Konoha Before The Time — Arco 1: Instinto escrita por ThaylonP, Luizcmf


Capítulo 15
CAPÍTULO 15 — A Reforma




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Os escombros se espalharam pelos arredores da torre. Em volta, as pessoas gritavam o absurdo de tamanha catástrofe, reclamando suas casas e edifícios destruídos. Ninjas aproximavam-se com cautela portando kunais que enfrentariam os estranhos que acabavam de pisar em sua Aldeia. Havia apenas olhares enfurecidos cobrindo o lamento da morte do líder da vila.

No que restara da torre, o que era boa parte da estrutura que erguia a cúpula que ficava no topo, uma fumaça cinzenta e um pouco enegrecida era regurgitada. Não dava pra ver nada entre a poeira que permeava o local, apenas um amontoado de pedras reunidas. No céu, um gavião sobrevoava a locação disposto a observar tudo com seus olhos pungentes.

Algo nas pedras se moveu, derrubando uma das camadas que cobria quem estava por baixo. Era um dos seguranças do Tsuchikage, se empurrando para fora de uma construção estranha feita de terra.

— Tsuchikage-dono! — gritou o sujeito, tropeçando no que o havia protegido. Ele verificou, era uma grande cabeça de cachorro feito de terra. Um jutsu de estilo Terra... mas... será que foi Onohki-sama?

Do outro lado, o outro segurança saiu, da mesma proteção de terra. Caiu na frente da pilha de escombros e começou a procurar o Kage.

— Tsuchikage-dono — chamou, e de repente viram as pedras tremerem ante a um grandioso empurrão.

A força foi descomunal para tirar as pedras de cima de si, e de dentro da boca de um terceiro cão de terra, o Tsuchikage saiu intacto e tossiu assim que sentiu a atmosfera porosa.

— Lorde Tsuchikage — os seguranças gritaram, mas apenas um deles continuou a frase. — Nada menos do que o esperado do senhor, Lorde Tsuchikage!

O homem de idade se esgueirou para fora da boca do cão e começou a olhar a formação de terra com os olhos vidrados.

— Não…

— O quê, Lorde Tsu…

— Não fui eu que fiz esse jutsu! Não fui eu que fiz esses cachorros fedidos — disse ele, olhando para trás, para o lugar onde o Time 09 deveria estar.

Os quatro, entretanto, só viam escuridão. O ambiente era abafado, e mesmo que tossissem, a sensação não ia embora. Mesmo nessa posição, entretanto, os Genin conseguiam reparar no sensei logo à frente, com as mãos unidas e as pernas trêmulas.

Ele... nos protegeu... Misashi pensou. Ouviu sons abafados do lado de fora e reconheceu a voz do Kage. Protegeu todo mundo... mas por quê?

O que é ser um ninja, ouviu, e dessa vez era uma pergunta.

Asami cavou a terra onde estava e conseguiu empurrar-se para fora. Finalmente conseguiu respirar ar puro, e do seu lado, Kusaku fez o mesmo movimento para sair de dentro da proteção. Yasuhiko aproveitou para abaixar a defesa de terra, liberando a vista dos escombros e do Tsuchikage e seus seguranças.

— Mas o que foi que aconteceu?

Questionou a kunoichi do trio ainda desnorteada. Ela olhou para os lados horrorizada com o estado do que antes era o gabinete do Tsuchikage e por último olhou seus companheiros de equipe.

— Então... estão todos bem!?

— Sim, estou bem — Kusaku confirmou, indo se colocar para fora dos escombros, formando uma linha com Yasuhiko e Asami.

Misashi continuou atrás, ele encarava as costas do sensei como se ele fosse um pilar de uma construção importante.

— Misashi-kun, seus ferimentos! — Kusaku pediu, agora bem mais tenso ao encará-lo.

— Sim — o garoto respondeu meio desnorteado. — Estou bem.

Então, Misashi tomou posição na fileira do Time 09. Os quatro fitavam o Tsuchikage, que agora estava tenso em relação ao grupo.

— O quê é isso!? — ele falou. — Essa é a paz da Aldeia da Folha?

Kusaku endureceu as pernas. Ele sabe que não faz sentido que trouxéssemos uma bomba até ele só pra salvá-lo da explosão. Por isso mal sabe o que dizer, é uma situação estranha demais.

— Nos podemos os prender aqui e agora — rugiu um dos seguranças, com as mãos prestes a fazer um jutsu.

— Podemos executá-los de uma vez — o outro sugeriu.

