Konoha Before The Time — Arco 1: Instinto escrita por ThaylonP, Luizcmf


Capítulo 7
CAPÍTULO 07 — Os Planos do Ninja Médico




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O gavião conseguia enxergar tudo que estava distante como se olhasse através de uma lupa. Sobrevoava lentamente as estradas, pois perseguia um senhor que caminhava devagar. Era um comerciante, devia ter seus sessenta e cinco anos de idade e puxava uma carroça com repolhos. Não parecia uma carga pesada para ele, não porque ele era forte, mas porque carregava anos de experiência fazendo aquele mesmo trajeto.

As asas terminaram de bater quando o senhor chegou à beirada de um riacho, e agora precisava fazer um movimento para ultrapassar a ponte. Ele virou, segurou as duas hastes de madeira ficando de costas para a passagem e puxou de uma vez. Um dos repolhos rolou para longe, mas ele conseguiu puxar o bastante para chegar ao outro lado. Entretanto, ele fez o que era preciso, e refazendo todo o caminho, pegou o repolho, devolveu a carroça e preparou-se para seguir viagem. Antes, porém, o barulho da água o atraiu, então ele foi até lá para encher seu cantil. Ajoelhou-se na margem, inclinou-se para dentro do riacho e mergulhou a mão. Uma porção de sujeira foi levada pelo rio, diluindo-se imediatamente enquanto o cantil enchia. Foi quando o velho olhou para o lado, para perceber que havia outro ser aproveitando a água, há metros dali.

Era um cervo, parecia agitado, mas aproveitava uma pausa para inclinar o pescoço e sorver da água. Assim que viu o velhinho, entretanto, correu, e nesse trajeto revelou os ferimentos na lateral de seu corpo. Estes mais superficiais, apenas arranhões próximos às patas.

O terceiro?

O velho voltou a sua carroça, empurrando-a para longe dali, agora pensativo sobre o cervo que vira com os mesmos traços que seu grupo havia presenciado antes. E acima de sua cabeça, o mesmo gavião que havia lhe entregue o pergaminho com a missão.

— Mesmo animal, só que dessa vez os ferimentos parecem causados por armas ninjas — observou a carroça. — Se este rio segue morro acima, quem está causando isso deve estar por lá.

— Então, o plano fica de pé? Devemos investigá-los? — Outra seção da carroça quis saber.

— Você quase derrubou o pergaminho, Kusaku — disse um dos repolhos. — Se tivesse caído na água, eram 100 mil ryos a menos, seu merda.

— Silêncio — pediu o velho. — Mantenham os disfarces, sigam o plano. Vamos subir o morro.

• • •

— Então, seu plano genial é nos transformarmos num vendedor de repolho? — Misashi questionou, comparando os dois papéis, um na mão de Kusaku e o outro na mão de Yasuhiko. — Por que não fizemos isso desde o começo? Não seria mais fácil?

— Mesmo que fosse o sensei nos transformasse, seria uma quantidade enorme de chackra desperdiçado, ainda mais pra um disfarce que podíamos fazer fisicamente. E andaríamos mais devagar pra sermos fiéis à persona — Kusaku explicou. — A questão é que agora, o quê quer que seja isso, envolve nossa aldeia, o que nos faz ter que investigar e reportar.

O professor observou a conversa dos dois.

— Podemos receber um acréscimo por isso — Yasuhiko disse, Misashi arregalou os olhos —, mas a questão mesmo é descobrirmos o que está acontecendo. Se for um problema grande e não reportarmos, pode ficar maior a ponto de não haver como resolver mais tarde com o que temos de pessoal — o sensei olhou para a cima, focando a luz que entrava pela clareira. — O plano de Kusaku não é para passarmos batido, é pra conseguirmos nos infiltrar.

Asami estava apreensiva. Não por causa do plano de Kusaku, mas sim pelo estado de suas mãos. As alças das sacolas estavam marcando profundamente. Por mais que soubesse que aquilo era um peso morto, afinal, não faria divulgação alguma, sentia-se péssima em abandonar os panfletos de sua mãe em qualquer lugar.

— Kusaku-kun tem razão... além disso, cuidado nunca é demais... — ela comentou com um ânimo forçado.

Misashi a olhou de canto, dividido entre a explicação do professor e a expressão da menina. Por fim, quando fitou as mãos e as dobras dos dedos ficando inchadas, parou de encará-la, voltando a olhar para os dois que planejavam a estratégia.

— E pra conseguirmos isso — o professor continuou, apresentando o papel. — Olhemos as observações do colega de vocês sobre a equipe.

