Konoha Before The Time — Arco 1: Instinto escrita por ThaylonP, Luizcmf


Capítulo 11
CAPÍTULO 11 — Baixas Colaterais




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— Vamos, vamos, vamos… — cochichou Kusaku, desesperado, enquanto tentava uma massagem cardíaca.

Não vai funcionar. Ele teve um acidente vascular. Preciso de uma técnica... ah... eu só tenho 2 minutos até os efeitos colaterais começarem…

— Vamos! — ele grunhiu. — Eu prec…

Então, ele ouviu o grito. E pelo timbre reconhecia que poderia ser alguém próximo. Alguém que viajava com ele. Alguém de sua equipe.

Ninguém vai morrer aqui! Não vai morrer!

O garoto preparou as posições de mãos.

— Cavalo, Carneiro, Rato, Dragão, Carneiro, Serpente, Rato… — começou, os olhos começando a lacrimejar. Eu não vou conseguir, não vai dar tempo, não vai dar tempo. A cabeça do garoto começou a latejar, fazendo a sua visão ficar trêmula. As costas já estavam molhadas, as mãos começavam a acompanhar esse ritmo. — Dragão, Rato, Carneiro, Cavalo, Rato, Carneiro… — a barriga tremeu, fazendo ele ter que parar as posições de mãos. Não, não, agora não… — Rato, Dragão, Cavalo.. Carneiro — terminou, indo encarar o corpo à frente mais uma vez. Ele foi até a cabeça e colocou as duas mãos. Vamos, tem que funcionar! — Ninpou: Mahikin... — as mãos encheram-se de chackra, mas assim que ele não conseguiu pronunciar as palavras, o jutsu se perdeu.

Kusaku olhou para as mãos trêmulas, incrédulo. Agora a visão era apertada por uma enxaqueca, mas ele tentou ignorá-la por um momento para verificar o pulso de Neda.

Estava parado.

O garoto largou o braço, deixando o que restava de seu espírito ejetar do corpo. Os olhos estavam opacos de pavor.

• • •

Asami continuou gritando até a garganta ceder, mas não havia nenhuma resposta. Abaixo dela, a mulher ainda ofegava seus últimos segundos.

— G-g-ga-gar... garota — ela chamou. Da boca escorria um rastro que manchava a grama.

Os olhos marejados da kunoichi que antes procurava pelo colega de time se direcionaram a Matsumi quando ela chamou.

— Você precisa poupar sua força!

— T… tem água? — pediu colocando a língua para fora. A boca estava seca, cheia de ranhuras no topo e na língua. Podia ser um efeito da pílula.

Asami afirmou com a cabeça ainda compreendendo o que ela estava pedindo. Levou a mão até a mochila, a tirando das costas e de dentro retirou um cantil. Aproximou-se da mulher, pondo uma das mãos embaixo de sua cabeça e começou a guiar a mesma para que conseguisse beber o conteúdo da garrafa metálica. Asami sentiu o peso em sua mão.

Ela não consegue nem levantar a cabeça mais…

Ela sorveu um pouco do conteúdo, tossindo no processo. O corpo mal aguentou o espasmo.

— V… você va-vai me dei-deixar aqui? — perguntou ela.

Havia um tom de súplica em sua voz, um que tentava ter a última conversa antes de ir embora. Asami foi pega de surpresa. Não tinha ideia do que fazer a cada segundo que se passava. Não tinha ideia de mais nada.

— Er… O que você quer que eu faça!?

— Eu q-queria… ser en-enterrada p-perto do m-m-eu filho — ela disse, engasgando. — É t-t-tudo por ele, enten… entende? As m-minhas fei-feições abatidas, e-e-essas pí-pílulas... só que-queria conquistar t-t-udo que prometi an… antes de morrer — ela fez uma pausa, piscou forte para se manter acordada. — E-eu... não consegui. Então… ao menos, m-me deixe lá…

A mulher segurou a mão de Asami e apertou com força.

