Mirror Myself In You escrita por LadyDelta


Capítulo 39
Don't Give Up On Me


Notas iniciais do capítulo

Fala ai delicinha. Palavra dada é palavra cumprida

( ˘͈ ᵕ ˘͈♡)

Ainda não é meia noite e estou livre de toda e qualquer maldição

Semana que vem é atualização de Because outra vez e depois, na próxima, aqui de novo. talvez antes, porque tive de cortar esse capitulo. Estava muito grande e me dando agonia. Então se tu sentir que está faltando algo, tá na outra parte que não irá demorar a aparecer.

Música do capítulo: Andy Grammer - Don't Give Up On Me

Playlist da história.

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Dito isso

~Boa leitura.



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Galateia pov.

Tirei o paletó do uniforme afrouxando a gravata no pescoço e olhei para Jhu parada na porta. Vir ver a Vick e ela não estar em casa... Talvez isso seja um sinal para que eu vá para casa e deixe as coisas como estão. Ou eu devo tentar um pouco mais antes de desistir... Embora a resposta pareça mais simples que o normal, sou ingênua o bastante para ignorar. Sorte a minha que não sou sensitiva com nada, se não só me atrapalharia ainda mais, porque iria ignorar completamente minha intuição.

— Você parece um pouco confusa. – Jhu falou e suspirei antes de assentir. Realmente incomodada pelas dúvidas não me deixarem decidir. – Vick é meio pamonha as vezes, mas ela realmente gosta de você. – Garantiu e olhei para o chão.

— Não tenho certeza disso. – Confessei pegando o celular para conferir as horas.

— Bom, ela não sabe fingir afeto, então ficar babando em você e ficar cheia dessas frescuras dela, pode crer que é totalmente verdadeiro. Ela é sonsa demais para conseguir forjar expressões faciais ou camuflar a euforia dela. – Falou como se não fosse nada e lhe olhei curiosa, vendo seu sorriso divertido. – Sério, ela não conseguiria nem que você oferecesse dinheiro pra ela. – Deu de ombros. – Além do mais, ela só não está aqui porque tá no hotel lá no centro. A mãe dela veio pra cidade, então a Vick foi ficar com ela. – Explicou e joguei o paletó para trás das costas o amarrando na cintura. – Se ela estivesse aqui, certeza que ia estar agarrada em você, chorando e toda catarrenta porque veio lhe ver. – Falou pensativa e levou uma mão a boca, mordendo uma das unhas. – Isso é totalmente a cara dela, então... Sei lá. Você deveria reconsiderar ela não estar aqui agora?

— Não sei, acho que eu não deveria nem ter vindo. – Murmurei.

— Mas veio, isso não deveria ser um sinal?

— Ela não estar, também. – Rebati e seus olhos se estreitaram.

— Ser grande parece uma tarefa difícil. Eu só iria tomar sorvete e assistir desenho, então tudo se resolveria. – Disse despreocupada e sorri sem humor. Se todos os problemas fossem resolvidos assim. – Quando brigo com minha amiga na escolinha, faço um desenho pra ela como pedido de desculpas e as coisas voltam ao normal, as vezes ela me faz desenhos também, só que os dela são muito mais bonitos e detalhados. – Continuou e lhe observei em silêncio. – Vendo assim, acho que eu deveria caprichar mais nos meus, porque do lado dos dela, parece que fiz só alguns rabiscos, ela sempre parece se esforçar mais para que o dela fique bonito. – Observou e por um momento o assunto não parecia ser sobre desenhos.

— Acho que a Vick me deu uma folha em branco.

— Ela não sabe desenhar, mas se ficar perto dela ela vai te abraçar e fazer carinho. Não sei se isso vale como pedido de desculpa, também não sei o que ela fez, mas provavelmente não foi de propósito.

— Provavelmente não. – Murmurei.

— Então não da pra resolver? Seria bem chato se você parasse de ser amiga dela, além de me deixar com saudade, eu terei de aturar a choradeira da Vick e ela é um saco. – Reclamou e olhei para o celular em minha mão. Resolver... Seria fácil se dependesse só de mim.

— Eu meio que não sei se devo.

— Não tem um jeito de tornar as opções mais fáceis? Quando não sei qual dos meus cereais comer, mamãe me faz olhar pros dois e analisar porque eu gosto deles. – Explicou e sorri. A inocência infantil é algo admirável. Um jeito de deixar a escolha mais fácil sem se basear em cereal para o café da manhã...

— Talvez tenha. Vou fazer uma ligação. – Alertei pela ideia de ligar pra Liane parecer mais sensato a se fazer do que encontrar uma solução eu mesma. Levei o celular ao ouvido e pedi um tempo para criança que ficou parada na porta me olhando em curiosidade.

Irmã mais velha 24h disponível para o que for, alô. Atendeu animada e sorri me escorando na parede.

— Lily, preciso de um conselho.

Oh... Entendi, calma. Me deixa sentar em uma posição melhor.— Pediu e o telefone ficou em silêncio alguns segundos. – Pronto! Diga que darei o meu melhor.

— O que acha se eu for visitar a Victória? – Perguntei e ela ficou em silêncio. – Não é uma ideia do nada, já deixando claro. – Avisei rapidamente. – Ela passou por umas coisas hoje, até precisou ir para o hospital. Eu estou preocupada. Talvez não devesse, mas estou. Vim na casa dela, mas ela está em outro lugar com a mãe. Minha cabeça diz pra não ir, mas...

Você quer ir mesmo assim.— Falou baixo e suspirei aborrecida comigo mesma.

— Quero. O que eu faço?

Galateia, você não precisa que eu te diga o que fazer.— Falou e me encolhi. Não precisa, mas seria bom se ela ajudasse. – Mas eu vou. Falou firme e sorri suavemente. Vai ver ela.

— Acha mesmo que devo ir? O está dizendo por que sabe que é o que eu quero fazer?

Acho. Você se importa e isso vale mais que qualquer outra coisa. Não estou dizendo que ela merece, mas que você deve fazer o que seu coração pede. Graças a ouvir ele, foi que voltou a confiar em mim e isso é a coisa mais valiosa da minha vida, Galateia. Eu nunca mais irei te magoar, porque te machucar parece ter doído mil vezes mais em mim. O fato de me ligar para te ajudar a decidir é um ato tão doce ao meu ver. Obrigada por confiar em mim de novo. — Sussurrou e olhei para meu tênis, tentando manter meu foco nele.Se me deu essa chance, é justo que ela também mereça uma. Vai ver a menina, seja o serzinho de luz que sempre foi. Se isso não for o suficiente para que ela entenda a gravidade das ações dela, aí sim deve se afastar. Aconselhou e suspirei aliviada.

