Mirror Myself In You escrita por LadyDelta


Capítulo 40
If This Is Love


Notas iniciais do capítulo

Oie bebê! Tudo bem? Como foi essa semana anterior pra tu? Problemas na vida?
Enfim, não tenho muito a dizer aqui hoje, talvez no próximo eu tenha novidades interessantes, mas por hora, nadinha
Espero que sua semana seja agradável ou menos detestável que a anterior, se tiver sido ruim.

Dito isso.

Música para o capítulo: If This Is Love - Ruth B.

Playlist da história.

YouTube:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLqzyWlKccLfamc0Zj0ZnRquCAmLaa_Den

Spotify:

https://open.spotify.com/playlist/2GOa9C4tuU2boRWQEZwGtG?si=i115-RDLS1e8UfRhYOlnEQ


Me siga no twitter, sempre surto por lá e aviso também caso algo aconteça:

https://twitter.com/LeidiDeuta

Entre nas #WeAreOvelhinha se quiser falar qualquer coisa relacionado a história:

https://twitter.com/hashtag/WeAreOvelhinha?src=hashtag_click

Dito isso

~Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/798356/chapter/40

Victória Pov.

Suspirei olhando Galateia de perfil e foquei no seu rosto concentrado na tela do celular. Ela veio me ver e conversamos sobre o que houve, mas porque sinto que minhas chances de ter uma aproximação além de amizade com ela foram destruídas por mim? Parece que por mais que tenhamos dito coisas, a principal não foi explicada, nossa situação agora. Ela não parece estar com raiva de mim, mas também... Não é como se estivesse bem?

— Galateia. – Chamei e ela me olhou de lado. – Posso te fazer uma pergunta importante? – Perguntei e seu cenho franziu em curiosidade. A ruguinha adorável se formando sobre o nariz.

— Claro... – Falou incerta.

— Você realmente me desculpou?

— Desculpa é algo muito superficial, não acha? – Questionou e foquei no forro da cama em silêncio. – Tanto o seu pedido, quanto a minha resposta. Te desculpar não vai fazer eu me sentir menos mal e o seu pedido não vai simplesmente apagar o que fez. Eu te desculpei porque você me pediu, mas não me sinto melhor por ter feito isso, assim como seu pedido de desculpas não surtiu esse efeito. – Explicou e lhe olhei com os olhos marejados. O que isso significa?

— Existe alguma chance, mesmo que baixa, de algum dia você se tornar minha namorada como pretendia na segunda-feira? – Perguntei tentando controlar minha voz de choro. Sua resposta vai deixar claro se ainda possuímos uma esperança de relacionamento.

— Não posso te responder agora, Vick. – Falou e engoli em seco.

— Por quê?

— Porque se fizer isso, estarei sendo guiada pela emoção e não quero segui-la dessa forma de novo, porque se for assim, simplesmente ignorarei uma parte importante minha, uma que preciso dar espaço. Já ignorei a razão quando decidi que me aproximaria de você e veja, ela não estava errada. – Disse calmamente e foquei a atenção em seu rosto sem conseguir dizer nenhuma palavra. – Não me entenda errado, Vick. Eu gosto de você, eu realmente gosto de você, mas não confio que não vai me magoar. – Explicou e assenti levando a mão para cobrir os olhos. Certo, isso está doendo. Ela não confia em mim e o pior... É que tem toda a razão de não confiar. Eu fiz uma idiotice imensa e nem deveria ter recebido perdão. Ela está fazendo demais ter vindo me ver e se prestado a me ouvir.

— Tudo bem. Você está certa. – Sussurrei, esperando-a se levantar e ir embora. Eu não tenho o direito de pedir nada pra ela.

— Irei te responder quando sentir que você merece uma resposta. Então espere. – Pediu e lhe olhei surpresa. Ela não vai me abandonar?

— Você...

— Se acha que merece uma chance, Vick... Me convença disso. – Pediu e entreabri a boca, assentindo várias vezes seguidas, mantendo as pernas cruzadas, observando sua atenção voltar para o celular. Engraçado que antes minha expectativa de beijar a Galateia era quase que nula, agora, praticamente poderia implorar por um beijo dela.

— Tá bom, mas... – Comecei meio incerta.

— Mas o quê? – Pareceu curiosa e suspirei. Certo, não tem porquê ficar me censurando, sendo que é óbvio que gosto dela e ela sabe disso, além de que, se eu não lutar pelo que quero, ela não vai simplesmente fingir que nada aconteceu e continuar me dando tantas chances como antes.

— O que eu faço quando ficar com vontade de te beijar? Tipo, agora. – Fui direta e pude ver seu rosto ficar vermelho antes dela se virar parcialmente de lado e levar a mão direita na própria nuca, brincando com os dedos ali.

— Isso é algo que você deve saber lidar. – Sua voz saiu firme e sorri por notar que seu rosto ainda estava vermelho, mesmo que ela quisesse esconder. Ela é a coisa mais lindinha desse mundo.

— Certo, então enquanto você processa toda a situação que tem de processar, posso continuar sendo sua amiga? – Perguntei e seu rosto virou na minha direção, agora totalmente livre da vergonha.

— Mas é claro, Vick. Eu não estaria aqui ainda se não pudesse. – Essa garota é perfeita.

— Tudo bem, então estamos totalmente combinadas sobre isso. – Sorri e engatinhei na cama, passando os braços por sua cintura e lhe abraçando com carinho, escondendo o rosto na curva do seu pescoço.

— O que você está fa-fazendo? – Sua voz saiu confusa e vacilante, mas mesmo assim seus braços me acolheram.

— Abraçando minha amiga, pela qual sou completamente apaixonada. – Confessei fazendo um carinho em suas costas. – Ela meio que não quer namorar comigo porque eu fui uma idiota. – Continuei falando e inspirei lentamente seu perfume. – Não está nem um pouco errada em recusar meu pedido, mas o fato de me tratar com tanto carinho, me deixa ainda mais apaixonada. – Beijei seu rosto demoradamente e olhei na direção da porta por mãe bater ali antes de entrar no quarto.

— Como estão as coisas? Tudo bem? – Perguntou assim que entrou completamente no quarto e me olhou com os olhos estreitos em desconfiança.

— Tudo! Galateia é um amor. Nos acertamos em parte, não é mesmo, coisa linda? – Perguntei olhando pra cima em diversão e ela se mantinha séria, tentando não esboçar qualquer reação.

— Sim, conversamos e resolvemos as coisas. Agora preciso ir para casa. – Tirou meus braços do seu redor e se afastou lentamente até erguer da cama, ajeitando o tecido da blusa.

— Já precisa mesmo ir? – Mãe perguntou decepcionada. Eu quem deveria estar decepcionada aqui.

— Preciso sim, avisei para minha tia que ia demorar, mas não tanto. Ela vai ficar brava comigo. – Focou a atenção na gravata em seu pescoço e a arrumou com extrema maestria e rapidez.