— Por favor…

Asami não precisou de muito para ser convencida. Aquilo havia a tocado tão profundamente que a garota não contestou nem em pensamento. Encarou a mão de Matsumi apertando a sua somente através da força de vontade.

— Sim, claro! Mas onde ele… onde ele foi enterrado?

— N… no País das On… das… — a mulher engasgou mais uma vez, perdendo a consciência por um instante. — Mal posso esperar pra vê-lo…

— País das ondas… — A kunoichi engoliu em seco.

Isso fica no extremo sul do continente… não importa, vou dar um jeito!

Asami quis voltar a chorar, mas se conteve. Ela queria ao menos dar tranquilidade àquela mulher, pelo menos em seu último suspiro. Tudo o que lhe restava a fazer, era dar conforto. E foi o que ela fez, esquecendo-se de que a mulher púrpura estava tentando matá-la a poucos minutos atrás.

— É… Matsumi, não é? A senhora… havia prometido algo ao seu filho... posso perguntar o que era?

— Prom… prometi algo q… que nunca tivemos… — a mulher abriu um sorriso enorme, um que quase não cabia no rosto. — Um lar…

Matsumi manteve a boca firme, os dentes aparentes, olhando para cima como se fosse onde o filho estava. Os músculos perderam força aos poucos, o sorriso foi se desfazendo até sobrar apenas uma cabeça entortando para o lado no fim de sua vida. A visão agora era fria, pois o calor que a mulher evocara havia se esvaído.

— Um lar…

Asami repetiu, idealizando. Sabia que a mulher não se referia somente a uma casa mas também a segurança e tranquilidade. Ela encarou o nada por um momento e quando retornou a olhar a mulher púrpura, percebeu que a conversa havia se encerrado. Asami não quis mais se conter. Abaixou a cabeça e deixou o choro escorrer. Um choro de culpa. Mesmo sendo boa em contar mentiras, não havia o que garota inventasse para si que a livraria daquele fardo. Asami não deixava de pensar que ajudara aquilo a acontecer. Entre os soluços, a ideia chegou, fez morada e vazou, incomodando-a. E isso se repetiu algumas vezes enquanto os minutos passavam.

Enfim, conseguiu levantar os olhos, vendo a floresta embaçada à sua frente. Não conseguia discernir nada entre o verde, o marrom, o bege, e o azul do céu que começava a ficar cinza mais uma vez. A tarde estava apertando, assim como seu coração. Ela tentou parar de chorar mas não conseguiu. Limpou os olhos, esfregou o rosto, mas ele continuou vermelho, atiçado, e quente. Então, ela desistiu, deixou que terminasse de lacrimejar o que tinha para lacrimejar. Até que, voltando a enfiar a cabeça entre os joelhos, ela olhou para o braço esquerdo.

Os panfletos de sua mãe ainda estavam enrolados em seu braço.

Asami levantou-se devagar, tirando a poeira das roupas. Olhou o corpo, e assim que sentiu a vontade de chorar retornando, corrigiu-se. Precisava de ajuda pra isso, precisava de alguém que entendesse a situação. Asami segurou a mulher pelos ombros e começou a puxar para próximo de um tronco. Arranjou algumas folhas e gravetos para servir como travesseiro, assim a mulher ficaria com a cabeça erguida.

Olhou por mais um momento antes de resgatar a kunai recurvada e colocá-la em cima das costas da mão. Como uma bússola, a ponta começou a girar, e Asami sabia que isso era seu chackra passando pela arma e apontando na direção de onde estava a sua arma irmã. Ela olhou para Matsumi.

Eu vou dar um jeito…

Saltou na direção que a kunai apontava, ganhando bastante velocidade entre os arbustos. Eu tinha ouvido um grito… será que é de um deles? A garota acelerou, evitou uma árvore caída cheia de musgos e parou para olhar ao redor. Até que sentiu um cheiro de queimado, e então, olhou para cima. O rastro de fumaça apontava para o norte.

Asami foi rápida, desconfiando pelo tamanho do rastro que podia ser um foco de incêndio. Talvez um causado pelos refugiados, ou por uma explosão de alguma ferramenta que o Time 09 levava.

