Konoha Before The Time — Arco 1: Instinto escrita por ThaylonP, Luizcmf


Capítulo 10
CAPÍTULO 10 — De Igual para Igual




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/798182/chapter/10

— Suiton: Mizurappa (Liberação de Água: Técnica da Onda Selvagem) — berrou Neda, puxando o ar para dentro da boca e aumentando as bochechas. Em seguida, foi apertando até fazer um bico que começou a soprar água na direção de Kusaku.

O garoto reagiu com espanto, incrédulo que uma técnica ninja de natureza elemental vinha de um adversário como aquele. Seu lado direito urrou a dor do golpe nas costelas, enquanto o jato de água vinha finíssimo, cortando o chão em sua direção. Kusaku apoiou o peso na perna esquerda e saltou para o lado, vendo o jato passar rente aos seus pés. O usuário do jutsu reuniu mais água e tentou mais um outro jato, e esse agora vinha reto em sua direção.

Não, merda… mal consigo me mover… preciso pensar rápido, pensou Kusaku, enquanto o brutamonte sorvia ar para uma segunda leva de água. Pensa, Kusaku!

O jato veio em sua direção, aceleradíssimo.

• • •

— De igual para igual — Matsumi disse, terminando o jutsu com um selo de carneiro e apertando os olhos. Ela se moveu para trás, inspirando o quanto podia de ar, e com o peito cheio ela disparou: — Fuuton: Toppa (Liberação de Vento: Técnica de Ruptura).

Uma lufada de vento recheou a clareira. Asami franziu o cenho para impedir que a poeira adentrasse seus olhos. Porém, houve um momento em que o vento a desequilibrou na postura, e nessa abertura, a lufada conseguiu empurrá-la para longe, fazendo-a colidir as costas contra um tronco logo atrás. A menina viu o vento terminar aos poucos enquanto escorregava de onde batera. Da boca, escorria um fino filete de sangue.

Como que ela consegue fazer tudo que um ninja faz, mas não ser uma ninja?

Asami apoiou a mão no joelho para se levantar, ainda retomando o ar ao peito, mantendo seu olhar raivoso na adversária. Enquanto estudava sua oponente, a kunoichi pôde notar o fio escarlate escorrendo da boca de Matsumi.

O quê? Ela está sangrando por dentro? Mas meus golpes não poderiam ter causado isso…

• • •

Não quero lutar por isso!

Misashi ainda seguia de cabeça baixa, enquanto do outro lado da clareira, o selo de tigre havia concluído o jutsu de Ecchiro.

— Me desculpa, folhinha. Aqui é cada um por si — ele tomou fôlego, inchou o peito. — Katon: Endan (Liberação de Fogo: Técnica do Projétil de Chamas).

O sujeito abriu a boca e cuspiu. A luz do ambiente mudou de cor para assumir o tom das chamas. Tudo ficou vermelho, laranja e amarelo. O projétil seguiu a clareira mas tudo se passava devagar para Misashi, o mundo estava desacelerado. Ele olhava as chamas se aproximando, recusando-se a desviar delas e adentrar num combate com aquele homem. Um homem que havia perdido tudo por causa dos conflitos. Conflitos que os ninjas inventaram. Conflitos que agora, o garoto ajudaria a criar.

Ficou parado um instante, esperando a sua sentença. Até que olhou para o chão, no lugar onde estava antes de saltar para trás com o Tratado. O lugar onde havia deixado sua mochila. As chamas chegariam nela e queimariam tudo. Tudo que ele insistira em carregar.

De repente, o tempo voltou a correr normalmente, e o projétil de chamas acertou o tronco onde Misashi estava, iniciando um incêndio através dos arbustos. Ecchiro encarou a procura do garoto, não o encontrou. Nem mesmo viu a mochila que estava jogada no meio do terreno.

À distância, Misashi suspirava, agarrado ao grande pergaminho e a sua mochila. A base estava chamuscada, assim como parte do seu braço agora, preto de fuligem. A mão ainda apertava a kunai curva que resgatara a mochila, assustado não com a cena, mas pelo seu ato inconsequente.

É um ninja…

— Não — ele lacrimejou.

Mas então, já estava dentro de sua memória.

Nela, viu sua mãe próxima do fogão, tentando cozinhar alguma coisa. A casa estava escura, iluminada apenas pela luz das velas postas no alto. Na mesa em que Misashi estava, havia um pergaminho aberto também iluminado por uma vela. Devia ter seus oito anos na época.