— Não, esperem — Yasuhiko pediu, numa voz que o grupo nunca havia ouvido. Ele portava muito medo, como se seu timbre se comportasse exatamente como suas pernas depois do massacre da centena de refugiados. — Ouça-nos primeiro! Temos como explicar.

Todos ouviram uma aproximação de passos, os ninjas da aldeia estavam vindo em direção aos escombros. Provavelmente atacariam para matar.

— Você tem 5 segundos — o Tsuchikage ofereceu. — É o máximo que posso dar para esse ultraje. Um…

Imediatamente, o professor ergueu dois dedos para concentrar-se num jutsu. O chackra foi estabelecido no instante seguinte, e em pouquíssimo tempo, o professor estava de volta aos olhos de seu cão Bouka.

— Dois... — rugiu o Kage do lado de fora de sua visão.

Na visão binária, ele viu o cão respirando pesado no meio de um matagal, abatido e impedido de alcançar a Aldeia da Folha. Ele nunca chegou lá, pensou Yasuhiko. Então, eu vi... merda!

— Três! — exclamou o Kage. Os seguranças armaram-se com kunais.

— Foi uma armação! — Yasuhiko respondeu, mas é claro que isso não foi o bastante para chamar a atenção do líder da Aldeia. Então, o professor olhou para o céu. O gavião preparava-se para fugir dali.

— Quatro…

O professor olhou para os três ninjas, um a um, eles entenderam o pedido de imediato.

— Cinco!

— Formação X, peguem o gavião! — gritou, e os seguranças viraram para correr na direção do grupo. — Doton: Hashira no Chikyü! (Liberação de Terra: Pilares de Terra)

Os seguranças brandiram suas lâminas, na direção da barriga do sensei, perfurando-o ali, porém, as mãos estavam unidas num jutsu. De súbito, três pilares de terra impulsionaram os Genin no ar, lançando-os para muito alto.

Pegar o gavião?

Asami mal teve tempo de refletir o que lhe era pedido pois já estava sendo lançada no ar pelo jutsu de Yasuhiko. No ar, a ave fazia círculos, mas ao perceber a subida dos genins bateu as asas para mudar sua trajetória.

• • •

— Essa é a formação mais importante para nós, Genin — Kusaku informou, apontando para o bloco. —Temos uma de defesa, e uma de ataque, mas essa é importante para fuga. Se precisarmos escapar de algum lugar muito rápido porque corremos risco ou porque precisamos sair de um local por causa de um integrante ferido… — explicou ele.

— … esse é o momento de usarem tudo que tem — Yasuhiko acrescentou.

— Tudo que temos? — Misashi quis saber.

— Sim — Kusaku respondeu. — Se essa formação for ativada, significa que tudo está em jogo. E se tudo está em jogo…

• • •

Precisamos dar tudo de nós, Kusaku completou.

O pássaro bateu as asas para ganhar altura, e os três ninjas em queda livre, entenderam que precisavam baixar aquele voo. Kusaku foi o primeiro, deixou-se cair um pouco até passar da altura de um prédio mais alto e disparou duas kunais amarradas com linhas no telhado, e se içou de uma vez, criando um estilingue. Na trajetória, Kusaku gritou:

— Tentem ir por baixo, mas mantenham altura!

Misashi compreendeu, indo de prédio em prédio, avançando rápido ao passar por cada topo triangular da Aldeia da Pedra. Asami, por outro lado, preferiu tomar um caminho diferente. Balançou o corpo no ar e mudou a trajetória para a cordilheira que circundava a sala do Kage. Havia uma ponta no fim dela, de onde ela poderia saltar. Ela aterrissou e começou a correr na lateral da cordilheira, concentrando o chackra nos pés.

Preciso aumentar minha velocidade, pensou, acelerando enquanto mantinha o chackra nos impulsos.

Misashi fez um caminho diferente, começou a abrir a bolsa enquanto saltava. Podia ver outros ninjas da Aldeia da Pedra seguindo, dessa vez, visando acertá-los com armas. Merda, pensou, sacando a shuriken de Vento Demoníaco da bolsa. Vamos lá, precisa dar certo.

Kusaku terminou a trajetória bem atrás do gavião. O bicho bateu mais uma vez a asa, e isso impediu a mão do garoto, que estava muito perto de alcançá-lo. Droga, pensou, em queda livre, formulando um outro plano. Então, viu Asami saltando da cordilheira, e percebeu que ela não teria força para se içar, mas poderia ser ajudada. No ar, ele alterou sua trajetória e esperou pela garota. Ela saltou, e os dois trocaram olhares. Ele pôs os dois pés para cima, unindo chackra ali e ela pisou neles para se impulsionar, também usando chackra. Kusaku a empurrou, Asami saltou, e o bicho abaixou-se para evitar a garota. Mas ela havia saltado mais alto, mas quando tentou agarrar o bicho, ele fez um rodopio e deixou-a passar direto.

