Elena escrita por The Escapist


Capítulo 5
V


Notas iniciais do capítulo

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Quando abriu a porta do apartamento e deu de cara com Bruna praticamente de mala e cuia, Luís Filipe inspirou e soltou o ar devagar.

— O que você tá fazendo aqui, Bruna? — perguntou.

— Posso ficar aqui hoje?

— Cê tá de brincadeira, né? — Mas a garota já foi tomando a frente e entrando antes mesmo de receber a permissão do irmão. — Bruna, você pelo menos avisou ao pai que vinha pra cá? — Ela balançou a cabeça em negativa. — Fala sério, então você não pode ficar.

— Por favor, Lu. Eu não tô falando com o papai.

— O que isso significa?

Bruna largou a mochila no chão e se sentou no sofá, dobrando as pernas e deixando os sapatos para cima das almofadas.

— Pé pra baixo, por favor — Luís mandou. Não entendia como sua irmã conseguia ser, ao mesmo tempo, uma patricinha e uma pessoa totalmente desleixada. Às vezes ela aparecia toda embonecada, parecendo uma Barbie, e outras vezes chegava como naquele momento, usando um jeans velho e uma camiseta básica, de tênis sujo e mochila nas costas, com os cabelos presos num rabo de cavalo simples. — Que história é essa de não estar falando com o papai?

— A gente brigou — ela deu de ombros, como se isso resumisse toda a questão.

— Tenta ser um pouco mais vaga, minha irmãzinha.

— Você sabe como ele é, não é? Não quer deixar eu fazer nada. Fica implicando o tempo todo, vigiando, eu não aguento mais isso, Lu, ele age como se a gente estivesse na década de 50. Mas isso é só comigo, porque a Carolina pode fazer tudo. Ela sai de casa a qualquer hora e ele não diz nada. Nadica, bico fechado. Ele me chamou de comunista e disse que não vai sustentar comunista, vê se pode isso!

— Você vai fazer o velho ter um infarto.

— Não é minha culpa se ele é careta e retrógrado.

— Ele é velho, cara.

— Mas ele não me respeita, Lu, ele me trata como uma criança.

— E você se comporta como se fosse uma.

— Por que você não fica do meu lado? Você é a única pessoa que me entende.

— Olha, o papai te chamou de comunista só pra te irritar, ele sabe que você nem sabe o que é isso. — Bruna abriu a boca para protestar, mas o irmão não deixou, continuou falando. — Discutir com ele por política é o cúmulo da falta de noção. Você sabe que noventa por cento do que ele fala é pra encher o saco da gente — Bruna deu de ombros. Todos os irmãos tinham se acostumado e até achavam graça com as conversas conservadoras do pai, mas ela não conseguia enxergar tudo como brincadeira. — Além disso, você é a única filha que resta em casa pra ele vigiar e querer controlar.

— Mas... Ele deixa a Carolina fazer tudo...

— Carol é maior de idade e independente, ela só tá morando na casa dos nossos pais pra não ter despesas. Você não pode fugir de casa toda vez que discutir com o papai.

— Queria que ele me respeitasse, Lu, só isso.

— Você precisa conversar com ele.

Luís conhecia o pai e sabia que ele não era uma pessoa fácil. Em seus anos de adolescente também teve seus momentos de rebeldia e, na primeira oportunidade, saiu de casa. Entendia o que Bruna estava passando, até porque seu Heitor era muito mais rígido com as filhas do que jamais fora com o único filho.

— Você pode ficar aqui hoje, mas vai ter que ligar pra casa pra avisar onde está — determinou e Bruna assentiu, mas como a conhecia bem, ele insistiu no assunto e só arredou o pé depois que ela pegou o celular e falou com a mãe. Então a deixou em paz para ir guardar as coisas no quarto de hóspedes e tomar banho.

Mais tarde, estava deitado na cama, lendo, quando a irmã invadiu seu quarto sem nem ao menos bater na porta, trazendo consigo uma tigela de brigadeiro e duas colheres.

— Então, me conta sobre a Elena — Bruna pediu, depois de se sentar na cama ao lado dele e lhe entregar uma colher.

Primeiro Luís quis mandá-la embora porque a irmã adolescente não era exatamente a melhor pessoa com quem conversar sobre seu relacionamento; além disso, Bruna sabia que ele detestava comer em cima da cama. Mas afinal ele percebeu que estava sem forças para discutir com ela e, sendo honesto consigo mesmo, não havia muitas pessoas com quem pudesse conversar. Todos os seus amigos diriam que ele tinha se livrado de uma boa, mas ele não gostava de pensar em Elena como um fardo.

— O que você quer saber?

— Não sei, vocês conversaram? — Ele fez que não. — Assim fica difícil de vocês se entenderem, não é?

— Ela não quer conversar comigo, foi bem clara nesse sentido.

— Acho que você tá sendo muito bundão, cara. Nenhuma mulher gosta de um cara tão passivo assim.

— E eu acho que você não sabe nada sobre a vida pra me dar conselhos.

— Tem razão, eu não sei nada sobre a vida, mas sei sobre você, e a Elena não sabe o que tá perdendo, acho que você deveria mostrar a ela, afinal, você gosta dela, não é?

— Eu gosto dela, mas ela não quer ficar comigo, parece que não sou bom o bastante pra ela.

— Não, acho que você está entendendo errado.

— Hum?

— Quais foram as palavras exatas da Elena? — Luís suspirou, arrependido de ter contado sobre a conversa com Elena a Bruna. Será que não sabia o quão chata sua irmãzinha podia ser?

— Que caras como eu não se interessavam por mulheres como ela.

— Isso quer dizer...

— Quer dizer que ela não confia em mim.

— Não, quer dizer que ela pensa em você como algo bom demais pra ser verdade.

Luís parou com a colher na boca, relembrando que Elena havia usado aquela mesma expressão. Depois ele balançou a cabeça.

— Não existe isso de ser bom demais, Bruna.

— Não, mas, escuta, é assim que a maioria dos homens faz as mulheres se sentirem, como se eles estivessem fazendo um favor por gostar delas.

— Eu não...

— Você não é assim, eu sei, mas a Elena não sabe, e você não pode culpá-la por não saber, o que você tem que fazer é mostrar pra ela que você é confiável e que não está apenas querendo se divertir.

— E como você sugere que eu faça isso? — Luís perguntou, mais em tom de retórica do que esperando realmente por uma resposta.

— Não é esperando que as coisas aconteçam por mágica. Uma coisa é respeitar o espaço dela, outra coisa é desistir e acho que você tá mais pra desistente. Liga pra ela — Bruna incentivou e já foi estirando o braço para pegar o telefone e colocar nas mãos dele.

Luís achava ridículo receber conselhos de uma adolescente, mas quando se deu conta, já estava tocando na tela e ligando para Elena. Ela atendeu no terceiro toque, parecia surpresa ao ouvi-lo e, por um instante, ele quase não soube o que dizer. Via Bruna gesticulando, incentivando.

— Eu pensei que... será que a gente poderia conversar? — Pôde sentir a hesitação dela, ouvindo a respiração ao telefone. — Prometo te deixar em paz depois disso, só queria... uma chance.

Bruna fez uma careta e um sinal de positivo ao mesmo tempo: ele estava indo bem, apesar de piegas.

— Entendo, mas... posso ir à sua casa, se não for incômodo pra você.


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