Konoha Before The Time — Arco 1: Instinto escrita por ThaylonP, Luizcmf


Capítulo 14
CAPÍTULO 14 — A Travessia




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Quando a madrugada chegou, Misashi chegou também. Vinha pelo caminho das cachoeiras, e ao chegar no lugar que se tornara o acampamento do seu time, saltou com menos força para não acordar ninguém. Aterrissou no cascalho e esperou encontrar todos dormindo, porém, viu o professor adormecido de um dos lados do rio e os outros acordados do outro.

Sabendo que fora percebido, Misashi consertou a postura e caminhou devagar até alcançar os dois. Kusaku carregava uma expressão exausta, mas os olhos continuavam bem acordados. Asami parecia aflita, preocupada demais para pegar no sono.

— Por que não estão dormindo? — o garoto recém-chegado perguntou.

— Ninguém está conseguindo dormir com tudo que está acontecendo, Misashi-kun — A garota falou em um sussurro apreensivo cruzando os braços e apontou para o sensei com a cabeça. — Certeza de que ele só está fingindo.

— Tudo que está acontecendo? — Misashi olhou dela para o sensei. — Fingindo?

Kusaku encarou a conversa dos dois com certa preocupação. Levou a mão à cabeça, coçando-a com força. Não sei se quero explicar tudo a ele...

— Não reparou na tremedeira das pernas do sensei, logo quando chegamos? Ele tentou disfarçar, mas não conseguiu.

A garota puxou uma marmita de dentro da bolsa que estava a seus pés e entregou ao colega recém-chegado.

— Nem Yasuhiko-sensei está saindo ileso do que estamos passando... e olha que ele já passou por coisas do tipo antes.

— Então... o que aconteceu lá com a centena de refugiados? É o que eu estou pensando? — o garoto segurou a marmita forte, quase a rachando dentro das mãos. Quando os companheiros fizeram corpo mole para se retirar da situação, ele insistiu: — Ele tava com sangue, sangue que não era dele. E com aquele poder todo, não duvido nada. Vocês sabem de alguma coisa? Se souberem, falem logo pr...

— É — Kusaku inferiu. — É verdade.

Misashi engoliu em seco. Quase caiu para trás, mas usou o movimento para sentar-se.

Todas aquelas pessoas...

Asami engoliu em seco. Não sentia que havia feito o certo em revelar aquelas coisas ao colega.

— Você precisa se alimentar, Misashi-kun...

Ela tentou desviar do assunto um pouco.

— É... eu...

Ele não conseguiu contra-argumentar. Abriu a marmita, recolheu os hashi e juntou um pouco de macarrão na boca. De repente, a comida bem-temperada não tinha gosto de nada. Ele deixou o restante do macarrão voltar para a marmita e engoliu o que estava em sua boca.

— A gente deveria fazer alguma coisa...

Kusaku torceu o olhar.

— O quê, Misashi? Isso é comum para ele, não entende? — o garoto tentou. — E vai acabar sendo comum para nós também...

A última parte foi um lamento que pesou mais do que qualquer coisa na conversa.

— Espera, quem determinou isso? Quem disse que temos que chegar a esse ponto!? — Asami tinha um leve tom de revolta, porém mais ponderado que o habitual de Misashi. — Concordo que é algo complicado, talvez até impossível pra um Genin resolver, mas Misashi também tem razão... algo precisa ser feito. E eu acredito que o Hokage pode fazer isso.

— O Hokage? — Kusaku fez como se não tivesse entendido. — Quem você acha que manda essas missões, Asami? Quem você acha que recebe os relatórios? O Quarto entende isso como o sensei entende.

A explicação do garoto foi precisa, o que arrancou as palavras de Asami por um segundo.

— Chegarmos a esse ponto é o que acontece com todos os ninjas — Kusaku concluiu.

E era o que eu já deveria ter feito. Foi o que ele me treinou para fazer.

