Bem-vindo a Lawrence escrita por Mari Pattinson


Capítulo 4
Capítulo 3




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Quarta-feira, 29 de novembro de 2017 – 23:30h, Motel “Super 8 by Wyndham Ku Lawrence”, 4°C – céu limpo.

“Oi, Alice!” Bella atendeu ao celular. Edward acabara de deixá-la no motel, depois da última noite da Exposição; eles pretendiam passar o resto da noite juntos, mas ele recebera um chamado na delegacia e precisou atendê-lo.

“Bella, eu tenho notícias, você está sentada?” Alice perguntou, ela parecia bastante nervosa, o que preocupou Bella.

“O que houve, Alice! Diga-me!” Bella pediu, sentando-se na cama.

“Bem, primeiramente seu pai está fulo da vida com a sua foto que foi publicada no instagram do tal hotel da Exposição; ele disse que se você for reconhecida não fará nada para te ajudar, que você deveria tomar mais cuidado, porque depois da denúncia do John, a família já estava no radar da polícia, então os riscos só aumentaram... Acho que ele deve te ligar em breve” Alice desembestou a falar, mas Bella a interrompeu, que porra de foto?

“Alice, respira, que merda de foto é essa?” Bella perguntou e Alice bufou.

“Como assim, você não viu?!” a baixinha exclamou “Caramba, Bella, você tira foto e nem sabe?”.

“Alice, a única foto que tirei recentemente foi no primeiro dia da Exposição, com... PUTA QUE PARIU! Não vai me dizer que é a foto que mostra a minha cara NITIDAMENTE? o que está havendo comigo que eu só venho fazendo merda, meu Deus?!” nervosa, Bella levantou-se e começou a andar de um lado para o outro no quarto, lembrando-se da foto dela, Edward, Emmett, Rose e Thony, mas ela não esperava que ela fosse postada numa rede social, apesar de que fazia muito sentido, já que ela fora tirada por um dos fotógrafos na primeira noite do evento e os donos dos artefatos também saíram na foto. Como ela pôde ser tão burra e irresponsável?

“Bella, se acalme, você só está apaixonada, isso mexe com a gente, ainda mais quando é o primeiro amor de verdade” Alice brincou do outro lado da linha; falou tão naturalmente como se afirmasse que o céu é azul.

“Alice, chega de brincadeiras, eu preciso sair daqui agora! Estou indo para casa” Bella exclamou, o coração acelerando no peito; se alguém a reconhecesse... Ela pegou uma das malas e começou a jogar todas as roupas dentro dela o mais rápido que conseguia.

“Calma, Bella!” Alice gritou do outro lado da linha “Eu ainda não acabei! Lembra da questão com o Black?”.

“Mais bomba!” Bella bufou e revirou os olhos. Como se não bastasse as chances exponencialmente mais altas de ser pega ela ainda tinha que se preocupar com aquele idiota!

“Bella, o seu pai vendeu você para o Jacob” Alice contou, novamente, como se dissesse que chegar muito perto do Sol te queimaria todo. Mas, para ambas, para Alice baseada na própria história e para Bella na história da mãe, era algo tão comum quanto respirar. E era justamente essa capacidade que Bella parecia ter perdido; ela realmente precisou se sentar.

Bella sabia que a qualquer momento poderia ser trocada por uma mercadoria mais valiosa ou por dinheiro, por não ter nascido homem, mas ela esperava mais considerações de seu pai, de que ela pudesse, pelo menos, escolher para quem seria vendida. Ela detestava Jacob – e todos sabiam. Como puderam manipulá-la daquele jeito? Bella esperava isso de qualquer pessoa, menos do próprio pai!

“Bella? Olha, você está com o espaçador errado, mas é óbvio que isso não importa para Jacob; ele apenas inventou um pretexto e uma historinha para poder comprá-la. Você não pode voltar aqui. Com ou sem espaçador você já é dele!”.

“Não, não, não!” Bella sussurrou; ela parecia sem forças “Alice, eles... Meu pai não faria isso, faria?” perguntou ela, mas sabia que Alice estava certa; um espaçador de 250 milhões de dólares? Não! Era óbvio! Mas, então, esse era o preço dela para a própria família, era quanto ela valia?

“Eu sinto muito, Bella” Alice murmurou do outro lado “Você sabe que eu te amo, então, por favor, não volte!”.

“Alice, o que eu faço? Não posso ficar aqui; se alguém me reconhecer...”.

“Fique calma, Bella, apenas fuja para qualquer outro lugar” Alice aconselhou.

“O Jasper...” a voz de Bella falhou, ela não imaginava que o seu irmão pudesse compactuar com aquilo tudo, seria como uma tentativa de assassiná-la.

“Ele acabou de descobrir e me contou, Bella” Alice afirmou “Você o conhece, ele nunca a magoaria desse jeito”.

Bella sentiu as lágrimas escorrendo pelo rosto, aliviada de ainda poder confiar no irmão, puta da vida com o resto de sua família e indecisa sobre o que faria.

“Obrigada por me contar, Alice. Eu te amo. Vou resolver isso” Bella afirmou antes de desligar; ela não queria preocupara a cunhada ainda mais, os soluços saíram de seu peito sem que Bella pudesse contê-los. Ela se sentia apunhalada, ferida, traída. Do que importava todos os seus esforços, todas as mentiras e toda a mágoa que deixaria quando acabaria no altar com Jacob Black? Sentia-se enojada, mas ela sabia que não podia perder tempo, ela tinha que ir embora de Lawrence.

Levantou-se lentamente da cama, rapidamente trocou seu vestido elegante por uma roupa mais confortável e levou a mala ao estacionamento do motel, colocando-a no porta-malas no carro. Ela voltou ao quarto e começou a pegar seus objetos de higiene pessoal quando ouviu um barulho de batidas na porta. Estaria incrivelmente fodida se fosse a polícia.

Bella sentiu-se aliviada, porém, quando viu Edward do lado de fora “Edward!” ela exclamou, contente em vê-lo, mesmo que por uma última vez, mas logo sentiu-se confusa quando ele permaneceu calado, as mãos para trás e o cenho franzido “Ah, não foi nada” disse. Ele deve estar preocupado porque minha cara não deve estar muito boa, pensou ela.

