Olá, Bebê escrita por Nate Keehl
Light e L passaram as primeiras horas da madrugada sussurrando no escuro, criando teorias sobre a personalidade do bebê, prevendo seu desempenho acadêmico e refletindo sobre quem — e o quê — a criança iria puxar mais deles; e no quanto algumas dessas características hereditárias poderiam ser preocupantes. Light não gostou da insinuação.
Eles concordaram em descobrir o sexo da criança apenas na hora do nascimento, em primeiro lugar porque queriam, claro, mas também porque podiam. No ponto da vida e carreira em que estavam, não havia muitos problemas ou imprevistos que não poderiam ser administrados em um piscar de olhos, e isso envolvia as diferenças logísticas e psicológicas entre ter um filho e uma filha.
No silêncio das pausas, L se perguntava se acertaria dessa vez, se faria melhor do que fez com Mello, Near e Matt. Light, por outro lado, aceitava o fato de que, tal qual mágica, conhecer L redefiniu todas as prioridades e sonhos dele; o mundo inteiro por um único homem, o universo inteiro por uma família.
E ele não precisou pesar nada para saber que tinha tomado a decisão certa.
Com a janela do quarto aberta e a brisa quente que balançava as cortinas, eles se sentaram no chão, um de frente para o outro, aos beijos, enquanto a luz da lua iluminava o assoalho em tiras azuis.
Light, ainda sem tirar os lábios do pescoço de L, alcançou uma caneta esferográfica e a depositou na mão de L.
— Agora vamos ver se você adivinha onde, Lawliet — disse, se afastando e cruzando os braços.
L levou o polegar à boca e o arrastou devagar pelos resquícios do beijo molhado, enquanto apreciava o olhar desafiador do parceiro. Ele então olhou em volta, ficando momentaneamente a sós com som dos grilos, os pensamentos de inspeção e o arrepio decorrente deles que subia pelo seu pescoço. A adrenalina da investigação e as memórias dos velhos tempos voltaram; bons tempos, mas não tanto quanto agora.
De joelhos, L foi até a frente da escrivaninha e inclinou a cabeça. Esticou a mão pela borda, sentindo cada textura anormal — lendo os machucados do móvel — até que parou, logo acima do puxador da gaveta.
— Um pouco óbvio para mim, não acha, amor? — a voz de Light surgiu atrás dele, baixa, perto de sua nuca, enquanto seus dedos subiam pela coxa exposta de L.
— Tem razão — L anuiu, balançando a cabeça, sério, enquanto uma mão acariciava sua pele cada vez mais alto calção adentro. — Mas você sempre foi meio óbvio para mim, Kira — disse, abrindo a gaveta.
L se esticou um pouco para espiar lá dentro, inocentemente empinando o corpo para trás. Light apertou sua bunda com satisfação, enquanto o observava chegar mais e mais perto de um lugar que, poucos anos atrás, o teria deixado tenso; mas que agora o deixava excitado. Especialmente sabendo que não há mais chances de eles queimarem a casa no processo.
L olhou por cima do próprio ombro enquanto arrastava a unha pela madeira do forro interno da gaveta. Light estava concentrado nele, nos seus olhos grandes e seus lábios entreabertos; na inteligência prepotente, na indiferença ousada.
Correção: aquilo tudo sempre excitou Light.
— Parece que o melhor detetive do mundo está perdendo o jeito — sussurrou, quando a unha de L não arranhou nenhuma saliência na superfície interna da gaveta.
L soltou um muxoxo.
— Talvez o outro melhor detetive do mundo o esteja distraindo — respondeu, se virando para Light novamente.
Quando seus olhos se encontraram, Light ouviu o click da caneta, e então o som de sua ponta rabiscando aleatoriamente toda a superfície do compensado inferior da gaveta. Admirado com a perspicácia da ideia, Light acariciou a cintura de L, o membro crescendo com a expectativa do movimento, a espera da descoberta.
— Ou talvez não — L comentou, erguendo uma sobrancelha, observando o volume no calção fino do parceiro.
Assim que a ponta da caneta emperrou em algo, os lábios de L se abriram em deleite divertido, e então se abriram ainda mais em surpresa silenciosa, quando Light abaixou completamente a roupa de L, em um único gesto.
Light aproximou o corpo do dele, deixando que o outro sentisse seu orgulho.
— Está quente — avisou, quando L girou a peça na ponta da caneta.
L soltou um suspiro ao sentir os dedos de Light o masturbando; atrás e na frente.
— Mais quente — sussurrou, quando L puxou o refil de tinta e, ainda de olhos fechados, o enfiou às cegas no buraco sob a gaveta.
— Queimando agora — Light separou as nádegas de L, o hálito quente no seu ouvido.