— Não pode mandar uma mensagem de texto ou telefonar? – Foi minha vez de falar e as ires azuis focaram em mim.

— Sim, eu já enviei, mas isso não a impede de se irritar. Além do mais, tenho coisas para fazer em casa, fora que não era meu plano ficar aqui mais do que uma hora. Acho que já elevei esse tempo mais que o necessário. Liane está vindo me buscar. – Falou da irmã e me encolhi involuntariamente. Ok, então não vou insistir para que ela fique, porque temo que Liane pode subir aqui com uma motosserra.

— Tudo bem. Vejo você amanhã? – Perguntei e ela assentiu tirando o paletó da cintura, o vestindo e arrumando a gola.

— Posso passar aqui para irmos juntas para escola. – Ofereceu e abri um sorriso.

— Sim, vou estar esperando você. – Garanti e me aproximei receosa do seu corpo, lhe abraçando suavemente, fechando os olhos por sua cabeça se deitar sobre a minha em carinho.

— Certo. Durma um pouco e se alimente direito, por favor. – Beijou minha testa e se afastou. – Nos vemos amanhã. – Acenou com a mão saindo do quarto e engoli a saliva em minha boca, apertando os meus próprios braços ao me auto abraçar.

— Vick? O que foi? – Mãe perguntou me abraçando de lado e fechei os olhos me deixando chorar. – Mas meu Deus! Por que está chorando agora? – Sua voz saiu apreensiva e neguei várias vezes com a cabeça. Só então me dando conta de que Galateia não tem mais interesse em mim.

— Ela não confia mais em mim. – Contei. – Ela me desculpou, mas não acredita que desculpas sirvam de alguma coisa, mãe. E se ela nunca mais confiar em mim de novo?

— Você quem precisa mudar isso.

— Como? Peço para um anjo me abençoar com o pó da aura sagrada? A Galateia pode decidir nunca mais confiar em mim e fim.

— Ela não vai fazer isso. – Falou divertida e me afastei indignada por estar achando a situação engraçada. Eu tenho uma mãe ou uma inimiga?

— Você acha engraçado? É uma situação séria, mãe.

— Eu sei. Querida, ela não teria vindo aqui se não tivesse com a intenção de te da a oportunidade de mudar o pensamento dela. Só o fato de ter vindo, já deveria ser sinal suficiente para você saber que ela acredita que você pode mudar ele, meu amor. Ela já confia, porque te ama. Você só tem que provar que ela está com razão em te dá essa chance. – Falou suavemente e engoli em seco indo na direção da janela para olhar a entrada do hotel, me debruçando da mesma ao ver Liane sorrindo enquanto segurava os ombros de Galateia.

— Você tem que ouvir a sua irmã. – Falou divertida para logo em seguida puxar sua cabeça para baixo do braço e bagunçar seu cabelo, se afastando em alguns pulos pelo pisão que recebeu no pé. – Caralho, Sister. – Reclamou e Téia começou a arrumar o cabelo com cara de poucos amigos. Ri do seu bico e sua atenção veio para janela onde eu estava. A expressão emburrada se desfazendo, a cabeça virando para o lado e depois para baixo, focando no chão como se estivesse ficado desconfortável. Encolhi os ombros por sua reação e Liane olhou para mim ao perceber o gesto dela, estreitando os olhos e batendo o punho fechado da mão direita na palma da esquerda, o que fez um arrepio subir por minha coluna por sua expressão se tornar assustadora por alguns segundos, para no momento seguinte sua atenção voltar para Galateia e um grande sorriso surgir em seu rosto antes de abraçar a irmã como se fosse um coala. Ver essa cena fez meu medo momentâneo sumir. Ela não é uma pessoa ruim, só ama Galateia o suficiente para fazer qualquer coisa por ela. Acho que eu deveria seguir o exemplo.

Liane Merok Pov.

Eu poderia passar todos os momentos restantes da minha existência ameaçando Victória de morte ou lhe assustando, mas ver como Galateia desviou a atenção dela assim que notou que era ela na janela... Ela já vai pagar o suficiente. Não que Galateia será grossa ou qualquer outro tipo de má criação, mas conheço minha irmã o suficiente para saber que as coisas entre elas não serão mais as mesmas e Victória vai sentir isso como um tapa na cara, porque o que vai doer não é a indiferença da Sister em certas coisas, mas saber que a indiferença dela é uma consequência dos próprios atos. Passei por essa situação e não desejaria pra ninguém. Pior do que magoar a Galateia, é sentir em cada gesto ou palavra dela, como doeu nela.

— Vamos? Podemos comprar sorvete no caminho. – Falei animada, olhando para cima outra vez e fazendo cara feia para garota que suspirou saindo da janela.

— Podemos? Tia Cass não está brava? – Perguntou receosa e ri.

— Ela já está brava de qualquer forma. – Falei entre risos. – Mas eu tenho uma carta na manga. – Alertei indo até o carro e abrindo a porta. Poderia ter vindo de moto, mas o tempo está levemente frio e ela mal se recuperou de um resfriado, não quero que adoeça outra vez.

— Espero que ela seja suficiente para evitar nosso homicídio. – Murmurou olhando rapidamente na direção da janela quando se inclinou para entrar no carro, parecendo aliviada por não ver a garota ali.

— Não sei sobre o seu, mas o meu, sim. – Brinquei rindo pelo soco que ganhei no ombro. – É brincadeira, você sabe que eu te daria meus dois rins se isso significasse que iria viver mais um pouco. – Falei entrando logo atrás dela no carro, colocando o cinto de segurança assim como ela fazia.

— Eu preferiria que passasse mais tempo comigo, do que me doasse seus rins. – Murmurou abrindo um pouco o seu lado da janela e sorri por estar conseguindo resgatar meu antigo espaço no seu coração.

— Então, acho que nós duas morreríamos juntas. – Sorri sem humor.

— Pelo menos estaríamos juntas. – Deitou a cabeça em meu ombro e olhei para frente ficando em silêncio, entendendo que o assunto deveria acabar, que já não era mais sobre morte ou um rim, era sobre nossa relação de irmãs e sua maneira de me pedir para não lhe magoar de novo, mesmo que isso fosse algo que eu jamais voltaria a fazer.

— Ah, tenho de te contar uma coisa muito importante. Não te contei antes porque decidiu ir visitar a Victória. Quer ouvir sobre isso agora? – Perguntei um pouco animada por ter uma notícia “boa”, mesmo que não nos beneficie de alguma forma.

— Quero sim. O que é? – Perguntou interessada e sorri.

— Falei com a Vanessa hoje, sobre tia Cass, a criança e todo resto. – Contei e sua cabeça se afastou do meu ombro para me olhar em curiosidade.  

— E o que aconteceu?