Bluebell...” murmurou ele, adentrando o quarto “Pode virar-se para trás?” perguntou.

Bella assentiu e assim o fez, ela estava tão preocupada que ele descobrisse a verdade... “Mas o que?” disse, quando sentiu Edward pegar os dois pulsos dela e prendê-los, cada um, num metal gelado – algemas!

Bluebell” ele riu, com sarcasmo na voz “Seja lá qual seja o seu nome verdadeiro ou sobrenome... Você está sendo presa pelo roubo do espaçador da Loja de Antiguidades McCarthy. Você tem o direito de permanecer calada e tudo o que disser poderá ser usado contra você no tribunal!”.

Ela sentia-se como se presa num pesadelo e tinha duas opções: fingir que não sabia de nada, ou esperar e observar uma brecha de se salvar. Como nunca se encontrara em situação semelhante, Bella não sabia qual a melhor saída, então preferiu seguir com a primeira.

“Edward... Eu não estou entendendo”.

“Não?” perguntou ele, com o que parecia ser nojo na voz, virando-a para encará-la; o coração de Bella pesava cada vez mais quando viu os olhos verdes queimando em fúria, mas também tristeza. Ela sabia que tudo terminaria em mágoas e lágrimas, mas não esperava que ela ficaria para ver isso acontecendo “Essa porra aqui é o que, então?” ele gesticulou o espaçador sobre a mesa do motel.

“Não... É um mal entendido. Lembra que você disse sobre terem perdido um dos espaçadores? Então, eu o encontrei! Ia devolvê-lo amanhã mesmo para o Emmett!” Bella murmurou, tentando manter a calma. Não que isso fosse verdade, ela o trocaria pelo que ela realmente deveria ter pegado, mas também não importava mais, já que os planos haviam mudado tão depressa.

Edward parecia quase convencido, mas balançou a cabeça negativamente “Vai esclarecer isso na delegacia, vamos!” disse ele, puxando-a pelo braço com firmeza, mas não a ponto de machucá-la e pegou o espaçador da mesa, colocando-o num saco de evidências.

Bella sabia que precisaria de uma máscara, a Bella apaixonada não poderia ser interrogada, porque poria tudo a perder; ela precisava ser a Bluebell, a mulher forte e decidida que chegara à Lawrence com o único intuito de conseguir um espaçador e dele fazer a maior fortuna de sua vida. Vestir a Bluebell poderia salvá-la da prisão.

Edward a colocou na viatura e partiram para a delegacia. Ela mal acreditava na própria situação! Ela se perguntava se havia dado muitos sinais de suas reais intenções ou se Edward realmente era um ótimo investigador, mas a verdade era que ele a inebriava tanto que ela praticamente perdia a razão quando estava perto dele.

23:55h – Delegacia de Roubos de Lawrence, 4°C – céu limpo.

“Tenente Volturi, consegui capturar a ladra!” Edward comunicou, praticamente arrastando Bella pela delegacia; ela bufou pelo uso da palavra ladra, não que na prática o que ela fazia tivesse significado diferente, mas ela era muito mais do que aquilo!

“Ótimo. Oficial Edward, as salas de interrogatório estão sendo utilizadas, pode interrogá-la em minha sala. Heidi, acompanhe-os” disse um homem muito alto e muito loiro; ele vestia os trajes policiais e tinha uma cara intimidadora. Uma moça morena e de olhos esverdeados levantou-se de uma das mesas e andou até uma das portas, abrindo-as e gesticulando para que Edward ali entrasse.

Sabendo que não teria muito para onde correr, Bella ‘cooperou’ com Edward e andou com ele até a sala “Vou precisar ficar com essa merda?” ela perguntou, referindo-se às algemas, quando a mulher, a tal da Heidi fechou a porta da sala com os três ali dentro. Ela sentou-se numa cadeira ao lado da porta e olhava para Bella com curiosidade.

Edward revirou os olhos e tirou uma pequena chave do bolso da camisa policial; o distintivo bordado do lado esquerdo do peito e Bella não pode evitar achá-lo ainda mais atraente “Não vai tentar nenhuma gracinha, vai?” perguntou irônico.

“Ah, claro! Vou sair correndo pela delegacia, por que não pensei nisso antes?” Bella devolveu, revirando os olhos.

“Se tentar alguma coisa vai direto para a cela!” ele avisou, posicionando-se atrás dela e Bella queria que ele não a afetasse tanto, mas ela não conteve um suspirou quando os dedos dele tocaram os pulsos dela levemente e em segundos ela estava ‘livre’. “Sente-se” disse ele e gesticulou para a cadeira de frente para a janela; ela o ‘obedeceu’ e logo ele estava sentado na cadeira de frente para ela.

A situação em si poderia ser cômica, Bella sentia-se como num filme, se não fosse trágica.

“Então, Bluebell, que tal começarmos com o seu verdadeiro...?” Edward começou, mas Bella o interrompeu, erguendo a mão. Ele pareceu bem irritado e isso a divertiu por alguma razão. Ela sabia como isso acontecia nos filmes.

“Quero minha ligação” disse ela. A outra palavra mágica era advogado, mas essa parte mais burocrática teria que ser organizada pelo próprio pai... Bella quase vomitou quando pensou nele. Como ela poderia pedir-lhe ajuda? E se ele a mandasse direto para casa... Para os braços de Jacob Black? Seria um pesadelo ainda maior, e ela nem poderia acordar dele!

“Sua ligação?” Edward perguntou, parecia perplexo com o pedido dela.

“Ela tem direitos” Heidi concordou e Edward revirou os olhos.

Uma ligação” ele frisou bem.

Bella alcançou o telefone que estava sobre a mesa e teclou o número da única pessoa que poderia ajudá-la naquele momento: Alice. Era o número de emergência, dos celulares descartáveis que a família costumava usar. Rezando para que ela atendesse, ficou aliviada quando ouviu o ‘Alô’ da cunhada do outro lado da linha.

“Oi!” Bella disse rapidamente “Fui pega. Não avise você sabe quem. Posso precisar de um advogado” ela completou e desligou o telefone em seguida; não poderia dizer nomes e esperava que Alice tivesse entendido tudo direitinho, ou então, talvez Bella mofasse na cadeia pelo resto da vida.