Vamos, por favor!

Ela saltou, enxergando uma clareira, e no fundo dela, viu o crepitar das chamas consumindo um dos galhos de uma árvore alta. Algumas outras labaredas lambiam em arbustos secos, acelerando as queimadas. No meio do fogaréu, não viu muita coisa, até que conseguiu pescar uma cor de pele e pulou até lá. E quando aterrissou, viu mais uma das cenas horripilantes que aquela viagem causara.

Misashi estava ajoelhado do lado de um corpo estirado com o peito entumecido, quase todo negro de sangue preso. Asami reconhecia que era Ecchiro, companheiro de Matsumi e de Neda. O garoto ela quase não reconheceu, pois os olhos haviam morrido, estavam indo de um lado para o outro nas órbitas, sem brilho algum.

— Misashi-kun? — Ela chamou baixo a medida que se aproximava. Ainda estava digerindo a situação que havia passado, portanto não tinha o que dizer ao colega, mas deduzia que Misashi também estava sofrendo pelo mesmo contexto.

O garoto não respondeu. As chamas continuaram queimando a floresta.

Asami migrou os olhos do garoto para as labaredas que estendiam-se nos troncos das árvores próximas. Aqueles eram claros sinais de batalha, mas que agora se estendiam para uma destruição maior. Aquilo lembrava a garota de uma descrição que tiveram mais cedo, sobre as consequências da guerra, e isso enrolou um nó em sua garganta.

— Você estava certo, Misashi-kun…

O garoto reagiu, mas aos olhos de Asami, pareceu um espasmo no ombro. Misashi ouvira o que ela dissera, mas a voz estava ecoada no fundo de um monte de vozes próprias. Muitas sussurravam que o garoto havia o matado, outras diziam que era culpa dele, e muitas outras apontavam para o fato de sua vida como ninja ser responsável pelas outras milhares de mortes que vinham junto da dele. Mas a que falava mais alto dizia:

Você é um ninja. Está no seu sangue.

O garoto não conseguiu responder as vozes, afinal, concordava com todas elas.

A garota aproximou-se devagar, evitando a aproximação brusca, como se o garoto fosse uma bomba prestes a explodir. Entretanto, quando ela conseguiu chegar ao lado do corpo caído junto ao seu colega, viu o homem melhor, e então, compreendeu a dor dele. Havia uma marca além do sangue espalhado e preso e da pele entumecida, um arranhão feito por chackra. Deveria ter sido um golpe de Misashi.

— Eu sinto muito — Asami conseguiu dizer, abaixando para ficar ao lado do companheiro.

Assim que ajoelhou, viu os papéis dos braços se tocarem, os dois dividindo o mesmo espaço, equivalentes.

— Também não consegui salvar…

A garota engasgou, a garganta deu um salto.

— Eu… não queria… ela, a gente lutou, ela queria me matar… eu…

— É isso que ninjas fazem, não é? — Misashi conseguiu falar.

Asami tomou um susto achando que a figura se manteria calada. O rapaz continuou:

— Matam quem está no caminho, enquanto lutam por suas vidas… — o garoto engoliu em seco. — Ele queria me matar, mas eu sei que só queria o dinheiro que vender meu corpo podia trazer. Ele só tava desesperado, queria ter um lugar pra morar, sair da rua — Misashi suspirou, apertando o rosto. — Eu faria o mesmo. Eu… tô fazendo o mesmo. Uma coisa que não acredito pelo dinheiro que isso vai trazer.

— Misashi-kun… — ela arrefeceu.

— É só isso daqui pra frente, não é? É isso que vou ter que aprender a achar normal?

Asami baixou a cabeça. Antes, ela havia chamado a guerra de necessária, e apenas depois de ver uma morte de perto pôde perceber que estivera dizendo asneiras. Aquelas mortes não eram de uma guerra, mas eram resultados diretos de uma. E nunca haviam sido necessárias.