Os dois ninjas começaram a cair, mas a esquiva do animal havia feito-a perder altura. Foi então que Misashi agiu. Escalou em duas subidas, achou um prédio mais alto e saltou para ganhar altura e arremessou a shuriken. A arma passou ao largo dos amigos, fazendo uma curva para subir na direção do animal que percebendo a investida, bateu asas para subir.

Não vai acertar, pensou Asami, mas assim que viu um brilho diferente partindo da arma, entendeu. Ele está usando a linha de chackra.

No local do arremesso, Misashi deixava dois dedos suspensos enquanto deixava o carretel de linha desenrolar, passando por sua outra mão. Vamos lá, vamos lá, ele pensava enquanto a linha estava prestes a acabar.

Kusaku aterrissou num dos prédios, vendo a última esperança voar até quase alcançar o gavião. A arma parou de girar no céu, errando o pássaro, mas antes dele tomar muita distância, a linha foi puxada pelo garoto, fazendo a arma se dividir em quatro lâminas que foram na direção do pássaro;

Isso!, Kusaku comemorou. Pegou ele, Asami concluiu.

Entretanto, o bicho fez uma manobra e conseguiu desviar de todas as lâminas.

— Droga! — Kusaku reclamou, vendo o bicho tentar acelerar para se perder no céu azul. Foi então que teve uma ideia ao verem as lâminas caírem.

Asami chegou perto dele, aflita, e Misashi via suas armas caírem do céu, inúteis.

— Ei, a ideia foi boa — gritou ao garoto. — Ainda estão com suas kunais?

O Time 09 ergueu suas lâminas recurvadas.

— Precisam ser rápidos, vem cá! Pensei numa coisa — pediu, e os dois foram se juntar a ele.

No ar, o pássaro descia, agora em direção aos portões da Aldeia da Pedra. Mais de perto, era possível ouvir um zumbido esquisito que saía do bico. Então, o pássaro olhou para baixo para ver os três Genin correndo por cima dos telhados, acelerando o máximo que podiam para acompanhar o voo. A ave bateu asas e fez uma curva, porém, assim que mudou a direção, viu os ninjas agindo.

O primeiro a pular foi Misashi, tomando impulso em dois prédios e arremessando uma kunai recurvada na frente do pássaro. A arma estava embutida de chackra, e por isso voou tão alto, mas o pássaro apenas parou sua trajetória por um momento. Uma segunda veio, dessa vez disparada pela menina, de baixo para cima, e fez o pássaro ter que fazer uma curva para o outro lado. Foi quando a terceira veio, na mesma angulação da primeira, mas acertando o lado oposto. As três passaram batido.

Lá embaixo, entretanto, os Genin sorriam.

Foi exatamente como ele pensou, Misashi interveio. Kusaku-kun, você é muito esperto, pensou Asami. Por último, Kusaku, orgulhoso de seu plano apenas lembrou-se: Elas podem ser embutidas com chackra, e funcionam quase como magnetismo.

— Te peguei — ele sussurrou, pondo dois dedos em riste.

As kunais mudaram de trajetória no ar, uma seguiu a outra até se reunir no centro: onde o pássaro voava. Ele não conseguiu desviar, e as três fincaram-se em suas costas, e o zumbido que vinha do bicho parou. Então, o pássaro caiu e se espatifou no telhado em que os três estavam, espalhando pedaços por todo o concreto.

Os três se aproximaram do resultado da vitória, mas quando chegaram perto, assustaram-se.

— O quê? — Asami sentiu um arrepio no braço.

O pássaro era uma mistura. Havia uma cobertura de carne e penas, porém, havia uma estrutura dentro que assemelhava-se a uma marionete, porém com elementos de um rádio amador. Era um maquinário grotesco.

— Isso é qualquer coisa, menos um pássaro…

A garota comentou sentindo certa repulsa com o estado da "coisa"

— O que acha que é, Kusaku-kun?

— Não faço ideia — Kusaku rebateu. Tem circuitos simples, engrenagens, estrutura de marionete, pele de pássaro... é bizarro…

Havia uma estática envolvendo a criatura, e mais de perto, dava para ver uma espécie de núcleo, pintado de branco com o kanji que representava a palavra REFORMA: 改造.