“Quer mesmo que eu acredite que você não roubou o espaçador? Depois dessas suas falas super esquisitas?” perguntou Edward em tom irritado.

Complicações” Bella disse simplesmente e percebeu que Edward a entendera, sabia que ela falava da família dela “Eu não roubei o espaçador” afirmou ela, massageando os pulsos que estavam um pouco doloridos de terem sido algemados daquela maneira.

“Seu nome” Edward simplesmente murmurou, decidindo ignorá-la.

Bluebell” respondeu ela.

“Nem aqui nem na puta que pariu” ele praguejou, parecendo irritado. Bella odiava vê-lo daquele jeito, tratando-a com desprezo, como se ela fosse... Bem ela era uma criminosa.

“Edward, o que há com você?” Heidi perguntou, olhando de um para o outro “Não estou te reconhecendo! Não se esqueça de que todos são inocentes até que se prove o contrário”. Bella surpreendeu-se com a maneira que a mulher estava tratando-a, melhor até mesmo que Edward naquele momento! Não que ela o culpasse por estar desconfiado, mas isso não significava que doía menos.

“Eu sei muito bem o que estou fazendo, Heidi!” Edward afirmou, bufando em seguida “Aqui está a prova” ele ergueu o saco de evidências que continha o espaçador.

“Está sendo grosso e desrespeitoso com a moça. Melhore sua postura ou chamarei outro oficial para interrogá-la!” Heidi o encarou com firmeza no olhar e Edward apenas assentiu, mas o vinco no meio de sua testa mostrava que ele não estava totalmente satisfeito.

“Vamos, lá, garota, colabore e me diga o seu nome!” Edward pediu, pela terceira vez.

Bella suspirou, antes de encarar os olhos verdes do homem por quem realmente se apaixonara e por uma fração de segundos ela enxergou o mesmo sentimento refletido, ainda havia carinho e preocupação no olhar dele, que eram totalmente escondidos pelas ações e falas carregadas de desprezo.

“Não posso dizer” Bella limitou-se a responder.

Edward fez algumas anotações num bloco de notas e prosseguiu com as perguntas “De onde você veio?”.

“Do Motel Super 8 by Wyndham Ku Lawrence” respondeu ela, sabendo que essa não era a resposta esperada, mas ela precisava ganhar tempo. Talvez Alice conseguisse contactar um advogado de confiança, talvez Bella conseguisse ‘provar’ a sua inocência e finalmente sair de Lawrence em busca de uma nova vida.

“Você está brincando comigo!” Edward resmungou, esfregando o rosto com as mãos “Onde estava antes de chegar a Lawrence?” perguntou ele.

“Na estrada?” a resposta de Bella soou mais como uma pergunta e desta vez Heidi se pronunciou.

“Vamos, lá, garota. Dê alguma coisa a este homem antes que ele tenha dê um ataque!” disse ela, e Bella percebeu o riso contido na voz dela. Ah, se ela soubesse o que Bella já tinha dado para ele!

“Tudo bem, eu não posso responder. Não posso responder a nenhuma pergunta de cunho pessoal. Posso tentar explicar porque o espaçador estava no meu quarto, como já tentei antes que me levasse do motel” Bella disse “O que eu não responder agora, farei na presença do meu...”

“Não precisa!” Heidi disse antes que Bella completasse a frase “Se você pedir a palavra com a, nós seremos obrigados a interromper o interrogatório e esperar que alguém do fórum envie um até nós. Dado o horário, até nós conseguirmos fazer o requerimento e eles enviarem um profissional, você passará a noite e provavelmente o dia inteiro numa cela. Mesmo se você já tenha um profissional do direito à disposição, pode levar algum tempo até o processo começar”.

“Tudo bem” Bella concordou “Vou responder tudo o que eu puder”.

“Quando e onde encontrou o espaçador?” Edward perguntou “Quero dizer, assumindo que você realmente o tenha achado e não roubado.

“Anteontem mesmo” ela mentiu. “Não sei se vai querer que isso esteja no meu depoimento, mas posso dizer exatamente onde ele estava” Bella continuou e sorriu maliciosa para Edward, que arregalou os olhos, de repente tenso com as insinuações dela. Ele sabia exatamente onde ela estivera dois dias antes; ela poderia alegar que encontrara o espaçador na casa dele, já que ele mesmo levara a caixa com os artesanatos para o hotel alguns dias antes.

“Sua...” Edward não conseguiu completar a frase; Bella fechara os olhos com força; que ele a magoasse, ela deixaria, havia quebrado a confiança dele, então ela merecia que ele não medisse as maneiras quando se dirigisse a ela “Merda!” ele exclamou.

“Edward!” Heidi chamou-o em tom sério “Espero não ter que falar novamente”.

Bella olhou-o nos olhos, ela não tinha o menor direito, mas esperava que ele a entendesse. Ele desviou rapidamente a imensidão verde para o bloco de notas.

“Conhece Aro Volturi?” perguntou ele e Bella balançou a cabeça negativamente, nunca ouvira falar dele, por que Edward traria outra pessoa à tona para a conversa? E Volturi não era o sobrenome do tenente? “Talvez o conheça como John Turner...” ele continuou, observando atentamente as reações de Bella, que tentou não demonstrar mais nenhum desconforto. Sim, é claro que ela conhecia, John entregara a família dela para a polícia, alguns meses antes. Pelo que ela sabia, ele não dera detalhes suficientes para que eles fossem identificados, mas fornecera bastantes informações sobre o modus operandi deles, que por si só já facilitaria a busca da polícia nos casos de roubo.

Oh, não! Ela fora descoberta! Bella negou o mais rápido que pôde.

“Tem certeza, garota?” perguntou Edward, com desdém. Ser chamada de garota em tal tom de voz, a cada três minutos de conversa começava a tirar Bella do sério... Mas ela poderia reclamar, quando ela mesma não queria – e nem poderia! – revelar a própria identidade?

“Sim” Bella afirmou, não se dando o trabalho de olhá-lo nos olhos, sabia que não conseguiria mentir se o encarasse novamente; o coração pesava no peito, a dor de perceber que todas as escolhas erradas a colocaram naquela situação, que ela poderia estar com ele de verdade se não tivesse ido até o final com a missão.