— Obrigada por me ajudar. – Falei pelas coisas realmente parecerem mais simples agora. É como Robert disse: Devo culpá-la para sempre ou lhe dar o benefício da dúvida e me arriscar a ter a culpa? Foi o que inicialmente me fez querer vir até aqui, talvez seja pelo mesmo motivo que agora irei até lá. 

— Estou sempre disponível para te ajudar a partir de agora. E também... Se você não for ver ela, isso vai te atormentar por vários dias. Então segue seu coração. Eu posso te buscar depois e podemos conversar sobre o que aconteceu, tudo bem?— Ofereceu e sorri.

— Tudo bem, obrigada.

Sem problemas, me passa o endereço e me manda mensagem quando quiser vir embora. Eu estarei aqui aguardando.

— Tá bom. Obrigada, Lily. Retorno para você mais tarde.

— Perfeito. Serviço de irmã mais velha agradece seu contato, por favor, peço para avaliar minha conduta no final da chamada, vai me ajudar bastante em saber o que melhorar.Falou e não consegui segurar a risada. Em uma nota de zero a dez, onde zero é totalmente insatisfeita e dez é totalmente satisfeita. Qual nota você dá para sua irmã fodona?— Continuou e neguei com a cabeça.

— Eu amo você, Liane.

Você escolheu a opção superior de irmã Premium. – Continuou e sorri.Eu também amo você, meu anjo. Vai lá ver a menina e não esquece de me mandar mensagem. Beijos.

— Beijos, até mais tarde. – Voltei a sorrir bloqueando o celular e olhei para Jhu, que me esperava terminar a ligação. – Sabe dizer onde a Vick está?

— Sim! – Sorriu grande. – Espera, vou chamar o papai pra te levar lá. – Correu para dentro e fiquei na porta olhando para o chão.

— Galateia? – Ouvi a voz de Vanessa e me virei para trás, vendo-a parada no corredor com a bolsa no ombro. – Veio ver a Vick? – Perguntou se aproximando.

— Sim, mas ela não está.

— GALATEIA! – Senhor James gritou de dentro do apartamento e tanto Vanessa quanto eu olhamos para dentro assustadas, vendo o homem de quase dois metros vir correndo pela sala com a criança deitada em seu colo. – Você veio, não acredito. – Falou eufórico e olhou para o lado raspando a garganta e arrumando a postura. – Oi amor, você também chegou. – Se inclinou beijando a testa dela e passou Jhu para seu colo. – Vou levar Galateia pra ver a Vick. – Alertou e Vane assentiu segurando melhor Jhu em seus braços.

— Tá bom, vou entrar então. – Sorriu e me olhou brevemente. – Fico feliz que queira falar com ela, nunca a vi tão triste. – Falou carinhosa e beijou o rosto de Jhu. – Isso vai deixá-la muito feliz. – Garantiu e sorri olhando para o senhor James, que mostrou a chave do carro, indicando o caminho com a mão. Acenei para Vanessa e Jhu e o segui em silêncio até o estacionamento do prédio, entrando no seu carro e agradecendo por ele se manter em silêncio ao começar a dirigir pela cidade, deixando que eu me focasse nos meus pensamentos. O que durou metade do caminho, porque depois que notei seu olhar pelo espelho retrovisor, como se estivesse se contendo para não dizer algo... Não consegui voltar para minha própria bolha.

— O senhor pode falar, se quiser. – Dei espaço focando no estofado. Ele pelo menos se manteve em silêncio até agora, já é um sinal de que respeita o meu.

— De verdade?

— Sim senhor.

— Irá ouvir mesmo? – Perguntou surpreso e sorri brevemente.

— Irei.

— Certo... Então... Hum... Obrigado por estar indo ver ela. – Falou e ergui o olhar para o retrovisor para lhe ver. – Ela não merece, mas obrigado por estar tentando. – Encolheu os ombros e desviei os olhos para janela. – Esse ano está sendo totalmente novo para ela, Confesso que já estava perdendo a esperança dela fazer amigos, mas te conhecer a fez ter alguns e isso trouxe uma animação que eu não via nela tinha um tempo. Gostar de você trouxe um pouco do brilho dela de volta. – Falou e entreabri a boca para lhe responder, suspirando logo em seguida.

— Só espero não estar errada sobre isso. – Murmurei.

— Conheço meu filhote, ela vai fazer por merecer, isso eu te garanto. Só dê uma chance, mas seja dura com ela. – Pediu e assenti voltando a me manter em silêncio. – Chegaremos em uns 10 minutos, ela vai estar no quarto 78. – Alertou se concentrando na estrada e suspirei. Não sei o que vai acontecer agora, mas espero que as coisas não fiquem pior do que já estão.

Victória Pov.

Rolei na cama pegando o celular no outro extremo e o trouxe para perto do rosto, desbloqueando e abrindo minha conversa com Galateia, que não tinha literalmente nada para ser visto ali. Depois que lhe mandei mais de 15 mensagens no dia anterior em puro desespero e ela não responder, achei que seria menos humilhante apagá-la só para mim e fingir que nunca havia mandado. Agora sinto que deveria tê-las deixado aqui, assim saberia o que não dizer, já que não ter uma resposta era mais explicativo que palavras.

— Encarar seu celular não vai fazer uma mágica acontecer. – Mãe falou do sofá e suspirei bloqueando o aparelho e o jogando de volta na cama.

— Não devia ter saído cedo. Disse que falaria com ela.

— Se ela lhe viu sair, certeza que não é tão insensível assim para te culpar por isso. – Murmurou voltando a atenção no que fazia e coloquei o travesseiro sobre a cabeça, abafando um grito.

— Não, pelo contrário! Ela ficou preocupada comigo. – Falei ainda o apertando no rosto em pura frustração.

— Isso é bom. – Comentou e rosnei arremessando o objeto em sua direção, acertando seu rosto.

— Não, mãe! Isso não é bom. Ela está chateada e ainda assim se preocupa comigo. Isso só serve para mostrar quão incrível ela é e como pisei na bola. Só joga na minha cara que caguei tudo com uma garota perfeita. Deveria ter lhe dado tempo e paz para pensar sobre o que aconteceu, mas agora ela ficou preocupada comigo. É injusto confundir os seus sentimentos assim. – Reclamei com vontade de chorar. Sou muito estúpida.