Antes que pudesse pegá-lo, Misashi foi surpreendido com um golpe na lateral do corpo. Um soco o acertou ali, jogando-o para o lado, e no instante seguinte, havia um ninja sobre ele, rendendo-o com as mãos nas costas e uma faca na garganta.

— Não se mova! — gritou a voz do agressor.

Asami conseguiu ver que era um ninja vestido de vermelho. Um outro veio atacá-la, arremessou algo em sua direção e ela fez um movimento para o lado. Um veio por trás mas ela saltou para trás, circundando-o com um mortal, acertou-o no ombro, e depois deu uma rasteira para derrubá-lo. Mas um terceiro ninja golpeou-a na nuca, fazendo-a desequilibrar, e então o primeiro a rendeu.

Por fim, Kusaku ergueu as duas mãos, sabendo que seria capturado. Enquanto alguém punha uma algema em seus braços, ele pensou sobre o pássaro: Marionetes não são comuns na Aldeia da Folha, isso me faz pensar em alguém de fora. Mas... para ter acesso aos nossos pássaros, precisa ser alguém interno. O ninja o levou para próximo do restante de seu time. Será que as missões dos outros ninjas foram escolhidas justamente para que nós levássemos a carga? Será que é tão interno assim? Quão grande é isso tudo?

No meio dos ninjas, tanto os da Aldeia da Pedra quanto os algemados de Aldeia da Folha, uma figura se aproximou voando. Imponente apesar da altura, o Líder da Aldeia pairou sobre o telhado e pousou do lado da criatura caída.

— Então esta é a ave? — perguntou retoricamente.

Os outros dois seguranças pousaram perto, observando a cena inteira por partes. Chegando perto, também avaliaram.

— Então, aquele Jounin estava falando a verdade... — disse um deles.

— A princípio, sim — começou o segundo segurança. — Mas mesmo que os ninjas na fronteira também confirmem que viram o pássaro, isso é uma situação diplomática muito complexa, exige que ambas as vil…

— Todoro, Tamaki — chamou o Kage, fazendo-os tremer. — Deixem para discutirmos isso mais tarde. Por enquanto, vamos tratar de acalmar as pessoas. Houve uma explosão na Sala do Kage, e é isso que elas se importam agora. Com isso e com prendermos os culpados.

O grupo estremeceu. Ninguém disse nada, porém a troca de olhares revelou muito.

— Ficarão presos até segunda ordem, até termos uma resolução para isso tudo — completou o Kage.

— Sim, Tsuchikage Onohki-dono — os dois disseram ao mesmo tempo.

Depois, houve um comando para que descessem com os prisioneiros dali e os acompanhassem até as prisões da Aldeia. Os ninjas foram acompanhados pelas vias principais e houve uma grande comoção de palmas e assovios comemorando a captura deles, e principalmente para o Kage que flutuava sobre as regiões preocupando-se com os civis. Mais próximo da torre, o sensei foi adicionado ao grupo, e um dos ninjas abriu uma passagem na cordilheira com um jutsu de terra. A área abriu, revelando um ambiente iluminado por poucas luminárias.

Havia um guarda na porta que sacou um molho de chaves e foi andando pelas selas. Eram apertadas e mal cabiam três pessoas de uma vez, e numa delas, seriam postas quatro. O sujeito deu passagem, abriu as grades, manteve as algemas nos quatro e trancou. Depois, o Kage e seu séquito deixou o local, e o time 09 foi deixado no ambiente de luz bruxuleante.

A barriga do sensei sangrava dos dois lados de seu corpo, pingava e manchava o chão de vermelho. Ele abaixou-se para se sentar.

— Yasuhiko-sensei está sangrando!

Asami foi em primeira a se alarmar no grupo, já empurrando Kusaku com o ombro. A garota se ajoelhou próximo do sensei olhando os ferimentos. Não precisou ser da área do colega médico para saber que eram cortes feitos por kunais e que a vida do sensei estava em risco.

— Kusaku-kun, faça alguma coisa.

— Como eu vou fazer alguma coisa Asami?

Kusaku mexeu suas mãos presas nas algemas mostrando a incapacidade de realizar movimentos de mão.

— Não se preocupem — o professor chiou no meio dos dois. — Eu vou ficar bem.

Os alunos se calaram por um momento, atônitos.

Misashi foi até o fundo da cela, soando baixinho em seus passos calmos. Ele sentou-se lá, arrastando-se pela parede até chegar ao chão. Suspirou.

