Sob a Máscara escrita por Irene Adler


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Sei que dei uma sumida, andei tendo alguns problemas, mas agora voltaremos ao calendário de postagens uma semana sim uma semana não. Não se preocupem, não tem a menor chance de eu abandonar a história.



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Saí frustrada do Eden depois de perceber que a dona do lugar não tinha mais nenhuma informação para me fornecer e que era quase certo supor que Joseph havia mentido a respeito de sua relação com Olivia.

A tal Margaret Blossom não parecia ter mentido, soava como se de fato se importasse com a stripper. Talvez porque o número da Dama de Espadas fosse um dos mais lucrativos do lugar, mas ainda assim ela se importava.

Segundo ela, Olivia foi amante de Sal Maroni por alguns meses antes da morte dele e nesse período economizou o dinheiro que usaria para pagar pela reabilitação do irmão ao longo de todo o ano seguinte em Bludhaven, já que os dois acharam que seria melhor ele se afastar de Gotham por um tempo. Quando Joseph voltou, foi Olivia quem o ajudou a conseguir entrevistas de emprego até que fosse contratado por uma padaria no centro.

Mesmo tendo usado minha identidade de criminosa como forma de ganhar a vida, precisava admitir que Olivia Miller não me parecia uma má pessoa. Mas saber que a Dama de Espadas tinha conquistado esse nível de popularidade ainda me chocava. Eu era uma das lendas urbanas de Gotham agora. Uma história que as pessoas contavam na mesa de bar, um desejo reprimido que tomava a forma de uma stripper de olhos verdes.

Margaret contou que o número começou quando Coringa e a Dama estavam em todos os jornais e que o sucesso da stripper apenas cresceu após o meu sumiço, que ela e Olivia desconfiaram que não deixaria de ser popular tão cedo.

 Mas não conseguia deixar de ouvir uma voz no fundo de minha mente que me dizia que só apreciavam tanto esse número porque perderam o medo de mim. Coringa riria tanto se soubesse disso. Talvez fosse a hora de voltar e lembrá-los.

Tentei ligar para Joseph diversas vezes sem sucesso, deixei um recado na caixa postal na décima segunda tentativa.

— Sr. Miller, é a detetive. Sei que é um momento difícil, mas preciso te fazer umas perguntas. Descobri algumas informações novas e queria conversar com o senhor, preferia que fosse pessoalmente. Por favor, me retorne assim que puder.

Rumei para o escritório onde passei um dia monótono durante o qual ouvi dois casos desinteressantes envolvendo possíveis traições, resolveria os dois rápido. O único pensamento que não me deixava era a mente era de que Joseph não retornou nenhuma das ligações.

Saí do escritório uma hora mais cedo para procurá-lo e decidi tentar a padaria primeiro, não era longe de onde eu trabalhava. Depois de vinte minutos de caminhada estava diante da Sunday's Bakery. Entrei e fui na direção de um dos funcionários que ocupava o caixa.

— Boa tarde, sabe me dizer se Joseph Miller trabalha aqui? – Perguntei. – Sou uma amiga dele, acabo de voltar pra Gotham.

— Ele faltou hoje hoje, moça, ninguém sabe porque. O patrão ligou e não conseguiu falar com ele.

— Ele não costuma faltar?

— Não, ele nunca falta. Mas você não tem o telefone dele nem sabe onde ele mora?

— Tenho sim, é que tava passando aqui pelo centro e pensei em encontrar com ele. De qualquer forma obrigada.

Joseph não contou a ninguém que a irmã tinha morrido. Essa seria uma desculpa perfeitamente aceitável para faltar o trabalho, e logo o crime apareceria nos jornais e todos saberiam, mas ele preferiu não dizer nada. Por quê?

Fui tomada por um presentimento ruim e peguei um táxi ao sair da padaria. Queria chegar à casa dele o mais rápido possível.

Porém o trânsito não me ajudou e mesmo estando de carro demorei quase uma hora para chegar na Cidade Velha. Quando o táxi virou a esquina na Rua Hylan, paralela à rua do meu próprio apartamento, avistei dois carros da polícia e um tumulto na calçada em frente ao prédio que Joseph morava. IInferno. Seja lá o que tiver acontecido, cheguei tarde demais.