— Você está pensando demais em coisas simples. – Comentou e arregalei os olhos. Não acredito nisso.

— Mãe! Não é simples. Não tem nada simples nisso tudo. – Minha voz saiu mais aguda e extremamente fina por ficar com raiva. – Não é algo que você deve fingir que não é importante, saco. Eu machuquei os sentimentos dela! Fiz merda, fui idiota e ela não está tendo tempo de processar nada. O que eu deveria fazer? Sentar e não pensar sobre isso? Qual a parte da sua lógica resolve as coisas? – Bradei irritada por ela parecer não se importar.

— Não é não fazer, você só deveria dar tempo para as coisas se ajeitarem. Ela já sabe que você soube sobre sua memória. – Comentou analisando as unhas e me ergui da cama em um pulo.

— Quê? Como que ela sabe disso?

— Eu contei? – Perguntou como se fosse óbvio e levei a mão a boca em puro choque.

— Você não tinha o direito! – Ralhei. – Não de dizer pra ela, mãe.

— Eu só estou ajudando você. – Tentou tranquilizar e lhe olhei em desespero. Ajudar?

— Como que isso me ajuda? Mesmo que seu objetivo fosse esse. Sinto que quanto mais tempo passa, mais as coisas vão se complicando! Só estou causando problemas e me afundando ainda mais. – Me encolhi. – Minha cabeça só parece mais estranha que tudo e vez ou outra, meu foco se perde. Eu nem sei dizer o que aconteceu mais cedo e isso nunca ocorreu antes! – Falei sentindo minha voz embargar pela vontade de chorar. – Foda-se o resto da minha memória, não me importa, mas importa a parte que a Galateia estava. Quero me lembrar dela, só que nada aparece, não consigo lembrar de nada. – Sussurrei levando a mão ao rosto. – Não ligo se eu escondi um tesouro para abrir depois ou derivados, mas... Ligo de saber porque eu gostava dela, me importa porque ver como ela ficou triste comigo só prova que tudo que viveu comigo foi precioso para ela e eu não me lembro de nada disso. – Limpei as lágrimas e me sentei na beira da cama. – Não sei o que fazer.

— Isso não está no seu controle, filha. Você tem 98% de chances de nunca lembrar. – Sussurrou e lhe olhei em descrença.

— Então por que me contou? Se sabia que eu não ia conseguir lembrar, por quê? – Perguntei indignada e ela se sentou ao meu lado antes de suspirar.

— Porque por mais que não se lembre, tem coisas que inconscientemente parece se lembrar. Mesmo sem memória, assim que ficou boa, ficou encantada por natação e quis fazer aulas, mesmo que já fosse aluna “veterana”. – Fez aspas com os dedos e lhe olhei sem reação. – Por dias tudo o que dizia antes de perder sua memória era o nome da mãe da Galateia. Você recitava Scarlet Merok Maiden pra todo canto, chegou a escrever na parede do quarto pra não esquecer. O nome dela era seu passe para rever a Galateia. – Contou fazendo carinho em minha cabeça e foquei meu olhar no chão. – Minha viajem a negócios estava próxima o suficiente para você ficar extremamente ansiosa. Então, meu anjo. Inconscientemente, talvez não seja 100% sua culpa ser tão obcecada nessa mulher. Seu cérebro talvez só não tenha associado direito o fato de Scarlet significar Galateia, então se confundiu e transformou o sentido para Galateia significar a Scarlet. – Contou e pisquei algumas vezes antes de empurrar sua mão para o lado e voltar a me levantar.

— Isso não importa! Mas que inferno. Se foi por isso, não muda o fato de que eu poderia ter feito diferente e dito pra ela desde o início. Droga, se eu tivesse feito diferente ela não estaria com raiva de mim agora. – Reclamei e mãe se ergueu quando ouvimos batidas na porta.

— Vou pegar nosso jantar e continuamos falando sobre isso, por hora, tente se acalmar. – Foi até a porta e neguei várias vezes com a cabeça.

— Já pensou em falar pra uma pessoa não ter depressão e sorrir? – Perguntei irritada.

— Olha como fala comigo, ainda sou sua mãe e não tenho medo de te dar umas chineladas. – Alertou e bufei me jogando na cama, voltando a cobrir minha cabeça com o travesseiro reserva dela. – Vick. – Chamou e apertei o travesseiro.

— Me deixa, eu morri.

— Não seja dramática.

— Dramática? Pelo amor de Deus, mãe. Não estou com fome, deixa essa comida jogada aí. – Murmurei. – Vou dormir até amanhã pra evitar de chorar.

— Bom, não é sobre a comida. – Comentou e tirei o travesseiro da cabeça para olhar pra ela em irritação. Juro que se ouvir coisas como, “aceite o desespero como uma luz de esperança” vou xingar ela.

— O que você quer agora? – Reclamei e arregalei os olhos me sentando em um pulo por ver Galateia ali, usando o uniforme da escola, mas só com a blusa social branca, as mangas dobradas até acima do cotovelo, a gravata desfeita caindo ao lado do pescoço e o paletó amarrado na cintura.

— GALATEIA! – Gritei jogando o travesseiro de lado e me levantando rapidamente da cama. – O que... – Raspei a garganta e praticamente paralisei por ela dar alguns passos em minha direção e erguer a mão esquerda pedindo silêncio, o que me fez engolir em seco ao fazer contato com os olhos azuis afiados.

— Como você está? – Perguntou séria e pisquei confusa.

— Acho que bem. – Sussurrei recebendo seu aceno de cabeça.

— Ótimo, era só o que eu queria saber. – Deu as costas começando a andar na direção da porta para ir embora e fui rápida em dar três passos largos e agarrar seu pulso.

— Espera! Como assim só isso? Você veio saber se eu estou bem e ia ir embora? – Perguntei incrédula.

— Sim. Era o que me interessava no momento. – Falou parada por eu ainda lhe segurar e abri a boca sem saber o que dizer. – Como está bem, já posso ir embora. – Puxou o braço de leve e como resposta cheguei mais perto do seu corpo, soltando seu pulso para lhe abraçar pelas costas.

— Não! Como assim ir embora? Você nem precisava ter vindo, era só ter me mandado uma mensagem se fosse só isso! – Lhe apertei um pouco nos meus braços e olhei para mãe pedindo ajuda com o olhar, o que ela só fez erguer as mãos e se retirar. Mas que porra?