— Você nos salvou — o garoto começou, depois engoliu em seco. — Por quê?

— Sou seu sensei. É minha missão salvar vocês — respondeu o sensei, de cabeça baixa.

Misashi não aceitou a resposta.

— Não, se você soubesse que algo ia acontecer, você podia nos deixar para morrer. Sem contar que salvou um Kage de outra aldeia e seus dois seguranças. Sua missão era entregar algo sem saber e sem questionar o que havia dentro, mas, mesmo assim, você não fez isso — Misashi puxou os pontos onde o sensei havia furado o limite de sua missão como ninja. — Você questionou, você quis saber o que aconteceria. Não fez nada do que um ninja deveria fazer nesse momento. Por quê?

— Misashi-kun ele não deve se esforçar…

Asami se colocou no meio dos dois, por preocupação com o sensei, mas seus olhos não mentiam. Ela também querem saber a resposta do sensei.

— O quê está querendo dizer com isso, Misashi? Não podemos simplesmente deixar um companheiro para trás — Kusaku falou se aproximando de seu sensei para olhar sua ferida. Podendo ou não fazer alguma coisa, ainda era uma vida a salvar. — Ele nunca abandonaria sua equipe.

— Não é sobre isso, Kusaku — Misashi pontuou, deixando uma irritação fluir. — Estou dizendo que ele não hesitaria em nos deixar morrer se fosse importante para a missão. Mas mais do que a gente... — o garoto olhou para o companheiro de equipe, e ele parecia receoso. — Se a missão pedisse que ele levasse algo que mataria o Tsuchikage, ele não hesitaria.

O professor seguiu de cabeça baixa.

— Tô errado? — o garoto levantou.

— Não — Yasuhiko cuspiu.

Agora, com o garoto acusando-o no canto oposto da sala, parecia que o confronto envergonhava-o, pois o pescoço estava endurecido, paralisado na visão agachada que mirava para baixo.

— Então... por quê?

O professor pigarreou, limpando a garganta. Com a perda de sangue, deveria ter ficado com a boca seca. Ele ergueu a cabeça rapidamente, pondo-se a disposição do aluno.

— Já deixei gente demais morrer ao seguir ordens, garoto — Yasuhiko disse. — E matei ainda mais gente por causa disso.

Misashi compreendeu onde estavam indo, então tratou-se de se recompor da náusea que estava sentindo e deixou que o sensei continuasse. Asami e Kusaku apoiaram-se em paredes opostas, observando tudo. A menina engolia em seco.

— Na Guerra, eu precisei fazer uma porção de escolhas ruins pra continuar seguir em frente. Eu... estava exausto depois dos anos lutando, sem comer direito, sem... não. Não vou dar desculpinhas pelo que fiz. Eu fiz, está feito, sou o culpado dessas coisas — o homem rebateu.

Depois, suspirou.

— Eu cresci com a ânsia de ir para a guerra, diferente de vocês três. Achava que era a única maneira de me tornar um homem de verdade, lutando pelo meu país num fronte imenso — não havia nostalgia na fala do homem. — Era inocente demais, apesar de ser o que chamam de prodígio. Aos 10 anos, já tinha me formado como Chunnin, e aos 15, quando fui convocado, já era um Jounin. Foi lá que tive minhas primeiras batalhas contra adversários que queriam arrancar a minha vida, e foi assim que fui perdendo parte da minha humanidade. O problema é que nos adaptamos fácil a qualquer coisa, e até deu para aliviar das dores da guerra com meus companheiros de esquadrão. Éramos cinco, no total.

Kusaku arregalou os olhos. Então, eram esses cinco mesmo. Eu... já sei o final dessa história.

— Eu, Kotsu, Hotaka, Makoto e Yawaraka — o professor contou com um pesar. — O Esquadrão de Elite da Aldeia da Folha. Os mais jovens ninjas a estarem no fronte, e os que contam mais baixas.

Misashi desviou o olhar para Kusaku, confirmando suas expectativas.

— Antes da batalha que nos deixou "famosos" — ele odiou o termo. — Estávamos recebendo um monte de ordens para auxiliar outros frontes. Nos unimos a Kumogakure no massacre de dez mil homens, o Terceiro Raikage estraçalhou cinquenta pelotões de uma vez, mas um erro de um dos nossos acabou matando-o. Foi uma perda lamentável, e todos os cinco saíram devastados desta jornada. Então, enquanto transitávamos de fronte em fronte, acabamos cedendo a companhia um dos outros. Só íamos de um lado para o outro, matando cada vez mais gente. Não acabava nunca, parecia que eu tinha o sangue do mundo nas mãos. Mas estava tudo correto, eram inimigos afinal de contas — Yasuhiko debochou, sem alegria. — Mas eu estava cansado. Cansado de receber ordens, cansado das mortes, cansado do sangue, cansado da desolação da guerra…

Yasuhiko engoliu em seco.