— O Hokage pode fazer a mudança acontecer, Kusaku-kun... uma mudança significativa... afinal ninjas não pode ser só forças de autoridade que trazem destruição.

Kusaku baixou a cabeça e fez que não.

— Asami, nenhum Hokage fez isso, e nenhum fará. Os shinobi funcionam assim. Cada ensinamento, cada dogma, cada princípio — o garoto parecia se lembrar de muita coisa — tudo isso é uma sentença para matar e morrer. É isso que ninjas fazem. Nosso sensei, os outros, o Hokage. É isso que ninjas são — Kusaku concluiu. — E se quiser ser uma ninja, é isso que você precisará ser.

Misashi olhou-o sem dizer muito, depois encarou a garota. Ela mantinha um tom sonhador que inacreditavelmente estava ali depois de tudo, enquanto ele estava largando aquelas vontades que dissera quando respondeu o que o sensei perguntou.

— Kusaku, eu sei que tudo agora pode ser difícil de acreditar — a garota fez uma pausa para retomar as ideias. Estava perdendo muito dentro do discurso dos companheiros. — Mas... só é preciso alguém para fazer a diferença.

Misashi deveria descartar como Kusaku inclinava-se a fazer, porém, aquilo remeteu a algo que o garoto ouvira no dia anterior.

Quem pede a mudança deve mudar primeiro.

Misashi só conseguiu ficar calado. Encarar aqueles dois pesos e compará-los. De um lado via as ações das pessoas que deveriam ser diferentes, e do outro via as pessoas com essa vontade se convertendo para se tornarem mais um.

— É, Asami-chan — Kusaku deu um suspiro demorado. — É difícil de acreditar. 

A garota não o respondeu, e ele usou o espaço em silêncio para se recusar a mais conversas. Ele se levantou e disse:

— Melhor irem dormir. Temos bastante viagem pela frente...

Deu as costas e deixou os dois ali.

Asami acompanhou Kusaku até sua silhueta se deitar próximo da área onde o sensei se encontrava.

— Você não vai falar nada?

Ela suspirou sem ter olhado para o companheiro que ficou.

— O quê quer que eu fale? — ele inferiu. — "Fique pois você está enganado"?

O sarcasmo bateu pesado na garota, sentindo-o quase como um golpe.

— Você não precisa ser grosseiro...

Ela falou em um murmuro quase sem voz, antes de começar a se afastar e ir em direção ao acampamento, abraçando os próprios braços.

Misashi ouviu as palavras da garota e encarou sua marmita. Não sei se ele está enganado. Ainda não sei.

A madrugada continuou a cair para o garoto, terminando consigo sendo o último a dormir. Os sonhos mal apareceram, e quando acordou de manhã, pareciam ter passado apenas alguns minutos. Só tiveram tempo de recolher as coisas, apagar os rastros e ver a ave retornando para acompanhá-los. O professor ouviu o piado e deu partida para o grupo inteiro.

Seguiram em direção a noroeste, traçando uma diagonal no País da Cachoeira, mais uma vez em silêncio. Passaram pelas montanhas esverdeadas do local até começarem a migrar para as rochas mais sobressalentes do País da Terra. Porém, antes de cruzar a fronteira, tiveram que passar por uma grande cerca de metal que cercava boa parte do horizonte. Lá, ninjas vestidos com os uniformes marrons de tecido vermelho verificaram as identidades de cada um dos ninjas, e foi quando Misashi precisou colocar a bandana.

Os três não conseguiram conter um arrepio ao ver os shinobis, afinal aqueles haviam sido escolhidos como inimigos do Teste de Admissão. Enfim, passaram pela fronteira e receberam as indicações de para onde ir. Assim que foram aceitos, Yasuhiko pediu que a ave fosse liberada como um animal treinado pela Aldeia da Folha, e o pedido foi aceito.