O fogão apagou de repente, no meio do cozimento de alguma coisa. O menino estranhou, assim como estranhava a falta das lamparinas que costumavam ter. A mãe tentou as outras bocas do fogão, mas nada deu certo. Então, ela bateu as mãos sobre a bancada, xingou alguma coisa que Misashi não entendeu e buscou duas cumbucas para os dois. A mãe virou o caldo da panela para as cumbucas, muito em uma, pouco na outra.

— Aqui, Misashi-kun — a mulher ia pôr em cima da mesa na parte do filho, mas ao ver o pergaminho estirado ali, suspirou. — Tem que tirar o pergaminho da mesa pra comer, filho.

— Não posso ler enquanto como, mamãe? — o menino pediu.

— Não, filho, não pode — a mãe foi sucinta.

— Mas é pra Academia! — o garoto tentou justificar. — Quero parecer mais forte pra eles terem inveja de mim.

— Filho, voc… — a mãe tinha muito a dizer sobre aquela frase inteira, mas preferiu voltar ao assunto. — Depois você pode ler, mas agora você precisa comer.

— Mas eu não tô com fome! — rebateu o garoto.

— Mas é bom que você coma…

— Mas e…

— Você precisa comer, agora! — a mulher berrou, balançando um pouco do caldo. — Tira isso da mesa já!

O garoto olhou para ela, temerário, e tirou lentamente de cima da mesa. Enrolou e colocou no chão onde a mochila estava. A mãe serviu os dois, ajeitou a vela que ainda tremulava sobre a mesa e começou a comer a sua parte. Misashi olhou para a comida com receio, puxou um pouco para a boca e experimentou. Estava frio e o macarrão não havia cozido direito. No lado da mãe, ela também parecia odiar a comida.

— Mãe, tá… tá ruim.

— Não interessa — a mulher rebateu. — Você precisa comer. Come tudo.

— Mas eu não quero, pode comer você. Eu sou forte, posso ficar dias sem comer.

— Não — a resposta da mãe perdeu a força. — É o que tem hoje, você precisa comer. Eu não sei se vai ter amanhã, então come. Por favor, come.

O garoto percebeu que a mãe estava prestes a chorar, então empurrou a comida para o lado dela.

— Mãe, come você. Eu preciso estudar — disse, puxando o pergaminho para a mesa de novo. — Vou estudar pra você não ter que chorar mais por causa de comida. Eu vou ser um ninja muito poderoso e rico. Você vai ver!

A mulher continuou comendo sem responder, o garoto achou que seria bom prosseguir.

— E quando o papai voltar, vou mostrar pra ele que aprendi todas as técnicas dele — o garoto exclamou, animado. — Ele vai sentir orgulho de mim.

— Não vai sentir nada — a mãe disparou.

O menino estremeceu. Os olhos ficaram enormes, começaram a lacrimejar sem que o menino conseguisse segurar.

— Mãe… do quê cê tá… falando?

— Seu pai não vai voltar, Misashi. E mesmo se voltasse não ia sentir orgulho de nada. Ele não gosta de você, nunca gostou — a mulher cuspiu. — Sempre foi um estorvo para ele, um problema que ele era obrigado a lidar.

— Mãe… — Misashi deixava as lágrimas escorrerem. — Por que você tá falando assim?

— Porque é verdade. Seu pai era um ninja poderosíssimo, e que fez o que todo ninja faz — a mulher disse, ríspida. — Abusou do poder sem se importar com quem estava no caminho. E agora estamos aqui… sofrendo para comer a droga de um lámen — a mulher empurrou a cumbuca para o lado, e a comida se espatifou no armário. Misashi abriu ainda mais os olhos, quase caiu da cadeira. — E você — ela apertou o rosto, o lábio inferior foi para frente. — Tá caminhando para se tornar assim como ele é. Mas não seria diferente. Desde menor você faz isso. Você costumava marcar sua testa pra fingir uma banana — a mulher começou a chorar. — Os pergaminhos, as armas, tudo que ele te deu é só um incentivo. Mas nem precisava, é inútil, assim como qualquer esforço meu de te impedir. Nada o impedirá de se tornar um ninja — a mulher desprezou. — Você já é um. Sempre foi. Está no sangue. Você é um ninja.