“Posso não saber quem você é, mas você bate com a descrição dada por Aro, um informante do Iowa que desapareceu do mapa há alguns meses” disse Edward, vasculhando alguns papéis sobre a mesa e praticamente esfregou um retrato falado no rosto de Bella; era realmente muito parecido com ela. Fodida, não havia outra palavra para descrever o estado dela.

“Não só uma descrição sua, mas de sua família também” continuou ele, e colocou mais alguns retratos sobre a mesa: havia um de Charlie, um de Jéssica ou Lauren – como gêmeas idênticas poderia ser qualquer uma das duas – e um de Jasper; todos extremamente parecidos “Vocês fugiram rápido demais para que a polícia chegasse até vocês em Davenport, mas era só questão de tempo até alguém conseguir pegá-los. Diga-me quem são, onde estão e sua pena será reduzida. Poderá nem ser condenada à prisão. Mas diga. A. Verdade!” Edward sibilou as últimas palavras.

“Edward!” Heidi o chamou “Sabe que não pode prometer esse tipo de coisa!” ela o repreendeu, ele mal olhou para ela, concentrado nas feições de Bella.

“Espera, se vocês tinham os retratos o tempo todo por que não os espalharam pelo país? Essas pessoas deveriam estar na lista de mais procurados da polícia federal, não?” perguntou Bella, tentando não se colocar na própria história, mas era o que fazia sentido. Se a polícia tinha meio de capturá-los a partir da identificação, por que não divulgaram os retratos?

“Não se preocupe quanto a isso, Bluebell. Tenho um convidado especial que quer falar com você” Edward esclareceu “Mande-o entrar, Heidi”.

Bella ouviu a mulher suspirar e a porta ser aberta e fechada. Edward acompanhou os movimentos com os olhos, para logo voltar a encará-la tão intensamente quanto nas outras vezes em que estiveram juntos, mas eles brilhavam em raiva e descontentamento e não mais com paixão. Bella rapidamente desviou o olhar para a mesa abarrotada de papeis.

“Sabe, garota” continuou ele e dessa vez Bella revirou os olhos “De qualquer forma esses retratos não existiam até três semanas atrás” disse Edward, dando de ombros. Três semanas era quase o tempo que eles se conheciam! Isso significava que Edward já desconfiava dela quando ela entrara na loja de Emmett pela primeira vez?! “Sabia que tinha muitas chances de ser você” ele apontou para a primeira foto “Só queria ter certeza, você é o meu primeiro caso como Oficial Sênior...” não só o tom, mas as palavras também tinham uma conotação muito dura.

“Puta merda, muito obrigada, Oficial” era o momento de Bella ser irônica.

Então ela não se encontrava numa situação muito diferente das anteriores – a não ser pela delegacia – Bella fora sim usada por Edward, assim como fora usada por diversos outros homens, a mais ainda, estava sendo investigada; ela se sentia estúpida por achar que ele seria diferente, mas ela se sentia diferente com ele. Para Bella, havia sido mais e estava decepcionada porque obviamente não era correspondida. Mais do que decepcionada ou brava, ela estava arrasada.

A porta abriu-se antes que eles pudessem dizer outra coisa e Bella prendeu a respiração quando o homem alto e de cabelos negros adentrou na sala: era John, Aro, ou qualquer que fosse o nome dele. Ele estava mais magro, tinha os cabelos bem mais curtos do que na última vez que Bella o vira e usava óculos escuros.

“Aro, é ótimo vê-lo novamente!” Edward disse com um sorriso no rosto. John/Aro parecia não tê-la reconhecido e ela preferia ficar quieta a entregar a si mesma.

“Bem, gostaria de poder dizer o mesmo” John/Aro devolveu com uma risada, gesticulando para o próprio rosto e então Bella entendeu: ele estava cego! Heidi o guiou para a cadeira em que ela estava anteriormente sentada e ficou de pé, ao lado dele “E então, menino Edward, você a pegou?!” perguntou com empolgação na voz.

“Ela está aqui, Aro, sentada na minha frente!” Edward afirmou, olhando diretamente para Bella, que quase soltou uma risada. A única pessoa que poderia reconhecer ela ou a família estava cega! Aliviada, ela deu um sorriso de canto para Edward, que a entendeu, como se lesse os seus pensamentos e logo uma carranca se formou no rosto dele.

“Faça-a falar, Edward, posso tentar reconhecê-la pela voz” o outro homem disse e Bella ficou ainda mais aliviada por não ter proferido alguma palavra desde que ele entrara ali e preocupada com a nova possibilidade de reconhecimento.

“Ela tem o gênio difícil. Não consegui descobrir nem o nome dela. Talvez você mesmo a faça falar, conte a ela o que lhe aconteceu” disse Edward sério.

“Eles são assim mesmo, difíceis de arrancar a verdade. Passei meses com eles, mas não descobri qual das identidades era a verdadeira, mas você deve ter a lista com as que consegui me lembrar” Aro disse e Edward murmurou uma afirmativa “Então, garota” o tom dele foi um pouco mais brando do que Edward, mas mesmo assim conseguiu irritar Bella, que revirou os olhos, virando-se na cadeira para poder observá-lo melhor.

Aro retirou os óculos escuros e Bella suspirou quando enxergou melhor o rosto conhecido. Ela gostava dele, sempre fora bastante prestativo e bondoso com a sua família, mas agora ela entendia o porque.

“Depois que seu pai descobriu que eu estava tentando conseguir provas para incriminar vocês, ele tentou arrumar uma emboscada para mim. Disse que havia uma mercadoria para ser entregue a um cliente e que eu deveria levá-la; eu já deveria ter previsto. Nunca dá pra confiar em gente do seu tipo” Aro continuou a falar e Bella trincou os dentes. Ela precisava se conter e manter-se calada se quisesse sair daquela delegacia o mais rápido possível. Era óbvio que ele a estava provocando para fazê-la falar.