— Ela disse que vai resolver essa situação toda e que só precisa de um tempo. Tem muita coisa da vida dela que os pais não sabem por escolhas deles e que embora tia Cass não mereça esse tratamento, ela não pode simplesmente apagar da memória o que o tio fez. – Expliquei a situação com um leve sorriso por Vanessa ter se prestado a me ouvir com atenção, por mais que ela necessariamente não precisasse. – O que você acha dessa situação toda? As coisas podem se resolver? – Questionei querendo saber sua opinião sobre o assunto. Galateia se importa o suficiente com tia Cass para que essa noticia seja o suficiente para lhe deixar feliz.

— Acho que podem. Tia Cass está disposta a fazer o possível sobre isso, só precisa de uma oportunidade. – Sua voz saiu animada e sorri, em parte contente comigo mesma por ter conseguido ter uma conversa com Vanessa. Acho que a única relação familiar que seria mais complicada de resolver é a nossa com Scarlet, porque infelizmente, não sabemos o que se passa na cabeça dela e é um pouco decepcionante tentar algo com uma pessoa que não te dá uma única brecha.

— Ótimo, porque quem vai dar a notícia para ela, é você. – Contei divertida. – Próximo passo é tentar colocar algum senso na cabeça da nossa mãe. Acha que eu consigo alguma coisa? Ou será como tirar leite de pedra? – Perguntei e ela suspirou.

— Não leve a mal, mas no momento, quanto menos ouvir a palavra mãe, melhor. Victória é uma completa sem noção na maioria das vezes e sua explicação para suas atitudes me deixou mais irritada do que qualquer outra coisa. – Reclamou e passei a língua sobre os lábios, focando em seu cenho franzido.

— Você não a desculpou?

— Sim, mas é estranho. – Murmurou olhando para janela. – Fim de semana eu estava torcendo para ela corresponder aos meus sentimentos e agora... Torço para que os que eu tenha sejam o suficiente para não ficar com raiva dela. Ela tem uma enorme vantagem nisso porque não tem memória, mas não é o suficiente para me deixar menos chateada. Fui vê-la e tudo, conversamos civilizadamente e ela mais chorou do que falou. Ainda gosto dela da mesma forma que antes, no entanto, esse sentimento esquisito de que tudo seja falso, não para de rondar minha cabeça, mas mesmo assim... – Observei atentamente sua testa franzida como se não tivesse acreditando no que dizia e suspirei.

— Galateia... Você não... – Comecei e me calei logo em seguida. Galateia tem a mania de pensar muito sobre as coisas e o péssimo habito de se colocar como culpada em tudo. Tenho certeza que em todo esse tempo de análise, ela já deve ter se perguntado se parte da culpa não era dela e que se talvez não tivesse feito determinada ação, nada teria acontecido.

Sua forma de pensar, de algum jeito faz com que analise todas as possibilidades possíveis e tenha um entendimento mais claro das coisas, como foi quando decidiu que me perdoar era o certo a se fazer. Sua primeira frase antes de me colocar de volta na sua vida foi “Eu sinto muito. Me desculpa”, quando na realidade ela não tinha que em momento algum se desculpar. Todas as ações ruins partiram de mim, mas mesmo assim ela se sentiu culpada por reagir a isso da sua forma.

A música que cantei para ela aquele dia, tinha sido algo que escolhi do fundo do meu coração e pela forma que reagiu, parece que cada parte final da música foi absorvido somente para ela. Talvez eu só tenha escolhido a melodia certa no momento certo, mas tudo ter sido o motivo para que me aceitasse de volta... Como posso pedi-la para ouvir sua razão em relação a Victória, quando o que me fez voltar a ter seu carinho foi justamente seus sentimentos?

— Você faz coisas complicadas parecerem simples. – Sorri de canto e fiz um delicado carinho em sua cabeça. – Victória tem muita sorte por você gostar dela o suficiente. – Olhei para janela e suspirei. – Eu sei que da sua maneira, todas as dúvidas que tem serão eliminadas uma por uma e que no final, vai fazer o que acha ser o certo. Eu poderia te dar mil conselhos diferentes e tentar mudar sua maneira de pensar em várias formas possíveis, mas não parece certo, principalmente porque te conheço o suficiente para saber que de maneira alguma, está pensando em coisas negativas. Você tenta ver as melhores partes de todas as situações e para ser sincera, até pouco tempo, julgaria isso como uma qualidade negativa de ter. – Falei e lhe olhei com um suave sorriso por sua expressão mais que confusa sobre o que eu falava.

— Não acho que esteja entendendo muito bem...

— O que estou querendo dizer, é que, não vou tentar te fazer pensar da forma que eu pensaria, porque se fosse por mim e meu entendimento, Victória não deveria nem sequer ouvir falar de você, no entanto, seria muito egoísmo da minha parte, quando o que te fez me aceitar de volta e me permitir ter de novo esse tipo de conversa, foi justamente o seu jeito único de pensar. Então se acredita que ela pode de algum jeito merecer, eu também irei acreditar, porque não foi pior do que o que eu fiz. – Expliquei e ela negou com a cabeça várias vezes.

— Não fale desse assunto, não te deixa bem e não quero que tenha lembranças ruins. – Reclamou e foi minha vez de negar com a cabeça.

— Olha... Ela tem a desculpa de que não te conhecia antes, o que de fato é verdade, sendo que é desprovida de memória. – Expliquei. – Quanto a mim, na época, sabia perfeitamente que iria te machucar com a minha escolha e mesmo assim fui lá e fiz.

— Liane...

— Se você pôde me perdoar por minhas atitudes, não vou me intrometer na sua escolha sobre essa garota. Nem que depois eu precise bater nela ou lhe abraçar, tudo depende dos resultados, mas não vou, de forma alguma, tentar mudar as suas decisões. Você acha, de verdade, que ela merece seu perdão? – Questionei lhe olhando em busca de uma resposta sincera. Seus olhos desviaram do meu para seguir em todas as direções possíveis dentro do carro, até que suspirou, encolheu os ombros e assentiu suavemente com a cabeça. – Então isso é o suficiente para que eu também ache o mesmo. Você já tem sua resposta sobre a realidade dos seus sentimentos e quanto aos dela... Ela não teria ficado tão sentida se durante todo esse tempo não tivesse sido verdadeiro da sua parte também. Vocês vão se acertar e eu espero muito que no final de tudo isso, eu ainda não me sinta tentada a socar a cara dela.

— Já disse para tentar ser menos violenta... – Sussurrou me dando um leve soquinho no ombro, o que me levou a rir.

— Eu estou tentando. São só pensamentos, não soquei ninguém até agora. – Me defendi erguendo as mãos em sinal claro de inocência e travei brevemente no gesto por ela retirar o cinto e se inclinar na minha direção, me abraçando pela cintura e escondendo o rosto em meu pescoço.

— Eu amo você. Não se afaste nunca mais de mim. – Pediu e pisquei várias vezes pela vontade de chorar que seu pedido me causou, usando as mãos para puxar seu corpo para mais perto do meu e deitar a cabeça sobre a sua.

— Nunca. Nunca mais ousarei fazer algo sequer parecido com isso. – Garanti beijando várias vezes o topo da sua cabeça em carinho.