Paguei os vinte dólares ao taxista e saí do carro para tentar passar pelo tumulto sem obter muito sucesso. Mas da distância em que me encontrava consegui ver o plástico preto que cobria o que parecia ser um corpo no chão. Toquei levemente o braço da mulher parada ao meu lado antes de falar:

— Sabe o que aconteceu?

— Um cara se matou, se jogou do terraço do prédio. – Ela me respondeu como se fosse algo corriqueiro.

É incrível ver o quanto as pessoas adoram um espetáculo trágico.

— Sabe quem é? Eu moro aqui perto, vi o tumulto e fiquei curiosa, talvez fosse alguém conhecido. – Disse embora já imaginasse a resposta dela.

— Não sei, mas me disseram que ele mora no 603.

Era mesmo Joseph.

Não devia ter ido trabalhar hoje. Devia ter saído do Eden e ido atrás dele.

— É, também não o conheço. – Falei e percebi que a mulher já não me ouvia, absorta olhando para a movimentação policial.

Afastei-me do tumulto, peguei o celular na bolsa e liguei para Bruce.

— Já saiu do trabalho? – A voz do bilionário me atendeu.

— Tô perto do meu apartamento. Acabo de ver o corpo do Joseph estendido na calçada.

— O que houve?

— Tentei ligar pra ele várias vezes e ele não me retornou. Sabia que tinha alguma coisa errada e saí mais cedo do escritório. Ninguém no trabalho dele sabia que a Olivia tinha morrido. Vim pra cá o mais rápido que pude, mas já era tarde. Nem devia ter ido trabalhar hoje. – Suspirei. – Disseram que ele se suicidou, mas não tenho tanta certeza.

— Chegou a ir no Eden mais cedo?

— Fui, consegui conversar com a dona. Você vai adorar. O número mais famoso da Olivia era a Dama de Espadas e ela foi amante do Sal Maroni antes do Harvey matá-lo.

— Lauren... – A repreensão dele veio por conta da minha última frase.

— Não tem ninguém me ouvindo. O ponto é que a Olivia era amante do Maroni antes dele morrer e tirou todo o dinheiro que podia. Usou tudo pra pagar a reabilitação do Joseph, ele era usuário de heroína e ficou um ano numa clínica em Bludhaven. Claro que ele omitiu isso pra mim.

— Talvez ele tenha realmente se matado, as coisas se encaixam. A irmã era a única pessoa que ele tinha no mundo e agora ela morreu. Não contou nada aos colegas na padaria pra não correr o risco de que alguém o atrapalhasse.

— Eu sei o que tá fazendo. Quer que eu pare de investigar o caso e tá dizendo isso pra me convencer de que não tem nada pra ir atrás. Eu sei que tem. E sei que você vai investigar esse suposto suicídio. De qualquer forma não iria parar de investigar o assassinato da Olivia, mas acho que a morte do Joseph tem sim alguma ligação com a dela.

— Está deixando suas emoções se colocarem na frente dos fatos. – Se ele estivesse em minha frente, tenho certeza de que veria uma leve expressão de deboche em seu rosto ao dizer a frase.

Mesmo depois da nossa última conversa, era isso que ele iria tentar fazer?

— Não tô não. Vou pra casa agora e você nem pense em tentar me evitar. Vai ter de discutir comigo os próximos passos dessa investigação. – Falei antes de desligar.

(...)

Já eram quase duas da manhã e Bruce ainda não havia retornado à mansão. Eu estava na sala mal contendo a irritação enquanto Alfred tentava em vão me consolar.

— Ele acha que não sei que ele tem alguma outra caverna pela cidade? Posso muito bem localizar onde fica  inclusive vou fazer isso amanhã. – Falei depois de me sentar no sofá.

— Infelizmente não saberia lhe dizer nada sobre isso, senhorita Lauren. – As palavras do mordomo não me convenceram. – Mas acredito que ele só está tentando protegê-la.

Então isso era ser a namorada do Batman? Eu seria sempre a mulher que o esperava chegar em casa?

— Mas é o meu caso! Eu disse pra trabalharmos juntos, aceitei a ajuda dele. E é assim que ele retribui minha confiança. Não sei se ele ainda pensa que sou louca depois da história com o Coringa, mas tenho feito esse trabalho muito bem há quase três anos.

