

O rapaz começou a andar e ela olhou confusa.

 

“Ué, você não ia esperar o ônibus?” perguntou e ele negou.

 

“Mudei de ideia.” falou e saiu andando calmamente.

 

Gabriela observou o rapaz se afastar e sorriu, talvez a ideia de Isadora não seria tão cansativa assim.

 

                                                                  X

Enquanto isso, de volta à casa de Sofia, Ramona estava sentada no sofá com as costas tensas enquanto Sofia havia saído para guardar suas coisas, por mais que as duas fossem colegas de quarto, geralmente Milena estava com ela para manter algum assunto; sem contar que, por mais que a ruiva tentasse esconder, ainda tinha um pouco de medo de Sofia por conta do dia em que falara de um jeito grosso consigo.

 

A moça tentou relaxar e olhou algumas fotos que tinham na sala, em uma delas, Sofia tinha os cabelos mais claros e parecia ser uma criança bem séria; já em outra mais recente, era com Denise. Ramona, por um momento, se perguntou o motivo de serem apenas as duas e mais nenhum outro membro da panelinha.

 

“Acha que mudei muito?” Sofia perguntou de repente fazendo Ramona assustar.

 

“Que susto! Ér... sim! Você pinta o cabelo?” a outra perguntou.

 

“Não, meu cabelo escureceu um pouco com o passar dos anos. Você sempre foi ruiva?” perguntou e a outra assentiu.

 

“Sim.” respondeu.

 

“E já sofreu algum bullying por isso?” perguntou e a outra assentiu.

 

“Sim, mas não foi na escola. Na escola eu sempre fui mais ignorada mesmo.” ela respondeu e Sofia levantou a sobrancelha.

 

“Espera aí, se não era na escola...” comentou e Ramona riu da expressão surpresa da outra.

 

“Era na família. Eu tenho uma prima que me chamava de Caipora.” revelou.

 

“Por quê? Você fuma?” perguntou com um tom que parecia transmitir ingenuidade, mas era algo que saiu sem perceber.

 

Ramona a olhou por alguns segundos antes de começar a rir.

 

“Não, é que eu gosto de plantas, florestas, essas coisas. E por acaso eu sou ruiva, igual como dizem ser a Caipora. Ela também é ruiva, mas como eu gosto mais de florestas... o apelido caiu só em mim.” explicou ainda sorrindo.

 

“E nunca te incomodou?” Sofia perguntou e Ramona deu de ombros.

 

“Não dou muita atenção pra ela, não vale a pena.” respondeu e a outra sorriu.

 

As duas ficaram em silêncio por alguns segundos, uma não sabia o que falar à outra.

 

“Ér... legal sua foto com a Denise! O resto do seu grupo não ‘tava no dia?” Ramona perguntou.

 

“Não, eu nunca nem vi o Cebola e Toni fora do IL. Já a Penha... poucas vezes.” Sofia respondeu e Ramona se surpreendeu.

 

“Mesmo?” comentou e a outra suspirou.

 

“Acho que agora que saí, eu vejo que o grupo é meio diferente. Nunca nos vemos fora do IL e não sabemos tanto assim um do outro. Com a Denise foi diferente, mas só comigo.” ela explicou.

 

Ramona estava incrédula, mas decidiu não comentar. Porém, ao ouvir sobre a amizade da colega com Denise, teve uma ideia.

 

“Sofia, o Jeremias comentou com você sobre o levante do grupo de música?” perguntou e a outra negou confusa.

 

“Não, o que é isso?” perguntou.

 

Ramona sorriu.

 

“O Do Contra quer trazer de volta o grupo de música, então decidiu fazer um levante. Você que é amiga da Denise, sabe se ela toparia participar? E você também, é claro!” perguntou e a outra sorriu.

 

“Pode contar comigo! A Denise eu não sei, mas posso perguntar.” falou e a ruiva sorriu.

 

“Muito obrigada, Sofia.” agradeceu e a outra sorriu de volta.

 

                                               *

Enquanto isso, longe dali, Penha fechou seu caderno enquanto Nikolas guardava suas coisas. A monitoria havia sido produtiva como de costume, porém os dois estavam diferentes, ela mais tranquila e ele calado.

 

A moça o encarou por alguns segundos antes de se pronunciar.

 

“Você ‘tá muito quieto hoje.” comentou.

 

“Não acho, eu ‘tava falando até agora.” ele disse.

 

“Sem ser sobre a matérria. Você parrece mais tenso hoje, pensei que não te intimidava mais.” a morena explicou.

 

“Não intimida, mas eu...” ele dizia e olhou para ela, que o encarava.