O desenho tentava ser claro, mas falhava miseravelmente. Misashi era desenhado como um chibi que não dava muita importância as coisas, e ao seu lado haviam várias armas. Asami, por outro lado, era representada de maneira mais alegre, logo ao lado de Misashi, porém com desenhos de comida a cercando. Kusaku também estava toscamente posto como um chibi vestido de soldado com equipamentos e símbolos médicos logo ao lado.

— É nisso que estamos nos baseando? — Misashi quis saber, irônico.

— Sim — o sensei respondeu, mostrando a parte que ele estava desenhado. Haviam várias setas apontando em sua direção.

Misashi desacreditou mais uma vez, mas esperou para ouvir a explicação.

— Eu nos separei em categorias. É o jeito que tive para trabalhar com tão pouca informação — ele apontou para Misashi no desenho. — Coloquei você, Misashi-kun, na categoria Armeiro.

— Armeiro? — perguntou, apertando os braços cruzados. — Porque eu carrego armas na bolsa? Isso não é o normal de todo ninja?

— E pergaminhos — Kusaku adereçou.

A mandíbula de Misashi saltou. Por um instante, pareceu que ele pularia na jugular do companheiro.

— Não é só pelas armas. É pelo seu estilo. Você é um combatente direto, rígido e sem muita finesse. Um exemplo é a escolha da Shuriken de Vento Demoníaco. Isso define a sua preferência por poder de impacto.

E ele não viu, mas as armas que Misashi usou na prova foram shurikens gigantes, considerou o professor.

Kusaku ainda exploraria mais do rapaz, mas Misashi estendeu uma mão.

— De onde você deduziu isso? Nunca me viu lutar. No nosso teste, os resultados foram secretos e cada um participou de um genjutsu distinto. Não tem como voc...

— Quando você anda — o garoto foi interrompido. Kusaku ajustou o protetor da mandíbula. —, seus pés pisam firme, sempre um depois do outro, com muita disciplina apesar da sua aparência desleixada — Kusaku cortou, apontando para baixo. Misashi encarou seus próprios pés. — Enquanto isso, sua fala é largada e solta, sempre esperando receber um golpe em vez de terminar algo de forma incisiva. Vi isso enquanto você discutia com a Asami. Mal se exaltou, você estava gostando de perguntar e ouvir as respostas. Talvez você também goste da briga, igualmente.

Misashi deixou a boca semiaberta, fechando-a logo em seguida de repelão. Quis protestar, mas o rapaz saltou para a segunda explicação.

— Um armeiro está sempre pronto a dispor planos de batalha, pensa rápido, mas não é inconsequente. Procura os buracos, protege os planos e sempre ataca o mais forte que pode quando há oportunidade. É pra isso que precisamos de você nessa formação, Misashi — a voz do garoto carregava palavras duras, ditas com uma leveza quase impossível. Ele parecia saber muito do que falava, e isso irritava Misashi.

Esse cara... pensou o garoto.

O professor esperou que a mensagem fosse engolida antes de acenar com a cabeça para passar à próxima observação. O grupo se calou, e isso foi a permissão necessária para que Kusaku continuasse.

— Eu sou o Suporte, e sirvo para recuperar baixas, suprir necessidades, enviar esforços, transmitir mensagens. Tudo que precisar de eficiência, eu cuidarei..

Kusaku virou-se para Asami, olhando-a de cima para baixo antes de falar.

— Asami-chan...

Asami arregalou os olhos, ansiosa sobre o que ele falaria sobre ela. Estava prestando atenção às palavras de Misashi, e surpreendeu-se com o quanto acertara sobre o colega. Ela não fazia ideia do que esperar, mas tinha suspeitas de que seria algo igualmente preciso.

— Sim!? Eu me qualifico como o quê? Me encaixo em quê parte?

— Você é uma Coringa — Kusaku disse apertando a boca, sem querer seguir naquela direção, mas sabendo que era necessário.

— E o quê exatamente isso quer dizer? — a kunoichi mantinha o tom ansioso, os ouvidos atentos às palavras.

— Quer dizer que você tinha potencial para ser a mais versátil de nossa formação. Dá pra ver o quanto você consegue se encaixar, mover e mudar a partir do decorrer das situações. Era nossa forma de não ser surpreendido por nada, ou poder reagir a tudo — ele inspirou para ter coragem de seguir em frente.

A garota compreendeu, porém, estranhou o tempo verbal do garoto.

— Como assim... era?

— Eu digo era porque agora, levando esse peso morto, você se torna tão inútil quanto ele.