— Acho que não precisamos achar isso normal… dá pra ser diferente. Dá pra…

— Eu tentei, Asami-chan — Misashi rebateu. — Tentei evitar o confronto, mas tudo levou a isso. Quem eu era… e quem ele era… isso estava em conflito.

— Eu sei — Asami bufou, sentando em cima dos pés. — Ela… a Matsumi também queria continuar. Parecia que eu era a única chance dela… a única chance dela de conseguir alguma coisa.

— E eu acho que era mesmo — Misashi considerou, deixando uma gota escorrer.

Os dois pararam a conversa, permitindo que o vento pontuasse as palavras. Os dois rostos estavam molhados, os narizes começavam a escorrer.

— Eu… eu… — Asami tropeçou nas palavras. — Eu fiz uma promessa para ela.

Misashi escutou atentamente, virou o rosto na direção dela.

— Eu prometi que a levaria para onde o filho está enterrado, no País das Ondas — começou a garota. — Não sei porque fiz isso… talvez eu estivesse… muito…

— Culpada — Misashi completou, entendendo o que ela quis dizer.

— É — a menina aceitou, baixando a cabeça. — Não sei se vou conseguir cumprir isso, mas… eu quer… — a garota apertou a boca com força, as lágrimas desceram de novo. — Ela estava faminta, cansada, sem um lar… e eu ter aparecido lá foi o que a obrigou a lutar comigo. E agora… eu só queria fazer isso por ela! — Asami rugiu, incomodada com a forma com que reagia a tudo. O misto de emoções estava a bagunçando. A amarra em seu braço esquerdo incomodou. — Mas eu não vou conseguir. Assim como não consigo contar a droga da verdade para os meus pais!

Ela segurou o xumaço de papel e puxou de uma vez, arrebentando a amarra e jogando o papel para longe.

Misashi viu a reação sem surpresa nos olhos marejados. Olhou para seu próprio braço, onde a marca de seu acordo com Asami jazia.

— Que verdade? — Misashi quis saber.

A garota fez uma pausa pensativa, então tocou a bandana no pescoço, enquanto encarava o papel com tristeza.

— Minha família não sabe que sou uma ninja… — murmurou. — Eles não aprovam esse tipo de coisa de forma alguma… principalmente minha mãe.

— Entendo — Misashi começou, ainda ajoelhado na mesma posição. — Entendo bem…

O garoto se levantou. Sua cabeça estava girando com uma porção de pensamentos, mas havia um que se destacava. Olhava os papéis em seu braço e naqueles espalhados no chão.

— Acho que há um jeito — Misashi disse, ainda olhando para baixo.

O corpo de Ecchiro seguia estirado, quase absorto dentro da grama alta.

Asami foi puxada de sua melancolia ao ouvir as palavras do companheiro.

— Um jeito? Do que está falando?

Ela questionou, confusa.

— Você quer cumprir sua promessa não quer? — perguntou ele, firmando os punhos.

A garota tentou extrair algo do olhar para deduzir o que ele pensava, mas por não conseguir, somente concordou, com uma afirmação de cabeça.

— Vamos, me mostra onde ela tá — Misashi disse, tomando a frente na caminhada, mas logo permitindo que ela guiasse a jornada.

Os dois saltaram para longe dali, e ambos não refrearam um olhar para trás, para o corpo que ficara lá. Depois de alguns movimentos, ultrapassando galhos quebrados e troncos repartidos, os dois alcançaram a clareira onde a batalha de Asami acontecera.

Misashi aterrissou ao lado de Matsumi, vendo a forma que sua companheira havia deixado-a. Em seguida, pediu ajuda e conseguiu erguê-la sobre o ombro para retornar ao ponto de partida. Chegando de volta ao lugar, Misashi apoiou-a no chão, e com ajuda de Asami, os dois resgataram o corpo de Ecchiro para perto do primeiro. A kunoichi estava ajoelhada, ajeitando as vestes de Matsumi, como se a mesma fosse algum parente falecido.

— E agora?

A mesma disse ao se levantar e se por ao lado do colega.

— Me ajuda com isso — o garoto pediu, indo até mais afastado para resgatar alguns galhos.