“Não sei o que ele fez com o carro, porque nem a perícia descobriu ainda, mas sei que sofri um acidente bem grave; bati a cabeça, perdi a visão e algumas memórias, por isso não consigo me lembrar de tudo. O acidente foi perto do estado do Kansas, então fui trazido para um dos hospitais daqui de Lawrence. No começo não sabia nem quem eu mesmo era, mas conforme fui recobrando algumas memórias, meu irmão e os policiais daqui me identificaram como infiltrado. O menino Edward me ajudou muito nessa parte, mas a minha melhora não foi o suficiente para que eu me lembrasse de informações importantes, então ele tem sido o meu braço direito”.

Bella quase se comoveu com a história contada, mas ela não queria estar no meio daquela confusão; o pai dela era o único culpado por aquilo tudo e Aro/John com certeza sabia dos riscos quando resolveu se infiltrar na família dela. Não que ela mesma concordasse com o modo como viviam, mas não poderia carregar toda a responsabilidade.

Houve um curto período de silêncio, até que Aro voltou a falar “Então, vai continuar calada?”.

Bella manteve-se firme, e endireitou-se na cadeira, e olhou de soslaio para Edward, a sobrancelha arqueada, como se num desafio. Ele rapidamente desviou o olhar para Heidi, e em seguida para o próprio colo.

“Por que não fazemos desta forma, Edward tenta arrancar mais algumas respostas dela e se não conseguir nós o trazemos de volta para cá?” Heidi sugeriu e Bella estava cada vez mais agradecida com a presença dela. Surpreendendo-a, Edward aceitou a sugestão e rapidamente, Heidi saiu da sala, acompanhando Aro.

“Diga, onde está a sua família” Edward insistiu, a voz surpreendentemente mais suave do que antes. Bella cometeu o erro de olhá-lo, intrigada pela mudança no tom de voz e viu pena.

Antes que sucumbisse às próprias emoções, ela decidiu dar voz à Bluebell esbravejou entredentes: “Eu não posso dizer”. Por mais que ela quisesse delatá-los, deixá-los à própria sorte, com a exceção de Alice e Jasper, Bella jamais agiria como seu pai. Ela provaria que era melhor do que eles; os salvaria de serem reconhecidos, mesmo quando ela mesma fora traída e quase vendida...

Pensando bem, se não fosse pelo fato do rosto de Jasper também estar num dos retratos falados, haveria uma chance de que ela os entregasse. Mas não poderia trair uma das únicas pessoas que verdadeiramente se importava com ela.

Bluebell...” Edward murmurou, ainda em tom brando.

“Tudo bem... Você quer uma confissão? Talvez eu tenha pegado o espaçador, mas eu juro que iria devolvê-lo...” Bella o interrompeu.

“Porque era o errado” Edward a interrompeu de volta e Bella arregalou os olhos “Aro já explicou que estávamos trabalhando juntos. Quando você chegou, à mesma época que ele começou a se lembrar da fisionomia da sua família e a descrevê-los, eu sabia que tinha que me aproximar de você. Quando saímos pela primeira vez e você só deu respostas evasivas, o meu faro policial só se aguçou, sempre que eu estava perto de você era como se algo dentro de mim se acendesse” ele baixou um pouco o tom de voz e em seguida pigarreou.

“Depois, no dia em que levamos as coisas ao hotel e você atendeu aquela ligação... você precisava ver como estava alterada, mal prestou atenção ao seu redor. Você disse algo sobre conseguir um espaçador, deu o sobrenome Black, que já está sendo apurado, e então eu só precisava testá-la. Imaginei que você tentaria roubar o mais caro, que é o que pertenceu aos antepassados de Emmett, então eu simplesmente troquei-o por outro que não seria levado à Exposição...”

“Quando, naquela noite, eu te dei aquela desculpa, sobre o espaçador perdido, vi em seus olhos que eu estava certo, mas ainda não tinha provas, até que tive acesso às câmeras da rua do hotel, logo depois que saímos da Exposição de hoje” ele pegou o próprio celular e digitou algo nele; em seguida, mostrou-o para Bella. Era um vídeo dela saindo de seu carro e andando até o carro de Edward, de que tirou um embrulho antes de voltar ao Chevy.

Ela mal podia acreditar, cometera um erro seguido do outro! Como poderia escapar com a prova que Edward tinha em mãos? “Acho que isso aqui prova que você pegou o espaçador antes mesmo de estar em minha casa, não? Acreditou mesmo que eu serviria de álibi?” ironizou ele, colocando o celular sobre a mesa, o vídeo sendo repassado como um looping.

“Edward” Bella murmurou, tentando pensar rápido numa saída “Eu juro que iria devolvê-lo!” pelo menos, enquanto ela não assumisse completamente o roubo, não poderia ser presa.

“Iria mesmo? Porque parecia que você estava fugindo quando cheguei ao motel” disse Edward, o tom de voz parecia magoado.

“Acredite em mim, eu ir embora nada tem a ver com o espaçador. E você o viu na mesa do meu quarto, eu o deixaria lá; a minha única bolsa restante no quarto era a que eu guardava os meus itens de higiene...” ela tentou explicar, mas ele balançou a cabeça negativamente, não acreditava nela.

“Edward!” Heidi exclamou e após dar duas batidas na porta, abriu-a, colocando apenas a cabeça para dentro; Bella calou-se imediatamente, alerta com a possibilidade de Aro/John estar por perto “Já conseguiu?”.

“Sim” ele afirmou e em seguida suspirou. Pegou o celular e após alguns segundos Bella ouviu duas vozes conversando:

“Diga, onde está a sua família” a voz insistente de Edward soou pelo aparelho.

“Eu não posso dizer” a voz dela respondeu.

“Bluebell...”.

“Tudo bem... Você quer uma confissão? Talvez eu tenha pegado o espaçador, mas eu juro que iria devolvê-lo...”.

“Depois eu mostrei o vídeo a ela, então o gravador parou” Edward explicou, sem tirar os olhos de Heidi.

“Edward...” Bella murmurou. Seria o fim dela, o que quer que ele fizesse com aquela gravação. Ele a olhou novamente, como se dissesse que sentia muito e meneou com a cabeça para Heidi, que entrou na sala, pegou o celular dele e saiu. Era óbvio que Aro/John poderia ‘finalmente’ fazer o reconhecimento por voz.

Bella fora traída novamente, pela família, por Edward e até mesmo por Heidi, que parecera até amigável no começo.