Asami desmontou, desacreditada no que ouvia. Buscou apoio nos companheiros de time, entretanto, por não haver resposta além de um olhar que tentava consultar assim como ela fazia, entendeu que talvez aquela interpretação fosse um consenso entre eles. A equipe se entreolhou, e principalmente Misashi manteve o olhar muito fundo em Kusaku.

— Mas...

O que vai protestar Asami? Que argumento você tem pra ir contra? Sabe que ele está certo!

Ela mordeu o lábio, cabisbaixa.

— Essas caixas são importantes...

— São, e por isso você as trouxe — Kusaku rebateu, olhando-a com bastante compaixão. — Mas se for atrapalhar, é melhor descartá-las. Não dá pra ter as duas coisas, Asami.

O garoto estava de frente para ela agora, a três palmos de distância, os olhos perfurando os dela.

— Você não entende... — a garota começou.

O quê vai fazer agora? Vai contar outra mentira?

— Eu preciso delas...

— E nós precisamos de você. Mas você vai precisar escolher. Nós, ou o que quer que seja isso — Kusaku concluiu, como se pisasse num terreno que não recuaria. Do lado, o professor também a aguardava responder. — O quê você vai escolher, Asami?

A garota olhou o rapaz, os olhos tremeram um pouco junto de sua boca.

• • •

O senhor foi até a direção que mais ouvia ruídos, e foi então que percebeu que já estava muito a fundo dentro do acampamento. Olhou para a cima, os topos das árvores repletos de redes jogadas de galho a galho ou tronco a tronco, cada um com suas trouxas e materiais próximos. E eram centenas de pessoas lançadas nas redes, escalando árvores através de buracos nos troncos ou no chão, montando o restante da locação. Na relva abaixada, havia uma porção de barracas de trapos, espalhadas até onde o horizonte terminava. Eram muitas pessoas alocadas ali.

O velhinho bufou uma surpresa reparando um pouco melhor nos arredores. Haviam fogueiras acesas cozinhando coisas em panelões enormes, estruturas de madeira que esticavam pele de cervo e pedaços dos animais espalhados em tábuas, sendo cortados, repicados ou temperados. Algumas das carnes descansavam há um bom tempo, e o senhor reconhecia pelo cheiro.

Antes que pudesse fazer um comentário surpreso, o velhinho teve sua atenção atraída por uma dupla que vinha em sua direção. O primeiro, um homenzarrão largo, de barriga dura, vestindo um colete inadequado para seu tamanho e calças largas, enquanto o outro, um jovem franzino com um enorme chapéu, peito nu e calças amarradas por uma corda. Os dois estavam descalços.

Aproximaram-se em ordem, e o grandalhão entregou seu bafo assim que se apoiou na carroça falando ao pé do ouvido do senhor.

— Opa, meu camarada, tá vendendo? — A voz tinha fedor de carniça.

— Tomara que sim, porque a gente tá faminto... — o companheiro seguiu.

O velho ergueu as duas mãos em sinal de rendição, com medo do ataque. Depois, tossiu um bocado para aliviar a garganta e disse:

— Ah, mas vocês parecem tão bem alimentados aqui — disse, apontando as carnes expostas. — Não sei se precisam dos meus repolhos velhos.

— Aquilo? — o magrelo anunciou, apontando o polegar pra trás. — Não é nada, a gente conseguiu só uns cinco cervos. O resto debandou. Sem contar que o pessoal daqui tá cansado de comer só carne. A gente quer uma variedade também.

Debandaram? Então, houve ataque às fazendas, pensou o velho.

— A gente até faz ensopado, mas sem macarrão fica difícil — o gorducho sugeriu.

— Só falar quanto, a gente paga. Temos alguma coisa guardada aqui — o mais magro completou.

— Ah, senhores — o velho começou as desculpas. — Esses repolhos são especiais. Eu os colhi justamente pra minha esposa, que me espera no País do Vento.

Os dois homens reagiram com espanto, mas assim que interpretaram a ação, firmaram suas posturas. A mão do gorducho apertou, formando um punho, enquanto o outro ajustou as calças. As costas do senhor congelaram.

— Isso é lindo, sabia, moço? — o gorducho disse primeiro.

— Muito bonito mesmo — o outro acrescentou, limpando uma gota que havia se formado no canto do olho.

O velhinho conseguiu relaxar. Atrás dele, a carroça e os repolhos também.

