Após o Despertar escrita por Matheus HQD


Capítulo 1
Capítulo 1: Dia do Despertar




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As luzes piscavam em sequência no monitor do computador e essa era a única fonte de luz atualmente iluminando aquele quarto, as vozes que saiam das caixinhas de som gritavam coisas em japonês e eram seguidas dos mais variados efeitos sonoros, o volume estava tão alto que quase abafava os sons de algazarra dos animais dos vizinhos e de alguns carros e motos passando na rua constantemente.

Quando a fome de Mariana aumentou, foi o momento em que a jovem percebeu que não havia comido qualquer guloseima a um bom tempo, ela se levantou da cama e pausou sua maratona de episódios, ao retirar do modo tela cheia e em seguida olhar para o canto inferior direito da tela, ela se deu conta de que estava a horas entretida com a nova temporada daquele anime e nem notou o tempo passando. Ao pegar o celular e clicar em seu botão lateral, o visor se acende com um símbolo de uma bateria preenchida por completo, ela retira a conexão da tomada e segura o botão para ligar o aparelho.

— Também, esse troço descarregou antes de eu ir almoçar, deve ter carregado a muito tempo já.

A garota comenta em voz alta para si mesma enquanto sai do quarto e caminha até a cozinha. As janelas da área de jantar e da cozinha confirmavam que já havia anoitecido, deixando o celular na pia, a garota abriu um dos armários e viu um pacote de biscoitos ainda pela metade, só faltava uma bebida para completar o lanche, ela pensou enquanto abria a geladeira. O celular agora ligado se conectou automaticamente ao wi-fi da casa e começou a vibrar e assobiar constantemente uma vez atrás da outra, a jovem estranhou tamanha repetição enquanto colocava suco em seu copo.

— Relaxa galera, pra que tudo isso ai? Aposto que a maioria vai ser mensagem de grupo.

Ao voltar sua atenção para o celular e desbloquear seu código padrão, comprovou que sua aposta pessoal estava correta, a maioria das mensagens recebidas eram de grupos de amigos, família, faculdade e outros, mas antes de verificar o que todos falavam ela decidiu mandar uma mensagem para sua mãe, pelo horário, ela já deveria ter chegado do trabalho, mas como não era raro o congestionamento enquanto fazia o caminho de volta para casa, talvez ela estivesse chegando em breve, por garantia Mariana digitou “Ta chegando, bonita?” e clicou em enviar. Sua mãe não estava online, o que contribuía para a ideia de ela estar presa no trânsito, porém ela já não estava online a muitas horas, algo que não foi notado a princípio, e em seguida a atenção da garota se voltou ao montante de mensagens esperando a serem lidas.

Passar os olhos pelas primeiras mensagens recebidas já foi capaz de gelar a espinha da garota que não esperava tamanho alarde e agitação com o que ela, inicialmente, considerou serem muitas notícias falsas. Em menos de um minuto lendo as mensagens a adolescente passou a esboçar aflição em seu rosto, em menos de dois minutos seu ritmo cardíaco já estava acelerado, antes do terceiro minuto se completar ela já estava ficando ligeiramente desesperada. Muito se pergunta sobre quanto tempo é necessário para ver sua vida mudar o rumo completamente, para Mariana foram menos de três minutos.

Incrédula com todas as mensagens ela decidiu ir para as redes sociais, e foi aí que agonia tomou conta das emoções dela. O que as pessoas diziam não fazia o menor sentido, as coisas que as pessoas comentavam e compartilhavam sobre o que elas estavam presenciando era impossível, nenhum tipo de “fake news” poderia se espalhar tão rápido possuindo um conteúdo tão irreal, e a tag #OFIM claramente possuía números de utilização absurdos, considerando que pela manhã a garota não havia visto sequer uma menção a qualquer tipo de pandemônio acontecendo pelas ruas.