“Me deixe fazer outra ligação” ela pediu, olhando profundamente nos olhos esverdeados. Edward suspirou novamente e, quebrando o protocolo, assentiu.

Bella teclou os números decorados há algumas semanas, enquanto estudava o caso e notou o olhar surpreso de Edward quando ele reconheceu a sequência; a ligação foi encaminhada para a caixa postal após o segundo toque: “Lojas McCarthy, deixe o seu recado. Retornaremos o mais rápido possível” o que fazia muito sentido, Bella não esperava que Emmett ou Rosalie estivesse na loja aquela hora; de qualquer forma, ela preferia não ter que se desculpar ao vivo. Não estava acostumada a isso.

“Emmett, Rosalie e Thony, aqui é a Bluebell. Eu gostaria de primeiramente agradecê-los por todo o carinho que me deram nessas últimas semanas. Eu cometi erros pra caralho ao longo da minha vida, dentre eles o fato de não conseguir segurar a minha boca suja” ela deu uma risada “E também o fato de não ter sido totalmente honesta com vocês sobre quem eu sou. Mas assim como vocês tem a família de vocês para cuidar, eu também tenho a minha; pode parecer errado o que fazemos, mas eles fazem parte de quem eu sou. Acabei pegando sem querer um dos itens da Exposição, no dia em que os levamos ao hotel. Pedi a Edward que lhes devolvesse. Estou indo embora, talvez nunca mais os veja; peço que não tentem me procurar” Bella suspirou antes de continuar e encarou Edward nos olhos antes de dizer a última frase “Eu aprendi a amar vocês, todos vocês, apesar de algumas mentiras, os sentimentos foram reais. Obrigada”.

Bella finalizou a ligação e ficou encarando o telefone. Seriam questões de segundos até que tudo acabasse. Ela seria presa e provavelmente a família dela também, mas talvez Alice e Jasper conseguissem se salvar. Quando ergueu o olhar, viu um sorriso de canto nos lábios de Edward, ele estava distraído, olhando, também para o telefone.

“Oficial Cullen” o mesmo homem alto e loiro que os recebera na delegacia abriu a porta “Venha aqui, por favor!”.

Edward franziu o cenho, mas rapidamente obedeceu “Fique aqui!” ele disse a Bella antes de sair da sala.

Quinta-feira, 30 de novembro de 2017 – 04:30h, Delegacia de Roubos de Lawrence, 6°C – céu limpo.

Bella bufou, esperava a qualquer momento que Edward, ou qualquer outro policial viesse prendê-la, mas já estava há bastante tempo sentada naquela sala sem qualquer tipo de notícias. Ela estava prestes a levantar da cadeira quando um Edward muito bravo adentrou o local.

“Está liberada!” disse ele, mal olhando-a.

“O que?! Mas que porra...!” exclamou ela, surpresa, levantando-se e ficando de frente a ele. Por tudo que era mais sagrado, não que Bella estivesse infeliz com a informação, mas como, com tantas provas ela estava sendo solta?

Isabella Swan? É esse o seu verdadeiro nome?” perguntou ele, finalmente encarando-a. Bella apenas assentiu e ele balançou a cabeça negativamente, como se descrente das próprias palavras “Não há denúncia de roubo contra você... Está livre para ir” ele parecia mais furioso... Mas não com ela “Caius quer falar com você antes” Edward disse, gesticulando para a porta ainda aberta.

Do lado de fora, ela avistou o tal Volturi loiro ao lado de Aro. Os dois entraram na sala e praticamente enxotaram Edward de lá.

“Sente-se, Srta. Swan!” Caius indicou. Bella negou-se, ela não iria obedecê-lo, além de que já estava cansada de ficar sentada “Tudo bem” ele deu de ombros, sentando-se na cadeira que Edward ocupara horas antes.

“Como descobriram? John... Aro ou qualquer que seja o seu nome disse que não se lembrava de meu nome verdadeiro” Bella perguntou, curiosa. Ela rezava para que Alice e Jasper estivessem a salvo, pelo menos os dois.

“Quando ouvi sua doce voz, Isabella” Aro começou a explicar, ele estava sentado na mesma cadeira de antes, ao lado da porta “Soube que você era quem eu procurava... Ou pelo menos uma das integrantes daquela família. Não foi muito difícil vasculhar o seu carro, as suas coisas... Encontramos, mostre a ela Caius”.

Bella virou-se para o loiro que tinha em mãos um broche com o sigilo de um dos cassinos mais caros de Las Vegas: “Sabe quantas pessoas podem pagar por isso?” Caius ironizou “Parece que uma de suas irmãs causou uma pequena confusão em Nevada, não foi? Não foi difícil rastrear a estada de vocês por lá. Talvez você conheça Chelsea e Royce King, os policiais que limparam a bagunça de vocês... Nós conseguimos o contato deles e a localização exata de sua família”.

Bella xingou, lembrando-se de como Jéssica havia sido imprudente quando tentara, sob a luz do dia, roubar um anel de brilhantes de uma mulher. Os policiais chamados para resolver a situação, Chelsea e Royce, aceitaram o suborno do pai de Bella e desde então eram ‘bancados’ pela família dela para manterem o silêncio... Parece que não o fizeram naquela ocasião. Claro que eles não eram os únicos; outros policiais e até pessoas comuns que, porventura descobriam sobre os Swan eram subornados da mesma forma, seus silêncios eram comprados.

Estava muito claro o porquê de Bella estar sendo liberada.

“Você achava que eu queria vingança ou justiça, doce Bella?” Aro/John perguntou, o tom carregado de ironia “Eu não estava em busca de provas contra o seu pai para colocá-lo na prisão, exatamente. Não! Eu queria o mesmo que Chelsea e Royce” disse sorrindo maliciosamente.

“Sabe quanto um policial ganha? Um salário de merda, eu e meu irmão merecemos isso!” Caius afirmou. Parecia até uma brincadeira se o tom de voz dos dois não fosse tão sério. Bella encarava-os, absorta “Não se preocupe, já falamos com o seu querido pai. Uma parte do dinheiro já foi depositada em nossas contas, por isso demoramos um pouco, era uma quantia meio grande, sabe” continuou, um grande sorriso estampado no rosto “Por isso te liberamos” ele gesticulou para a porta “Agradecemos a sua visita” de uma piscadela.