— Espero realmente que esteja falando sério sobre isso, porque se tiver uma próxima vez, posso facilmente te matar. – Ameaçou e ri alto.

— Mata nem um mosquito, mas vou levar em consideração essa grave ameaça. – Brinquei voltando a lhe fazer carinho e permanecemos em silêncio por alguns instantes.

— Mais cedo, o que estávamos falando por mensagem... – Começou quebrando o silêncio e arregalei brevemente os olhos.

— Não! Esquece esse assunto. Não vou falar disso com você. – Reclamei.

— E por que não? – Se afastou erguendo a cabeça para me olhar emburrada.

— Porque você vai tentar me ajudar e isso não é um problema pelo qual deve se ocupar. – Expliquei. – Acha que a tia Cass vai brigar comigo? – Perguntei tentando mudar o assunto. Mais cedo acabei que deixando escapar algo que ela não deveria saber e agora parece que apenas uma pequena menção foi o suficiente para ocupar sua cabecinha com mais problemas. Odeio que ela tende a se preocupar com coisas que não deveria, mas ao mesmo tempo, amo como isso faz com que eu me sinta importante e amada.

— Você não é um problema pra mim, Liane. – Reclamou. – E espero que escolha me contar sobre isso de boa vontade. Não vou te perguntar outra vez, porque é óbvio que não vamos chegar a lugar algum nisso, fora que já estamos quase em casa, mas me deixaria muito feliz se me falasse sobre as suas preocupações também, em vez de só ouvir sobre as minhas. Da mesma forma que se preocupa comigo, me preocupo com você e gostaria de te ajudar no que fosse possível. Não é porque sou sua irmã mais nova, que a tarefa de cuidar precise vir somente do seu lado. – Murmurou e olhei para janela me sentindo culpada por lhe deixar chateada, mesmo que não fosse minha intenção.

— Tá, mais tarde eu te falo sobre. Acho que tia Cass não irá nos permitir ter paz pelas próximas horas. – Apontei ao ver a mulher em frente o portão de braços cruzados e uma carranca no rosto.

— Urgh, ela provavelmente vai me colocar de castigo, dessa vez não escapo. – Lamentou e ri tirando o cinto de segurança pelo carro diminuir a velocidade para estacionar.

— Eu não acredito que mesmo com a bronca recente que tiveram, vocês duas aprontam a mesma coisa de novo. – Tia veio na direção do veículo já reclamando e fiz uma careta para Galateia, que riu antes de abrir seu lado da porta e sair do carro.

— Tia, eu mandei mensagem avisando. – Tentou acalmá-la, passando por trás do carro para ir até ela.

— Mensagem, Galateia? Você me mandou uma mensagem de texto, e já faz cinco horas! E desculpe, mas “vou passar para ver como Victória está” não é nenhuma informação útil para mim! Onde a Victória mora? É seguro chegar lá? Você ainda estava com ela ou tinha morrido no meio do caminho? Você quase me mata de preocupação e depois de cinco horas responde minhas perguntas com “está tudo bem” e “estou indo pra casa”. Você por algum acaso tem ciência do quanto me deixou preocupada? Eu estou com um filho depressivo no quarto por causa da namorada que tá no hospital, não quero ter de me preocupar com outra que não responde minhas mensagens em intervalos justos de tempo. – Zangou brava e abri a porta do carro por saber que embora esteja zangada com Galateia, eu receberei a maior bronca por ser a mais velha.

— Me desculpa. – Sister pediu encolhendo os ombros e ela passou as mãos no rosto, procurando paciência.

— Deus! Desde quando é tão irresponsável? – Perguntou chateada e colocou ambas as mãos no ombro dela, checando sua temperatura e virando seu rosto de um lado para o outro. – Pelo menos não está encharcada dessa vez e sem febre. – Resmungou e puxou minha irmã para um abraço, beijando sobre sua cabeça várias vezes. – Não me assusta desse jeito de novo, vou acabar tendo um ataque cardíaco. – Pediu chorosa e por um momento foi como ver a imagem delas de uma perspectiva afastada. Galateia lhe abraçando de volta enquanto pedia desculpas e todo o carinho que recebia por isso. Ver essa interação fez tudo parecer tão errado, porque quem deveria estar fazendo isso, nesse momento, era nossa mãe e ela nem sequer sabe ou se preocupa o suficiente com o que estávamos fazendo até agora. Por outro lado... Galateia ter tia Cass para expressar esse tipo de preocupação e lhe receber com essa forma de abraço... Acho que ela realmente teve algo bom enquanto eu estava fora, ela pode se sentir parte, de verdade, de uma família e recebeu o tipo de amor que sempre precisou.

— Não farei de novo, prometo. – Galateia sussurrou com a voz chorosa e arregalei os olhos por tia olhar para mim, suspirando e estendendo o braço para me puxar para perto, afastando a outra mão das costas de Galateia para puxar ambos os lados das minhas bochechas.

— Você! Cadê a sua responsabilidade de irmã mais velha? – Perguntou em meio a uma careta e soltou minha bochecha me juntando ao abraço com Galateia. – Eu deveria trancar vocês em um quarto por dois meses. – Reclamou e fez carinho na minha cabeça. – Não façam mais isso com a tia, eu vou ter um ataque se acontecer outra vez. – Pediu e suspirei lhe abraçando de volta, apreciando o gesto que pouco recebi na minha vida, todos eles não partindo da minha própria mãe. Um abraço da tia Cass tem mais sentimentos do que uma vida toda ao lado da minha família. Acho que assim como Galateia, se eu tivesse vindo viver com ela, em vez de ficar com meus pais, talvez minha personalidade tivesse se moldado de uma forma totalmente diferente hoje em dia.

— Tia, Liane tem uma surpresa para senhora. – Galateia falou se afastando do abraço e lhe olhei confusa.

— Eu? Nada disso! Galateia tem uma surpresa. – Corrigi também me afastando e tia nos olhou em desconfiança.

— Não, você só quer que ela alivie minha bronca me deixando dar a notícia. – Galateia reclamou e lhe olhei em total descrença.

— Você...

— Não importa a notícia, as duas receberão punições iguais. – Tia alertou voltando a cruzar os braços e apontou para o portão, mostrando que deveríamos entrar. Revirei os olhos olhando para Galateia e negando com a cabeça em decepção por ela ter estragado meu plano.

— Não me olha assim, você diria ter roubado meu celular se isso significasse me livrar do castigo. – Fez bico seguindo na frente e olhei para trás por ouvir a risada de tia Cass.

— E ainda assim receberiam o castigo. – Alertou risonha e suspirei derrotada. Acho que nem se eu quisesse, conseguiria dobrar a tia no papo. Ela se importa o suficiente para não ser facilmente manipulável.

Galateia Pov.

