Konoha Before The Time — Arco 1: Instinto escrita por ThaylonP, Luizcmf


Capítulo 1
CAPÍTULO 01 — O Verdadeiro Teste


Notas iniciais do capítulo

PRÓLOGO

Havia um homem parado nas sombras de uma casa velha. Estava tão cansado quanto sua moradia, porém, ela tinha menos preocupações. Não carregava os pecados de uma guerra, nem os crimes da mesma. Entretanto, portavam as semelhanças que mais importavam: vestígios de uma vida de luta. Agora, descansavam.

O homem ajeitou seu kimono, arrastou a porta da varanda e adentrou a casa. Deixou a passagem aberta, sentou-se sobre uma dupla de travesseiros, permitiu-se relaxar. Acendeu o cachimbo, baforou fumaça para cima e a observou elevar-se até o teto. Silenciosa, a linha cinza percorreu o caminho até a estrutura de madeira que sustentava o teto, entremeou-se nas aberturas que haviam ali.

Um pensamento ultrapassou sua calmaria, e ele riu de canto.

— Estou ficando velho — cochichou para si enquanto apoiava seu cachimbo sobre a mesa de centro. — O suficiente pra não te ouvir chegar, Minato — concluiu, levantando os olhos para o homem parado em sua varanda.

— Não diga que está ficando velho, sensei, parece piedoso — respondeu o homem, sem a rouquidão da voz do dono da casa.

O sujeito aproximou-se pela fresta da porta de correr, adentrando a área de estar. Os cabelos loiros estavam grandes como de costume, uma das mechas caía num dos lados do rosto. Os olhos estreitos respiravam determinação.

— Sente-se comigo — pediu o mais velho.

Minato confirmou com a cabeça, ajeitando-se numa outra almofada, em frente ao seu sensei, separado apenas pela mesinha que comportava o bule e o cachimbo, ambos fumegando fumaças distintas. O tabaco soprava um cinza denso, enquanto a essência que o chá disparava era quase translúcida.

— O chá foi feito agora — ofereceu, movendo os braços até a jarra e servindo uma porção dupla. — Espero que esteja bom para um Hokage.

O visitante estava sem sua bandana, porém com suas costas cobertas por seu manto, estampando os kanjis do País do Fogo. De pernas cruzadas, arriscou um gole na bebida quente e agradeceu.

— Está ótimo, Terceiro — Minato fez uma reverência.

— Por favor, somos adultos, me chame de Hiruzen — ofereceu, também arriscando um gole da bebida, desgostando um pouco do sabor amargo. Sabia que a conversa teria um teor parecido. — O que o traz aqui, Quarto?

Minato não esperava a nomenclatura, portanto demorou até conseguir responder.

— Vim lhe falar sobre os graduantes.

— Pois bem — Hiruzen aguardou.

— São vinte e uma crianças — começou o visitante, franzindo o cenho. — Todos entre doze e treze anos. A maioria alistou-se por conta própria.

— Certo — o mais velho recebeu a informação com um pesar. — Pensei que teríamos mais a esse ponto.

— Eu também, mas a guerra deixou muitas viúvas. E boa parte dos casais que sobraram não desejam ter filhos numa situação como a que vivemos.

— Imagino — Hiruzen tossiu, depois levou a mão ao cavanhaque. — E quanto ao uso desses estudantes?

— Quanto a isso... — Minato engasgou um pouco, olhou para um ponto acima da cabeça de seu sensei. — resolvi que é melhor os prepararmos para um possível conflito bélico. A qualquer momento, qualquer um de nossos aliados pode reverter o acordo, ou podemos receber até mesmo um ataque vindo de um país que não temos trégua. Tudo é muito instável — o sujeito fez uma pausa para beber do chá, apenas como uma maneira de acalmar-se. — Não nos sobrou muito mais dos ninjas experientes que tínhamos. Nossa única opção é a nova geração.

Minato baixou a testa, perdeu-se na mesinha de centro por um segundo. Hiruzen percebeu a hesitação.

— Se está decidido, qual o problema?

— São só crianças — respondeu o Quarto, balançando a cabeça. Parecia mais aflito agora que ele mesmo mencionava a situação. — São muito novas para serem expostas ao que vimos. E, fazer elas vivenciarem isso mesmo na própria vila...