— Neda! Ecchiro! — berrou uma voz feminina deixando uma cabana. Trajava-se com roupas melhores que a dos rapazes. Uma calça bem cortada branca, sandálias negras e uma camisa de rede que relevava um trapo como top. Os cabelos eram púrpura. — Tão fazendo o quê aí, já foram pegar água?

A garota percebeu o velhinho, cerrou os olhos e começou a se aproximar.

— Não, a gente parou aqui, Matsumi — explicou o gorducho, e pela reação ao ser chamado, parecia ser o que era chamado de Neda. — Com esse senhorzinho. Mas ele não vai vender repolho, nem pede.

— É, ele tem que ir. Tá indo pro País do Vento — explicou Ecchiro, batendo no ombro do sujeito. — Vai visitar a esposa...

Antes que se emocionasse com a história mais uma vez, a garota passou à frente, erguendo uma sobrancelha e dando uma olhada por alto na carroça. Reparou na quantidade de repolhos, apenas dois.

— Vai visitar a esposa? — Matsumi quis saber.

— Não é bem visitar, eu moro no País do Vento. Só vim para cá para pegar esses repolhos. Ela prefere os que crescem aqui, os brancos de lá são secos — o velho explicou.

— Entendo — ela confirmou. — E deve ter sido uma viagem tamanha pra só dois repolhos, né?

— É — o senhor sentiu a aproximação apertar. — Mas você sabe como são as mulheres, né? Querem algo, e não tiram da cabeça até que você arranje para elas.

— Sei — a mulher de cabelo púrpura cuspiu. — E vindo de tão longe, pensei que suas pernas estariam mais sujas. Afinal, as dunas próximas da fronteira são infalíveis.

— Ah — a voz não titubeou. — Eu passei no rio e me lavei, minha mulher não ia gostar que eu chegasse todo sujo em casa.

— Claro que não — a mulher deu uma risadinha e foi até a parte da carroça, inclinando-se para perto. — Mal consigo sentir o cheiro delas. Se importa se eu... dar uma fungada? Amo o cheiro de vegetal fresco.

— Não — a resposta pareceu uma negativa. — Claro que não me importo.

— Ótimo — Matsumi respondeu, levando as mãos para trás do corpo se inclinando para cheirar os repolhos.

O nariz abaixou para ficar rente às duas verduras. A cor esverdeada pareceu mais pálida de repente. Por um momento, a mulher não disse ou fez nada, apenas apoiou-se na carroça. No instante seguinte, entretanto, fez o movimento apenas com o nariz, sentindo o odor entrar pelo canal.

— Cheiro de... — a mulher pegou algo em suas costas e puxou para cima com tudo.

E nisso, foi surpreendida. A mão do velho agiu antes, segurando-a no punho livre e torcendo ali, para em seguida levantar uma faca para a altura de seu pescoço. Os instantes seguintes foram de tensão assustada, mas logo em seguida, os dois comparsas da mulher estavam se direcionando às armas, um com uma espada serrilhada e outro com um enorme cutelo.

—... papel — a garota concluiu. — O quê está levando aí, viajante?

— Humph — o velho sorriu de canto de boca. — Formação Y!

Uma fumaça tomou conta do ambiente por um momento, e uma agitação começou nas copas das árvores. Todos pareciam atentos ao resultado da situação lá embaixo. Quando a fumaça branca se dissipou, a carroça e os repolhos haviam se transformado num trio de ninjas prontos para renderem seus inimigos. Kusaku estava de pé na frente de Neda, com uma mão abaixada segurando uma kunai curva na altura da bexiga do grandalhão, enquanto estendia uma outra kunai na direção de seu rosto, dessa vez, uma comum. O maior ainda tinha um outro empecilho, Asami, com as duas pernas em seus ombros, uma das mãos erguendo sua cabeça para expor o pescoço e na outra, uma kunai recurvada mirando sua garganta. Havia uma sacola pendendo de seu braço direito. Misashi rendera Ecchiro, porém, suas duas mãos empunhavam kunais apontadas para o magrelo, enquanto uma kunai recurvada em sua boca prevenia-o de ser atacado com a espada. No braço esquerdo, uma sacola amarrada.

— Ninjas? — a mulher indagou, ainda com a cabeça baixa, ainda ameaçada no pescoço.

Então, arriscou uma risada curta. Ela não foi seguida por nenhuma das pessoas ali, entretanto, nas árvores, começou um burburinho acima da cabeça do grupo, começando com sussurros da palavra "ninja" e terminando com berros. O professor olhou para a cima por um momento, pela primeira vez, não procurando o gavião.

