Olá, Bebê escrita por Nate Keehl


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

A ideia do título da fic veio do trecho de uma das músicas do musical Six. Aliás, esse musical representa muito bem uma galera de DN. Cada uma das seis esposas do Henrique VIII (que seria o Light) encaixa em um personagem. Na ordem: Catarina de Aragão como L, Ana Bolena como Takada, Joana Seymour como Mikami, Ana de Cleves como Mello, Catarina Howard como Misa e Catarina Parr como Near. A música em questão é da primeira rainha (No Way), que foi considerada na época como a “única rainha real”, que é um paralelo interessante com recepção da morte e substituição do L anos atrás (cês devem lembrar daquele drama idiota de “ainn o anime estragou, o near fede blabla”). Enfim, quem aí é como eu e adora achar dn nas coisas, recomendo ouvir as músicas de cada rainha e ver as semelhanças por si só. bjss

Ps: os dois casais não estão grávidos ao mesmo tempo, ok? Isso seria impossível uma vez que o near era menino quando o light e o L se conheceram no canon. Como na próxima fic os filhos vão ficar amigos e crescer juntos, consegui esticar um pouco e fiz as crianças nascerem com cinco anos de diferença, sei que parece muito, mas nesse caso o near seria pai aos 20 e não aos 15 kkk e o L não seria pai muito velho tb.



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L odiava as dores nas costas e odiava quando alguém perguntava se ele estava bem. Eu sou o maior detetive do mundo, eu estou ótimo. Mas isso foi até o fim do primeiro trimestre; o momento onde ele parou de insistir na mentira e passou a apenas suspirar como resposta. 

O médico disse que aquele período seria especialmente difícil para L, devido a postura incorreta que cultivou durante toda a vida, dentre outros hábitos destrutivos. Muitas sugestões foram dadas para aliviar a lombalgia: alongamentos, exercícios físicos, remédios etc. Mas assim que chegou em casa da consulta naquele dia, L discretamente jogou no lixo o óleo de amêndoas doces que foi receitado para as massagens. Massagens! Até parece.

Quanto mais o tempo passava, mais ele queria voltar ao trabalho. Não porque ele precisava, nem porque desejava, ou porque a companhia constante da senhora Yagami era desagradável. Nada disso. O real motivo era porque ele odiava se sentir tão inútil.

— A minha improdutividade está afetando o bebê, Light — L comunicou certa vez, como se tivesse acabado de receber uma revelação do pedaço de bolo que encarava há cinco minutos. 

Light se aproximou dele e fechou os olhos, concentrado.

— Jura? Porque o bebê acabou de me dizer que as férias estão sendo boas para vocês dois.

L, por sua vez, tentou roubar o notebook do colo de Light, que o manteve firme sob os dedos. L puxou mais um pouco, mas nem o aparelho nem o sorriso do cônjuge cederam. Relutante, ele desistiu, assegurando que um chute não valia o risco para os três envolvidos.

No começo da gravidez, antes mesmo da barriga aparecer, ele cortava todas as refeições pela metade. Cupcakes, macarons, brownies, donuts, até o sorvete era dividido em dois extremos na vasilha; um dos quais derretia até virar líquido, enquanto ele encarava o creme até que a porcelana voltasse a esquentar. L pensava em leite e sua barriga revirava.

Mesmo depois que Light decidiu que estava na hora de ser mais assertivo quanto a atual dieta do parceiro, L continuou separando os grãos de feijão no prato. O esforço de engolir comida salgada não recompensava a gratificação de comer a sobremesa: maçãs picadas — sem açúcar! — que tinham de ser ingeridas rapidamente antes que escurecessem. 

Aquela era uma forma que ele encontrou de lidar com o fato de estar carregando não mais uma, mas duas vidas. E de refletir sobre como L mal conseguiu chegar inteiro aos 28 anos, e agora era responsável por manter segura aquela coisinha viva dentro de seu corpo débil.