Depois de entrarmos em casa, responder todo o questionário da tia Cass e ouvir um pouco mais do seu sermão, ela finalmente nos liberou para o banho. Liane me deixou ir primeiro, coisa que fiz no tempo mais rápido, julgando que precisei lavar o cabelo. Quando saí dei espaço para minha irmã e fui trocar de roupa, deixando a toalha na cabeça para separar umas coisas no quarto e procurar meu diário na gaveta, colocando-o em um canto junto de uma caneta. Separei meu uniforme extra para o dia seguinte e me joguei na cama logo depois, começando a escrever os fatos recentes.

Conversar com a Liane, de alguma forma, sempre parece clarear minha mente o máximo possível. Eu não estava me sentindo muito bem com toda a situação da Vick, mas falar com a Lily... Não sei como sobrevivi sem ela por todo esse tempo, quando sua presença na minha vida é tão importante. Acho que no fundo, a única coisa que fiz foi me convencer de que não precisava dela, quando na verdade, sempre precisei e senti sua falta.

Tinha meus próprios planos para lidar com a Vick a partir de amanhã, porém, depois da nossa conversa no carro, sinto que devo somente seguir a maré e apenas me proteger de possíveis ondas. Não preciso nadar contra a correnteza ou me forçar a atravessar o tempo instável. Seguir o ritmo e apenas isso, tudo chegará em algum lugar, isso é, se amanhã minha cabeça já não se inundar de novos pensamentos, me levando a ter outras prioridades ou decisões sobre tudo. No fundo, espero que depois de dormir, as coisas pareçam ainda mais claras e que quando acordar, já tenha tudo definitivo, porque mesmo que eu queira de verdade ficar com Vick, gostaria que ela me fizesse sentir que quer a mesma coisa e que isso seja somente por mim e nada mais.

— Se Vick for menos idiota... – Sussurrei comigo mesma anotando o pensamento no diário e olhei para porta do quarto por ouvir batidas suaves nela. – Tia? – Perguntei curiosa e sua cabeça pontou na fresta que ela abriu.

— Oi, princesa. Cadê Liane? – Perguntou abrindo por completa a porta e olhei para o teto me atentando aos sons do quarto, ouvindo a voz de Lily vir de uma cantoria do banheiro.

— Ela está fazendo um show único para os vidros de shampoo. – Brinquei.

— O que precisam contar? – Questionou entrando no quarto com algumas peças de roupas dobradas e tirei a atenção do meu diário para lhe olhar.

— Quero deixar Liane contar. – Alertei fechando o diário e me erguendo da cama para o guardar na gaveta junto da caneta, lhe olhando rapidamente por ela colocar as peças de roupa dentro da minha cômoda ao lado da cama.

— E por quê?

— Por que ela sempre tenta fazer as coisas com a melhor das intenções no seu ponto de vista e sinto que nunca recebe o devido crédito. Ela fez uma boa coisa e a senhora deve ficar feliz com ela por isso. Ela merece que alguém, além de mim, sinta orgulho dela. – Expliquei ainda podendo ouvir sua voz cantarolando uma música enquanto ela tomava seu banho.

— Tudo bem, vou ir buscar um secador para o seu cabelo enquanto ela não sai do banho, mas depois disso, nada de vídeo game pra vocês duas, por tempo indeterminado. – Alertou se retirando do quarto e suspirei indo até minha mochila, tirando de lá a folha de perguntas que amanhã terei de levar para o Vicent responder. Ainda não cheguei a ir outra vez no hospital e acho que preciso fazer isso amanhã, depois do colégio. Agora que as coisas estão “normais” com a Victória, acho que podemos ir juntas e deixar o coraçãozinho de Sam ainda mais feliz. – Pronto, senta na cama que a titia vai secar pra você. – Tia ressurgiu com o secador e assenti indo me sentar, tirando a toalha do cabelo e lhe deixando começar a tarefa de secá-lo.

— Tia, a senhora é boa em assuntos românticos? – Perguntei interessada por estarmos em silêncio.

— Acho que sim. Por quê? Quer conselhos?

— Se tiver alguns. – Murmurei. – Não estou sabendo lidar com meus sentimentos e já aceitei os conselhos da Liane também, mesmo que os dela não tenham sido uma resposta para tudo, foram muito bem absorvidos. A senhora tem mais vivência, sabe o que vale ou não a pena investir. Se puder me ajudar. – Pedi encolhendo os ombros e ela desligou momentaneamente o secador.

— Tudo bem. Diga o que está acontecendo que eu vou lhe ajudar da melhor forma possível. – Sorriu e fiz o mesmo, fechando os olhos por seu carinho em minha cabeça. Olhando para porta do banheiro por Liane sair de lá embrulhada na toalha.

— Oh, posso ser a próxima? – Perguntou ao ver o secador e tia sorriu.

— Pode sim, querida. Se também quiser conselhos amorosos, estou à disposição. – Propôs e sorri assim como Liane.

— Conselhos? Eu quero sim. Tem três pessoas dando em cima de mim. O que eu faço? – Perguntou se jogando ao nosso lado e ri da sua pergunta. Podemos não ter uma mãe muito presente em nossas vidas, mas temos a tia Cass e, ela é mais do que o suficiente para ocupar esse espaço.

Victória Pov.

Peguei a mochila sobre a cama e olhei para minha mãe, que estava sentada em frente ao espelho, fazendo sua maquiagem com atenção. Suspirei arrumando a alça no ombro direito e me aproximei por trás do seu corpo, vendo seu olhar subir para focar em mim.

— O que foi? Vai ficar parada aí quem nem um poste?

— Galateia vai passar aqui para irmos juntas para escola. – Contei. Não faz dez minutos que ela me mandou mensagem avisando que viria me buscar e ironicamente, o que ontem parecia ser uma boa ideia, agora só serviu para me deixar apreensiva.

— E você vai ficar esperando aqui em cima e não lá embaixo?

— Eu queria falar com você. – Murmurei.

— Sobre o quê? – Revirou os olhos se atentando em maquiar por baixo deles com o lápis preto. – Se eu te falo A, você vai lá e faz Z. – Reclamou piscando algumas vezes para ver o resultado da maquiagem.

— Como minha mãe e conhecedora de todas as minhas manias e reações. Você acha que eu consigo que Galateia me perdoe de verdade e repense sobre namorar comigo? – Perguntei séria.

Eu não tenho a menor confiança em mim mesma, acho que vou acabar estragando tudo como sempre faço. Se minha mãe de alguma forma achar que não consigo... Que chances eu teria?

— É realmente uma pergunta séria? – Perguntou erguendo uma sobrancelha e assenti apertando a alça da mochila. – Victória... – Começou e suspirou cansativa. – Sua falta de fé em você mesma, é algo triste.

— Não é falta de fé! É a Galateia, mãe. Ela... Ela tem um sistema muito diferente. Não da pra saber o que se passa na cabeça dela, ela não é uma pessoa “legível”. – Fiz aspas com os dedos e suspirei. Ontem eu pensei que as coisas tivessem se acertado, mas a reação dela ao me ver na janela, me faz questionar não se as coisas “estão” bem, mas sim se “podem” ficar. – A Liane me mandou mensagem também, desejando boa sorte! Ela só não me matou quando nos encontramos porque se controlou e agora está me desejando boa sorte! Isso só prova que eu terei de andar por um campo minado com a Galateia. – Contei o principal motivo do meu medo recente. Liane não me xingou ou nada parecido. Sua mensagem parecia algo bem suave e de alguma forma, isso me faz sentir que tudo pode tanto como não melhorar, como ficar pior.