Depois disso precisaram seguir por uma estradinha de terra batida, atravessando as cidadezinhas da Terra. Havia uma certa comoção nos vilarejos que o grupo atravessava, alguns olhares curiosos e bastantes olhares hostis. Isso durou por um bom tempo, e cada habitante tinha um comentário a fazer sobre os ninjas da Aldeia da Folha.

Somos os responsáveis por estarem como estão agora, tendo que se recuperar economicamente e militarmente, pensou Kusaku quando uma mulher que levava o filho nos ombros cuspiu em seus pés.

O caminho seguiu até alcançarem uma cadeia de rochas muito altas que criavam uma espécie de labirinto, o último caminho até chegar à aldeia. Só ali, devia haver umas quatro ou cinco horas de viagem.

— Chegaremos lá de tarde. Podemos descansar a noite e partir no dia seguinte — comentou Yasuhiko adentrando na passagem rochosa.

O calor ali dentro era impressionante, pois o sol rebatia na pedra e esquentava até embaixo. Algumas quase fumegavam. Além disso, o céu ficava quase coberto pelas construções de pedra, criando uma sombra meio abafada sobre o grupo.

Asami bebeu um pouco de seu cantil e ofereceu a Misashi. Ele sorveu bastante, mas sem esvaziar e devolveu a ela. Kusaku ia na frente dos dois, mais decidido e calado a cada passo.

É a mesma postura de antes. De quando chegou na floresta com o sensei, Misashi pensou. Será que finalmente entendeu como deve agir?

O sensei liderou o caminho por entre as pedras, saltando uma depressão no chão para chegar do outro lado. Assim que os Genin pularam, perceberam uma algo agarrado nas bordas do buraco. Kusaku avistou primeiro, terminando seu salto e vendo uma estaca ligada a uma corda enfincada num dos pedregulhos.

A corda estava esticada em direção ao fundo, e lá havia um homem amarrado a ela, usando uma picareta para rachar a rocha.

Trabalhadores? Aqui? Misashi perguntou-se enquanto passava mais devagar próximo de um dos pilares. Um vento acertava a região e tremia o bastante para aparentar instabilidade. Isso aqui pode cair a qualquer momento.

— Misashi? — chamou Kusaku, terminando de conferir a fenda e dirigindo-se ao colega. — Temos que ir.

Mais à frente, Asami teve que se esquivar de uma ponta muito sobressalente que quase rasgou seu ombro. Apenas o movimento foi o bastante para que Misashi tocasse sua ferida no mesmo lugar. O professor fez uma curva à direita, e essa revelou mais trabalhadores, esses não estavam suspensos em lugar algum, mas martelavam suas picaretas na base de um dos pilares de rocha.

Se isso cair..., Misashi pensou.

Um deles bateu mais forte e houve um som de rachadura. De repente, da rachadura brilhou algo dourado, e o trabalhador que percebeu isso gritou de felicidade.

— Encontrei, encontrei ouro! — enfiou a mão na terra e puxou uma pepita.

Outros se aproximaram para ver, mas um pessoal começou a tentar cavar do lado para conseguir a mesma bolada. Foi então que uma confusão se instaurou, envolvendo socos, ameaças, berros, mas o grupo teve que seguir em frente. No meio da confusão ouviram:

— Agradeçam ao senhor Namurame, patifes!

A passagem de pedra deu vazão a uma subida que finalmente revelou a aldeia. Não era muito diferente do que haviam visto até então, pois formava-se numa conjuntura de pedras que haviam sido moldadas no formato de prédios, casas e torres.

O grupo seguiu atravessando a vastidão de pedra, agora mais animado graças à proximidade. Ainda assim, o caminho era tortuoso, e o horário estimulado foi atingido. Quatro horas mais tarde, finalmente alcançaram os portões da Aldeia, que depois que as identificações foram apresentadas, se abriram para abrigá-los. Um dos ninjas desceu do portão e aterrissou perto do time 09, erguendo a cabeça assim que deparou-se com as bandanas com emblemas da folha.