Todos os dias, antes de amanhecer, ele levantava a camisa branca e girava para os lados como se estivesse tirando a foto de registro da prisão, checando a barriga com um nervosismo crescente. Era um hábito que, quanto mais se repetia, mais deixava de ser assustador e mais se tornava uma consulta impaciente para oficializar a notícia de que seria pai. De que era pai. L acreditou piamente que, assim que sentisse o primeiro caroço, teria uma crise existencial e, quem sabe, até uma crise precoce de meia-idade. Mas quando seus dedos notaram a curva pela primeira vez, aquilo simplesmente fez todo o sentido: uma consequência óbvia da felicidade que ele apenas passou a sentir depois que conheceu Light. 

L caminhou de volta até a cama deles como se tivesse acabado de tomar um copo d’água; deitou no colchão e cutucou a costela de Light com suavidade, que abriu olhos sobressaltado — apesar da gravidez ser de apenas dezessete semanas, Light já havia decorado o caminho do hospital. 

Ele então pegou a mão de Light e a levou até a barriga pequena, depois colocou a sua própria sobre ela. Eles observaram um ao outro no escuro, tiveram uma conversa inteira em silêncio. Apenas duas palavras estavam sendo ditas: nós, pais.

Aquela foi a primeira noite que Light não conseguiu dormir desde que percebeu que estava algemado e apaixonado pelo seu algoz durante o caso Kira. Desde que percebeu que não poderia matá-lo e que só havia um lugar para ele: ao lado de L.

~*~*~

Nada de essencial mudou na vida de Near, exceto que agora ele tinha companhia para as brincadeiras e não precisava se sentir muito idiota por mudar a própria voz quando mudava de personagem. 

Agora, de fato, havia uma voz diferente dentro dele, dando opiniões acertadas sobre as histórias que montavam juntos; os brinquedos que um dia, talvez, dividiriam.

— Com quem você tá falando? — Mello perguntou, parado na porta do quarto, segurando o copo de Starbucks que fora buscar para si mesmo na rua na frente do hotel no qual eles estavam ficando provisoriamente.

— O feto — Near respondeu simplesmente, sem tirar os olhos da reunião de bonecos no chão. 

A pedido de Mello (sob a ameaça de trancar a porta do banheiro), Near aceitou deitar em cima de um tapete felpudo, apesar de isso dificultar a estabilidade dos brinquedos e impedir qualquer jogo envolvendo empilhamento de dados ou séries de dominós. Ser pai já estava se provando desafiador.

Mello olhou para a bebida e depois para os braços do robô que Near mexia com os dedos escondidos por trás das costas dele. Será que valia a pena sair e comprar outra só por um momento de satisfação?

— Ótimo, os normais vão ficar em desvantagem numérica quando o esquisito número dois nascer.

Near, que estava apenas no primeiro mês, deitava de barriga para baixo sempre que podia, para aproveitar enquanto ainda havia tempo. Ele balançou as pernas no ar coordenadamente e fez os bonecos apertarem as pequenas mãos de plástico. 

— Mello sai de óculos escuros durante a noite e comprou um iced mocha no meio do inverno de Nova York, logo, acho que você quis dizer esquisito número três — corrigiu, ainda sem lhe lançar um olhar. 

Os bonecos caíram e se espalharam quando Mello jogou sobre eles um saco de marshmallows. 

— Aqui. Não achei a marca que você pediu, mas essas coisas são todas iguais então tanto faz. 

Near checou os ingredientes sem pressa e girou o produto várias vezes nas mãos. Quando ele balançou o pacote para ouvir o som dos doces, a paciência de Mello começou a se esgotar. Antes que ele interviesse, Near cortou o plástico com a tesoura de artesanato ao seu lado, as lâminas endurecidas com cola-quente. 

— Você sabe que era só puxar o topo para os lados, né? 

Mas Near ignorou e tirou um único doce solitário da embalagem, então a alcançou para Mello, que continuou parado, atônito. Quando este não a pegou, Near explicou:

— Eu queria apenas uma unidade, mas obrigado por se deslocar até o mercado por minha causa — disse, mordendo a guloseima. 

Mello fechou os olhos, mantendo a calma. 

— É, a gente nunca mais vai transar sem camisinha. 

