Sob a Máscara escrita por Irene Adler


Capítulo 2
Capítulo 2




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Tentei dormir e acordei por diversas vezes apenas para encontrar o outro lado da cama vazio. Em algum momento da noite decidi levantar ver se Bruce já havia chegado e descumprido a promessa que me fez na festa.

Vesti o robe preto dele que ficava grande demais em mim antes de sair do quarto para caminhar pelos corredores da mansão. Encontrei Alfred sentado no sofá da sala.

— Ele já voltou, não é? – Perguntei.

— Acabei de perguntar se ele queria que eu acordasse a senhorita, mas me disse que era melhor não incomodá-la.

— Da próxima vez me chame mesmo assim, sabe que durmo mal enquanto ele não chega. – Falei e vi Alfred me oferecer um meio sorriso cúmplice. – Mas aconteceu alguma coisa? Bruce está bem?

— Sim, ele está bem, não se preocupe. Ele foi chamado por conta do assassinato de uma mulher.

Por que se deram ao trabalho de chamar o Batman para resolver um homicídio comum?

— Se importa se eu descer? Talvez possa ajudar em alguma coisa, já perdi o sono mesmo.

— Vá em frente, ele vai gostar de vê-la.

Fui até o piano para então tocar as cinco notas que abriam a passagem na estante de livros e descer a escada rumo à batcaverna. Bruce estava sentado diante do computador sem a máscara, ainda usando o traje do Batman.

— Pensei que tivesse dito que iria me acordar. – Quebrei o silêncio.

— Eu já ia subir. – Tirou os olhos do computador e voltou-se para mim.

— Sei. Qual foi o chamado de hoje?

— Uma mulher foi morta e o assassino deixou um bilhete que mais parece o recado de um velho conhecido. – Tirou um pequeno envelope verde de cima da mesa e em entregou. – Está sem digitais, já chequei.

Abri o envelope e retirei um papel com os dizeres: “O que nunca volta, embora nunca tenha nos deixado?”

— O passado. – Respondi em voz baixa a pergunta do bilhete. – Quem acha que escreveu isso?

— A vítima morreu enforcada, o envelope estava em cima do corpo. O modus operandi lembra o do Charada, mas eu o prendi no meu primeiro ano como Batman e ele está no Arkham até hoje.

Recordava-me das manchetes de pouco antes de eu sair do orfanato para dividir um apartamento com Helena. Edward Nygma, o Charada, trancafiado no Arkham graças ao Batman depois das mortes de algumas figuras proeminentes de Gotham. Um enigma sempre acompanhava os corpos, como uma dica de quem seria o próximo.

— Acha possível ele estar comandando algo de dentro do Arkham? E quem era a mulher?

— Nygma não me parece inteligente o suficiente pra isso. A mulher se chamava Olivia Miller. Solteira, 34 anos e sem filhos. Só tinha um irmão...

— Chamado Joseph que é quatro anos mais novo, os dois moram no mesmo quarteirão na Cidade Velha, não muito longe do meu apartamento. – Completei antes dele.

— Como sabe?

— Esbarrou na investigação do meu caso, Sr. Wayne. Olivia estava desaparecida há dois dias, o irmão dela foi o último cliente que atendi ontem, mas ele não sabia quase nada sobre ela que pudesse me ajudar. Só sabia que ela era garçonete no turno da noite, não tinha nem o nome do lugar. Só consegui deduzir que é no Diamond District.

— E como descobriu isso? – O bilionário parecia interessado em minha linha de raciocínio.

— Joseph me contou que ligou pra Olivia numa noite e ela disse que não podia falar porque ia descer do metrô, estava chegando no trabalho. As únicas estações de metrô com sinal de celular são as de superfície, no Diamond District e em parte da Ilha Norte. Olivia era bonita demais pra ser garçonete num bar sujo da Ilha Norte, ela era o tipo de garota que trabalha no Diamond District ou nos restaurantes caros do Centro.

Como eu fui, pensei.

— Muito bom, quase acertou. – Ele tornou a olhar para a tela do computador. – Ela trabalhava mesmo no Diamond District, perto da Wayne Enterprises. Mas não era garçonete, era stripper no Eden.

A boate de strip frequentada pelos ricos de Gotham.

— Eu iria descobrir de qualquer forma, ainda não tinha começado a investigar. E não tenho a mesma vantagem que você, de ter um computador com os dados de todo mundo na cidade.