O garoto deveria sentir orgulho vindo daquelas palavras, mas só enxergava desgosto. Àquele ponto, mal conseguia parar de chorar, e a mãe fazia o mesmo. Ela levou a mão à testa, como se ponderasse o que acabara de dizer. Misashi não aguentou, pegou o pergaminho que estava no chão e berrou na direção dela:

— Mãe, para de chorar! — abriu o papel e segurou dos dois lados. — Se você quiser, eu rasgo isso! Rasgo tudo. Desisto do meu sonho. Mas por favor, mãe, não chora mais. Promete que não vai chorar mais!

O garoto estava quase rasgando o papel, mas a mãe aproximou-se e o abraçou. Os dois cederam, chorando compulsivamente.

Misashi voltou a si no meio da floresta, segurando o pergaminho, chorando como um bebê. Olhou o pergaminho gigante de cima abaixo e pensou no que estava acontecendo, tentando recobrar a consciência.

Não importa o que eu faça…

• • •

Kusaku lançou o corpo para o lado esquerdo, deixando o jato passar rente a sua proteção peitoral, dividindo um arbusto no meio logo atrás de si. Neda viu uma brecha e veio para um ataque frontal, acelerando com um salto e golpeando com um joelho na barriga de Kusaku. O garoto foi lançado para trás, quicando na terra e indo parar estirado no chão.

Mal consigo me desviar… preciso de uma distração para me curar…

— Vamos, folhinha! — Neda fez as posições de mãos do mesmo jutsu anterior. — Suiton: Mizurappa!

A linha de água foi cuspida primeiro em direção ao chão, subindo lentamente até ter trajetória para acertar o garoto.

Vamos, Kusaku, é sua chance!

Kusaku apoiou-se no lado esquerdo do corpo, sacou uma kunai e disparou no meio da torrente. A água empurrou a kunai para frente e começou a carregá-la até chegar em Kusaku. Antes de chegar, entretanto, a kunai revelou-se armada com um papel explosivo, e então, explodiu, criando uma barreira de vapor de água que se espalhou pela área de combate. Neda sentiu a ventania da explosão e mal viu Kusaku saindo dali.

O garoto deu um salto por cima de um arbusto, arrastou-se para trás de uma pedra e ficou lá.

Pronto, aqui está bom. Vai, rápido.

Ele começou uma série de posições de mão. Terminou com um gemido curto.

— Argh... Ninpou: Jinsokofuku no Jutsu (Arte Ninja: Técnica de Recuperação Acelerada).

A mão esquerda de Kusaku se irradiou de chackra, deixando-o visível. Em seguida, ele ficou mais acelerado até alcançar um tom azul vívido. Foi então que ele pôs a mão direita sobre a boca e esperou a dor vir. E veio, lancinante. Ele mordeu a mão direita com força até fazer sangrar, sentindo a dor pulsar através de seus olhos. Por um momento, mal conseguiu respirar, e quando tirou as mãos das costelas, sentiu-se cansado.

— Isso gasta muito chackra… — comentou.

Os jutsus do clã Keido tem essa característica particular. Como podem ser usados em si próprios, a técnica é diferente de muitas curas ninja. Eu acelerei, Kusaku puxou a camiseta para cima, encarou a ferida. Estava sentido inchar anteriormente, o golpe havia entumecido a área, mas agora estava lisa outra vez. Acelerei a recuperação comum do meu corpo, ativei os leucócitos, fazendo-os reparar a área rapidamente, mas, em consequência, a dor nisso é absurda, e o gasto com chackra ainda maior.

— Folhinha, por que se esconder? — Neda ganiu ao longe.

O problema é lidar com os efeitos colaterais. Posso me recuperar de um osso rachado em segundos, mas depois, o sistema imune vai estranhar a falta da ferida que foi identificada ali, então, o processo vai começar como se eu estivesse em recuperação, até que meu corpo perceba que não é mais necessário. Kusaku pôs a mão na testa enquanto se levantava. Vou ter quinze minutos de febre, dezessete de dor de cabeça e talvez, vinte de náuseas. Preciso ser rápido.

• • •

Definitivamente não é um genjutsu, mas... da mesma forma…

A garota guardou a kunai entregue pelo companheiro em sua bolsa, acertando a postura apesar das costas doloridas. Fechou os olhos, respirou fundo e levou ambas as palmas para próximo do peito, como se estivesse conduzindo ar para dentro de si. Então, uniu as mãos como se em reza e levantou os braços até ficarem esticados por cima de sua cabeça.