— Eu estava no caminho. – A voz de Galateia soou calma e neguei com a cabeça lhe apertando mais forte por querer chorar.

— Mentirosa, eu não te disse onde eu estava, também não disse pra Vanessa ou para o Vicente. – Falei o óbvio. Se ela está aqui é porque procurou saber de mim e pra saber que estou nesse hotel, era só se falasse com meu pai, então deve ter ido na minha casa antes, porque não tem o número dele. – Não vai embora não, por favor. – Pedi com a voz chorosa. – Eu faço qualquer coisa pra você ficar aqui comigo. – Deitei a testa em suas costas e fechei os olhos para não chorar. Ela não precisava estar aqui, mas agora que está, não quero que saia.

— Diga alguma coisa que me faça acreditar que você vale a pena. – Pediu e foi o suficiente para me fazer chorar. – Sem ser uma desculpa, eu não quero que me peça desculpa, Vick. Quero que me dê um motivo para não desistir de você, porque até agora, só tenho os meus e eles não estão sendo fortes o bastante. – Falou se soltando facilmente de mim por eu levar a mão ao rosto para limpar as lágrimas, olhando para frente e fazendo contato com seus olhos azuis outra vez. – Eu gosto de você há tanto tempo que não quero ter de desistir, não dessa forma, não sem antes te ouvir. – Continuou e minha visão ficou embaçada pelo acúmulo de lágrimas. – Então diz algo capaz de acabar com as minhas dúvidas, porque não saber o que fazer é agoniante demais. – Por que ela está fazendo isso? A tarefa de tentar resolver as coisas deveria ser minha, então por que ela quem está dando esse passo? – Pelo menos algo que diminua um pouco a raiva que estou sentindo de você. – Sussurrou e abri a boca para lhe responder, mas isso só serviu para me fazer começar a chorar.

— Galateia... – Chamei limpando as lágrimas com as duas mãos. Rosnando em frustação por não conseguir parar de chorar. – E-eu... Eu não queria te magoar. De todas as coisas no mundo, essa nunca passou pela minha cabeça, te juro de todo o meu coração. – Falei tentando manter minha respiração equilibrada, mas isso só pareceu deixá-la ainda mais pesada e embargar minha fala. – Eu nã-ão... Espera. – Pedi fechando os olhos soltando o ar lentamente. – Eu gosto de você. – Olhei para seu rosto e me encolhi por sua expressão de decepção. – E você não quer ouvir isso. – Sussurrei focando no chão e por um momento todos os meus pensamentos pareceram se desligar, deixando um enorme vácuo.

— Estou indo. – Sua voz enviou um choque de realidade e tornei a segurar seu braço em um movimento rápido.

— Não, por favor, não vai não. Eu... E-eu só não estou conseguindo pensar. – Falei soltando seu braço para levar a mão a testa e fechar os olhos, tentando focar em algum pensamento.

— Vick. – Chamou e arregalei os olhos por sentir ambas suas mãos em meu rosto.

— O que foi? – Perguntei procurando seus olhos. Sentindo minhas lágrimas voltarem por ver sua expressão preocupada. Não conseguindo falar ou ter nenhuma reação além de chorar por ela se importar comigo.

— Tá tudo bem. – Sussurrou com carinho e meu coração aumentou o ritmo cardíaco, em perceber que ela havia se aproximado tanto, sendo que me pediu um motivo e eu não havia dado nenhum e que sua vontade era de ir embora, mas que se mantinha perto de mim.

— Não... Não tá tudo bem. Eu não quero fazer isso com você. – Levei as mãos as suas e afastei do meu rosto lentamente. – Quero que fique aqui comigo, mas não te dei o motivo que quer. Não é justo. – Foquei nos olhos azuis escuros que me analisavam em preocupação. Meus próprios olhos marejando para recomeçar a chorar. Não mereço essa garota. Que tipo de pessoa vem ajudar a que lhe machucou a tratar dos próprios machucados? – Por quê? – Sussurrei e voltei a fechar os olhos. – Não consigo pensar no que te dizer. Só... Não esperava que “O sol” fosse doer tanto. – Sussurrei ao me lembrar da carta da Sara, por ser o único pensamento que ocupou minha mente: “Ele te ensinará que as vezes, mesmo que você esteja certa de que não está errando, está cometendo o maior erro da sua vida.”. – Nesse dia, nesse mesmo dia, te ouvir dizer que seu amor não se lembrava de você, foi a ultima vez que pensei em você com algo relacionado a sua mãe. – Contei tornando a limpar as lágrimas e respirando fundo. – Fiquei irritada porque significava que não tinha nenhuma chance com você, porque como gostaria de mim se já gostava de outra pessoa? Eu pensei algo como “se ela já gosta de alguém, pelo menos posso conhecer a Scarlet.”. – Contei evitando lhe olhar e levei a mão a testa. – A verdade que posso te dizer é que me aproximei de você pelos motivos errados, mas me apaixonei pelos certos e quando você começou a dar indícios de que poderia gostar de mim, foi que fez tudo parecer tão errado. Até então, não era “estranho” pra mim meu incentivo inicial. – Falei baixo e peguei uma das suas mãos focando nos olhos azuis outra vez ao conseguir manter as lágrimas sobre controle. – Pode me ouvir um pouco mais? – Pedi e ela suspirou me puxando para sentarmos no sofá do quarto.

— Não teria vindo se não pudesse. – Disse baixo e apertei o polegar e o indicador entre os olhos sobre o nariz para evitar de voltar a chorar. – Não é uma contagem regressiva, o tempo não tem importância aqui, não agora. Não me incomoda que pense um pouco nesse momento, mas me incomoda que pense por vários dias. Sua confusão as vezes é a adorável, mas não quando me machuca. – Falou calma e assenti levemente, voltando a secar uma lágrima por isso a fazer cair. – Eu não estaria disposta a te ouvir se não gostasse de você, Victória. – Alertou e prendi a respiração por não saber como reagir. – Então não faça ser mais doloroso do que já está sendo. – Pediu.

— Não é justo. – Sussurrei agarrando suas mãos com as minhas. – Eu sinto muito por estar doendo agora. – Falei com o coração apertado e ouvi seu suspiro. – Vou concertar, prometo que vou. – Garanti e sua mão apertou suavemente as minhas que tremiam.