— Não entendi. Não foi você que pediu uma chance? – Perguntou e assenti várias vezes.

— Foi! Mas ela não confia em mim e possivelmente vai agir estranha comigo.

— E desde quando pedir uma chance de confiança, te livra das consequências dos seus atos? – Perguntou e abri a boca para responder. – Ela tem todo o direito de agir estranha, deveria ter te dado um soco na cara. Agradeça por ter ganhado a oportunidade de fazer a diferença! Se quer saber o que acho, eu acho sim, que você consegue conquistar a confiança dela de novo, tenho certeza que tudo ficará bem entre vocês outra vez. Você deveria começar a pensar em como resolver as coisas e parar de se perguntar se irá conseguir. Galateia está vindo para te levar pra escola, a pessoa que não deveria nem sequer olhar na sua cara. – Começou a passar base no rosto e me encolhi.

— Mas se ela agir estranha, eu não vou saber o que fazer. – Sussurrei. Eu não vou conseguir agir normal se ela parecer distante demais de mim.

— Vick, você foi idiota, uma completa retardada com a menina e ela ainda assim quer resolver as coisas. Para de se preocupar com a maneira dela de agir e começa a entender como ela está se sentindo com tudo isso! Quando entender que toda atitude sua causa uma consequência nela, vai saber o que fazer. – Reclamou e largou a maquiagem de lado, se levantando. – Eu irei te levar para escola se a reação dela te preocupa tanto assim. – Alertou e arregalei os olhos.

— Não vai. A Galateia está vindo me buscar.

— Acho que estarei fazendo um favor pra ela, já que você parece tão incerta de como pedir desculpa com atitudes. – Bradou e voltei a arrumar a bolsa no ombro, indo em direção a saída do quarto. – Onde você vai?

— Pra longe de você. – Reclamei. – Estou pedindo sua ajuda, não sermão a cada duas palavras que me diz. Eu já estou me sentindo culpada o bastante, não preciso que você jogue na minha cara a cada segundo que eu a machuquei.

— Você dá voltas e voltas, Victória! Nunca parece focada o suficiente no que precisa. – Falou e abri a porta para sair. – A menina assim como você, tem os próprios problemas dela, os próprios sentimentos. Você não pode ficar brava porque estou te pedindo para pensar no que está fazendo. – Continuou e apertei a maçaneta. – Você consegue resolver as coisas, mas sempre vai com muita sede ao pote. A Galateia não vai agir como antes só porque te desculpou e se você agir assim, vai pressionar ela. Não estou te dando sermão, estou tentando te ajudar! – Reclamou e saí do quarto fechando a porta em minhas costas, não me demorando a ir para o saguão e sair para entrada do prédio. Ajudar... Tudo que fez foi me deixar confusa e perdida. Tudo já era ruim antes, saber que não tenho memória só deixa as coisas mais bizarras. Nada do que ela fez me ajudou, não chegou nem perto disso.

— Como que vou agir normal se ela parecer distante? – Resmunguei olhando para o celular e o mesmo alertou outra mensagem de Liane, a qual a anterior não fazia vinte minutos.

Liane

12:34: Não é por nada, mas você não está com muita sorte ao seu favor, não hoje. Galateia estava okay com tudo, mas assim... Meio que nossa mãe inventou de mandar mensagem pra ela essa manhã. Ela ficou brava e se lembrou dos seus motivos iniciais sobre tudo, então... Sei lá, sei que é um pedido muito difícil de você atender, mas tenta não fazer nada estúpido.

Li o conteúdo e fechei os olhos em lamentação. Não é possível! Eu já estava preocupada com o que fazer e agora... Como lidar com uma Galateia irritada? Eu nem sei como ela fica quando está brava, quer dizer... A última vez que nos falamos na escola ela estava brava comigo e seu tratamento comigo foi um pouco... Triste de lidar. Não quero aquela indiferença e alfinetadas outra vez.

— Aí está você. – Ouvi a voz de mãe e me virei para trás, me surpreendendo por ser abraçada por ela. – Você não sai daquele jeito outra vez, eu fico preocupada. – Reclamou e me afastei do abraço fazendo um bico.

— Você estava sendo ignorante.

— Eu não estava sendo ignorante, estava sendo realista. Você não pode ficar brava comigo por dizer verdades pra você. – Voltou a reclamar e cruzei os braços.

— Posso sim, faz parte da fase da adolescência. – Justifiquei e ouvi sua risada.

— Vick, meu anjo. Você é tudo, menos uma adolescente normal. Ou talvez seja... Qual a maior porcentagem hoje em dia? Adolescentes felizes ou depressivos? – Perguntou parecendo realmente interessada na resposta e suspirei. – Você parece ser meio termo. – Murmurou. – Olha... Eu não quis chatear você ou dar a entender que não me importo com suas preocupações, mas nenê, você é meio surtada e inventa muitas coisas nessa sua cabecinha avoada. Eu só queria que colocasse seus pés no chão. – Falou calmamente e foi minha vez de suspirar. – Eu acho que só saímos um pouco de sintonia, certo? Não quero que fique chateada comigo e muito menos que pense que eu quero te prejudicar. Podemos começar de novo? – Pediu e deixei os braços caírem ao lado do corpo antes de olhar para o lado por ver um carro se aproximando, voltando a atenção para minha mãe por ver não ser o carro da Galateia.

— Tá, mais tarde. Tudo bem? Ela já está chegando e a Liane falou que está brava. – Choraminguei. – Ela é muito inflexível quando tá brava.

— É só você usar seu jeitinho doce que ela se acalma. – Falou carinhosa e lhe olhei em confusão.

— Que jeito doce é esse que você se refere? Não tenho nada disso.

— Esqueci, você é azeda feito um limãozinho. – Murmurou e engoli em seco pelo carro anterior parar na nossa frente e a janela se abaixar aos poucos. Estiquei o pescoço para o lado tentando ver a placa e Liane surgiu no espaço aberto da porta com um sorriso.

— Oie! Boa tarde. Vamos entrando? – Chamou e olhei para dentro do carro, podendo ver Galateia no outro extremo, olhando para as mãos enquanto brincava com os dedos. Olhei para trás procurando por mãe e ela assentiu fazendo um sinal com a mão para que eu entrasse logo.

— Tudo bem... Tchau mãe, venho te ver depois da aula. – Alertei e Liane se mexeu dentro do carro, sentando no banco que ficava de frente para o que Galateia estava. – Oi... Carro novo? – Perguntei meio incerta ao me sentar do lado da Galateia, notando que o espaço desse era mil vezes maior que o usado normalmente por ela.