— Minato — Hiruzen interrompeu-o, levando a mão a seu ombro. Sabia onde aquilo pararia, o próprio já havia pensado demais em decisões parecidas no passado. Não era um bom caminho. — Usar o restante da nossa força agora seria perder os poucos que ainda temos. Essa precaução é um mal necessário, a nossa Aldeia não pode correr o risco de ficar desprotegida. Se houver um outro conflito, eles o verão de qualquer forma. Então, é melhor que, desde já, estejam preparados para isso.

— Eu sei — Minato rebateu, confirmando com a cabeça. — Eu vim aqui certo de que isso precisava ser feito.

— Muito bem, creio que tomará as medidas que forem necessárias. Por isso o cargo está em suas mãos — disse o Terceiro, puxando o cachimbo para si uma outra vez. Deu uma baforada demorada.

— Obrigado, Hiruzen-senpai, não vou decepcioná-lo.

— Sei que não — rebateu, deixando a fumaça subir mais uma vez para cima.

O Relâmpago fez menção a se levantar, contudo, antes que pudesse ter a chance de ficar de pé, o mais velho ergueu uma palma, pedindo a atenção de um outro tópico.

— E sobre aquele assunto...

— Eu sei, sensei. Confidencial.

— Agradecido, Minato.

O rapaz que chamavam de Relâmpago desapareceu, levando consigo o manto que o homem baforando o cachimbo usara por anos. Hiruzen deixou-se suspirar, novamente sozinho na sala extensa, iluminado pelos raios vazando das frestas da porta de correr. Permaneceu ali, contemplativo.

Você tomou a decisão correta, velhote, pensou, tomou sim.



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Asami levantou do sono num salto, sem nem esperar o sol atingi-la no rosto ou o primeiro cântico das aves. Rodopiou sobre os pés sem fazer barulho, num passo gracioso que a preparava para o dia que viria em seguida. Um sorriso formou-se em seus lábios e durou a rotina inteira; não deixou o rosto durante o banho silencioso e nem enquanto trajava-se como uma futura kunoichi.

Assim que se viu vestida, percebeu que faltava o equipamento. Olhou para o corredor, ouviu alguns bocejos. Sabia que a família estava prestes a se levantar e ela, prestes a sair escondida. Saltou janela afora, e assim que o vento atingiu seu rosto, usou o chackra nos pés para se fixar à parede. Então, escalou até alcançar a ponta de uma das calhas da casa. Lá era onde guardava sua pochete e seu guarda-kunais, e assim que alcançou-os, anexou-os ao corpo sem preocupar-se em ficar agachada numa parede vertical.

A menina avistou a mãe ao longe, voltando do mercadinho, carregando um embrulho com uma das mãos e apoiada numa bengala com a outra. Trazia a primeira refeição do dia. Notando isso, a estudante escondeu-se no telhado pontudo, observando a mulher pelas brechas que haviam entre uma telha e outra. Assim que a mulher adentrou a casa, despertando a todos com um grito, Asami soube que era hora de partir. Saltou do telhado de sua casa, avançando em direção ao seu sonho. Em sua cabeça, algo martelava sem parar:

O quê acontece se eu me graduar mesmo? Como eu conto pra eles que desejo ser uma kunoichi?

Esperava que o dia respondesse as perguntas por ela.

• • •

Misashi enfiou os pergaminhos dentro da mochila, sem se importar em amassá-los no processo. Também guardou uma shuriken maior do que as outras, segurando-a pelo aro de metal e empurrando as quatro lâminas até uni-las. Bufou uma indignação, apertando a mochila nas costas e acertando suas roupas. O casaco verde o inchava, a bermuda larga deixava-o desleixado. Antes de sair, caçou seu certificado de ninja, e assim que o encontrou pendendo da mesa de cabeceira, também o amassou dentro da bolsa.

Ainda não acreditava que havia sido admitido na graduação, mesmo escolhendo falhar em todas as questões. Como poderia ter zerado e ainda assim ter passado nos testes?

Pelo menos dá pra conseguir algum dinheiro, pensou enquanto saía de casa, sem esperar o café da manhã preparado pela mãe. Ela não gostaria de vê-lo sair para ganhar uma bandana.

• • •

— A prova de graduação foi essa semana, então imagino que hoje seja o dia que nos colocarão em nossas equipes de três. Após a entrega das bandanas — falou Kusaku.

Sua postura estava ereta. O pai, de pé de frente a ele, gostava de vê-lo assim, assumindo responsabilidades e se comportando como um profissional deveria se comportar. A mãe, ao lado do marido, encarava-o com olhos mais afetados pela emoção. Por um segundo, Kusaku compadeceu-se dela, esperou que pudesse abraçá-la. Contudo, o pai agiu primeiro, dizendo o que precisava em seu tom gravíssimo.