Assim que a tampa subiu, Light o penetrou, empurrando seu corpo contra o dele e beijando o pescoço de L, que só teve tempo de puxar o fundo falso para cima antes ser obrigado a se segurar nas bordas da superfície, mordendo um gemido alto enquanto seu parceiro deslizava dentro dele com a familiaridade e facilidade adquirida depois de anos de experiência um com o outro.
— Achou — Light provocou, embora ambos soubessem que não havia mais nada lá dentro.
Sob o pretexto de segurá-lo, Light envolveu as mãos na cintura de L, enquanto o outro entrelaçou os dedos nos dele, jogando a cabeça para trás, emaranhado seus cabelos suados. Light sabia que era impossível, mas quase podia sentir uma terceira vida entre eles. Sorriu com a ironia: alguns dias você as destrói, e outros você as protege.
— Estou com desejos — L chegou a conclusão, deitado no sofá da sala de estar da casa de Light, em uma tarde de domingo gelada enquanto assistia às reportagens criminais japonesas e se limitava a soltar suspiros de decepção.
Light, que estava sentado na poltrona perto da janela, baixou o livro. Ele andava lendo muito sobre gestação nesses últimos meses, tanto que quando ouviu aquelas palavras ficou tentado a pular as páginas de volta ao sumário e checar o significado da comida que L pediria.
Mas então estreitou os olhos.
— Deixa eu adivinhar, não vai ser a goiabada nem os ovos de codorna que você me fez sair correndo para comprar ontem de madrugada, não é?
L virou a cabeça despreocupadamente, sem demonstrar culpa nenhuma. Light teve que se esforçar para não se distrair com a pequena barriga delineada sob os cobertores bordados que sua mãe havia guardado de quando ainda era garoto.
— Não, ontem eu claramente não estava com todas as minhas faculdades mentais — L respondeu, mexendo os dedos do pé que escapavam da coberta, e então trocou de canal, aborrecido. — Mas hoje eu quero um parfait.
Light concordou com a cabeça, pensativo.
— Um parfait?
L acariciou a barriga; seu novo método de manipulação favorito.
— Certo, bom… — Light levantou, fechando o volume de O Melhor Pai do Mundo e deixando-o sobre o braço do sofá. Ele olhou em volta, tateando os bolsos, presumivelmente procurando as chaves do carro. Mas então soltou um ah aqui.
Quando L levantou os olhos, Light tirou uma mão de dentro do pote de vidro sobre a mesa de centro.
— Aqui seu parfait — disse, jogando um pirulito de morango no colo de L.
~*~*~
Sentado na sala de espera da clínica para fazer o ultrassom, Mello desembrulhava sua terceira barra de chocolate. A lixeira no chão ao lado da samambaia já transbordava, inundando o local com cheiro de cacau e sons de plástico que sobrepunham a voz do apresentador de jornal na tv acima deles.
Na parede ao lado, uma mulher os observava com interesse, depois se inclinou para seu marido.
— São sete da manhã, amor — sussurrou ela, contendo um sorriso.
O homem soltou um assovio baixo.
— Quer dizer, eu entendo a pressão que o cara deve tá sentindo, mas será que um chiclete não bastava?
Ela deu um tapinha no ombro dele e soltou um uma risada discreta, voltando a ler seu livro.
Near, sentado no chão sobre uma almofada verde-claro, de costas para eles, pintava distraidamente as revistas disponíveis para os pacientes com as canetinhas separadas para as crianças.
A porta do consultório se abriu e eles foram chamados. Mello foi o primeiro a notar.
— Ô Near, vamo lá. Levanta aí.
Near ergueu os braços.
— Ah, para, você mal tem barriga ainda.
Ele continuou com os braços para cima, olhando em sua direção, imperturbado.
Mello grunhiu dramaticamente.
— Pra sentar você não precisou de ajuda, né?
Mas ele o puxou para cima com o máximo de delicadeza. Near virou esboçando um pequeno sorriso.
— Não lembro de ter escutado reclamações na época.
Mello revirou os olhos.
— Se eu soubesse que me tornaria seu empregado por causa de uma noite, talvez eu…
— Ah, não — Near interrompeu, com um suspiro.
Mello parou.
— O que?
Near apontou para o chão com gesto vago e triste.
— Meu sapato caiu do pé…. com a sola para cima.
Na semiescuridão do consultório, enquanto a enfermeira cuidava dos preparativos, era possível ouvir uma inspiração profunda e uma expiração lenta, que logo desistia e virava rápida e errática. A mulher, de costas para eles, tentou acalmá-lo:
— Não se preocupe, não vai doer nada.
Near, que contava os quadrados do teto em silêncio, anunciou:
— Não sou eu.
Mello abriu os olhos.
— O que? Eu só tô respirando! Me desculpa se minha respiração tá te incomodando.
A enfermeira sorriu calorosamente e virou na direção dele.
— Bom, se o papai aqui não se acalmar ele vai desmaiar antes de descobrir o sexo do bebê.