Não posso agir de forma diferente.

A garota abriu os olhos juntos dos braços, deixando um por cima da cabeça e o outro à sua frente. As palmas mantiveram-se abertas, mas as pernas mudaram a base: uma ficou na frente enquanto a outra dobrada sustentava todo o peso do corpo.

— Você não vai ficar impedindo os assuntos da minha aldeia. Eu não vou deixar!

— Os assuntos da sua aldeia — a mulher riu de canto. — Você é realmente tudo que eles querem fazer de você.

Matsumi limpou a boca, estabelecendo uma posição de batalha. A dela era mais grosseira, desajeitada.

— Eu sou o que eu quero ser! — disse a menina.

Em uma corrida com os braços para trás como uma flecha, Asami pôs seu taijutsu em ação. Quando chegou a um metro de distância de seu alvo, o corpo da garota amoleceu na base, e com um giro com o pé da frente, disparou a faca das mãos contra as costelas de Matsumi. A mulher respondeu comprimindo o corpo, dobrando as costelas e levando os braços para baixo como um escudo. Aparou o golpe, e em seguida contra-atacou com um chute na altura do queixo de Asami, que por sua vez, espalmou o golpe, observando a perna descer, inútil. Mas ela prosseguiu, tentando mais um chute aéreo giratório visando a bochecha de Asami.

Ela não tem postura de batalha. Não pode ter vindo de uma Academia.

A menina fez um movimento leve com o torso e defendeu o ataque com os braços. Matsumi tentou outros dois socos no rosto, e as palmas da menina os defletiram, até que quando a mesma tentou um chute alto retirando os pés do chão, a kunoichi aproveitou a brecha. Asami escorregou para debaixo dela, agarrou os membros e a lançou por cima da cabeça. Matsumi foi disparada, ricocheteando no chão.

Ela está mais devagar também… o quê aconteceu com a energia da pílula de comida?

A mulher se levantou e veio correndo mais uma vez, escorregando os pés no chão para tentar firmar a base de um soco, porém, o braço estava muito aberto, cheio de brechas para Asami. Entretanto, a mulher abriu a mão de repente, e então, uma porção de areia foi jogada no rosto da garota. A menina ficou desnorteada, fechando os olhos para conter a irritação. Matsumi não perdeu tempo, desferindo dois socos na barriga de Asami e finalizando com um chute alto acertando-a no queixo.

O ataque a lançou longe, e ela mal pôde ver onde, pois seus olhos ainda estavam repletos de areia.

E ainda joga sujo!

• • •

— Apareça! — Misashi ouviu.

Depois, ouviu um som de lança-chamas. Também havia um crepitar que começava a se espalhar para a mata.

— Vamos, folhinha!

Mais uma porção de chamas, e em seguida, um barulho de tosse.

— Você precisa aparecer… ou vou ter que encontrar seus amigos. Talvez eles te atraiam.

Misashi encarou seu esconderijo mais uma vez. Merda, pensou, ainda considerando tudo que se passava. Lá atrás, ouviu mais um som rouco de tosse. Ele deve estar doente, e mesmo assim quer que eu lute com ele…

O garoto apertou a mochila que estava no meio de suas pernas. Se eu não aparecer, ele vai atrás dos outros. Cada um está com um porque é o máximo que dá pra lutar. Mas por que precisamos lutar com essas pessoas? Isso não tá certo.

— Apareça! — a voz surgiu, bem mais firme.

Não tá certo…

Misashi começou a lembrar-se do seu teste, quando sem pestanejar, acreditando que o outro era o inimigo, atacou para matar. Isso está dentro de mim, dá pra ver. Mas eu não quero! Não quero ser mais um desses.

Na clareira, um Ecchiro impaciente começava a dar a volta nas árvores, passar pelo meio do fogo para procurar Misashi. Estava prestes a encontrar.

• • •

— Se é assim, vou atacar em área — o grandalhão gritou. Depois, fez as posições de mãos vagarosas. Kusaku, que olhava através dos arbustos, pescou uma coisa. — Suiton: Mizurappa!

Neda começou de sua extrema-direita e veio arrastando o jato finíssimo pelo eixo até dar uma volta completa. Kusaku considerou os segundos que tinha para agir, formulando uma tática para contra-atacar.