— Está tentando, já é um começo. – Falou baixo e levei sua mão a boca, beijando sobre a superfície.

— Você me da mais crédito do que deveria. – Sussurrei ouvindo sua risada nasal logo em seguida.

— Se quiser eu vou embora e nivelo pra você. – Sugeriu e arregalei os olhos.

— Não! – Falei rápido e guiei o olhar para o seu, analisando todo o seu rosto em busca de algum sinal de que ela não estava realmente falando sério.

— O que houve depois da escola? – Questionou e mais uma vez meus olhos marejaram por seu tom vir cheio de preocupação e cuidado. Senti as lágrimas voltarem e suas mãos se afastaram das minhas, vindo em direção ao meu rosto. Seus polegares deslizaram suavemente sobre as lágrimas as secando, mas seu gesto carinhoso só me fez chorar ainda mais. – Vick... Se acalma. – Pediu suavemente, mantendo as mãos em meu rosto. – O que está acontecendo? – Perguntou e me curvei para deitar a cabeça em seu ombro. Ela está preocupada, mesmo depois de toda situação. Veio me ver e ainda quer me acalmar. Não mereço uma garota dessas. – Diga, você ficou mal e foi para o médico. Como foram as coisas? – Perguntou fazendo carinho em minha cabeça com uma das mãos e fechei os olhos sem tirar a cabeça do seu ombro.

— O médico de hoje disse que posso ter picos de ansiedade que podem durar alguns dias, por causa do meu cérebro tentando assimilar a falta de memória. – Contei com as mãos trêmulas e procurei o tecido da sua roupa, apertando os dedos ali.

— Picos de ansiedade, entendi. – Falou baixo e meus olhos voltaram a marejar por sua reação. – Então a primeira coisa que fazemos é te acalmar, tudo bem. – Se arrastou no estofado se escorando melhor e estendeu os braços em minha direção. – Venha aqui. – Chamou e me movi rápido para lhe abraçar, colocando a cabeça em seu peito e fechando os olhos. Isso não é justo com ela.

— Eu não queria q-.

— Shiiih, está tudo bem. – Guiou a mão para minha cabeça e fez carinho lentamente. – Tranquila, estou aqui e vou ficar até que melhore. Não importa a situação, você ainda continua sendo muito importante pra mim. – Garantiu e fechei os olhos me deixando chorar pelo carinho suave em meu cabelo e sua mão segurando protetoramente minha cintura. Porra, ela é extremamente adorável e carinhosa, mesmo tendo lhe magoado. Está aqui comigo, agindo como se não tivesse lhe feito chorar. – Tome seu tempo para se acalmar, tá tudo bem.

— Galateia... – Chamei baixo e suspirei me aconchegando mais em seus braços. – Eu gosto de você. Não desiste de mim até que eu me explique. Irei fazer isso daqui a pouco, só não nesse momento, porque minha cabeça está confusa demais para que eu pense normalmente, me dê alguns minutos. – Pedi lhe apertando mais forte por medo dela se afastar. – Sei que já é a segunda vez que te peço para esperar algo de mim e da primeira vez te fiz chorar, mas por favor, só espere mais um pouquinho. – Pedi receosa com sua resposta e sua mão mudou o carinho para minha nuca.

— Está tudo bem, você tem o meu tempo agora. – Garantiu e suspirei aliviada. – Você parece transtornada, então descansa um pouco, durma, ainda vou estar aqui quando acordar. – Continuou com a voz calma, o que levou meus olhos a relaxarem. Inspirei lentamente o cheiro de cereja que emanava dela e fechei os olhos acompanhando o ritmo da sua respiração, só então notando o sono que sentia, já que não durmo direito tem uns três dias. De alguma forma, por mais que minha cabeça esteja com medo dela não estar mais aqui quando eu acordar, meu coração sabe que estará.

Galateia Pov.

Deslizei o dedo por sua franja a tirando da testa e virei seu corpo suavemente para o lado pra poder lhe deitar em uma posição confortável no sofá. Não era impressão minha que ela não tinha dormido direito. Acho que embora precise de explicações, não escolhi o melhor momento para isso, mas ao mesmo tempo, se isso não for resolvido agora, não acho que estarei disponível para uma próxima vez.

— Finalmente. Achei que ela não ia dormir tão cedo. – Senhorita Valquíria falou do batente da porta e olhei na sua direção com certa decepção por ter contado algo que não havia necessidade e ter colocado a Vick nessa situação. Ela estaria menos confusa se não fosse por isso. – O que foi? – Perguntou divertida. – Eu não devia ter contado, certo? É o que está passando na sua cabeça agora.

— Não tinha necessidade. – Falei em voz baixa, me levantando lentamente para ir em sua direção. – Tudo que aconteceu é relevante pra ela agora, só serviu pra confundir a cabeça dela. – Expliquei o óbvio e ela assentiu fazendo um sinal com a mão para nos retirarmos do quarto e irmos para o outro espaço.

— Sei que pensa assim e para ser sincera, eu também. Mas temo que ela não irá saber te explicar porque se aproximou de você por ver o nome da sua mãe em um livro. Na cabeça dela fazia total sentido e só agora caiu a ficha dela de que foi algo muito babaca. Saber o que houve, por mais que seja prejudicial momentaneamente, vai ajudá-la entender porque as vezes é tão lerda para certas coisas e porque não consegue fazer pausas como uma pessoa comum para falar. – Explicou se escorando na parede e fiz o mesmo. – A coisa toda com a sua mãe, creio que foi por uma memória da infância dela que ficou confundida. – Disse a mesma coisa que Liane e neguei algumas vezes com a cabeça.

— A senhora poderia ter me dito, não precisava ter contado pra ela.

— Pode ser, mas era algo que eu já vinha planejando fazer por um tempo, só tive uma oportunidade para isso.

— Ela passou mal na escola hoje e é óbvio que não dorme direito por uns três dias. Não precisava ter dito isso pra ela, não assim. – Falei aborrecida por ter visto o quanto isso a afetou. Ela realmente tentou se explicar agora, mas parecia que alguma coisa estava lhe empacando.

— Ela iria saber sobre isso em algum momento, Galateia. Adiar ou não, o resultado seria o mesmo, já era o esperado. O médico na época disse que seria adequado explicar o que houve. Por grande parte do tempo evitei contar por ter seu mesmo pensamento “não vai fazer diferença”, mas ver ela tão pra baixo por te magoar e não conseguir uma forma de explicar porque fez isso... Achei que seria justo lhe dar um motivo, mesmo que ele não justifique a atitude dela. Vick é uma boa menina, você mesma sabe disso. Ela nunca faria algo propositadamente para te machucar ou machucar qualquer pessoa. Sei que ela irá tentar fazer isso do jeito dela, por mais confusa que pareça.