— É da minha mãe. – Falou sem desviar a atenção dos dedos e me encolhi abraçando a bolsa. Ok... Acho que a Liane estava certa sobre o humor dela. Eu já não estou com a melhor sorte. Fazer uma pergunta que a faça se lembrar da mãe... Não parece ser uma boa alternativa para mim.

— Você quer que eu vá mesmo com você? Minha mãe me leva. – Alertei acanhada. Droga, não sei como agir perto dela quando está assim.

— Não! Quero que vá junto comigo, desculpa. Não estou de bom humor. – Sussurrou se encolhendo e acabei sorrindo. Mamãe estava certa, tenho de parar de pensar em como agir e começar a me focar em como ela está se sentindo.

— Não tem de pedir desculpas. Eu que peço desculpa por ser parte do motivo. – Sussurrei e olhei para Liane, que me observava como se eu estivesse em uma exposição. Arregalei os olhos ficando inquieta e ela desviou a atenção para janela.

— Hoje, depois da escola, vou visitar o Vicent e a Sam. Você quer ir junto? – Galateia chamou e arregalei os olhos em animação.

— Quero! Claro que quero. Mando uma mensagem pra minha mãe avisando. – Falei eufórica com o pedido e peguei o celular digitando rapidamente uma mensagem para minha mãe, parando no meio do texto ao olhar de canto de olho pra Galateia, voltando a encolher os ombros por ela parecer totalmente deslocada.

— Quer mesmo que eu vá? – Perguntei receosa. – Galateia...

— Sim, Sam vai gostar e também... Também... Desculpa. Estou um pouco perdida no que fazer. – Alertou e suspirei me atrevendo a levar minha mão sobre a sua.

— Está tudo bem, Téia. Você não tem de fazer nada. – Garanti apertando suavemente sobre seus dedos. – Já é suficiente só me deixar ficar do seu lado. – Sussurrei deitando a cabeça em seu ombro e olhei para Liane outra vez, que voltou a desviar a atenção para janela.

— Hoje o professor de matemática falou que teria teste. – Galateia comentou e sorri de canto por mesmo que eu tenha dito que ela não precisa, ela esteja tentando.

— Deus, eu não faço ideia de como vou fazer isso. – Lamentei e ela sorriu.

— Bom, é por isso que somos do mesmo grupo. Vou te ajudar. – Garantiu e mantive o sorriso por ela ser tão doce. Não precisava nem aceitar falar comigo.

XxX

Suspirei me sentando ao lado dela no banco do jardim da escola e coloquei minha mochila sobre o colo, a rodeando com meus braços e focando minha atenção no meu all-star vermelho. Ok, estamos aqui, sentadas juntas, viemos juntas e estávamos conversando até agora, mas porquê essa sensação de que tem algo errado não vai embora? Mesmo que ela tenha rido e sorrido comigo o caminho todo... As coisas parecem que estão bem, mas ao mesmo tempo... Estão tão ruins. Ela está aqui comigo, mas... Porque sinto como se não estivesse?

— Quer um pedaço? – Sua voz chamou minha atenção e olhei para a barrinha de chocolate que estendeu em minha direção. – É de caramelo. – Alertou e neguei com a cabeça por meus pensamentos me fazerem ter vontade de chorar. Até semana passada eu estava comendo todos os chocolates que ela me oferecia porque queria lhe beijar, agora não faço ideia se continuaremos com a amizade.

— Obrigada, mas não. – Sorri carinhosa e desviei o olhar para frente por ouvir passos se aproximarem. Nós viemos nos sentar aqui para conversar, mas... Deus, parece que estamos fazendo tudo, menos isso.

— Galateia? – A voz chamou e foquei na garota de cabelo curto que sorria vindo em nossa direção. – Aha, achei você. – Falou animada e ergui uma sobrancelha em confusão. Quem é esse ser? – Dessa vez foi rapidinho, acho que tive sorte hoje. – Sorriu de orelha a orelha e desviei o olhar pra Galateia por ela sorrir de volta. Espera! Quem é essa garota? Por que Galateia tá sorrindo pra ela? Ela não tem costume de sorrir pra ninguém, exceto pra mim.

— Realmente. Acho que é a primeira vez que sento aqui fora, deve ser por isso. – Foi simpática e estreitei os olhos. – Ah, Bruna, essa aqui é a Victória. Victória, essa é a Bruna. – Apresentou conferindo alguma coisa no celular e voltei a atenção para menina que se mantinha em pé a nossa frente, com ambas as mãos atrás das costas, sem desfazer o sorriso.

— Que menina bonita você é, uau. – Falou surpresa e estreitei os olhos por Galateia rir. – Ah, espera! Victória... Você é a menina que também passou mal ontem, né? Aquela enfermeira gata falou de você. – Disse pensativa e estendeu a mão direita. – Olá, é muito bom te conhecer. – Voltou a sorrir e apertei sua mão em desconfiança. Como assim “também”? Que enfermeira gata? Por que Galateia estava na enfermaria? Ela estava doente?

— Você disse também? – Especulei soltando sua mão logo em seguida.

— Sim! Ontem eu quase desmaiei no banheiro de tanto mal que estava passando. Se não fosse a Galateia, eu teria morrido, acho. Sei lá, batido a cabeça e essas coisas. – Contou e pisquei algumas vezes. Certo, Galateia ajudou ela e isso é só?

— Vocês se conheceram ontem? – Perguntei sem entender direito a situação toda. Se Galateia conversasse com ela antes, eu saberia! Eu ficava o tempo todo grudada nela.

— Sim! Ela foi muito simpática comigo. Um verdadeiro anjo descendo do céu. – Disse encantada e voltei a estreitar os olhos. – E como prometido, oh, ser de luz. Bum! – Trouxe a mochila pra frente do corpo e lhe olhei sem entender nada, assim como Galateia. – Opa, calma. – Colocou a mochila no chão e se abaixou para abri-la, retirando alguns cadernos para deixar no chão, logo depois tirando um embrulho e estendendo para Galateia. – Agora sim, BAN! – Gritou e Galateia pegou o embrulho sem expressar surpresa alguma. Isso é um presente? – Hoje cedo passei em uma lojinha só de chocolate e comprei isso pra você. – Contou animada e espiei o embrulho que era aberto, analisando todos os diferenciados chocolates dentro da cestinha de madeira. Por que diabos ela está dando chocolates para minha garota?

— Meu Deus, são muitos. – Galateia comentou e estreitei os olhos pela milésima vez. Ficamos “brigadas” e ela já tem uma nova amiga e ganha presentes?

— Sim. Eu não gosto muito de doces, mas a moça da loja falou que como você gosta, eu deveria trazer uma variedade para expressar minha gratidão. No fundo, acho que ela pensou que eu estava comprando pra uma namorada ou um crush. Talvez só quisesse meu dinheiro também, o que é bem mais provável. – Riu divertida e passei a língua sobre os lábios. Que porra de assunto é esse?