— Lauren, preciso que entenda uma coisa. – Ele pareceu estar medindo as palavras. – Não pode continuar investigando esse caso. O envelope do Charada não é um bom sinal.

— Acabou de me dizer que não pode ser o Charada.

— A questão não é essa. A investigação pode dar em algo realmente perigoso. Esse é um trabalho pro Batman.

— Não me lembro do irmão da vítima ter contratado o Batman ontem.

— Lauren, tem que me escutar. Não posso deixar que se arrisque desse jeito.

— Não, você é quem vai me escutar. – Falei aumentando o tom de voz. – Esse é o meu trabalho, que tenho feito há quase três anos sem a sua ajuda. O Batman quer o caso? Pois então vai ter de escolher entre trabalhar comigo ou trabalhar contra mim. Saiba que eu guardei a roupa da Dama de Espadas.

— Por que precisa tornar as coisas tão difíceis?

— Não tô tornando nada difícil, você é quem precisa decidir o que quer. – Cruzei os braços. – E não faça uma escolha que não está disposto a manter.

— Não posso deixar você se colocar em risco de novo. Sabe que não posso. Da última vez...

— Da última vez eu não estava fazendo meu trabalho. - Cortei-o. – Não se atreva a comparar. Não vai conseguir me tirar desse caso, Bruce.

Ele suspirou e apoiou os cotovelos sob a mesa, uma expressão exausta tomou seu rosto.

— Não quero brigar com você, Lauren.

— E nem eu quero. Só tem que entender que não vai me tirar do caso. Não está aberto à discussões. Joseph Miller me contratou e vou descobrir o que aconteceu com a irmã dele. A começar por uma visita ao Eden amanhã.

— Isso pode ser perigoso. – Bruce disse relutante. – Eu deveria ir.

— Quer que o Batman converse com as strippers? Só vai assustar as garotas.

— Acha que a Dama de Espadas seria uma opção melhor? Lembre-se de que ela corre grande risco de ser presa.

— Por que ela é uma fora da lei mascarada assim como o Batman, não é? - Não resiste à vontade de provocá-lo. - Mas eu não vou como Dama de Espadas. Vou até lá pedir um emprego, Sr. Wayne.

Vi o fantasma de um sorriso tentar tomar os lábios dele, mas Bruce o conteve e nesse momento eu soube que havia vencido.

— Acho que já te disse isso uma vez, mas vou dizer de novo. Você ainda vai ser a minha ruína.

Lembrava-me da primeira vez em que ele usou essas palavras, é claro. Na época ainda achava que ele tinha mais razão do que pensava e jamais poderia nos imaginar onde estávamos agora.

— É claro que não vou, Sr. Wayne. Vou estar te esperando na cama, não demore. Você me prometeu. – Dei as costas para ele ao concluir a frase.

(...)

Bruce não perguntou nada, mas sabia que havia um acordo tácito entre nós agora. Eu continuaria investigando o caso e iria fazer perguntas no Eden enquanto ele faria uma visita para o Charada no Arkham na próxima madrugada.

Pedi para que Alfred me acordasse cedo no dia seguinte para que eu pudesse ligar para Joseph pela manhã e assegurá-lo de que eu resolveria tudo.

— Sr. Miller? Bom dia, aqui é Lauren Wright, a detetive.

— Pode falar, senhorita Wright. – Ele me pareceu tão cansado ao telefone.

— Eu soube o que aconteceu com sua irmã e quero te dizer que sinto muito. Caso o senhor me permita, gostaria de continuar investigando. Sei que a DPGC vai assumir o caso, mas meu índice de sucesso é bem maior do que o deles. Saiba que não vou descansar até descobrir quem fez isso com a Olivia.

— Eu... Agradeço, senhorita Wright. Gostaria que continuasse no caso, seria de grande ajuda. Agora se me dá licença, tenho algumas coisas a resolver. Mais uma vez obrigado.

Ele desligou antes que eu tivesse a chance de responder. Teria ficado brava em qualquer outra ocasião, mas entendi que nesse momento era normal que ele quisesse ficar sozinho ao invés de se preocupar em ser educado comigo.

Bruce já tinha saído para trabalhar e decidi que seria melhor ir ao Eden o mais cedo possível.

Fui de metrô até a estação Central Square, a que provavelmente Olivia estava no dia em que Joseph ligou. A caminhada até o Eden durou poucos minutos e logo estava diante do letreiro apagado que exibia uma maçã mordida. A porta estava fechada.