 

“Eu tenho que me desculpar com você. Fui grosseiro quando falei sobre suas amizades! Eu não tenho nada a ver com a maneira que vocês se relacionam.” o rapaz se desculpou e a moça desviou o olhar.

 

“Ah... tudo bem. Eu pensei um pouco no que você disse e... talvez eu precisasse ouvir aquilo.” ela falou e ele olhou surpreso.

 

“Sério?” perguntou e a moça assentiu.

 

“Uhum! Mas isso fica entre a gente!” exclamou apontando o dedo pra o rapaz, que assentiu enquanto olhava às horas em seu celular. Eram quase três da tarde.

 

“A casa da Denise é muito longe daqui?” perguntou e Penha deu de ombros.

 

“Eu não sei, eu nunca fui lá, lembra?” ela respondeu e o rapaz logo colocou sua localização e o endereço, que Tikara lhe enviara, no aplicativo do uper.

 

“Um pouco longe... quer aproveitar a carona?” ele perguntou e Penha olhou para trás, sua mãe não estava em casa e não tinha dinheiro para pagar, o único que tinha era o que a mãe havia deixado para pagar a ida e volta de Nikolas, trajeto que ela fazia questão de pagar.

 

“É que... é que minha mãe só deixou o dinheirro do seu uper tirrou meus cartões de crédito por causa do meu problema com Mônica há um tempo. Então eu ‘tô sem dinheirro aqui comigo.” a moça respondeu com pequenas mentiras, não tinha cartões de crédito há muito tempo.

 

O rapaz sorriu.

 

“É o mesmo valor. Eu moro perto do Tikara, dali fica fácil pra mim. Vamos lá, daqui a pouco ele chega.” ele disse e a moça sorriu, pelo menos não precisaria pegar um ônibus, algo que sempre odiou.

 

                                               X

O caminho até a casa de Denise e Tikara foi silencioso e, assim que desceram, Nikolas já ia tocar a campainha quando Penha o puxou para trás.

 

“Nik! Eu... eu vou falar com o Toni sobre aquilo, acho que já te enrolei demais.” ela disse e ele riu.

 

“Xaveco não tem dito nada sobre o Toni, pensei até que você já tinha falado.” o rapaz comentou.

 

Antes que os dois falassem mais alguma coisa, ouviram um “a-há” alto e se viraram, dando de cara com Xaveco.

 

“Agora tudo faz sentido! Eu ter visto vocês dois no corredor; ela preocupada com você; você ter o número dela; ela te perguntando que hora você ia pra casa dela; aquela troca de olhares mais cedo; você enrolando pra falar pra Mô...” o loiro enumerava até Nikolas o interromper.

 

“Xavier! Do que você falando, cara?” ele perguntou.

 

“Como do que eu ‘tô falando, Nikolas? Vocês dois se pegam!” Xaveco exclamou apontando o dedo para os dois que arregalaram os olhos.

 

Penha deu um tapa no ombro do moreno.

 

“Que merda você anda falando pros seus amiguinhos?” perguntou.

 

“Ele não me disse nada! Eu que descobri tudo!” Xaveco falou com certo orgulho.

 

“Não é o que você ‘tá pensando, Xaveco. Penha e eu não temos nada!” Nikolas se explicou.

 

“Então como explica tudo que eu falei?” o loiro perguntou e Nikolas olhou para Penha, que cruzou os braços.

 

“Nós dois fizemos um acordo. Ele serria meu monitor aos sábados lá em casa e eu falarria com o Toni e Cebola pra parrarrem de encher você e o Tikarra.” ela respondeu e o dono dos dreads olhou surpreso.

 

“Eu pensei que você ia mentir.” falou e ela riu.

 

“Pra quê? Olha o tanto de coisa que ele sabe! Mas escuta aqui, Xavier, isso só fica entre nós três! Se abrir a boca pra falar pra Tikarra ou sei lá quem mais, eu acabo com você!” Penha exclamou olhando feio para o loiro que assentiu.

 

“Sim, senhora! Quer dizer... sim, claro! Mas espera aí, você sacrificou seu sábado pra me ajudar, cara? E nem pra me dizer, cuzão?!” Xaveco perguntou não evitando de sorrir.

 

“Não vamos ficar emotivos, Xaveco.” Nik falou e o outro riu.

 

“Eu ‘tô feliz e puto! Mas tenho que assumir, vocês até que são bons mentirosos.” exclamou indo tocar a campainha e o outro riu.

 

Penha observou a interação com um sorriso, eles pareciam se dar muito bem, mesmo que se conhecessem há pouco tempo.