~*~*~

A decisão de passar a gestação no Japão pareceu uma ideia maravilhosa quando eles ainda estavam na Inglaterra. Mas além de ser mais fácil para L, Watari e Light se locomoverem e instalarem lá novamente, era o mais justo a se fazer com Sachiko e Sayu, que receberam a notícia através de uma ligação esquisita de um Light aturdido. 

Nos primeiros dias, L respondia a todas as perguntas com agrado, mas nos primeiros dias ainda não havia muita coisa para responder. 

— Mãe, é o começo da terceira semana. Ainda não há nada lá maior do que uma semente — Light explicou quando a senhora Yagami perguntou sobre o tamanho do “bebê”, e se L já sentia algo diferente.

O pai de Light, sogro de L — que estava fora da linha visível da tela — limpou a garganta audivelmente. 

— Uma semente de papoula — corrigiu L, na tentativa de evitar a estranheza que seria amplificada pela própria natureza propícia da chamada de vídeo. 

Mas o silêncio constrangedor já havia sido instaurado. Sayu fechou os olhos e mordeu uma risada. Aparentemente a única a não notar foi Sachiko Yagami, que fungou e secou os cílios úmidos. 

— Não vejo a hora de sentir meu neto chutar — disse a mulher, apesar da explicação de Light, com os lábios molhados de lágrimas.

Assim que a tela ficou escura, Light e L se entreolharam. Três dias após aquela ligação, eles já haviam resolvido todas as questões pendentes acerca do trabalho em Winchester e embarcaram no primeiro avião em direção a Kanto.

De volta a Tokyo, onde tudo começou.

 

Quando a campainha tocou, L foi rodeado de toques e perguntas, que o homem recebeu com educação. 

Sayu abraçou todo mundo aos gritinhos, e L jurou ter visto a jovem envolver a própria mãe também e depois sussurrar algo em seu ouvido; algo que fez a mulher se emocionar ainda mais.

Sachiko foi a segunda. Ela segurou L nos braços por longos minutos; o segurou como se fosse seu próprio filho, e isso o lembrou do dia em que ele e Light assumiram o namoro e, talvez, também do vulto que sobrou da própria mãe de L em suas memórias de infância. Sachiko chorou em seus cabelos negros e acariciou sua coluna vertebral protuberante.

— Vamos te alimentar direito aqui, mocinho — murmurou ela, soluçando uma risada. 

A garganta de L apertou e, quando desviou para o teto, conseguiu ver de relance Light e Soichiro mais a frente. A mão de Soichiro no ombro do filho, a cabeça de Light concordando; os lábios do sogro apertados em uma linha firme que poderia ser considerada severa, se não fossem seus olhos brilhantes. 

Quando L ficou de frente para o senhor Yagami, fez uma breve reverência e esticou a palma da mão.

Soichiro olhou para a mão dele e sorriu.

 — Vem cá, rapaz. 

E então o puxou em um abraço forte, tirando seus pés do chão. 

Durante aquela primeira noite, sempre que L sentia que toda aquela atenção era demais; sempre que seus pensamentos abandonavam seu corpo em um poço de ansiedade ao ouvir palavras como parto, enxoval, nomes e até fundo universitário, ele alcançava o olhar de Light no outro lado da cozinha.

Ainda mais do que a admiração que L via no olhar do parceiro em sua direção pela periférica, ou o fato de captar sorrisos bobos em meio as expressões perdidas de Light, L gostava de saber que, mesmo quando os olhos deles se encontravam, tudo aquilo continuava lá. 

Quando a noite chegou ao fim, Soichiro, com menos embaraço do que o esperado, ajudou Light a retirar a cama de solteiro que havia permanecido em seu quarto desde sua partida, e montar uma cama de casal que haviam comprado em uma loja especializada em maternidade durante a viagem.

A pedido da senhora Yagami, L concordou em não participar. Enquanto observava  Light encaixar as peças com precisão — as mangas da camisa social dobradas no antebraço, os músculos bronzeados se contraindo — tecendo comentários com seu pai sobre a complexidade exagerada das camas ocidentais; aquelas palavras voltaram à cabeça de L.

Berço, leite, choro, brinquedos...