Se há Testes de Admissão aqui, os inimigos são ninjas como nós, ponderou Kusaku, vendo-o fazer uma reverência forçada e acompanhar a equipe até a torre do Tsuchikage.

A companhia era muito mais uma vigia, e todos conseguiam perceber isso. Até porque não era a única, pois em cima das construções cravadas nas pedras pintadas com o pouco arvorismo, outros ninjas acompanhavam com olhares, e outros seguiam andando por cima dos telhados.

Somos mesmo os inimigos aqui, pensou Misashi.

A caravana foi adquirindo mais olhares curiosos a medida que se aproximavam da Torre. Havia uma porção de civis atentos, e outros com a mesma postura das outras vilas, cuspindo no chão, cochichando palavrões e às vezes, gritando xingamentos.

Um passo e falso e atacarão. Mal consigo respirar, Asami pensou.

Quando chegaram, entretanto, os ninjas que acompanhavam em cima pararam e apenas o guia pôde direcioná-los até a parte de cima da torre.

O guia abriu a porta que levava ao corredor que terminava na porta do Tsuchikage. Yasuhiko ergueu o peito e foi na frente, acompanhado dos três Genin. O guia passou ao largo, abriu a porta e revelou a sala. Madeira recobria o chão do cômodo abobado, havia uma mesa ao fundo e vários arquivos nas laterais. Na parte onde o Tsuchikage estava sentado, ladeado por dois ninjas trajados de vermelho, havia uma janela que formava um arco atrás dele.

— Tsuchikage-dono — o guia chamou atenção, tomando a frente e fazendo uma reverência.

O sujeitinho na mesa ergueu uma sobrancelha, terminando uma linha em seu pergaminho. Assim que o líder da Aldeia viu que estava à frente, arregalou os olhos.

— Ora, ora... — disse, chamando a atenção dos dois que cercavam o Kage. — Se não é a folha e suas forças da paz.

O guia sabia que seu trabalho havia terminado, então retirou-se da sala. Yasuhiko deu um passo à frente, e este foi respondido com uma aproximação dos dois seguranças.

— Calma, se acalmem — o Tsuchikage se ergueu da cadeira e levantou os braços.

— Lorde Tsuchikage — anunciou Yasuhiko, curvando metade do corpo para frente. — Viemos em nome da Aldeia Oculta da Folha entregar uma das vias do Tratado de Paz entre o País do Fogo e o País da Terra.

O Kage olhou a situação e levantou o lábio inferior.

— Há-há-há! Paz! — colocou as mãos na cintura. — Isso é o que vamos ver, depois que eu ler essas condições. Mas vocês sabem bem que o problema surgiu do lado de vocês, então cabe a vocês resolver a situação.

— Estamos cientes, Lorde Tsuchikage, mas acredito que o resto você deverá ver por conta própria — Yasuhiko pôs a mão na mochila e arrancou o pergaminho de dentro. Uniu a mão num gesto de dois dedos, e o pergaminho cresceu.

Então, foi à frente e deixou o pergaminho aos pés da mesa do Kage. Contudo, quem pegou foi um dos seguranças, que pediu para examinar antes. O Tsuchikage arrancou da mão dele.

— Deixa que eu abro — falou. — Quero ver se esses ninjas vão ter a cara de pau de me ver reagir às maluquices que estão propondo!

Yasuhiko fez que sim com a cabeça, depois desviou o olhar para a janela. Misashi pensou que finalmente poderia ir embora, Kusaku acreditou que a segurança daquele local era elevada, e Asami confiou que aquele seria o primeiro passo para a paz.

Yasuhiko, negando tudo isso, olhou para a janela e viu o gavião bater as asas próximo da janela. Então, o Tsuchikage desfez o lacre.

— Não! — gritou o sensei.

E, num segundo, a Torre do Tsuchikage explodiu numa gigantesca bola de fogo. 

 


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