A menina foi, meio a contragosto a princípio, mas depois aceitando a tarefa. A movimentação os deixava mais ativos, entretanto, havia um certo receio por estarem fazendo o que estavam fazendo. Quando reuniram bastante dos materiais, se afastaram do resultado. Haviam feito uma pira.

— Pra… pra quê isso?

— Eu tenho uma pederneira na mochila… — o garoto cochichou, mas depois cerrou os punhos. — Mas… se é pra usar isso, vou usar pra fazer algo de bom.

Se o que me resta é ser um ninja…

O garoto afastou-se junto a companheira e começou uma sequência de selos de mão que terminou num selo de tigre.

— Katon: Haisekisho! (Liberação de Fogo: Pilha Ardente de Cinzas)

Descansem em paz, o garoto pensou, depois expulsou uma coluna de cinzas que circundou a pira e a envolveu. De repente, o garoto clicou algo com a língua, criando uma ignição que incendiou a madeira e começou a inflamar os corpos.

Esse jutsu…

Asami olhou a cena, impressionada. As chamas lamberam alto, crepitando sons altos de galhos se tornando carvão. A menina olhou para o lado, para ver o que havia sobrado do fogo que tentava abarcar a floresta, e ela viu que ele apagava agora, chegando as áreas mais verdes da mata e perdendo força.

— Você pode levar as cinzas dela até lá — Misashi cochichou. — E eu levarei as dele.

A garota olhou para a mancha laranja e vermelha balançando.

— É uma promessa — ela disse, apertando o punho. Ao fazê-lo, notou que estava sem o peso do braço direito.

Olhou para o lado, viu os papéis espalhados no chão. O fardo, pensou, indo até lá e resgatando todos. Ela caminhou de volta para a pira, puxou a amarra no braço de Misashi e lançou para o meio das chamas. O fogo recebeu os papéis bem, incendiando-os na hora.

Os dois continuaram olhando a pira tremular, sentindo finalmente o calor emanar de lá.

Ao longe, os membros do Time 09 ouviram passos, calmos porém rápidos. Aproximavam-se como se soubessem onde pousar, e apenas isso já era o suficiente para afirmar as intenções de quem estava chegando. Kusaku e Yasuhiko surgiram no horizonte, ambos com as aparências intactas com poucos arranhões. Embora estivessem bem, parecia haver uma tensão estranha no ar, Kusaku tinha uma mudança sutil no semblante; antes, calma e com um tom de preocupação, mas agora persistia uma espécie de neutralidade como se o garoto estivesse sido retirado do próprio corpo. Parecia ter perdido algo, e realmente perdera.

Yasuhiko estava sujo, não carregava ferimentos mas suas pernas estavam cobertas de sangue, o que à primeira vista causou espanto nos dois ninjas parceiros. O sangue, entretanto, não parecia ser dele.

Kusaku já havia avaliado a situação inteira, e entendia para quê servia a pira no centro da clareira. Olhou para Misashi e Asami, franzindo a testa, compondo a pouca expressão no rosto neutro.

— O quê estão fazendo? — ele perguntou, com um tom de um pai que sabe o que o filho aprontou, mas prefere que ele confesse.

— É uma pira — Misashi respondeu, encarando Kusaku e estranhando a postura. Tem algo estranho— É por aqueles que lutaram conosco. Eles merecem.

Yasuhiko manteve-se incólume, a expressão sempre impassível, como se ele não sentisse nada. Do lado dele, Kusaku parecia mais afetado pela resposta.

— Não podemos perder mais tempo, ocultar a existência de uma batalha leva mais tempo do que perceber que ocorreu uma, não podemos ficar parando pra cavar covas para todo ninja que falha em nos matar. São baixas colaterais. 

— Ocultar? — Asami sobressaltou-se. — Não estamos tentando ocultar nada.

A menina não refreou um grito. Do seu lado, Misashi parecia ter sofrido um espasmo. O rosto havia se tornado uma carranca.

