Konoha Before The Time — Arco 1: Instinto escrita por ThaylonP, Luizcmf


Capítulo 2
CAPÍTULO 02 — Quem Está Em Risco?




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Asami prescreveu a trajetória da arma até o Jounin uma nona vez num intervalo de dois segundos. O disparo viera da mesma janela de onde entrara para se tornar uma ninja, mesma janela onde o ANBU da Aldeia da Pedra estava acocorado. Encarava-a com a linha estreita da máscara, e mesmo sem ação, parecia declarar intenções assassinas. A garota não parava de tremer. A vontade vinha das pernas, escalava até alcançar a barriga, rodopiava e terminava na boca aberta e no nariz agitado. O pescoço estava gelado, o ar parecia fino demais para tragar. Mesmo os olhos tentavam esquadrinhar a sala de aula em busca de ajuda. Mas Asami não conseguia ver nada. Não haviam saídas, nem escapatórias.

— Tremedeira — disse uma voz cortante, que a menina demorou a perceber como a do ninja a sua frente. O timbre era afiado como as lâminas que disparava. — Febre, suor, calafrios... Sintomas de medo — concluiu, o discurso parecia ler cada centímetro de seu corpo. — Imagino o quanto deve estar nervosa. Vou te poupar, sua morte será rápida!

O inimigo veio, e a estudante teve um segundo para reagir. E mesmo assim, ainda estava paralisada.

Vamos, Asami... faça alguma coisa... qualquer coisa... vamos Asami!

• • •

A kunai de Misashi vibrava junto de seus braços. A lâmina resgatava a pouca luz do lado de fora e criava um reflexo. Olhando dali, mesmo com a faca balançando, era possível enxergar o assassino trajado de vermelho e marrom. Sem olhos, seu rosto era coberto pela máscara lisa, alva como se estivesse imaculada, prestes a receber respingos de uma próxima morte. O garoto engoliu em seco, a kunai parou de tremer.

— Você matou... matou ele como se não fosse nada — o garoto levantou o olhar na direção do assassino. — Isso é...

— Ele foi apenas o primeiro de uma mudança global. Mataremos cada um dos que se oporem à revolução — respondeu o ninja da Aldeia da Pedra. — Você não p...

O sujeito engoliu a frase, assustando-se com o disparo repentino do estudante. O ANBU defletiu a lâmina, fazendo a faca rodopiar até cair no chão da classe.

— Não ligo pra esses discursos decorados. Você matou uma pessoa que não fez nada pra você — Misashi cuspiu, flexionando as pernas para preparar-se para o combate. — E isso não vai passar impune.

O estudante partiu na direção do assassino.

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— Isto é uma invasão? — perguntou Kusaku, desviando o olhar do corpo falecido para o ninja pousado na janela. — Sem uma declaração formal de guerra?

O assassino não respondeu, e isso foi o bastante para o estudante. Sabia que aquele tipo de investida era frequente num pós-guerra tão recente, com os conflitos fervendo em diversas fronteiras.

Kusaku se colocou na frente do corpo no chão, deixando as mãos dispostas para pensar no que faria com o que tinha a disposição. Quando o sujeito da janela moveu-se um centímetro, soube que era hora de agir.

• • •

O corpo de Asami agiu antes dela, saltando para trás para colocar a mesa do professor entre os dois. Ela não pensava em proteção, afinal nada deteria o caçador da Aldeia da Pedra de eliminá-la, mas a ideia de ter algo os separando lhe dava um falso conforto.

Asami teve alguns passos de vantagem antes de perceber a ação do ninja de elite. Ele saltou na direção dela, mirando a mesa. Detrás, a garota viu a sombra vermelha espalhando os papéis de cima da madeira. Agora, sua espada estava desembainhada, brilhando o metal prestes a descer para cortá-la de cima para baixo.

Ele... foi muito rápido. Eu...

Seus olhos se arregalaram acompanhando o golpe, quando um segundo impulso de sobrevivência lhe fez sacar uma kunai e erguer acima da cabeça. As lâminas se encontraram com um estalar agudo, evitando que a garota fosse decapitada, mas por não ter tanta força, ela perdeu no embate contra o ANBU, o que fez sua faca ninja ser arrancada de sua mão. Mais uma vez surpreendida, a estudante esforçava-se para acompanhar os movimentos do assassino, e quando um terceiro movimento da espada desceu cortando a madeira da mesa, Asami jogou o corpo para o lado em rodopio, apoiando somente as mãos no chão.

Ela é ágil, não compra um combate que não pode vencer, o ANBU considerou. Mas não sei se esse medo a manterá firme num campo de batalha.

• • •

Kusaku disparou um trio de shurikens na direção do oponente, e então, o ANBU sacou a espada para defender-se do arremesso. O estudante aproveitou a distração das lâminas para lançar uma bomba de fumaça aos seus pés, e o ANBU avançou em sua direção em seguida, a espada brandida para impedi-lo de escapar.