A fome havia desaparecido, biscoito e suco ficaram na cozinha enquanto Mariana corria para a sala e apertava o botão do controle remoto, nem era preciso percorrer entre os canais, a televisão se acendeu já com um telejornal noticiando as últimas informações, a voz do repórter no helicóptero era audível apesar de um leve ruído e chiado, e podia se notar a desolação e tristeza em seu tom de voz, por mais que ele estivesse tentando se manter firme enquanto noticiava.

— ...que tenha sido uma cadeia de explosões, visto que diversos quarteirões foram inteiramente devastados. Podemos ver que as chamas ainda são muito... muito presentes e os escombros estão por toda parte, principalmente na área da antiga catedral que nem conseguimos reconhecer mais, os bombeiros estão espalhados pela área, se esforçando para impedir que as chamas se espalhem ainda mais, mas é um esforço extremamente difícil, e a fumaça dificulta um pouco a visão lá em baixo, os números de mortos e desaparecidos ainda... Não tem como... Calcula-se que centenas de pessoas estavam aqui na região, alguns feridos já foram encaminhados para as UPAs e Hospitais mais próximos...

Mariana escutava tudo aquilo, era como se as palavras não conseguissem entrar em sua cabeça, mas as imagens, essas sim, ficariam marcadas em sua memória, os destroços, a confusão de fogo, fumaça e concreto no centro da cidade eram tudo que a garota precisava ver para que ela confirmasse toda aquela nova e aterrorizante realidade, e em prantos, começasse a chorar enquanto caia de joelhos no chão chamando por sua mãe.

Quando a jovem finalmente conseguiu conter um pouco de seu desespero e suas lagrimas, ainda com um nó na garganta, ela pegou seu celular e foi até o contato de sua mãe, hesitou por um momento, pressionou para discar enquanto tentava manter uma fagulha de esperança de que ela atenderia. O telefone chamou, chamou, chamou, até cair na caixa postal. Ela desligou e voltou ao aplicativo de mensagens, sua última troca de mensagens com a mãe foi durante a manhã e seguia de tal maneira:

MÃE: Não vai ficar enfiada nesse quarto o dia todo só comendo besteira, tem roupa na máquina, estende elas no varal depois que tomar café bonita

“Ta bom XD”

MÃE: Bonita, o tempo ta fechando aqui no centro, e parece que vai ser uma chuva daquelas, melhor tirar as roupas pra não molhar tudo de novo

“Ok, parece que ta começando a fechar aqui também, vou tirar”

MÃE: Filha, acabou de ter um tremor enorme aqui na firma, ta tudo bem ai?

“Serio? Aqui também teve, achei que tinha sido algo por aqui!!!”

MÃE: Falaram no radio que foi um terremoto leve, onde já se viu terremoto por aqui

“Uai, que estranho, ainda bem que já passou...”

“O meu cel ta descarregando, eu vou ter que por pra carregar bonita, e acabei de tirar as roupas aqui antes que pergunte rsrs”

MÃE: Ta bom, beijos      

A mensagem seguinte era um emoji de um beijinho que sua mãe enviou e depois disso somente havia a mensagem de momentos atrás da garota perguntando se ela estava chegando, Mari não podia acreditar que aquela era última conversa entre as duas, não queria acreditar. Mais algumas lagrimas voltaram a escorrer pelos olhos, ela tentou não focar nesse pensamento, se voltou para a televisão novamente e começou a trocar de canais. Cada jornal comunicava uma tragédia diferente, tentando a todo momento atualizar os telespectadores com as notícias recentes que chegavam sem parar; até mesmo os canais que costumeiramente teriam alguma programação infantil sendo exibida, traziam informações sobre as espantosas catástrofes que ocorriam simultaneamente em todo o pais, por mais estranho e impressionante que parecesse ser. Porém, apesar de assustador, isso não surpreendeu a garota, pois se os comentários nas redes sociais forem verídicos, não é só o Brasil que está vivenciando uma calamidade sem escalas, era o mundo todo.


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