 

“Foi ele te colocar contra a parrede que você ficou perdidinho, nos seus jogos isso acontece também?” ela perguntou zombeteira a Nikolas, que a encarou com um sorriso presunçoso.

 

“Se eu te colocasse contra a parede, você também ficaria perdidinha, Penha.” respondeu sem pensar no duplo sentido que a frase surtia, tanto que Penha arregalou os olhos com um sorrisinho.

 

“Como que é?” ela perguntou e o sorriso dela fez o rapaz se tocar.

 

“Esquece o que falei.” disse passando pelo portão que Xaveco deixara aberto e Penha também entrou enquanto ria.

 

                                               X

Dentro da casa, o trabalho já estava acontecendo, então os que chegaram foram fazendo o que tinha para fazer. Tikara olhava várias vezes na direção de Milena, que não havia falado com ele. Preocupado, o rapaz se virou para seus amigos.

 

“Eu não consegui falar com ela por um mísero segundo, acham que ela percebeu que ‘tô a fim e ‘tá pulando fora?” Tikara perguntou.

 

“Se for isso, hoje é um dia cheio de descobertas.” Xaveco disse risonho levando um chute de Nikolas.

 

“Vai ver é pelo trabalho, Tika. Não se esqueça que essa daí leva essas coisas a sério.” o dono dos dreads falou e o amigo assentiu.

 

“É, faz sentido. Agora mudando um pouco o foco... sabem por que a Penha ‘tá olhando pra cá e rindo?” perguntou e Xaveco soltou um riso alto que fez todos o encararem.

 

“Será que vou ter que dar uma professora e separar esse grupinho?” Denise questionou séria.

 

“Foi só uma risada, nada demais.” Jeremias comentou.

 

“Fiquei curioso, o que é tão engraçado?” Do Contra perguntou.

 

Xaveco mordeu o lábio inferior.

 

“Nada, foi uma piada de matemática que nosso amigo monitor contou.” falou dando um tapa nas costas do amigo, que o fuzilou com o olhar.

 

Todos olharam para Nikolas.

 

“Conta aí! Pra ter interrompido o raciocínio de todo mundo deve ser ótima.” Denise disse.

 

Nikolas forçou um sorriso e tentou lembrar de alguma.

 

“Ér... qual animal tem aproximadamente 3,14 patas? O PIolho!” falou e os demais o encararam sem rir, exceto Do Contra que riu divertido.

 

“Eu gostei dessa!” o dono do topete exclamou risonho.

 

“Essa foi muito ruim.” Milena comentou.

 

“Ai, menino, vai se tratar!” Denise disse negando com a cabeça enquanto voltava ao que fazia.

 

Nikolas olhou feio para o amigo, que deu de ombros. Tikara os encarou sem entender, sentia que estava fora de alguma piada interna, mas ignorou isso quando viu Milena levantar.

 

“Algum dos donos da casa pode me dar um pouco de água?” ela perguntou.

 

“Eu dou! Vem comigo.” Tikara disse e os amigos sussurram alguns “isso, aí”.

 

                                               X

Na cozinha, aproveitando que estavam só os dois, Tikara decidiu perguntar.

 

“Quase não falou comigo hoje, você não gostou da ideia de reunir todo mundo?” ele perguntou.

 

“Não, não é isso. É que...” ela dizia e o encarou.

 

“Tikara, eu percebi que você parece querer se ‘aproximar’ de mim de um jeito diferente, estou certa?” ela disse direta e ele sorriu sem graça.

 

“E eu pensando que ‘tava sendo discreto... sim, eu tenho uma queda por você!” ele disse e ela sorriu fraco enquanto segurava na mão do rapaz.

 

“Olha, você é um cara muito legal, mas... eu não quero acabar te usando pra esquecer o traste do Felipe. Eu já ‘tô superando, mas não sei se você vai ter paciência. Tem muitas meninas bonitas que vão adorar ter uma chance com um cara como você.” ela disse e ele sorriu devolvendo o toque.

 

“Eu não tenho pressa nenhuma, e não sou um cara que desiste fácil de alguém que faz eu sentir correntes elétricas passando pelo meu corpo. Se você puder me responder se, futuramente, eu teria alguma chance...” ele disse e ela sorriu abertamente.

 

“Quem sabe? Você é um amorzinho, Tika.” ela disse piscando um olho enquanto jogava os cabelos para os lados antes de sair da cozinha, aquilo fez o coração de Tikara falhar uma batida.

 

“Essa garota me deixa maluco!” exclamou enquanto se abanava e decidiu beber água também.