— Chegue adiantado, veja tudo antes que te vejam.

— Certo, pai — o garoto confirmou com a cabeça. — Trarei a bandana para casa.

— É o mínimo — cuspiu o sujeito, fitando-o de cima para baixo.

A mãe lhe entregou um embrulho pequeno. Em cima, havia um origami de um pássaro com grande pescoço e um bico pontudo. Um Tsuru, desejando-o boa sorte. Kusaku agradeceu com um aceno de cabeça, arriscou um sorriso curto e virou de costas para os dois, mirando a estrada que levava até a pagoda de seu clã.

Precisava de mais do que sorte, precisava ser esperto.

• • •

Ainda estou no tempo, até cheguei um pouquinho atrasada, mas acho que tá tudo bem, pensou Asami ao aterrissar no quintal da Academia. O cercado estava abandonado, os balanços mal balançavam ante ao pouco vento que sacudia os arbustos e a placa da escola. Acima, o prédio escolar parecia solitário, sem o tumulto infantil que costumava abrigar. A garota apressou-se pela lateral do prédio, utilizou uma borda como impulso e alcançou uma das salas do segundo andar, entrando pela janela. Ao confirmar que não havia nenhum outro aluno, a garota estranhou.

— Ninguém? Eu sei que eu chego cedo mas... que estranho.

O relógio na parede marcava às 8h30, meia hora antes do horário marcado no comunicado. A garota avaliou a sala à procura de pistas, talvez um aviso, ou algum indicativo de que haveria um atraso. Subiu cada degrau da classe, pois cada fileira de carteiras era mais alta que a outra, e ainda assim, não encontrou nada. Entretanto, antes que pudesse desistir da busca, ouviu um guincho de madeira vindo da porta principal. Uma pessoa abria a passagem com cautela, e a garota reagiu sentando-se numa das carteiras. Era um Jounin, trajava o colete verde repleto de bolsos, além de uma prancheta, uma caneta e uma série de papéis em branco. Ele carregava algo a mais, balançando em cima de tudo, se destacando como uma luz no fim do túnel: um protetor de testa com o símbolo de Konoha. Seria o dela? A mente começou a rodar sozinha, fazendo um círculo em volta de si mesma.

— Bom dia — o homem disse, educado. — Aqui é a sala cinco, certo? — havia uma certa vergonha dele por não saber.

Asami confirmou com a cabeça, apressada. Estava a metros de seu futuro, e mal podia esperar.

• • •

— Sala 05, por que tinha que ser tão longe? — resmungou Misashi, procurando o setor de graduação.

Estava no fundo do corredor de salas. Agora com vinte e cinco minutos de atraso, aproximou-se sem pressa do lugar indicado e abriu a porta. Que merda, vão reclamar do meu atraso, pensou caminhando sala adentro com as mãos levantadas em rendição, ameaçando um pedido de desculpa.

— Foi meu pelo atraso, pess... — começou, porém interrompeu a fala ao perceber que não havia nenhum outro aluno junto dele. — O quê? Ninguém? Eu fui o primeiro? — estranhou.

Confuso, Misashi moveu a cabeça para o quadro-negro de frente aos assentos e percebeu uma figura de pé, sorridente e cumprimentando o recém-chegado.

— Bem-vindo, Misashi-san, estava esperando por você.

O sujeito era um Jounin, um que o garoto nunca havia visto. Tinha um rosto alegre e de poucas rugas, com um cabelo espetado para trás por cima da bandana. Dobrava as mangas da camisa azul escura, e usava luvas com proteção de metal sobre a mão. Acima da mesa, além de alguns papéis espalhados, havia uma bandana de Konoha.

— Sou só eu hoje? — perguntou de canto de boca, se colocando a frente do Jounin.

— Queríamos dar a bandana a cada aluno separadamente. Vocês merecem.

Após um sorriso largo, o sujeito segurou o protetor de testa, preparado para amarrá-lo na cabeça do estudante.

• • •

— Individual? Isso é incomum... — afirmou Kusaku, um pouco sem jeito com a opção.

Estava desconfiado de que algo deveria ser diferente, porém, ainda mantinha o pensamento que precisava cumprir as ordens de seus superiores. Então, levantou-se da carteira e foi em direção ao Jounin. Uma análise rápida do sujeito já entregava o quanto aquele tipo de atraso e atitude fazia parte de sua personalidade. Isso era um alento, mas ainda não servia como alívio de sua preocupação.