Como as palavras da mulher parecem ter causado o efeito oposto, ela decidiu distraí-los enquanto a médica não chegava.
— Aliás, o que vocês esperam? Uma menina? Um menino? O que vier?
Near olhou para baixo. Sua mente tentava enfrentar a crescente ansiedade contando as bolinhas azuis do tecido de sua roupa hospitalar; mas apenas no tecido que cobria sua barriguinha.
— São apenas duas opções. Da mesma forma, há uma certa paz em saber que um computador só entende dados complexos usando dois dígitos.
Ela balançou a cabeça, embora não tivesse captado o exato estado de espírito daquele pai através de sua declaração. A enfermeira então virou para o rapaz ao seu lado, que apertava a barra de ferro da cama e parecia um pouco mais disposto a conversar — ou desabafar.
— E você, papai?
Mello levantou a cabeça.
— Espero que a médica chegue a tempo do parto, é isso que eu espero.
Bom, não foi tão melhor assim, mas pelo menos ali os sinais de estresse eram mais claros. Quando a porta se abriu, tanto Mello quanto a enfermeira ficaram aliviados. A mulher que entrou deu um sorriso largo e puxou uma cadeira de rodinhas para o lado da cama, batendo uma única palma.
— Ah, eu amo os diferentes tipos de desespero estampados na cara de pais de primeira viagem. — Ela soltou uma risada, apertando em alguns botões da máquina à sua frente. Depois, deslizou para perto de Near com um único movimento animado, segurando na mão um aparelho.
— Posso? — Apontou para a barriga dele.
— Pode — Mello respondeu em seu lugar.
Mas ela esperou, paciente. Near balançou a cabeça timidamente.
— Ótimo! Você já deve ter feito isso algumas vezes, então sabe como funciona. A diferença é que dessa vez a gente vai olhar o corpinho do bebê, tirar umas medidas, checar os órgãos principais e — ela olhou com expectativa para os dois — decidir se já querem comprar roupinhas que não sejam verdes e amarelas.
A médica sorriu mais ainda, esperando por alguma outra reação que não fosse apavoramento ou dissociação. Por fim, suspirou e começou a aplicar o gel azulado na pele alva de Near. Assim que o monitor ameaçou mostrar algumas sombras brancas, Mello interviu:
— Esse é o nosso bebê?
— Não, esses são apenas os fluidos amnióticos. — Ela apertou o aparelho com um pouco mais de pressão em uma região da barriga. — Esse é o seu bebê.
Dessa vez as reações se alternaram. Near pareceu completamente assombrado ao ver aquele corpinho se remexendo inquieto, colocando os braços na frente do rosto e aproximando os joelhos do corpo. Mello, por sua vez, perdeu toda a capacidade de exprimir reações faciais quando viu o bebê colocar na boca um pequeno protótipo de polegar.
Depois de um tempo, Mello encontrou a voz, ou algum indício dela.
— Eu, hã, não lembrava de ter um… rosto.
A médica manteve a pressão lá porque sabia muito bem que ambos os pais estavam completamente fixados vendo o rosto de seu filho com aquela precisão pela primeira vez. Ainda não se diferenciava muito de qualquer outro feto, mas o contorno já era bastante humano.
— Sim, ele cresceu bastante. Já esse — ela moveu o aparelho — é seu coraçãozinho batendo.
Mello olhou para o monitor por vários segundos, depois para Near, depois para sua barriga. Ele quis tocá-los, quis levar a mão até as duas pessoas mais importantes de sua vida, mas não conseguiu fazer nada além de imaginar que elas estavam juntas agora, eram uma só, e estavam ali ao lado dele. E Mello faria de tudo para mantê-las seguras.
A médica soltou uma risada gentil.
— Apesar dos batimentos cardíacos do pai estarem um pouquinho elevados, os do bebê estão completamente normais.
Near levou uma mão hesitante à barriga, tocando nela um único dedo coberto de tinta roxa, verde e laranja. Mello fez o mesmo, devagar, pousando o indicador ainda levemente manchado de chocolate sobre a pequena unha colorida de Near. Eles observaram, juntos, enquanto a médica checava a espinha e contava os dedinhos. Tudo no devido lugar.
— Agora, talvez vocês queiram ver isso — disse a mulher, em voz baixa, deslizando o aparelho mais uma vez.
— O que é? — Near sussurrou, incapaz se esconder o nervosismo. Ele e Mello entrelaçaram os dois indicadores firmemente, aguardando em silêncio.
— Bom — ela sorriu —, definitivamente não é um pênis.
Eles alcançaram o olhar um do outro pela primeira vez desde que entraram no consultório, absortos no fato de que terão uma menina, e de que o coração dela está batendo tranquilamente através do pequeno alto falante ao lado, preenchendo e tomando todos os espaços da sala e de suas mentes.
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Próximo capítulo só sai no ano que vemkkkk