Se eu vi certo…

O garoto fez posições de mãos, e os selos terminaram assim que o jato passou por ele. A água abriu um corte no corpo de Kusaku, mas o mesmo revelou-se um tronco de madeira. Neda percebeu o truque e ficou procurando pelos sinais do garoto, mas só entendeu onde ele estava quando viu o brilho de uma kunai caindo em sua direção.

Kusaku puxou um pergaminho de dentro da bolsa assim que o grandalhão desviou, pôs sobre o galho, mordeu o dedo para verter sangue e passou sobre o pergaminho. Dezenas de facas surgiram numa fumaça branca, e Kusaku disparou-as uma a uma. As kunais desceram, fincando no chão a medida que Neda desviava-se delas. As últimas duas conseguiram raspar, uma no antebraço, outra próxima do rosto.

É isso, foi o que eu pensei! Ele está ficando mais lento.

— Não vai mais fazer isso! — as posições de mãos foram velozes, mas não tão velozes. — Suiton: Mizurappa!

Kusaku foi rápido, sacando um pouco de linha, firmando entre os dedos criando um arco entre uma mão e outra. Então, ele se equilibrou no galho indo de um lado para o outro e se lançou para frente. A água cortou o galho onde ele estava, enquanto o garoto já saltava para o pro próximo e para o próximo. Assim que conseguiu aterrissar em um, sacou um outro pergaminho e abriu de uma vez. O mesmo dedo sangrento passou pela extensão do papel, retirando dali uma shuriken gigante no momento seguinte. A fumaça da invocação se dissipou, dando espaço para Kusaku dispará-la sobre o oponente.

Neda aguardou a chance de esquivar, porém, no ar, a arma se abriu em mais três, escondidas uma na sombra da outra. O grandalhão podia fazer o jutsu, mas não fez, e preferiu fazer um rolamento para o lado enquanto elas se fincavam na terra.

Ele mal tem fôlego…

O grandalhão já estava arfando quando olhou para cima para ver o garoto, mas ele não estava mais lá.

O quê? Neda tentou ver se estava preso numa armadilha de kunais como antes, mas não estava. Então, onde el... as shurikens!

O sujeito pensou, mas era tarde demais, pois já ouvia Kusaku trocar de lugar com uma das shurikens e vir correndo com as mãos esticadas para trás brilhando em chackra.

O garoto avançou, pronto para atingi-lo no peito, mas algo aconteceu com Neda, e ele, de repente, ajoelhou na frente do ninja. O rosto do homem estava retorcido, um lado parecia mais caído do que o outro e Neda parecia distante dali. A bisturi de chackra parou na altura da garganta do oponente, por isso, Kusaku a desfez rápido.

Ele…

Tentou levantar a cabeça do rapaz, e quando olhou, viu o rosto paralisado.

Ele… mas eu não acertei a bisturi… eu…

Neda despencou de uma vez. O chão estremeceu com a queda, e Kusaku ficou com as mãos trêmulas.

Ele…

• • •

Ainda no chão, cega, Asami sentiu a mulher aproximando-se depressa, e então, apressou-se para limpar os olhos. Ainda no escuro, a garota estava perdida no chão, sem perceber nada além de vultos. Porém, um dos sentidos foi ativado quando Matsumi veio do alto e pisou com os dois pés no peito da garota. A menina convulsionou por um momento, e os braços que tentavam limpá-la da cena agora estavam estirados do lado de seu corpo.

— Você — Matsumi engasgou por um momento. Asami conseguiu abrir os olhos. A mulher usava um pé para pisar sobre ela, enquanto o outro servia de base. De sua boca, agora uma porção de sangue saía. Ela abaixou-se enquanto a menina estava rendida, abriu o compartimento de kunais e retirou uma. — Vai precisar morrer.

— Morra — a mulher exclamou.

De súbito, Asami lembrou-se do que acontecera no seu teste de admissão para Genin. Um ninja de Iwagakure estava prestes a esfaqueá-la e atacar a sua Aldeia, mas ela estava disposta a morrer pelo seu povo. Agora, a Matsumi a atacava, descendo a faca na altura do pescoço de Asami, e dessa vez, ela estava disposta a morrer sem estar numa ilusão, porém, não se deixaria padecer ali.