— Nos poucos momentos de paz que tínhamos, conversava com Yawaraka sobre o que eu pensava. Ele parecia pensar o mesmo. Eu disse a ele que havia vindo a guerra sem querer ceder a barbárie, sem ser mais um soldado descerebrado que age porque ouve um comando. Eu queria lutar, mas do jeito certo. Meu amigo me convenceu de que ainda havia alguma coisa dentro de mim, de que ainda havia como mudar aquilo. Talvez durante a guerra mesmo, eu poderia me transformar em quem eu queria ser, sem ter que pedir ordens. E... — o homem baixou a cabeça mais uma vez. — Quando ele me disse isso, eu não sei o que senti. Algo dentro de mim sacudiu meu peito tão forte que demorou um tempo para me dar conta do que estava acontecendo. Demorou para que entendesse que estava apaixonado por Yawaraka. A paixão foi platônica a princípio, aquela sensação turva de confusão por não saber o que se passa do outro lado. E nunca havia acontecido comigo, então, me mantive em segredo por um bom tempo.

Yasuhiko riu de canto.

— Tempo suficiente para ele reparar. Mais velho e bem mais perceptivo, Yawaraka percebeu que meus olhos brilhavam quando olhava para ele. Então, ele respondeu isso se aproximando de mim, e eu fiz o mesmo, respondendo aos meus instintos. Mas…

Misashi trincou os dentes. A batalha estava chegando.

— Fomos convocados à destruição da ponte Kannabi. Ao chegarmos lá, percebemos que haviam plantado arqueiros do outro lado da ponte para nos impeir de derrubá-la. Nós cinco agimos rápido, eu instalei barreiras para os tiros, mas os arqueiros conseguiram acertar nossos detonadores. Eu estava prestes a fazer sozinho com meu ninjutsu de Terra mas... vimos o reforço deles chegando — Yasuhiko amargurou o timbre. — Descobrimos que não era um impedimento à ponte, e sim uma armadilha para nos derrubar, pois estávamos sendo forças importantíssimas contra os frontes deles.

Asami estava apreensiva. A hora da morte dos outros quatro começava a se aproximar. Não…

— Então eu vi, os trezentos vindo pela ponte em nossa direção. E não tivemos escolha se não lutar — As pernas do sensei tremiam agora, exatamente como no País da Cachoeira. — Foi uma batalha homérica. Além de haver muitos, eram capacitados, tinham mais vigor, mais força bruta de adultos. Um deles, um brutamonte derrubou Kotsu com os punhos vazios. Eu o vi amassando o corpo do meu amigo no chão, entumecendo seu peito — Misashi sentiu um arrepio. — Os outros vieram em seguida, Makoto foi derrubado por uma saraivada de shurikens em suas costas e Hotaka foi atravessado por uma espada. Vi meus amigos caírem bem na minha frente, sangrarem até a morte, serem pisoteados pelos combatentes que restavam. Foi... um inferno.

Asami lamentou, sem querer ouvir o restante da história.

— Sobramos só eu e Yawaraka contra cinquenta adversários. E nós tínhamos a vantagem. Nenhuma formação dentro do grupo era melhor do que a de nós dois, e conseguimos diminuir a formação até o último homem. O brutamonte sobrou, e tivemos que enfrentá-lo por alguns minutos até que ele cedesse. Então…

Yasuhiko engasgou.

— Então... ele... sorriu pra mim. Forte. Um sorriso que eu levo comigo. Um sorriso que eu tento mostrar a todos, nos meus momentos mais sórdidos... — o homem estava sorrindo, mas as lágrimas escorriam de seu rosto. — Ele continuou sorrindo para comemorar, mas o homem ainda estava vivo, levantou-se do chão e enfiou uma faca em suas costelas.