— Confusa ela já está. – Murmurei por isso ser óbvio.

— Eu sei, também sei que não deveria pesar na sua escolha de desculpar ela ou não, mas antes que tome uma decisão... – Cruzou os braços e foquei nos olhos verdes com auréolas negras ao redor das írises. – Quando você precisou ir embora, Galateia. A Victória chorou sua falta todos os dias. No sítio temos um termo para isso o famoso “aguado”, que você deve conhecer por causa do seu pai. – Sorriu suavemente e assenti com a cabeça algumas vezes.

— Lembro que meu pai usava muito essa palavra para substituir a depressão, sempre quando tratava filhotes doentes ou moribundos que perderam a mãe ou mamães que perdiam seus filhotes e animais bem cuidados que perdiam os donos. Basicamente uma fase que se não tratada com muito carinho e paciência, poderia levar ao falecimento do animal. – Falei ao me lembrar da informação e ela assentiu.

— Usar esse termo para crianças, significava que a criança em si ficou muito sentida com alguma coisa ou situação. No caso da Vick, você vir embora, partiu o coração dela. – Jogou a notícia no ar e prendi a respiração. – Ela falava de você todo santo dia, pela manhã, pela tarde, à noite, antes de dormir. Todos os dias ela me pedia para vir te visitar, que seria fácil te achar porque você tinha dito o nome da sua mãe, Scarlet Merok Maiden. – Disse calmamente e soltei o ar lentamente para equilibrar a respiração. – Na época eu estava começando meu negócio, então tempo e dinheiro era tudo o que eu não tinha. Prometi que levaria ela para te ver assim que tivesse meu tempo. Ela aceitou a oferta e esperou pacientemente, mas se machucou na aula de natação por causa de umas crianças que estavam implicando com ela e tudo aconteceu. Vick nunca mais falou de você ou da sua mãe, mas ainda sim continuou gostando de natação, talvez por sua causa, inconscientemente.

— Ou porque seu corpo se lembrava. – Murmurei de braços cruzados. Muita coisa pra assimilar, se eu estou confusa, imagina a Victória.

— Não sei sobre isso e também não estou querendo justificar o motivo dela, só estou dizendo que, ler o nome da sua mãe naquele livro, pode ter ativado uma parte esquecida do tempo na mente dela. Trazendo de volta toda a obsessão que ela estava para encontrá-la, mas se esquecendo que, o motivo era por você, não por ela. Sua mãe ser uma autora famosa só contribuiu pra que ela tivesse outro sentido na busca. – Falou e levei a mão esquerda ao rosto, cobrindo os olhos em uma massagem de pura frustração. Inferno. – Temo que ela não irá saber te explicar sobre isso, por mais que não queira te perder. Ela se baseia nos sentimentos dela e no momento, ela ama você. – Explicou e neguei algumas vezes com a cabeça afastando da parede para ir até Vick de novo, parando no meio do caminho. Olhando alguns segundo em silêncio para o teto.

— Por mais que tudo mude a minha opinião e eu consiga entender, a senhora não deveria ter feito isso com ela, não dessa forma. – Falei aborrecida. – Do mesmo jeito que eu soube lidar com ela quando recebi a informação, saberia lidar agora, bastava ter me dito.

— Daí você mentiria para ela. – Frisou e olhei para trás em surpresa. – Teria se interessado se não lembrasse dela como sua amiga de infância? – Perguntou e suspirei sorrindo suavemente.

— Obviamente, ela faz totalmente o meu tipo. – Garanti indo na direção de Vick que ainda dormia no sofá. Mentir para ela... De certa forma, acho que acabei fazendo isso, mesmo que não tenha sido a minha intenção.

Suspirei sentando perto das suas pernas no sofá e lhe observei dormindo, mantendo minha atenção nela por longos minutos. Fechei brevemente os olhos e me ergui para mudar de lado, sentando ao lado da sua cabeça e a guiando para meu colo, fazendo um suave carinho em seu cabelo para pegar o celular e focar nele, mandando mensagem para Liane, explicando a situação até o momento.

Galateia:

Conversei um pouco com a Vick. Na verdade, meio que ouvi um pouco do que tinha para dizer, só que muita coisa está tão confusa ainda. Achei que seria mais viável que ela dormisse um pouco, não parecia bem. Então agora estou a aguardando acordar.

Enviei voltando a olhar para o rosto adormecido dela. A maioria das coisas que ela disse não consegui assimilar muito bem, porque tudo pareceu mais confuso que a situação.

Sister:

Ela parece ter uns neurônios a menos. Você tem um gosto bem duvidoso para interesse amoroso.

A mensagem chegou e sorri de canto para o conteúdo dela.

Sister:

Espero que quando acordar ela faça alguma coisa que preste, caso contrário, nem você vai me impedir de acertar um soco na cara dela.

Enviou e neguei com a cabeça sabendo que isso realmente era algo que ela faria sem pensar duas vezes, faria porque já teve a mesma atitude antes.

Galateia:

Você deveria controlar seu lado agressivo um pouco melhor, sabia? Parece um cão de guarda pronto para atacar.

Sister:

Só quem é idiota o bastante para te machucar. Essa menina tem sorte que você tem sentimentos por ela, caso contrário, além de ter perda de memória, ela teria perda de movimentos.

Mandou a mensagem junto de um emoji bravo.

Sister:

O que ela te disse até agora?

Perguntou e me foquei em lhe responder cada uma das perguntas que fazia, algumas delas servindo tanto para lhe explicar a situação, tanto para me fazer entender melhor como estava me sentindo sobre tudo. Manter uma conversa com ela acabou que me deixando mais calma por sua habilidade divertida de conseguir me fazer rir das coisas mais imbecis que dizia. Não contei o tempo que nos falávamos, mas percebi ser muito quando percebi que os assuntos eram sobre coisas totalmente aleatórias.

Sister:

Acha que se eu fizer isso terei algum sucesso?

Perguntou logo depois de me contar que estava com planos de dar aulas de violão no seu tempo livre, o que só então me fez pensar sobre um assunto que até agora não havia parado para analisar.

Galateia:

Você está sem dinheiro?  