— Seria impossível ser para um crush, a Galateia não está disponível. – Pensei irritada e senti todo meu rosto esquentar por tanto ela quanto Galateia me olharem. Eu disse isso alto?

— Não estou? – Galateia perguntou erguendo uma sobrancelha e quis enfiar a cabeça dentro da terra, mas a vontade de lhe acertar um soco foi maior. Que tipo de pergunta ridícula é essa?

— Você é sonsa? – Perguntei brava por sua expressão divertida. Isso não é engraçado.

— Não sou, você que está dizendo coisas estranhas. – Deu de ombros e arregalei os olhos em descrença. Então é assim que ela vai me punir por tudo?

— Eu não estou dizendo nada estranho! Não está disponível para ser crush de ninguém. – Reclamei. – Você é minha futura namorada! Só não estamos namorando ainda, mas você já é comprometida comigo e apenas comigo. – Falei me irritando por sua expressão surpresa.

— Acho que está se alterando. – Disse calmamente e neguei com a cabeça. Isso não pode ser, né? Ela não vai deixar outras pessoas flertarem com ela na minha frente. Ela nem falava com outras pessoas.

— Não! Você disse que estava tudo bem ser minha amiga e que não podia responder sobre sermos namoradas ainda. – Lembrei. – Mas vai deixar uma menina aleatória flertar com você? Na minha frente? – Perguntei sentindo os olhos marejarem.

— Opa, parece que temos um mal entendido aqui. – Bruna chamou minha atenção e lhe olhei irritada por ela se meter no assunto. – Eita... – Sussurrou encolhendo os ombros.

— Vick, ela não está flertando comigo. – Galateia falou e abri a boca para reclamar, olhando de uma para outra.

— Moça... Eu não gosto da Galateia nesse sentido. – A menina ajudou, se encolhendo mais e voltei a olhar para Galateia, que parecia um pouco perdida.

— Não? – Perguntei focando nos olhos azuis de Téia e ouvi a risada da outra menina.

— Meu Deus, não. Victória, já tenho uma pessoa pela qual meus sentimentos são direcionados. – Falou entre o riso. – Caramba, impressionante. Primeira vez que sou alvo de ciúmes de alguém. – Disse surpresa com a informação e cruzou os braços pensativa. – Foi mais estranho do que achei que poderia ser.

— Eu não estou com ciúmes! – Neguei e Galateia ergueu uma sobrancelha.

— Não? – Perguntou e abri a boca para reclamar, suspirando e me encolhendo logo em seguida. Mamãe está certa, eu sou impulsiva demais.

— Sim! Eu... Tá, er... Ok, ciúmes. Eu só... Só estou chateada. – Sussurrei. – Podemos entrar agora? – Pedi olhando para Téia, que levava um dos chocolates ganhos na boca.

— Irei comer uns chocolates antes. – Alertou como se não ligasse para minha confissão e apertei os dentes por isso me irritar. O que ela está fazendo?

— Você nem devia estar comendo isso. – Reclamei tomando o doce da sua mão antes que ela ousasse dar outra mordida. – Vai comer tudo antes do intervalo se ninguém falar nada! – Guardei o chocolate do lado da minha bolsa e tirei a caixa da sua mão. – Só no caminho para cá, comeu duas barras de chocolate! Quer morrer de diabete antes dos 20 anos? – Bradei fechando a caixa e jogando dentro da mochila, olhando para menina que havia lhe dado o presente. – Não dê chocolate pra ela, ela não tem nenhum controle sobre isso e vai acabar morrendo.

— Ora... Ela é alguma criança? – Perguntou confusa e olhei para Galateia, que mastigava o pedaço que havia conseguido morder antes.

— Sim, ela é. – Acusei. – Ela enche essa bolsa dela com 200 barras de chocolate e come tudo em um dia só. – Voltei a reclamar e estendi a mão pra ela. – Vamos. – Chamei e mordi o interior da minha boca por ela negar com a cabeça.

— Depois eu vou.

— Por que não agora? – Perguntei confusa.

— Irei conversar com a Bruna por um momento. – Explicou e apertei a mão em punho.

— Por quê? Ela só te deu chocolate, não tem que conversar com ela por causa disso. – Reclamei e suspirei por ela me olhar decepcionada. – O que foi? Achei que não gostava de humanos. – Lembrei e quis chorar por seu dar de ombros. – Quer saber? Tá! Fica aí, perde aula. Boa conversa pra vocês. – Saí emburrada. Ficar conversando com uma estranha... Ridícula, babaca! Mas que desgraça. Como que vou ter alguma chance se ela fica dando abertura pra outra pessoa?

Galateia pov.

Olhei Victória se afastando em passos duros e suspirei pegando minha mochila que quase caía do banco. O que foi isso agora? Que tipo de reação... Mas que saco, eu não deveria me sentir culpada por essas coisas. Não estava fazendo nada errado e ela que surtou do nada. Maldição.

— Assim, acho que ela ficou chateada com você. – Bruna falou preocupada e neguei com a cabeça espantando os pensamentos. Chateada... Acho que ela só surtou por um momento.

— Ela está irritada porque recusei o pedido de namoro dela. – Contei, suspirando por até agora ela não ter feito nada diferente do seu normal. O que infelizmente, acho que não chegará a acontecer. Essa só foi a primeira vez, além de alguns momentos perto da Tiffany, que ela pareceu ficar com raiva.

— VOCÊ RECUSOU? – O grito em choque me fez arregalar os olhos em susto, saindo dos pensamentos. – Garota! Como você recusa o pedido de uma menina bonita assim? Não estou crendo nisso.

— Ela precisa aprender com os erros dela. Se realmente se importar comigo, vai aceitar a lição com gratidão. – Murmurei e ela negou incrédula com a cabeça.

— Certo. Eu aqui implorando pra alguém me notar e você recusando pedidos. Deus realmente tem seus favoritos. – Reclamou e me ergui ao ver Victória parar de andar para levar a mão no rosto como se secasse lágrimas. Suspirei e coloquei a mochila no ombro.

— Agora preciso ir para sala. Muito obrigada pelo presente, adorei. – Agradeci. Ironicamente, por mais que goste de chocolate, dificilmente sou presenteada com eles, e é algo que realmente aprecio quando ocorre.

— Você mereceu. Também preciso ir agora. Boa aula pra você, manda um abraço pra sua “não” namorada. Diz pra ela que desejo boa sorte. – Sorriu se afastando e neguei com a cabeça, andando lentamente até Vick em passos lentos, parando brevemente por ela endireitar a postura e bater o pé no chão como se estivesse zangada. Ergui uma sobrancelha curiosa com seu movimento e ela se virou na minha direção com uma expressão determinada, arregalando os olhos por me ver, toda atitude parecendo que morrer pelos ombros encolherem como se tivesse sido pega no flagra, os olhos marejando para começar a chorar.

Vick não precisa de sorte, precisa de atitude, apenas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostasse?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mirror Myself In You" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.