O primeiro passo adentro da cortina de fumaça roxa revelou o estudante ao ANBU. Ele brandiu a espada e cortou-o na barriga, porém, a figura de pé revelou-se um clone. Não dos clones reais, mas dos que criavam apenas uma imagem replicada do usuário. Sabendo da estratégia usada pelo estudante, o ANBU saltou para trás, saindo da fumaça para ver o inimigo correndo para escapar pela janela à esquerda. O assassino avançou num salto, arriscando um corte diagonal que mais uma vez passou em vão, revelando uma outra imagem.

Então, o ANBU ouviu passos. Virou-se, arremessando a espada na direção do som. Quando viu Kusaku pulando em direção à janela com o corpo do Jounin nos ombros, esperou que sua arma o impedisse. Porém, Kusaku tinha uma kunai de cabo branco em uma das mãos e utilizou dela para desviar a trajetória da lâmina e saltar pela janela.

Ele pensou em cada etapa de sua fuga, sem deixar o companheiro de vila para trás.

• • •

Misashi não refreou seus ataques, mesmo avançando contra o oponente armado. No meio da trajetória, puxou uma faca para usá-la contra a espada; as lâminas se chocaram, causando um momento de impasse entre os dois. O ANBU tentou dois cortes diagonais, e o estudante desajeitado, desviou os dois. Depois, num contra-ataque, o ninja tentou uma rasteira no assassino, que saltou baixo para se esquivar. Aproveitando a distância queima-roupa, Misashi disparou a kunai que usava, para cima, o que obrigou o assassino a defender-se num súbito. Assim que aterrissou, o ANBU tentou golpeá-lo, mas Misashi distanciou-se com um duplo mortal para trás.

Sem interrupções na série de ataques, o estudante puxou duas shurikens e lançou-as no ar à frente do seu rosto. Depois, uniu as mãos num selo, o único necessário para seu jutsu:

— Henge no Jutsu (Técnica de Transformação)!

As duas armas de arremesso cresceram, tornando-se duas shurikens quadradas gigantes.

Que imprudente, uma transformação dessa escala logo na frente do seu adversário, pensou o ANBU, enquanto aguardava o estudante arremessar as armas.

• • •

Asami aterrissou no lado oposto do ataque, indo parar próximo às carteiras. Agora, havia um espaço entre eles, e a garota quase podia sentir que a distância não servia de nada. A máscara não lhe adiantava de muito também, não havia expressão além das fendas e da pintura espiral. Entretanto, mesmo sem anunciar sua chegada, a voz grunhiu.

— Sua aldeia é o último bastião do País do Fogo. E não durará muito tempo — o ninja ergueu a lâmina, apontou para a janela. Asami não refreou um olhar curto. Conseguia ver focos de incêndio em meio a uma algazarra. — Falta pouco para conquistar esse território. Até lá — ajeitou a lâmina na altura do rosto, ficando em posição de batalha — prove-me que merece uma morte respeitosa.

— O quê? — a menina perguntou, como se o assassino a lembrasse de um pesadelo. Ela olhou para a janela, tentando ver melhor. Conseguia ver as mesmas sombras vermelhas rasgando o ar até alcançar as casas inflamadas. Crianças corriam entre escombros, chocavam-se com civis procurando abrigo. — Vocês...

Mas já era tarde para dizer qualquer coisa, o ninja já vinha avançando com a espada arrastando no chão de madeira. Asami saltou para trás, puxou uma kunai com uma das mãos, enquanto com a outra, disparou um trio de shurikens. O ANBU precisou reagir com sua espada, impedindo cada uma das armas de arremesso, e nessa série de movimentos, a garota viu uma brecha. Lançou sua kunai para acertá-lo entre os golpes, porém, ele ergueu a espada e fez a faca raspar pelo metal até atingir o teto.

Os pés da menina vacilaram mais uma vez, o ANBU era mais rápido, mais forte, mais ágil, e além disso, mal havia atacado com algo além da espada. Não havia chance. Ainda assim, Asami mastigava um desgosto pela falha dos seus movimentos, porque aqueles erros representavam a queda de sua nação. Cada golpe impedido era mais um grito do lado de fora. Ela olhou para janela novamente, confirmando a desolação que assolava a vila. Então, sentiu raiva.

— Você... — grunhiu, apertando o cabo da kunai em mãos. — Pode me atacar até arrancar meus braços, cortar minhas pernas, perfurar minha barriga... pode me matar — a menina engoliu em seco. — Mas eu lutarei. Lutarei até o fim de minhas forças. Lutarei com o espírito do fogo, lutarei pelo que minha aldeia representa.

A menina o encarou, o ANBU aguardava as palavras derradeiras de uma ninja descontrolada. Ela, porém, via diferente. Sentia-se inflamada pelo ardor de sua vontade.

— Eu sou uma kunoichi da Aldeia da Folha, e enquanto eu estiver de pé... eu... lutarei!