 

                                                         X

Após um tempo, o trabalho enfim acabou. Como nem todos ali se comunicavam entre si, tudo correu de forma bastante silenciosa. Todos já iam para suas casas quando Do Contra chamou Xaveco.

 

“Xavier, você manja de computadores, né?” perguntou e o loiro assentiu.

 

“Um pouco, por quê?” o outro perguntou.

 

“Meu notebook ‘tá com uns problemas e eu precisava que alguém desse uma olhada.” o veterano disse.

 

“Acho que o Nik pode te ajudar mais que eu.” o loiro comentou.

 

“É que esse ano eu decidi me aproximar mais dos meus colegas de dormitório, eu tenho falado bastante com o Jeremias e pensei em trocar uma ideia com você também.” Do Contra explicou não mentindo completamente, realmente achava uma boa ideia se comunicar um pouco mais com seus colegas de dormitório.

 

Xaveco riu.

 

“Ah, ‘tá bom. Você mora muito longe?” perguntou e o outro negou.

 

“Não, bora lá.” falou e os dois saíram.

 

                                               *

Denise havia pedido a Jeremias que continuasse online, então ele ficou um tempo a mais por ali. Assim que todos saíram da sala da moça, ela se virou para ele.

 

“Isadora me mandou uma mensagem sobre a peça. Ela disse que pro roteiro ficar melhor, seria ótimo que a gente lesse como se tivesse interpretando. Ao que tudo indica, a culpa é sua.” ela disse e ele franziu o cenho.

 

“Culpa minha? Por quê?” perguntou se ajeitando na cadeira.

 

“Porque você comentou com ela que adoraria interpretar.” a ruiva respondeu.

 

“Adoraria mesmo, mas não pensei que ela daria essa ideia, né?” ele disse e a moça deu de ombros.

 

“Enfim, a gente pode ver isso quando tiver aula.” a moça falou e ele assentiu.

 

“Tá bom. Mais alguma coisa?” perguntou e ela já ia negar quando se lembrou de algo.

 

“Ah, tem uma coisa! Eu descobri quem escreveu a matéria sobre você. Foi a Narcisa!” ela disse e ele franziu o cenho.

 

“Narcisa? Quem é essa?” perguntou.

 

“É uma de cabelo rosa do terceiro ano. Toni disse que se ajudasse ele, ela entraria no grupo e a bobona caiu.” A moça respondeu e ele riu.

 

“Esse Toni é um idiota.” comentou negando com a cabeça e ela assentiu.

 

Antes que qualquer um dos dois dissesse algo, Jeremias ouviu a porta se abrir e logo sua avó entrou no quarto com algumas roupas dobradas e foi até ele.

 

“Jeremias... ah, essa é sua namorada? Agora sei por que não reclama do internato!” a avó do rapaz comentou e Denise riu alto enquanto Jeremias olhava estranho para a mais velha.

 

“Ela não é minha namorada! É a Denise, uma colega de sala.” ele disse.

 

“Oi, vó do Jeremias! Sabia que seu neto é meu ajudante no jornal da escola e defensor dos fracos e oprimidos?” Denise falou.

 

“Mesmo? Então vai ser um jornalista ativista igualzinho os pais.” a avó disse não muito animada.

 

“Eu não ajudo no jornal! Eu ajudo com coisas da peça de teatro e só!” ele disse.

 

“Porque você quer, se me pedir pra entrar na equipe, eu penso com carinho no seu caso.” a ruiva disse piscando um olho.

 

“Ah, Denise, você não é essa boa moça que ‘tá tentando parecer pra minha vó, não!” Jeremias falou e ela riu.

 

“Ah, não? Quem mesmo ‘tá te ensinando a editar vídeo?” Denise perguntou.

 

“Quem mesmo tem trazido ótimas ideias pro grupo de teatro e roteiro?” ele rebateu.

 

A avó riu.

 

“Estou atrapalhando? Posso deixar vocês sozinhos...” ela subindo e descendo as sobrancelhas.

 

“Ela tem um senso de humor melhor que o seu.” Denise comentou.

 

“Acho que já falamos tudo, Denise. Um bom carnaval pra você!” ele disse e desligou a câmera após ela assentir.

 

O rapaz se afastou da mesa e levantou vendo o sorriso malicioso da avó.

 

“Acho que ela gosta de você, Jeremias.” ela disse e o rapaz negou fazendo uma careta.

 

“Vó... a senhora não conhece essa daí. É uma menina complicada.” ele disse e ela riu.

 

“Do jeitinho que você gosta, né?” falou e ele riu enquanto deixava o quarto com a avó.

 

                                               *

Na casa de Do Contra, realmente tinha um problema no notebook que Xaveco olhava. Enquanto tentava descobrir o que era, Do Contra falava com ele.