— Então, depois nos moveremos para nossas equipes, certo? — perguntou o garoto, descendo as carteiras, fileira após fileira.

— Sim, exato — disse o sensei.

O estudante caminhou até ficar a pouca distância. Encarou o superior, reclinou sua cabeça e aguardou para receber o prêmio dos anos de estudo dedicado.

— Aqui está — o sujeito anunciou, pedindo que o rapaz se levantasse. Depois, apoiou a parte de metal da bandana na testa de Kusaku. Antes que pudesse amarrá-la, completou: — Agora você é um Genin. É o primeiro passo na sua vida como ninja.

• • •

As palavras eram encorajadoras, Asami sabia o quanto. Aquilo era, de fato, o seu primeiro passo, a sua primeira investida como uma kunoichi. O Jounin entregou a ela em mãos, e a garota sabia aonde colocá-la, e não seria na testa como todos os outros. Ela a colocaria no pescoço. O professor estranhou por um momento, porém logo sorriu quando viu a expressão orgulhosa da criança.

— Obrigada — a menina arfou. — Pra... é... pra mim é u-uma honra, você n-não tem ideia do quanto...

O instrutor manteve-se sorrindo, olhando-a com um orgulho latente. Por um momento, a menina compreendeu que era aquele sorriso que esperava receber dos pais, assim que descobrissem o que a pequena havia tramado nas manhãs dos últimos anos. Em algum ponto, poderiam ficar daquele jeito, com aquele mesmo sorriso amplo.

Asami seguiu olhando-o, até que num piscar de olhos, viu a expressão do Jounin mudar, já que uma dupla de kunais o acertou na lateral do pescoço.

O sangue vazou pela abertura, o sorriso do sujeito morreu, algumas gotas mancharam sua bandana. A garota estremeceu, apavorada. O corpo caiu seco no chão, enquanto suas pernas não paravam de balançar, desesperadas para fugir dali. Os olhos continuaram vidrados ao ver o ninja sufocar no próprio sangue, descontrolado. Não havia mais chance para ele, mesmo que arrancasse as facas dali.

De súbito, a menina pôde encarar o que havia acontecido, procurando a direção do ataque. Viu uma figura pairar na janela.

• • •

— Eu pego, não precisa — disse Misashi, colocando a mão sobre o protetor, levantando o cabelo, e apertando a amarração na testa, deixando grande parte de suas mechas cobrir a marca da Aldeia da Folha.

A testa ardia, não pelo metal e pano que o tocavam agora, mas pelo que significava estar marcado como um ninja. Sabia o que viria a seguir, e sabia que não era bom.

Misashi ergueu sua cabeça para falar ao Jounin, entretanto, viu-o receber duas kunais no centro de seu peito, empurrando-o na direção do quadro-negro.

O garoto arregalou os olhos, tentando segurar o corpo antes de vê-lo cair no chão, porém, não tinha força para segurar um homem adulto, ainda mais pesado devido a frieza imediata de sua morte.

Trêmulo, o garoto sacou uma kunai de seu protetor, tentando ver a proveniência das armas. E lá estava, no fundo da classe.

• • •

Kusaku recebeu a bandana, sentindo um arrepio. Ter sido posta por um superior melhorou a sensação, seu coração mal se aguentava dentro do peito. Era como se o Jounin tivesse lhe feito um favor, um que duraria por toda a sua vida.

Antes que pudesse agradecê-lo, entretanto, uma kunai perfurou sua testa.

O Genin parou, apenas para reagir com um susto em seguida. Não segurou um grito, não havia espaço para ter uma postura perfeita com uma morte diante de seus olhos. A sua primeira morte.

— Não é possível... ele era um Jounin... — exclamou Kusaku ao observar a morte do sensei, preso ao quadro negro, escorrendo sangue da faca que matara seu líder.

Abalado, tentou virar o pescoço na direção da arma, porém, só conseguiu quando agarrou o próprio peito, na cobertura de couro que usava em frente a sua camisa.

E com isso, viu a figura.

• • •

Ao mesmo tempo, os três notaram do que se tratava ao observarem os trajes que o assassino usava. Roupas marrons, militares, de ombreiras pontudas. Por baixo, vestia-se de vermelho sangue, e no rosto, as feições eram cobertas por uma máscara ANBU. E o símbolo estampado na mesma, seguido da pintura de guerra, indicava a proveniência daquele que transformara a graduação no horror de luto.

— Iwagakure (Aldeia da Pedra)? — questionaram, em uníssono.

 


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