Bella deixou escapar um suspiro indignado, mas achou melhor não discutir; ela e sua família estavam livres... Não que ela estivesse muito preocupada com eles, à exceção, novamente, de Alice e Jasper, mas ela não queria ser a responsável por arruinar com os negócios.

“Espero nunca mais vê-los” ela murmurou antes de pegar o broche das mãos de Caius e sair da sala rapidamente.

Heidi aproximou-se dela assim que a viu, entregando-a um pequeno pacote: “Aqui estão os seus itens. O pessoal vasculhou tudo, sabe, o seu carro, o quarto do motel. Faz parte da investigação, porque Edward te pegou em flagrante” disse ela “Por falar nele... Ele está bem frustrado com a situação toda, mas se você é inocente, ele tem que aceitar, né. Não será o primeiro ou último policial a prender o suspeito errado” ela deu de ombros. Então ninguém mais sabia da verdade? Claro! Aro e Caius não quereriam dividir qualquer que fosse a quantia que recebessem.

“Ah, claro...” Bella murmurou “Obrigada”.

“Ele está lá fora. Ah, e eu acho que ele gosta de você de verdade. Aquilo lá dentro não era o Edward que eu conheço; ele estava muito mais chateado com o fato de ter que te interrogar do que pelo suposto crime em si” Heidi acrescentou.

Ah, se ela soubesse a verdade. Se ela soubesse que Bella de fato era uma criminosa, provavelmente concordaria que Bella merecera ser tratada daquele jeito por Edward.

“Vou falar com ele” Bella afirmou e deu um pequeno sorriso para Heidi. Ela lhe lembrava um pouco Alice, parecia sempre enxergar o lado bom de tudo e todos. Heidi sorriu de volta e acenou com a cabeça antes de se afastar.

04:50h, 6°C – céu limpo.

“Oi” Bella murmurou para Edward, ele estava sentado no meio fio e estava cabisbaixo, encarando as mãos, o céu ainda escuro iluminado pelas Estrelas e pela Lua quase totalmente cheia, a brisa suave, mas fria, deixou-a arrepiada. Ela se sentou ao lado dele, que continuou imóvel “Me desculpe” disse ela, o tom de voz ainda baixo.

“Pelo que?” perguntou ele rispidamente, ainda encarando os próprios dedos “Por ser uma ladra e mentirosa?”.

“Eu sei que mereço isso” Bella afirmou, ignorando o bolo na garganta, a vontade de chorar se fez presente “Mas o que eu disse na ligação a Emmett era verdade. Tudo o que vivi com vocês até poderia ter sido sob o pretexto de conseguir o espaçador, mas conforme o tempo foi passando eu fui me apegando a vocês. São pessoas maravilhosas e eu queria... Poder ficar com vocês” a voz dela foi ficando cada vez mais embargada e Edward finalmente a encarou, o cenho franzido “Então, foda-se, pode me desprezar o quanto você quiser, mas eu sei que da minha parte foi real”.

Ela também poderia acusá-lo de mentir para ela, afinal, ele a usara para prosseguir com a investigação, ele sabia desde o início que ela era uma suspeita e mesmo assim também se envolvera com ela.

“Merda, Blu... Isabella!” ele esbravejou “Isso nem importa mais... O meu trabalho, quer dizer...” ele estava visivelmente abalado com o que Aro e Caius fizeram “Eu deveria proteger a cidade de pessoas como você! Faz parte do meu juramento! E olha só o que aqueles malditos, corruptos...!” Edward mal conseguia completar as frases, visivelmente irritado, mas Bella percebeu que a raiva não era mais dirigida somente a ela. Edward estava mais puto da vida com os Volturi.

“Eu sinto muito” Bella disse novamente “O mundo não é um lugar bonito, Edward. Você sabe disso tanto quanto eu, mas mesmo assim, eu sinto muito que certas coisas sejam dessa maneira”.

Por que vocês fazem isso?” perguntou ele, dessa vez mais contido, parecendo imerso em seus pensamentos e voltou a fitar as próprias mãos.

“Não está gravando ‘minhas confissões’ dessa vez, está?” ela devolveu com uma pergunta, sabendo da resposta negativa. Edward revirou os olhos antes de responder.

“Eles apagaram tudo. A gravação com a sua voz e interferiram até mesmo no sistema de segurança da cidade” ele bufou.

“Aro usou você, Edward, durante esse tempo todo!” Bella disse o óbvio e percebeu que isso o chateava ainda mais do que o fato de ela tê-lo usado, afinal de contas, ele também a usara “Eu não sei porque fazemos isso, pra ser bem sincera. Quando eu nasci, isso já estava na minha família; eu fui treinada para seguir regras e obedecer sempre que mandavam” explicou ela.

“E nunca questionou isso? Nunca achou que isso era errado?” perguntou Edward.

“Eu sei que isso é errado. Claro que, até uma certa idade eu sequer tinha moral suficiente para entender, mas eu já te disse, faz parte de quem eu sou. Não posso abandonar o luxo e o conforto, eu gosto” respondeu Bella, dando de ombros.

“Não pode abandonar o luxo e nem a sua família...” ele começou a falar.

“Eu também já lhe disse, é complicado” Bella o interrompeu.

“Imagino que vá voltar para eles, então” ele murmurou, parecendo decepcionado.

Não vou voltar para lá” Bella afirmou, tinha tanta certeza na voz que surpreendeu até a si mesma “Não quero mais viver com eles” não depois do que eles haviam feito a ela. Duvidava que eles tivessem mudado de ideia em relação ao Black e esperava poder reencontrar-se com Alice e Jasper, mas não se incomodaria se nunca mais visse o restante da sua família.

Bella precisaria se reorganizar, ficaria muito satisfeita se pudesse continuar com o luxo e as riquezas, mas se reduzir os gastos era o necessário para ficar longe daqueles que a traíram, assim o faria. Mas ela estava enganada, não precisava deixar o conforto e luxo para trás; ela era a responsável por pelo menos metade da arrecadação do patrimônio da família, dada a dedicação e talentos dela. Bella tinha direitos a essa parte, não?