— Eu... eu... tentei mantê-lo vivo. Eu tinha que levar ele e os meus amigos para longe dali, e precisava ser rápido, mas uma voz falou no meu rádio do meu ouvido. Foi uma ordem, eu precisava sair dali e explodir a ponte. Explodir a ponte... com meus amigos e o homem que eu amava mortos nela. Eu não precisava seguir aquela ordem, mas os inimigos estavam vindo e utilizariam aquela passagem como extratora de recursos. Eu não precisava seguir aquela ordem... mas é isso que um ninja faz, obedece seus superiores. Eu... fui até onde podia ter distância para não ver o rosto de nenhum deles. Eu não podia... eu…

Doton: Kyodaina Tochi! (Liberação de Terra: Gigante de Terra)

Uma enorme massa de terra começou a nascer de debaixo da ponte e um gigante tomou a forma do ninja que havia observado seus amigos morrerem. A figura chorava com o jutsu imposto e a sua criatura também. O gigante empurrou a ponte para cima, que começou a se partir a ponto de rachar. Num próximo movimento, quebrou, e os pedregulhos caíram no fundo do vão junto dos corpos, perdendo-se na água no desfiladeiro.

— Eu matei o homem que eu amava — Yasuhiko concluiu, piscando forte para ver as lágrimas escorrerem. — Yawaraka estava errado. Eu não sou mais capaz de mudar, eu já sou o que fizeram de mim.

Se Asami achou que ela não poderia se sentir mais péssima, ela se enganou. As palavras do sensei foram tão poderosas quanto as de Matsumi, cortando a garota no choro.
Ele é tão jovem quanto nós e já carrega isso tudo…

A garota encolheu o corpo enquanto as lágrimas escorriam.

— Sinto muito, Yasuhiko-sensei…

— Sente? — Yasuhiko tentou, a cabeça ainda bem enfiada no meio das pernas. — Não devia sentir. Não devia sentir nada pelo monstro que sou.

Kusaku também escondeu o rosto. Não por vergonha, mas por sentir que precisava depois de tudo aquilo. Então, é assim que um ninja é depois de receber ordens. Um servente. O garoto tocou no emblema de sua família estampado em seu colete. Apoio…

— Você não é um monstro — Misashi declarou, sem acrescentar nada além disso.

Yasuhiko ergueu a cabeça, assustado com a fala do garoto, mas antes que pudesse protestar, o grupo ouviu passos se aproximando da sela. Era o carcereiro, brandindo o molho de chaves, acompanhado de Todoro, segurança pessoal do Kage.

— Venha, você — chamou o segurança, apontando para Yasuhiko.

O sensei se ergueu, foi puxado pelo homem e o carcereiro terminou fechando a sela com os três lá dentro. Antes de sair, ele conseguiu conferir o grupo uma última vez.

— Ele precisa de um médico, urgente!

Asami gritou de trás das barras a medida que Yasuhiko era levado antes de sumir por completo. Ela escorou a testa em uma das barras e ficou encarando o chão em silêncio.
Ele é assim porque o obrigaram ser... isso é ser um ninja? É isso que eu estou me tornando?

O grupo foi deixado para trás, e Todoro puxou Yasuhiko para fora da caverna oculta na cordilheira. Ele foi arrastado para dentro de um acampamento que havia sido erguido pela terra, e estava cheio de soldados e ninjas de elite. Ocupava a via principal da vila, cobrindo dois quarteirões inteiros. Passando por ali, deu pra ver além dos ninjas médicos ajudando a população que fora atingida pela explosão, um grande círculo de invocação traçado no chão, com oito ninjas em cada um dos pontos destacados dos escritos. Yasuhiko foi levado para a direção de onde estava o Kage, posto na frente dele, de joelhos. Os ninjas responsáveis pelo círculo de invocação iam de um lado para o outro correndo e gritando comandos.

— Vamos, vamos, vamos — um deles dizia, apontando o círculo e pedindo espaço.

Yasuhiko sabia o que se seguiria a partir dali, então apenas aguardou. Os ninjas de Iwagakure que focavam chackra nas pontas do desenho de invocação reuniram força o bastante. Prontos para o jutsu, uniram os selos de mão e tocaram o chão. De repente, uma luz verde sacudiu o local e um vento absurdo repleto de fumaça foi invocado. De dentro do ambiente esmaecido, saíram algumas figuras. A primeira era óbvia, Minato Namikaze, o Quarto Hokage. Seguindo-o vinham dois Jounins que o acompanhavam assim como os seguranças acompanhavam Onohki. Atrás, entretanto, veio uma outra figura. Vestido de um kimono escuro, os cabelos esvoaçados e ralos para trás da cabeça.

O Terceiro Hokage? O que ele está fazendo aqui?

— Relâmpago — O Tsuchikage foi informal, vendo-o aproximar-se. Tamaki saiu de sua vista com um cumprimento.

— Lorde Tsuchikage — devolveu o Hokage, sem nada mais a acrescentar além disso.