— Tenho certeza de que patrão Bruce não pensa isso da senhorita.

— Pois eu não tenho. Ele não confia em mim. Hoje ele vai ter a última chance de acertar comigo ou então vai estar contra mim nessa investigação.

— Posso conversar com ele se quiser. – Alfred como sempre tentava amenizar a situação de Bruce. – Não gosto de ver vocês dois brigando.

— Não, Alfred, de jeito nenhum. Ele precisa se resolver comigo. – Parei de falar depois de escutar um ruído bem baixo. – Acho que ele chegou, vou descer.

Desde que passei a viver mais tempo na mansão do que na minha própria casa passei a me tornar sensível aos barulhos mais imperceptíveis, uma excelente habilidade adquirida.

Toquei a sequência de teclas no piano para abrir a passagem secreta e desci para a batcaverna. Adentrei o local o momento em que Bruce tirava a máscara.

— Você tinha razão, Joseph não se matou. Analisei amostras do sangue dele e seu cliente foi infectado pela toxina do Espantalho, então é possível que ele tenha tido alguma alucinação que o fez cair do prédio por acidente. Bom trabalho, Watson.

Ele achava que seria o Holmes dessa história e eu seria no máximo uma assistente? Mas de jeito nenhum.

— Watson? – A raiva que estava tentando controlar me subiu a cabeça. – Acha que eu sou a porra da sua assistente que vai ficar te esperando em casa pra você comentar sobre suas descobertas da noite? Esse é o meu caso.

— Faz alguma ideia de onde eu estava agora? – Percebi que ele se esforçava para manter-se calmo.

— No necrotério da DPGC? Isso não faz diferença nenhuma, o ponto é que se continuar me excluindo disso terei que ir atrás de tudo sozinha. Sou perfeitamente capaz disso, ao contrário do que você parece pensar.

— Faz toda diferença, Lauren. – Ele fez uma pausa. – Acabo de vir do Arkham. Interroguei o Charada e o Espantalho, os dois não sabiam de nada. Seja lá quem for o responsável por essas duas mortes, está tentando emular os crimes das primeiras pessoas que o Batman prendeu no Arkham. Tem noção do quanto isso é sério? É disso que você quer fazer parte?

— Participei de coisas piores quando ainda estava do lado errado, sabe disso. E não ouse dizer que quer me proteger.

— Nunca vou me perdoar se alguma coisa te acontecer. Não posso deixar que faça isso.

— Eu sou adulta e estou fazendo o meu trabalho, essa decisão não é sua. Já decidi que não quero ficar aqui te esperando resolver meu caso. Ou você aceita trabalhar junto comigo ou eu vou sair por aquela porta agora, não existe outra opção. – Apontei na direção da entrada da batcaverna. – E sei que tem outras cavernas dessas pela cidade, pelo menos mais uma. Se continuar a esconder de mim vou localizar sozinha.

Ele dirigiu-me um olhar longo e desesperançoso, sem emitir palavra. Não saberia dizer se vi raiva contida em seus olhos ou apenas medo pelo que poderia me acontecer.

— É uma estação de metrô abandonada. Fica em baixo do Robinson Park. – A resposta de Bruce veio depois de quase um minuto inteiro de silêncio e não sem um certo tom de pesar.

— Fico muito grata pela sua colaboração, Sr. Wayne. – Falei com deboche. – Espero que me leve pra conhecer algum dia. Como não ouvi mais nenhuma oposição sua, vou supor que estamos em acordo. Fiquei acordada até agora te esperando e preciso dormir, mas amanhã você vai me contar os detalhes dos interrogatórios, posso perceber alguma coisa que deixou passar. E vamos separar a ficha de todos os pacientes que estão no Arkham graças ao Batman pra tentar prever quais podem ser os próximos crimes. Não acredito que nosso assassino tem planos de parar por aqui.

— Não sabia que era você quem dava as ordens a partir de agora.

— E não sou. Boa noite, Sr. Wayne. – Falei antes de dar às costas para ele.

— Lauren. – Bruce me chamou quando eu estava prestes a subir o primeiro degrau da escada. – Seu treinamento começa amanhã.

— Treinamento?

— Se vai mesmo fazer isso não pode esperar que eu te salve todas as vezes.


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