O braço da mulher desceu sobre a menina, e então Asami segurou-a por ali e depois desvencilhou suas pernas e prendeu no braço que vinha em sua direç;ão. A força do golpe criou uma trinca no braço de Matsumi, uma chave da qual ela não podia se livrar. A mulher tentou ir para trás, mas a força do aperto a fez largar a faca. A boca agora sangrava sem parar, gotas caíam no rosto de Asami.

— Não!

A mulher tentou puxar o braço, mas Asami jogou o corpo para o lado, e a fez cair de costas no chão. Assim, saiu do golpe, tomou um espaço.

Ela deslocou. Não vai mais poder usar aquele braço…

— Você... — Matsumi se levantou, impressionada com a imobilidade do braço. — O que você fez... não, eu preciso... eu preciso... — escorreu mais sangue de sua boca.

Eu não a feri pra isso. Por que tanto sangue?

— Preciso matar você…

Ela levou a mão ensanguentada até dentro do top, comendo mais uma das pílulas roxas que guardava consigo. E então, ela acertou a postura, o braço voltou ao normal, porém, mais uma vez, ela cuspiu sangue.

Ela…

— Aaaaaaa! — ela gritou, correndo na direção de Asami.

A Genin parou, ajustou sua postura de combate — uma palma sobre a cabeça e a outra esticada à frente — e esperou os ataques. Então, vieram, tortos; a mulher tentou socar na altura do rosto da garota, mas foi defletida, tentou um golpe no peito que foi impedido por uma passada de braço. Um outro veio como uma rasteira, a menina pulou, e um último veio quando a mulher tentou um golpe reto com os dois braços. Asami defletiu os dois para o lado, preparou a postura, e avançou.

As duas palmas tornaram-se facas que dançaram diante dos olhos de Matsumi, fazendo voltas e voltas entre si, criando um círculo invisível. Em seguida, as duas mãos subiram como um arco, uma concluindo um giro em seu eixo enquanto a outra acertava a clavícula direita da mulher.

— Kuresentoryuu! (Palma do Dragão Crescente)

O ataque a derrubou no chão, de barriga para baixo. O sangue verteu de sua boca, tocou a grama. Asami olhou a oponente caída sentindo uma sensação estranha. Não havia orgulho naquela vitória.

De repente, o corpo imóvel começou a mexer o ombro. O ombro deu vazão para o braço, que alcançou a mão que tentou mover os dedos. Enquanto isso, o restante do corpo tentava se erguer para que ela pudesse enfiar a mão dentro do top outra vez. Ela queria mais das pílulas.

Ela…

— Não — Asami a segurou. — Você não pode tomar mais disso.

— Não posso...? — Matsumi achou graça. — Por que…

— É perigoso. Eu preciso mostrar você para o médico da minha equipe, por favor, n…

— Mé... dico — a mulher murmurou. — Voc-c-cês n-n-nin-ninjas sempre acham que s-s-sabem tudo.

Asami começou a ficar nervosa, a mulher falava coisas sem sentido antes, mas agora, num momento derradeiro, continuava com o discurso e não podia se calar nem para salvar sua vida.

— E-eu já v-v-vo-vou morrer, garota — disse Matsumi.

Asami ficou com os dedos trêmulos, e assim que olhou o corpo estirado da mulher, acreditou nas palavras dela.

Não…

— Não, não, n… não… você não vai morrer — Asami virou o corpo dela. Não queria matar sua oponente. Não queria ter o corpo dela em suas mãos assim. — Não… prec… preciso do Kusaku aqui.

Matsumi, agora virada pra cima com a cabeça segurada por Asami, golfou mais. Dessa vez, o que saiu foi um vômito que misturava água, sangue e alguns cereais.

Ela mal comeu… ela… eu enfrentei ela desse jeito. Ela…

— Kusaku-kun! — Asami gritou, desesperada. — Kusaku-kun! Kusaku-kun! KUSAKU-KUN!

• • •

Misashi ouviu os passos se aproximando pela mata. Sabia que era questão de tempo até que fosse encontrado, e também sabia o quão pior seria se não o encontrassem. Olhou para o braço esquerdo, sentindo o peso dos papéis de Asami.

Você é um ninja, ouviu mais uma vez. A voz era um castigo e uma recompensa ao mesmo tempo.

— Merda! — reclamou, segurando o pergaminho do Tratado e usando-o para ficar de pé.