— E você também veio, não é, velhote? — perguntou Onohki.

Saruto Hiruzen abriu um sorriso de olhos fechados.

— Veja quem fala — rebateu, depois complementou. — Você pediu explicitamente para que eu estivesse aqui.

— É que não confio muito no seu sucessor. Prefiro falar desses problemas contigo.

— Garanto que sou de bastante confiança — Minato retrucou. — Garanto que temos os mesmos problemas.

Minato puxou algo atrás de si, e quando revelou o que era, todos arregalaram os olhos. Tamaki chegou no mesmo momento, fazendo Onohki comparar as duas versões. Os dois objetos eram os núcleos escritos com a palavra Reforma (Kaizo) estampada.

— Onde o seu estava, Relâmpago? — Onohki quis saber.

— Dentro de uma espécie de marionete, mas que estava disfarçada como um ninja de Sunagakure (Aldeia da Areia). Um dos nossos Jounin, do clã Yamanaka, percebeu a mente vazia ao interrogá-lo na porta do Kage. Ele trazia um pergaminho com um fuda suficiente para destruir o monumento dos Kage.

O Tsuchikage trincou os dentes.

— Que merda, quem são esses patifes?

— Não temos ideia ainda — Sarutobi completou. — Temos uma trégua e relações boas com a Aldeia da Areia, não poderiam ser eles. Para garantir, nossa equipe de investigação foi a fundo para pegar os rastros. Parece algo independente.

— Pode ter a ver com aquelas manifestações anti-ninja — chutou Onohki.

— É cedo para afirmar qualquer coisa — Minato interveio.

— E se deixarmos ser tarde demais, eles nos explodem, você viu — O Tsuchikage foi mais incisivo.

— Abriremos investigações. Não temos muito pessoal, mas alguns estão retornando de suas missões — Minato concluiu.

— Espero que façam o mesmo aqui — Hiruzen pediu.

— Isso é algo que apenas um Tratado de Paz vai firmar, Sarutobi — Onohki debochou.

Minato olhou com um sorriso torto, e no instante seguinte, puxou um pergaminho de suas costas e transformou num gigantesco.

— Não seja por isso.

— Humph — Onohki bufou. — E como interceptaram o antigo? — O Tsuchikage perguntou, cruzando os braços.

— Ainda não sabemos ao certo, mas parece que a ave foi interceptada enquanto levava o pergaminho e substituída por esta outra. O nosso cuidador achou-a depois de muito tempo, escondida no meio da floresta. Não tinham interesse no conteúdo, só queriam que parecesse um atentado da Folha à Terra.

— Mas não funcionou... — Hiruzen pontuou, finalmente direcionando o olhar ao ninja ajoelhado à frente deles. — Pois este homem pôs-se a protegê-lo.

— Me proteger!? Com aquela técnica elemental de Terra mequetrefe? Estou surpreso de estar com todos os meus membros! — vociferou Onohki, sentindo-se pessoalmente atacado com toda aquela história.

— Mas ele o fez, não fez? — perguntou Minato, erguendo uma sobrancelha.

Yasuhiko olhou-o. Já havia o visto de perto outras vezes, incluindo na Ponte Kannabi, pois devido a uma missão liderada por Minato, a ponte pôde ser destruída.

— Acho que é o bastante tratá-lo com civilidade — Hiruzen pontuou enquanto Onohki ponderava sobre o assunto. — Foi tudo um mal entendido. Um mal entendido que, por ser reconhecido, impediu a Quarta Guerra Mundial Ninja. É o bastante para que liberte ele e sua equipe?

O Tsuchikage arrefeceu, mas queria manter-se por cima na negociação.

— Certo, mas eles ficam escondidos e saem as escondidas. A população não vai gostar de vê-lo andando por aí, nem ele e nem o resto dos Folhas.

— A menos que assinamos o tratado, Onohki-sama — Minato chamou-a pelo nome próprio.

O Tsuchikage franziu o cenho, mas deixou escapar um sorriso de canto.

— Isso vamos ver, Minato. Vamos ver.

Todoro e Tamaki liberaram as algemas do sensei, e ele pôde se recompor. A caminhada ainda estava torta devido aos rasgos na barriga que começavam a piorar, mas os dois seguranças ativaram as equipes médicas. Enquanto era colocado na maca, Yasuhiko ouvia:

— Impediu uma Quarta Guerra... onde já se viu…

Yasuhiko sorriu. Aquele seu sorriso que tentava imitar Yawaraka. Dessa vez, havia sido próximo. Estava quase conseguindo.


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