São centenas deles... observou, voltando o olhar para seus alunos. Decifrou a postura de cada um, até que parou nas amarrações nos braços de Misashi e Asami. Eles...

• • •

"O quê vai escolher?"

Asami encarou os panfletos sobre o colo. O grupo estava distante, preparando as formas de agir e repassando os comandos. Estava sozinha para pensar, sozinha para decidir o que fazer com aquilo tudo.

Isso é só um fardo... e está me tornando um fardo também...

A garota apertava alguns panfletos com força, como se sentisse raiva da existência dos mesmos, mas, no fundo, ela sabia que aquilo só estava ali para sustentar suas mentiras. Mentiras que a levaram até onde estava, mas que agora estavam a puxando de volta.

Não... eu não vou ter o meu sonho atrapalhado por causa disso!

— Eu dou um jeito depois... eu sempre dou um jeito.

Asami largou as sacolas onde estava, abandonando o peso para trás, mas sentindo um novo em seu peito. Estava se sentindo culpada por mentir? Em todos esses anos, só agora?

— Vai deixar aí? — ouviu quando se virou. O rosto do garoto de cabelos castanhos estava severo. — Vai sujar a floresta.

— E que escolha eu tenho? Não posso carregar mais e se queimar pode chamar atenção — Asami respondeu, ríspida.

— Você não tem escolha? Não foi o que pareceu — o garoto pôs as mãos nos bolsos. — Não foi o que pareceu que você acreditava. — O garoto fez uma pausa para deixá-la bufar a indignação. — É assim tão fácil desistir do que você acredita?

— Isso não é uma crença... pelo contrário...

Ela sussurrou a última parte, como se estivesse falando algo que não deveria.

— Eu não preciso saber o que é — Misashi lembrou-a da conversa com Kusaku. — Só sei que isso, de alguma forma, vale para você. E você está se dispondo a abandonar isso porque alguém disse que você deveria — comentou o rapaz, erguendo os ombros. — É isso mesmo que você quer? É isso que você escolheu?

— Sim. Não. Não sei! — O nervosismo era evidente nela. — Mas Kusaku tem razão! Isso aqui só está atrapalhando — Asami encarou as duas sacolas aos pés e depois ergueu as mãos, estudando seus dedos marcados. — E ainda por cima, eu não tenho mais condições...

Misashi aguardou um pouco, erguendo o peito e fazendo-o descer em seguida. Assim que ela encarou os dedos marcados, ele aproximou-se dela e pegou uma das sacolas do chão, testando o peso.

— É um fardo mesmo — começou, puxando pela alça e colocando em cima da mão. Viu os papéis se firmarem na palma, então, começou a passar a alça pelo braço, amarrar no dedão e no punho. — Mas você não precisa carregar sozinha.

Por fim, amarrou a sacola no braço. Era um peso extra, lhe desequilibrava um pouco.

— É como um peso de treinamento. Ele vai te deixar mais forte com o tempo, mas primeiro ele precisa incomodar. Ser um fardo — cochichou, forçando o punho esquerdo, agora mais travado. — Sempre tive um problema com a canhota.

Asami ergueu uma sobrancelha, confusa. Aquilo era incomum, ainda mais vindo de Misashi.

Mas com a marmita...

— Misashi-kun... isso só vai te atrapalhar...

— Essa é a ideia — reforçou, baixando o braço finalmente. — É um peso. Um peso pra você — ele deixou a palavra reverberar. — E um pra mim. É isso que isso significa afinal, não é? Um peso que vai te fazer mais forte?

Antes que a menina pudesse responder, o garoto confirmou com a cabeça, apertando o nó no braço e dando as costas para ela. A passada estava devagar, e mirava à volta para o grupo.

— Espera — a garota o chamou, puxando a sacola restante para si. — Por que... por quê está fazendo isso? Por quê está me ajudando desse jeito? Primeiro a marmita, agora isso? — a voz ficou aflita sem que ela pedisse. — Por quê?

Misashi parou, mas não virou para trás.

— Sei como é batalhar por um sonho quando algo pesa ao contrário — ele disse, depois voltou a caminhar. — É por isso que tô te ajudando.

Asami não respondeu. Misashi havia cumprido mais do que seu papel e lhe dado a ideia perfeita do porque precisava carregar aquilo. A garota fez uma reverência, mesmo que o colega de costas não conseguisse vê-la. Estava grata. Na posição inclinada, percebeu a sacola mais uma vez, e pela primeira, encarou-a com um sorriso.

• • •

Obrigada, Misashi-kun pensou a garota, deixando que os papéis apertassem firme em seu braço direito.

 


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