Talvez usar sua parte para construir um novo negócio, com suas próprias regras; já conseguia imaginar, poderia ser como um Robin Hood, roubar artefatos de pessoas ricas, e não mais indiscriminadamente, de pessoas como Emmett, que dependiam da venda desses objetos para o próprio sustento; poderia usar o dinheiro da venda não só para ela mesma, poderia ajudar quem realmente precisasse. E ela não precisaria roubar o tempo inteiro, essa não era a única habilidade dela, era também uma excelente investigadora. Bella sorriu.

“O que foi?” Edward perguntou, bastante curioso com a expressão sonhadora dela.

“Eu já sei!” disse ela animadamente “Não preciso voltar para casa”. Bella só precisava aguardar o dinheiro que receberia com a ajuda de Jasper para ela poder dar o start no seu próprio negócio.

“Jasper, já deve saber que estou livre. Preciso de dinheiro, deposite na conta da minha última persona. Até algum dia. Amo você e Alice. Não me procurem, eu alcanço vocês” Bella digitou rapidamente e enviou a mensagem ao irmão. Ele com certeza a entenderia.

“Esperava o seu contato. Daqui a algumas horas o dinheiro cairá na conta. Amamos você, esperamos vê-la o mais breve possível” Jasper a respondeu na mesma hora e Bella sorriu. A ligação entre os dois era muito especial!

“O que, de repente não liga mais para o luxo?” ele perguntou, a confusão estampada no rosto.

Meu bem, eu já disse, o luxo faz parte de mim” ela respondeu “Mas eu os fiz praticamente dobrar a fortuna, vou conseguir essa grana e criar uma coisa só minha” ela encarou os olhos verdes.

Ah, se ele pudesse acompanhá-la! Uma dúvida surgiu na cabeça dela, será que ele continuaria na polícia depois daquela decepção? Ela bem que poderia tentar convencê-lo a ir com ela... Mas seria muito egoísmo, visto que Emmett, Rose e Thony continuariam na cidade; eram como a família dele. Bella espantou os pensamentos e suspirou.

“Ah... Isabella?” Edward a chamou depois de alguns instantes de silêncio.

“Sim?”.

“Me perdoe, também” disse ele fitando os olhos dela e ela assentiu, perdendo-se na imensidão esverdeada, tão intensa e sincera “Se eu soubesse que essa merda toda acabaria desse jeito nem teria te investigado. E sei que não fui nada respeitoso com você na delegacia, mas eu precisava continuar bancando o magoado para tentar arrancar a verdade de você” ele suspirou “Entendo quando disse que foi real para você, para mim também foi. Não dá pra fingir o tempo todo”.

“Tudo valeu a pena, Edward” Bella disse “Se você não tivesse me investigado, não teríamos nos conhecido melhor” ela completou.

Bella imaginou como as coisas estariam se ela tivesse conseguido seduzir Emmett; ela provavelmente estaria nos braços de Black agora, se o espaçador correto caísse em suas mãos dias antes de Alice ter descoberto a verdade. Ela imaginou como seria se não tivesse conhecido Edward; lhe doía tanto que ela não queria pensar na possibilidade. Chegava a ser engraçado pensar que Jacob era a razão de ela ter conhecido Edward e experimentado todos aqueles sentimentos bons; de certa forma, Bella era grata a ele.

“Certamente não” ele pareceu ponderar “Não teríamos nos aproximado, você tem razão”.

“Exatamente” ela concordou “E claro que perdoo você, é o seu trabalho. Faz parte de você”.

Edward pareceu entender o que Bella queria dizer quando afirmava que o luxo, o conforto e os roubos faziam parte dela. Ela não conseguia evitá-los, por mais que não concordasse totalmente com o modo que eles eram obtidos. Edward poderia não gostar da parte mais dura dos interrogatórios, mas com certeza deveria ficar aliviado e com a sensação de dever cumprido quando conseguia confissões.

“Não se preocupe, foi melhor assim” admitiu ela “E é Bella. Me chame de Bella” explicou quando as feições dele se tornaram confusas.

“Combina com você” disse ele, abrindo o sorriso pelo qual Bella era apaixonada; ela sentiu o coração acelerar e desviou o olhar; pelo menos ele estava mais relaxado. Era melhor ir embora antes que desistisse.

“Onde está meu carro?” perguntou ela.

“Bem ali” Edward respondeu, gesticulando para a lateral da delegacia e Bella ficou aliviada por vê-lo, pelo menos aparentemente, intacto. Ela levantou-se e andou até seu Chevy, sem verificar se Edward a seguia e abriu o porta-malas, vasculhando a mala – bastante bagunçada pela pressa com que fora arrumada. Encontrou os dois embrulhos que procurava e fechou tudo. Edward estava a alguns passos de distância e a olhava com curiosidade.

“Pode entregar para Rose e Emmett? São para os meninos” Bella pediu a Edward. Ela havia comprado, alguns dias antes, presentes para as crianças; um conjunto e boneco do Homem-Aranha para Thony, que tanto amava o super herói, e um macacão para o novo bebê.

“Claro” ele sorriu, pegando os pacotes e em seguida franziu o cenho e inclinou a cabeça para o lado como se estivesse pensando nada para mim?

Bella riu, balançando a cabeça negativamente “Eu te dei mais de mim mesma do que já presenteei alguém com qualquer outra coisa. Foi a coisa mais cara e mais valiosa da minha vida. Me custou mais do que qualquer diamante, qualquer joia ou roupa de marca” ela explicou e colocou a mão no peito. Ele sorriu para ela, entendendo o que ela quisera dizer.

“Nunca mais vou vê-la?” perguntou ele.

“Bem, ainda tenho que fechar a conta do motel... Se quiser me acompanhar” ela sugeriu e ele concordou, o sorriso tornou-se ainda maior.


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Notas finais do capítulo

Para o caso de os links não funcionarem:

Look 7 da Bella: https://urstyle.fashion/styles/2807355

Look da Bella e do Edward na Delegacia: https://urstyle.fashion/styles/2807359

Sala do Caius: https://drive.google.com/file/d/1Y45wdIEjiQpBUU_fK-w_ZQHTHIBg0Rlp/view



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