Desde que ela voltou, não me preocupei em saber se estava passando por alguma dificuldade e observando agora, é obvio que aceitar dinheiro da nossa mãe ou do seu pai, não é algo que ela considera uma opção. Estreitei os olhos pelo digitando ficar ativo no alto da mensagem por mais tempo que o comum.

Sister:

Não!! Tenho algum comigo, mas quero começar a fazer algo antes que ele acabe por completo. Acha que daria certo?

Perguntou de novo e foquei no tamanho da mensagem para o tempo que demorou para digitá-la. Não era isso que iria me falar. Lhe conheço o suficiente para saber que isso aqui é uma mentira total. Suspirei e levei o celular para perto da boca, lhe enviando um áudio.

— Eu sei dizer exatamente quando você mente ou fala a verdade. Não precisa mentir pra mim sobre isso, não vou te julgar ou fazer algo que não goste ou não quer. Se estiver com falta de dinheiro, diz pra mim que conversamos, tudo bem? Se quiser e-.— Soltei o botão do áudio o enviando pela metade ao sentir a ponta dos dedos da Vick tocarem meu rosto. Olhei para baixo curiosa e fiz contato direto com os olhos verdes

— Eu sonhei com você, assim que estávamos começando a conversar. – Falou baixo e franzi as sobrancelhas, voltando a atenção para o celular rapidamente.

— Falo com você daqui a pouco.— Enviei o curto áudio e bloqueei o aparelho o deixando de lado. – O que você disse? – Perguntei me atentando em Vick de novo, lhe olhando em curiosidade por seus dedos ainda se manterem em meu rosto.

— Sonhei com você. – Repetiu. – Foi nesse mesmo dia que o Vicent descobriu que eu gostava de você e me deu o apelido de sereia. – Murmurou. – Foi um sonho estranho, mas ou menos. – Tirou os dedos do meu rosto e mantive minha atenção no seu, mesmo com ela virando a cabeça para olhar pelo quarto.

— Como assim? – Questionei confusa. Sonho, Vicent? Do que ela está falando?

— Nele eu era uma sereia e estava nadando no oceano, e no meio do caminho te encontrei, você estava com aquelas roupas gregas e disse que eu não deveria ficar ali, porque o oceano era todo seu. – Contou e pisquei algumas vezes tentando me situar na situação. Ok... Ela está me contando um sonho que teve. Será essa sua forma de conseguir falar sem surtar?

— Meio contraditório, visto que eu não chego perto de água. – Falei lhe dando espaço para contar o que queria. Se fosse fácil de lidar, não seria a Victória.

— Não julgue, sonhos não tem uma lógica específica. – Murmurou e assenti evitando perguntar no porque dela estar contando então. – Mas no fundo, alguns devem ter. – Sorriu brevemente e me olhou por alguns segundos. – Nele eu te perguntava porque não podia ficar com você, sendo que era sua amiga e o oceano tinha espaço o suficiente para nós duas. – Contou e sustentei seu olhar esperando pelo menos conseguir ouvir o resto do sonho antes dela mudar de assunto. – Você respondeu que eu não era sua amiga, que havia deixado de ser a muito tempo e que desde então, esteve sozinha. – Contou e franzi o cenho em total confusão.

— Quando foi isso?

— Depois que fui na sua casa a primeira vez, para fazer aquele trabalho. – Contou e tentei assimilar o tempo. – Não entendi nada no dia, mas pensando agora, faz sentido? – Perguntou e assenti algumas vezes. Seria seu subconsciente tentando mandar um alerta?

— Pode ser algo inconsciente da sua memoria.

— Acha mesmo? – Me olhou esperançosa e assenti.

— Pode ser. O que mais aconteceu? – Incentivei sua capacidade de se lembrar, curiosa com sua resposta.

— Depois disso você olhou para o fundo do oceano, que estava escuro, se escondeu atrás de mim e disse que não queria ficar sozinha. – Contou franzindo as sobrancelhas enquanto se lembrava. – Eu falei que realmente ninguém deveria ficar sozinha, mas aí você disse que eu havia te jogado ali. – Falou e fez uma pausa para me olhar em surpresa. – O oceano é minha memória? A parte escura? – Perguntou e pensei a respeito. Então é dessa forma que ela consegue raciocinar? – Você estava com medo dela, então não queria ir pra lá. – Continuou e ergui a mão para acariciar seu rosto ao perceber que estava começando a ficar inquieta.

— Isso precisa ser pensado com calma, em um outro momento. Você ainda não assimilou nem a sua falta de memória.

— Mas se for isso, por que veio em forma de sonho? – Questionou e deslizei os dedos em um carinho por sua bochecha.

— Em um outro momento, Vick. Por hora, só me conte o que mais aconteceu. – Pedi focando no verde de seus olhos e ela assentiu.

— Você falou que eu te conhecia melhor que qualquer um. Não fez o menor sentido na hora, mas agora... Eu realmente te conhecia muito bem, não é? – Perguntou chorosa e assenti algumas vezes.

— Melhor que qualquer um. – Reafirmei o que “meu eu” do seu sonho havia dito, suspirando por sua expressão triste. - Mas os anos passam, pessoas mudam. Não sou mais como era antigamente. – Tranquilizei por notar que ela estava prestes a chorar. – O que mais aconteceu?

— Depois você só falou que não era boa em se expressar e concordou em me deixar ficar, com a condição que eu não te esquecesse. – Falou pensativa. – Daí eu te convenci a me beijar. – Disse orgulhosa e ergui uma sobrancelha, um pouco surpresa pela mudança súbita no assunto. De onde veio isso?

— Convenceu?

— Sim! Mas quando foi acontecer eu acordei. – Lamentou decepcionada e acabei rindo. Por que ela é tão aleatória? – Não ria! O Vicent me ouviu falar dormindo. Eu literalmente estava murmurando coisas sobre te beijar. Era meu maior feito no mundo dos sonhos e acabou virando uma piada pra ele. – Reclamou fazendo bico. – Depois disso ele começou a fazer umas coisas estranhas pra me “favorecer”. – Contou e estreitei os olhos. Agora faz sentido ele ter mudado de comportamento de um jeito duvidoso.

— Mais alguma coisa que eu precise saber? – Perguntei curiosa e seus olhos se arregalaram antes da sua atenção focar no teto do quarto.