— Faz um acampamento. Nós vamos ficar aqui até isso queimar por inteiro — Misashi anunciou, batendo o pé. — Ou vão sem mim, o pergaminho está numa daquelas árvores — apontou o dedo.

Kusaku franziu a testa fazendo uma expressão verdadeira de raiva.

— Por que estão isso? Não vão só perder tempo mas vão colocar a missão em risco, você é um ninja então aja como tal — Kusaku abriu as mãos. — Sei que não gostaria de estar aqui mas agora que está não tem porque ficar agindo assim. Assuma quem você é ou vá embora e deixe de atrapalhar!

— Não fode! — Misashi berrou de volta. — Não sabe do que está falando, você não estav… — Misashi parou por um momento, lembrando de uma coisa. — Você estava com um oponente. O quê aconteceu com ele? Você o matou, não matou?

Asami arregalou os olhos. Não havia parado para pensar que se o amigo estava ali, o adversário podia estar morto. Os olhos tremeram em Kusaku. Será que…

Depois, ela fitou o professor. Quando Kusaku o encontrou? O rosto estava tão morto quanto o de Kusaku, o que a fez olhar para suas pernas ensanguentadas. O sangue não é dele… então quer dizer, aquelas pessoas…

Kusaku teve total descontrole de suas emoções por um momento. Duas grandes fileiras de lágrimas saíram de seus olhos, mas antes mesmo de conseguirem cair no chão, Kusaku deu um avanço repentino e animalesco na direção de Misashi.

Ele preparou o punho e acertou no rosto de Misashi em cheio, com uma força que nem o próprio Kusaku sabia que tinha. O soco não o arrancou do lugar, mas o atacado não conseguiu reagir, mesmo que furioso. Misashi tocou em seu rosto de leve, sentindo uma gota vermelha cair de seus lábios.

Asami espantou-se, quase recuando ao ataque. Yasuhiko manteve-se com a expressão de olhos baixos, sem agir contra a contenda do time.

Kusaku, ainda tremendo, começou:

— Não fale comigo como s… se eu tivesse escolha! Acha que eu queria fazer isso? Que eu gostei de matar um moribundo faminto que tentou me matar como única opção para tentar comer? — o garoto ainda chorava, a cabeça ainda sentia vestígios da enxaqueca de antes. — Eu estou odiando tudo isso tanto quanto você, seu maldito, não tente ficar pagando de bom moço! — os gritos do garoto ficavam mais estridentes. — Falando por aí que acha ninjas assassinos e marionetes de um governo que faz tudo pelo poder, mas você mesmo tá com a gente nessa! — Kusaku segurou os palavrões na boca, mas não aguentou. — Não fode você!

Kusaku golpeou o chão com a força de um ódio que nunca esperava ver dentro de si. Misashi seguiu o olhando, sem reação, e Asami, logo ao lado, deixou-se impressionar com tudo.

Foi quando Yasuhiko agiu. Caminhou até o garoto caído, pegou-o pelo colete e puxou para cima. O menino ainda estava de cabeça baixa chorando, então o sensei passou o braço em volta dos ombros dele e apertou contra seu peito.

— Vai ficar tudo bem… — sussurrou.

Misashi olhava a cena assustado, confuso quanto a tudo que havia acontecido desde as batalhas. Ficou assim até que algo o atraiu, vindo do céu. Uma gota caiu em seu nariz, seguida de uma outra que pingou sobre suas sandálias.

Não…

A chuva começou a engrossar até se tornar uma cachoeira caindo sobre a cabeça do time 09. Misashi virou-se para a pira, vendo-as apagarem as chamas, dando lugar a uma massa preta e cinzenta de morte.

— Não — Misashi protestou, rangendo os dentes.

Yasuhiko largou do abraço e caminhou até Misashi. Pôs uma mão em seu ombro e disse a todos:

— Temos que ir, essa chuva não é das passageiras.

Misashi olhou o sensei, sem espaço pra contra-argumentar. Agora tinha as cinzas molhadas dos refugiados mortos em suas mãos, e não havia tido tempo para um funeral decente.

Não havia tempo para nada.


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