 

“O Cebola ainda enche meu saco com isso de ranking no xadrez. Como você se livrou?” o loiro perguntou.

 

“Quando eu pedi pra me tirarem do ranking. O Cebola é um cara muito competitivo, o jogo se transforma em uma coisa chata.” o outro respondeu.

 

“Percebi!” Xaveco falou e outro lembrou de algo.

 

“Ah, você sabia que no IL tinha um grupo de música?” perguntou.

 

“Não! E por que tiraram? Devia ser foda!” o novato falou.

 

“O diretor é um lixo. Mas eu e Ramona estamos fazendo um levante para que o grupo volte, já temos alguns adeptos. Gostaria de apoiar essa causa?” o moreno perguntou e o loiro assentiu.

 

“Claro! Eu gosto de música, eu não toco nenhum instrumento, mas precisando de ajuda técnica, tamo aí!” ele disse e o outro sorriu.

 

“Valeu, cara.” agradeceu.

 

Os dois ainda falavam de música quando a porta do quarto se abriu.

 

“DC, eu... ah, Xavier! Oi!” era Nimbus ali usando apenas uma bermuda.

 

O cacheado o olhou e o encarou dos pés à cabeça instantaneamente.

 

“Oi, Nimbus.” cumprimentou.

 

Do contra sorriu de lado enquanto se levantava.

 

“Eu vou pegar alguma coisa pra gente comer, já volto.” falou deixando o quarto.

 

“Traz minha barra de chocolate! Meu irmão te arrastou até aqui pra olhar esse lixo que ele chama de notebook? Você manja?” Nimbus perguntou e o loiro assentiu.

 

“Sim, gosto bastante disso. E Do Contra disse que queria interagir mais com os colegas de dormitório.” Respondeu e o outro assentiu.

 

“Legal! Mas qual era o problema?” perguntou se aproximando de Xaveco a ponto de ficar bem ao seu lado enquanto o olhava nos olhos.

 

 O loiro se sentiu estranhamente nervoso com a aproximação de Nimbus e um pouco pelo olhar diferente que ele tinha.

 

“Ah... acho que é problema com... com... ér... nossa! Esqueci o nome!” exclamou balançando a cabeça.

 

Nimbus riu colocando uma mão no ombro de Xavier.

 

“Você é engraçado, cara. Mas um conselho: não dá muita liberdade pro Do Contra! Quando você menos esperar, ele vai vir com uns papos aleatórios.” falou e o outro riu.

 

“Se você conhecesse o Tikara e o Nikolas veria que eles são aleatórios também, mas acho legal.” falou e o outro assentiu.

 

“O importante é estar feliz, né?” falou com um sorriso e o outro assentiu.

 

Os dois ficaram em um constrangedor silêncio enquanto Xaveco torcia para o notebook ligar e Do Contra reaparecer, para a sua sorte, os dois aconteceram.

 

“Ligou! Acho que meu trabalho acaba aqui!” ele disse levantando rápido.

 

“Você é um milagreiro! Valeu mesmo, Xaveco!” falou colocando as barrinhas em cima de sua mesinha.

 

“De nada! Eu tenho que ir agora!” ele disse pegando sua mochila do chão.

 

“Acompanha ele até a porta, Nimbus? Eu tenho que falar com a Ramona sobre o levante.” o de topete pediu e Xaveco engoliu em seco.

 

“Claro. Vamos lá, Xaveco.” Nimbus disse dando um tapinha no ombro de Xaveco.

 

Do Contra pegou duas barrinhas.

 

“Pega, Xaveco! Faz bem pra saúde.” falou jogando duas embalagens de barrinhas de cereais com passas e os dois saíram.

 

“Não se sinta obrigado a comer isso, esse cara come umas coisas estranhas.” Nimbus disse e Xaveco riu.

 

“Ah, não deve ser tão ruim.” disse abrindo uma e, ao dar uma mordida, fez uma careta.

 

O outro riu gostosamente.

 

“É meio... diferente!” o loiro falou enquanto fazia uma nova careta.

 

“Pode falar que é ruim. Aqui, talvez adoce sua vida!” ele disse dando um pedaço de seu chocolate.

 

Xaveco sorriu para ele e quando Nimbus colocou o doce em sua mão, sentiu como se o toque continuasse após ele tirar a mão de lá.

 

“Falou.” o moreno se despediu e o loiro assentiu deixando a casa.

 

Xaveco sentiu o rosto suar e um sorriso bobo brotar em seus lábios, era uma estranha sensação.

 

O dia não demorou a acabar, havia sido bastante cheio.


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