— Sam também sabia. – Revelou e revirei os olhos, nada novo. Se o Vicent sabe, Sam também sabe, é lei. – Débora, Jhu, Vane e papai. – Contou e assenti, justo. – E a Sara. – Murmurou.

— Espera! A sara? – Perguntei surpresa com a informação e ela pareceu se assustar.

— Sim, ela descobriu no dia que fomos na biblioteca por causa do trabalho, daí leu aquelas cartas loucas. – Continuou murmurando de ombros encolhidos e mantive a boca entreaberta sem saber como reagir. Aquele demônio estava ciente de tudo e ficou me fazendo perguntas e torrando minha paciência, sendo que também conhecia o lado da Vick nisso tudo? Urgh, como ainda sou amiga dela? Deus! Por que fingir que não sabe de nada? – Acabei de colocar ela em maus lençóis? – Vick perguntou chamando minha atenção e suspirei por lhe ver ainda mais encolhida.

— Não, eu só fiquei surpresa. – Comentei relevando, já que também não contei para ela sobre Liane ter voltado. Do mesmo jeito que Lily me pediu para não contar, Vick pode tê-la pedido para fazer o mesmo. Não se deve favorecer uma pessoa se isso significa prejudicar a outra. Ela ser minha amiga não significa que deve me contar os segredos da sua outra amiga, mesmo que eles me envolvam.

— Não quero que você me deixe. – Falou e lhe olhei confusa por sua voz estar em um tom mais sério. – Sei que magoei você e que não tem motivo algum para me dar alguma chance, e que talvez eu nunca saiba como me explicar sobre isso de uma forma que te faça me entender, mas... O que posso te dizer é que, realmente o motivo de começar a prestar atenção em você, foi a sua mãe, foi algo envolvendo-a que me fez focar em você. – Continuou e fechei os olhos respirando fundo. A culpa dela esbarrar em mim também foi minha. Ela não teria esbarrado se eu tivesse prestando atenção no dia. Se pelo menos a queda fosse evitada, as coisas seriam diferentes? – Mas mesmo que tenha sido por isso, que eu agora pareça uma idiota completa aos seus olhos, os sentimentos que tive por você não foram falsos. Se aquela dedicatória não foi escrita para você, foi o que me fez te olhar. E se você não puder me desculpar, eu ainda vou ser grata por nos esbarrarmos e por achar que era pra você, porque o sentimento que cultivei por causa disso, a forma como passei a me sentir a cada dia que se passava depois desse, o jeito que te admirar se tornou meu passatempo... Eu ficarei feliz por ter sentido isso por você. – Terminou de falar e neguei suavemente com a cabeça.

— Tem alguma outra coisa que eu preciso saber? – Perguntei focando em seus olhos depois de absorver tudo que havia dito. – Estou lhe dando a chance de deixar tudo transparente. – Alertei por suas palavras me deixarem menos receosa sobre ela. – Você tem todas as chances de deixar cada mínima coisa esclarecida entre nós, então, por favor. – Pedi.

— Eu te perseguia antes de ser do seu grupo. – Contou e mantive o olhar no seu sem nem sequer piscar. Ok, eu suspeitava disso, só não sabia que minha neurose era verdade.

— Ok... Algo mais? – Tentei não transparecer reação, mesmo que a informação tivesse momentaneamente me assustado.

— Escrevo seu nome nas minhas calcinhas. – Contou e arregalei os olhos abrindo a boca em choque, começando a tossir por me engasgar com o vento.

— O quê? – Perguntei entre a tosse e sua risada alta me ajudou a ter um controle mais rápido da situação. O que essa idiota tem na cabeça? Vento?

— Essa parte é brincadeira. – Sua voz saiu risonha e suspirei aliviada. – Mas escrevo no meu braço de vez em quando, isso quando não faço dentro de um coração. – Revelou e neguei com a cabeça mais algumas vezes. Odeio a capacidade que ela tem de tornar um momento sério em algo que me faça querer rir.

— Aceitável e possivelmente fofo. Menos a parte da perseguição, meio assustador. – Confessei e ela riu. – Algo mais? – Perguntei voltando a minha expressão séria e sua risada cessou para que também ficasse séria.

— Eu realmente ia te contar sobre sua mãe na segunda-feira. Passei o dia pedindo conselhos pra Débora e realmente ia falar antes de dizer que gostava de você, porque não achava justo iniciar um relacionamento quebrando a coisa mais importante de um, a confiança. – Sussurrou e seus olhos marejaram. – Só não tinha me preparado e por isso não queria ter dito na minha casa, porque só queria aproveitar o tempo precioso que tínhamos sem correr o risco de você me odiar cedo demais. Eu estava indo te contar, de verdade. Não sei como ou porque descobriu primeiro, mas se não tivesse, talvez as coisas não estariam tão complicadas pra mim. – Se encolheu e ergui ambas as sobrancelhas. Estava me perguntando como que a Tiffany soube sobre o assunto e veio me contar, agora tudo faz sentido. Ela deve ter ouvido a Vick comentar com a Débora e saiu para contar primeiro, porque tenho certeza de que se ela soubesse antes daquele dia, teria ido me contar no mesmo instante. – Sem querer ser uma idiota pela pergunta, mas já sendo. Como você soube? – Perguntou confusa e pensei a respeito. – Eu sei que existe aquela famosa frase de que um traidor só se arrepende quando é descoberto, mas... De verdade, eu estava indo te contar, Galateia. – Garantiu. Eu jamais mentiria sobre isso, se quiser pergunte para Débora. Eu realmente i-.

— Eu sei. – Falei interrompendo sua frase ao ligar todas as peças. Como ela começou a chorar logo depois de ficar feliz por saber dos meus sentimentos e todo o resto. Ela realmente teria me contado antes de dizer gostar de mim, se pelo menos eu não tivesse me apreçado e dito antes.

— Minha mãe disse que minha falta de memória seria de grande ajuda na minha explicação, mas não quero basear todas as minhas atitudes em volta disso e me tirar a culpa. Pode ter influenciado no início, mas o que fiz depois disso foi totalmente decisão minha. – Começou e lhe observei em silêncio antes de suspirar. Não é como se o que ela fez a tornasse um monstro, mas se a informação tivesse chegado até mim por ela desde o início, minha reação teria sido diferente e todo o resto também. Acho que agora nós finalmente chegamos a uma conexão com nossos sentimentos. Então talvez eu só deva me aprofundar um pouco mais nesse assunto para que as coisas deixem de ter dúvidas.


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Notas finais do capítulo

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