A menina empunhou a arma saltando na direção do oponente. A espada do sujeito levantou para se defender, e num segundo movimento, o ANBU a desarmou uma outra vez. Ela tentou lutar com os pés, arriscando um chute no queixo do oponente, porém, num piscar de olhos, percebeu que havia errado o golpe, já que o adversário não estava mais lá. Antes que pudesse procurá-lo, ouviu a aproximação atrás de si, acompanhada da lâmina rendendo-a na frente de seu pescoço.

— Palavras bonitas — o sujeito respondeu, aproximando o metal gelado da pele da garota. — Pena que só ecoarão entre os espíritos.

De repente, a lâmina passou na altura do pescoço. A garganta da jovem estava prestes a abrir no corte.

• • •

O ANBU foi até a janela para prosseguir seus ataques, porém, viu a trajetória de Kusaku em queda livre, ainda com o corpo apertado num dos braços e apoiado no ombro. A kunai na mão do garoto foi disparada na direção da parede do segundo andar, e o cabo branco começou a se desfazer, revelando um papel enrolado. A ponta se aliviou do aperto e começou a se inflamar. Era um papel-bomba.

A fachada da Academia explodiu, e Kusaku aterrissou sentindo o peso do companheiro de vila. Os escombros começaram a descer, espalhados por todo o quintal da Academia junto de poeira e cinzas. Ainda precisava levar o companheiro dali, buscar abrigo, encontrar reforços dentro de sua vila. Porém, antes que pudesse pensar em como agir, ouviu uma aterrissagem atrás de si.

Ao virar-se, viu o ANBU, intacto.

— Parabéns — ele disse como se estivesse sorrindo, empunhando a espada enquanto caminhava em sua direção.

• • •

Misashi lançou as armas, as duas shurikens traçaram um caminho que fez uma intercessão antes de convergir na direção do oponente.

Entendo, ele transformou as shurikens para um formato que ele pudesse lançar com as duas mãos, mas ainda assim...

O ANBU abaixou-se deixando as duas armas fixarem na parede atrás de si. A força do impacto levantou lascas da parede, porém, as duas ficaram inúteis com apenas um movimento simples. Fácil demais para esquivar. Contudo, o assassino olhou para frente para ver o estudante lançar uma outra shuriken igual as duas primeiras.

— Eu trouxe uma de casa — ouviu-o dizer, logo após um lançamento, dessa vez vertical.

Quando transformou as duas, deve ter transformado uma outra guardada dentro da mochila. Esperto, comentou o ANBU, usando a espada para tentar parar a rotação da shuriken.

A lâmina resistiu, enquanto a arma de arremesso girava sem parar, corroendo toda a estrutura do metal. Quando a shuriken finalmente cedeu, a espada fez o mesmo, toda enegrecida pela fricção causada no impacto. Ela quebrou, acertando o chão.

O ANBU levantou-se, ficando numa postura perfeita diante do estudante. Do outro lado, o ninja arfava, disposto a continuar lutando a partir dali.

— Parabéns — disse o sujeito, referindo-se ao ataque bem pensado.

• • •

Asami aguardou a lâmina vir, e assim que mirou seu pescoço, ela cedeu o músculo a ele. O ANBU veio com a arma, sem reparar que a estudante movera o membro justamente para que a espada passasse na bandana que ela amarrara ali. Era sua vontade de Fogo que a salvara.

Então, Asami reagiu, passando uma de suas pernas por dentro das pernas do inimigo, e um dos braços por dentro de uma axila, criando uma prensa com o oponente. Agora, não podia mover a espada, o equilíbrio ficava comprometido.

O quê!? O quê é esse golpe?

Com a prensa criada, Asami usou de sua sustentação para projetar o oponente por cima de sua cabeça, disparando-o na mesa do professor, despedaçando-a no processo. Ela se estabilizou pela primeira vez durante todo o embate, mesmo sabendo que aquele golpe não seria suficiente para livrar-se do assassino.

A fumaça dos escombros da mesa baixou, e então Asami percebeu que o corpo do ANBU havia se tornado um tronco.

— Kawarimi no Jutsu (Técnica de Substituição) — a estudante cochichou, firmando sua posição de batalha enquanto procurava em busca do ANBU.

— Parabéns — cochichou uma voz atrás dela.

Ela se afastou arrastando os pés, ainda mantendo-se em guarda com a surpresa. Contudo, O ANBU não parecia mais hostil, parado entre as carteiras dos estudantes.

— Pelo quê? — Asami perguntou.

A resposta veio com o ANBU retirando sua máscara — algo estritamente proibido dentro da organização. Aquele, entretanto, parecia um caso diferente, pois assim que o ninja revelou seu rosto, os três estudantes participando do Teste de Admissão Shinobi arrepiaram seus braços.

Era o mesmo homem que havia lhes entregue a bandana. O mesmo homem que fora morto pelo ANBU chegando pela janela.

 


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