— Te achei — berrou Ecchiro, lá de baixo, começando os selos de mão para seu jutsu. — Katon: Endan!

Então, Misashi desapareceu no meio das chamas que atingiram as copas. Quando o fogo abaixou por falta da ignição do jutsu, a mochila de Misashi estava presa por kunais.

— Então ele decidiu lutar — sussurrou Ecchiro, tossindo.

Ele deve vir por algum local escondido, mal vou vê-lo chegar, o magricela pensou. Entretanto, ele olhou para o lado para ver o garoto correndo reto em sua direção.

— Pode vir! — Ecchiro comemorou, e então o duelo começou.

Misashi saltou para uma joelhada e assim que o adversário a defendeu com uma das mãos, ele tentou com a outra perna. Ecchiro deixou o rapaz pairando no ar por um instante, então fez o mesmo movimento de joelho, bem mais aberto, porém Misashi usou-o de apoio para saltar por cima da cabeça de seu oponente e arriscar dois chutes no topo da cabeça. Ecchiro defendeu ambos e tentou pegar o garoto antes que ele pudesse aterrissar, mas o menino agiu usando a planta do pé como apoio para um mortal. Ele aterrissou na frente do magricela e a trocação de punhos começou, Misashi sempre mirando socos abertos enquanto o outro tentava defletir e contra-atacar com golpes fechados. Houve um momento onde o soco veio muito fácil, e Ecchiro agarrou sem problemas, torceu o braço do rapaz e afundou o peito do pé no rosto de Misashi. O garoto cambaleou para o lado com o impacto, mas assim que tiveram uma distância e o Genin pôde estabilizar-se, ele fez uma posição de mão de dois dedos, e de repente houve um brilho no lado de Ecchiro.

O quê? Ele pensou, olhando o próprio corpo. Por fim, olhou para a mão que aparara o golpe do garoto e lá estava: uma pequena bolinha explosiva.

A explosão veio, fraca e distrativa, como era típico daquela ferramenta. E no meio da fumaça preta e do grunhido de dor de Ecchiro, Misashi veio atacar, preparando chackra no meio da corrida. Ele cortou a fumaça com o punho em riste e acertou no meio do peito de Ecchiro, que foi lançado para o meio do mato. A relva cobriu o corpo caído, enquanto Misashi recuperava-se ofegante da sua sequência de golpes. Era isso que ele queria, que fosse rápido. Algo que não o culpasse.

— Me desculpa — ouviu-se sussurrar.

Ecchiro não se levantou. Misashi foi até lá para verificar o que havia acontecido, e chegando lá, viu a marca do seu golpe, os arranhões de chackra e no meio do peito, uma inacreditável mancha negra que surgia da ferida.

O quê!? Eu… não!

Misashi abaixou-se, cutucou a pele. Estava entumecida, devia ser sangue preso. Merda, merda, pensou, assustado que seu golpe causara aquilo. Olhou para o rosto de Ecchiro e os olhos estavam fechados. Não, não, não!

Eu não posso ter matado ele, não posso!

O peito ainda subia e descia, respirando, confirmando que estava vivo. Entretanto, demorou pouco até que os olhos de Ecchiro abrisseem e ele conseguisse olhar para o próprio peito. Então, a expressão no rosto dele tinha aquela ferocidade de antes. Misashi permitiu-se ficar bem por um momento, mas Ecchiro voltou a tossir violentamente, e a mancha no peito cresceu. O rosto cedeu, perdeu qualquer característica e empalideceu. Misashi tentou uma massagem cardíaca.

Não, não, não… vive, vive, vive!

Conferiu o pulso, os batimentos estavam baixíssimos.

Não, você tem que respirar! Respira!

Pela primeira vez, o corpo não respondeu aos estímulos. O pulso ficou quieto, o coração parou de bater.

Não, não, não…

Ele tentou com mais força, sentia as costelas abaixo de sua mão. Tentou o pulso outra vez, olhou as pulsações na garganta. Tentou ouvir o coração de perto. Nada.

Não… cê não pode ter morrido, não. Não, não, agora não. Não, eu não posso ter te matado. Não, não posso. Não, não, não…

— NÃAAAAAAAAAAAAAOOOOOOOO! — Misashi berrou, e o grito ecoou dentro da floresta.

Abaixo dele, apenas um corpo morto de um refugiado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Konoha Before The Time — Arco 1: Instinto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.