Só que, dessa vez, ele sorriu.

~*~*~

Mello estava sofrendo mais com a gravidez do que Near, que estava, de fato, grávido

Ele tinha vinte e dois anos, estava longe de conseguir se desligar da máfia e sua única experiência com crianças vinha de sua própria infância, que não fora há tanto tempo atrás. Isso — somado ao fato de que ele também nunca teve um pai, pelo menos um que não conversasse com ele por uma tela e um modificador de voz — esteve preenchendo sua mente com inquietações e seus sonhos com pesadelos; o último dos quais envolvendo um acidente de trânsito.

— Droga, o que eu tô fazendo de errado? — murmurou para si mesmo, puxando a cadeirinha de bebê para frente e notando que ela se mexia mais do que deveria. Só o ato de frear o carro mandaria o recém-nascido voando, especialmente se Mello não mudasse seus hábitos no trânsito até o parto. 

Ser pai era uma ideia distante para Mello, um pensamento que só poderia tomar forma concreta quando outras áreas de sua vida estivessem resolvidas. Mas então certo dia, sentado de frente para 55 kg de cocaína recém entregues em seu escritório em Los Angeles, logo após ter perdido a calma com a estupidez do associado em deixar tudo ali mesmo, ele recebeu uma ligação no seu celular pessoal. Com os dedos cheirando a dinheiro de suco* e a cabeça latejando, ele descobriu que seria pai. 

Mello inspirou fundo e empurrou o banco da frente até o fim, para ter mais espaço. Ele desenrolou a bagunça dos cintos e deixou que voltassem ao normal, recuperando a compostura para repetir o processo. Depois, começou a puxá-los até o fim novamente, bem devagar. 

Apesar de ele e Near não estarem morando juntos, eles já estavam juntos há algum tempo. Visitar Near na costa leste, há quase 4.000 km dele, já era uma viagem difícil o bastante para fazer com frequência, especialmente considerando que Near não era o tipo de pessoa que fazia muitas viagens com gosto, muito menos para a Califórnia. Então nos últimos dois anos de namoro, Mello sempre foi até ele. 

Ambos sabiam que, se algum dia quisessem dividir uma casa e uma vida, seria Near quem teria de abandonar Manhattan de forma definitiva. Mello só não esperava que a notícia da gravidez viesse apenas dois meses depois de saber que fora promovido para o alto-escalão da Administração de uma das regiões mais importantes da costa oeste. Ele se mudou temporariamente para Nova York mesmo assim. 

O cinto emperrou no meio do caminho. Mello esqueceu que precisava ser cuidadoso e o puxou diversas vezes, com cada vez mais força conforme ia se irritando. 

— Não é possível, a porra do carro nem tá ligado, como que… 

— Mello? — Near chamou, vendo a bagunça de cintos no chão, a porta do passageiro escancarada e uma cadeirinha virada no banco. Ele se aproximou.

— Onde você conseguiu essa boneca?

Mello bufou e sentou no piso.

— A filha do vizinho tava brincando com ela.

— E você pediu emprestado?

— Mais ou menos. Eu planejava devolver antes de ela notar, mas acho que acabei de matar o bebê — ele respondeu, olhando para a boneca no chão de concreto, logo ao lado da roda. 

Near se sentaria junto com Mello se isso já não fosse um pouco complicado, então, ao invés disso, passou sobre suas pernas esticadas e se acomodou na beirada do banco, olhando em volta.

— Cadê o manual de instruções?

— Joguei fora.

Mello passava a unha pintada de preto no crânio de plástico afundado. 

— Não se preocupe, você terá um pouco mais de cuidado quando o bebê realmente puder morrer. 

Mas ele continuou em silêncio, agora tentando restaurar a cabecinha com um leve desespero. 

— Mello — disse, colocando uma mão em seu ombro e capturando uma mecha de seu cabelo loiro.

— O que? — Mello relaxou um pouco com o toque.

Near sorriu. 

— Por que você está tentando montar a cadeirinha quatro meses antes do bebê nascer?


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Notas finais do capítulo

* juros obtidos no crime de usura (agiotagem)



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