Imaginei que a essa altura a polícia devia ter interrogado os funcionários e deixado todos exaustos com perguntas, precisaria tentar uma abordagem diferente.

Encostei-me na fachada do prédio do outro lado da rua a espera do primeiro funcionário chegar. Tive o reflexo de procurar por um maço de cigarros na bolsa apenas para não encontrar nada. Por que foi mesmo que decidi parar de fumar?

Quase meia hora depois, quando já era perto das dez da manhã, vi uma mulher ruiva que devia ter por volta dos 50 anos parar diante da porta da boate e tirar um molhe de chaves da bolsa. Seria a dona do Eden?

Atravessei a rua e parei ao lado da mulher antes que ela destrancasse a porta.

— Bom dia, desculpe por te incomodar desse jeito. – A ruiva levantou os olhos assim que comecei a falar. – É que eu estou procurando emprego, acabei de me mudar de Bludhaven. Ouvi boas recomendações sobre esse lugar.

Encarou-me de cima a baixo antes de responder.

— Tem alguma experiência?

— Sim, eu era dançarina em uma boate da minha cidade. Mas era muito menor que essa, é claro. Desculpe, mas como é seu nome?

— Blossom, Margaret Blossom. Sou a dona. – Ela destrancou a porta. – Pode entrar.

— Muito obrigada pela oportunidade, senhorita Blossom. Eu me chamo Lauren Williams. – Falei o primeiro sobrenome que me veio à cabeça.

Entrei na boate e segui-a até uma mesa no interior do local. Observei-a tirar uma das cadeiras de madeira de cima da mesa e fiz o mesmo antes de sentar. Estávamos perto do palco, que estava com os dois lados da cortina vermelha amarrados nas laterais e tinha três barras para pole dance.

— Eu podia te pedir pra fazer um teste e dançar agora, estamos mesmo precisando de garotas, mas sei que não está aqui por um emprego. – Margaret me olhou nos olhos. – Lembro da sua cara nos jornais, você não se mudou de Bludhaven. Agora me conte, o que quer aqui?

Merda. Se Coringa não tivesse me feito aparecer tanto nos jornais meu trabalho seria tão mais fácil.

— Estou investigando a morte de Olivia Miller, sou detetive particular. – Cheguei à conclusão de que seria melhor admitir. – Soube que ela trabalhava aqui.

— Já contei tudo que sabia à polícia.

— Não sou da polícia, não vou te trazer nenhum problema. Foi o irmão dela que me contratou ontem, quando ela ainda estava desaparecida. Ele parecia preocupado.

— O Joseph? Preocupado? Só se for porque o dinheiro não estava mais entrando. – Exatamente onde eu queria chegar. Então era por isso que a relação dos dois não era boa. – Vi a Olivia gastar todo o dinheiro que tinha pagando a reabilitação desse infeliz.

— Reabilitação?

— É claro que ele não te contou isso quando te contratou. Ele era viciado em heroína, nem sabia que a Olivia trabalhava aqui porque ela não queria que ele aparecesse pedindo dinheiro. Se hoje ele tem um emprego e está sóbrio, é graças a ela. E agora ela morreu e esse parasita tá vivo.

— Independente de como era a relação deles dois, eu quero descobrir o que aconteceu com a Olivia. Sou a melhor chance de justiça que ela tem, melhor que o DPGC.

— Justiça, garota? Acredita mesmo que isso existe? Aqui em Gotham?

— Acredito. – Respondi rápido, talvez esperando que seria capaz de afastar minhas próprias dúvidas. – Acredito também que sou a melhor chance que ela tem e preciso da sua ajuda. Tem alguma ideia de quem poderia querer a Olivia morta? Algum cliente regular com quem ela se desentende ou um namorado talvez?

— Ela se envolveu com um cara casado um tempo atrás. De início achei que era só um cliente rico qualquer, um italiano. Só depois soube quem era. Um dos mafiosos que a Dama de Espadas matou. Que ironia.

Sal Maroni. Uma das mortes do Harvey que acabei assumindo. Olivia teve um caso com Sal Maroni.

— Por que ironia?

— Esse era o número mais popular da Olivia por aqui. Ela fazia a Dama de Espadas.


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Notas finais do capítulo

Espero que todos tenham passado bem o Natal e o Ano Novo, não esqueçam de me contar o que acharam do capítulo.



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