14:00h, Loja de Antiguidades McCarthy, 14°C – neblina.

“Oi! Ah, você a trouxe mesmo, Edward! Olá, Blue, é ótimo vê-la novamente!” Rosalie cumprimentou Bella animadamente, assim que ela passou porta adentro da loja, abraçou-a e depois a Edward.

“Rose!” Edward cumprimentou carinhosamente, abraçando-a de lado, do melhor jeito que a barriga enorme dela permitia.

“Olá, Rosalie” Bella cumprimentou-a, um pouco incerta sobre o próprio tom; ela se sentia um pouco constrangida por ter tentado seduzir o marido dela apenas alguns dias antes.

“É muito bom ter uma companhia feminina pra variar de vez em quando!” Rosalie brincou, acariciando a barriga delicadamente “Ainda não será dessa vez que teremos uma menininha” explicou.

“Quem sabe na próxima gravidez!” a voz de Emmett ressonou pelo local e ele surgiu dos fundos da loja com o pequeno Anthony no colo. Ele olhou cautelosamente para Bella, como se esperasse que ela se atirasse nos braços dele; Bella aproximou-se rapidamente de Edward e sorriu para o grandalhão a alguns passos de distância.

“Olá, Emmett!” ela o cumprimentou e depois voltou-se para o bebê, bastante fofo e que também a olhava com curiosidade “Olá, Anthony!”.

“Bluebell” Emmett cumprimentou, um sorriso zombeteiro brincando nos lábios dele “Diga ‘oi’ à namorada do tio Edward, Thony!” ele disse ao filho, cutucando-o levemente na barriga.

“Emmett McCarthy! Puta que pariu!” Edward e Rosalie disseram em uníssono, ambos em tom repreendedor, a última parte proferida apenas por Edward.

“Edward!” Rosalie também o repreendeu, ao que ele resmungou baixinho, mais um palavrão e só Bella ouviu por estar mais próxima a ele.

“Nós não somos namorados” Bella esclareceu.

“Hm... Tudo bem, diga ‘oi’ à não namorada do tio Edward, Thony!” Emmett continuou provocando e Edward apenas bufou.

“Oi, Blebel” o pequeno Anthony murmurou, acenando com a mão. Bella riu, achou fofa a maneira como o garotinho se esforçara para dizer o nome dela – mesmo que não fosse o verdadeiro, e acenou de volta.

“Bem, vamos ao trabalho, é bom termos mais ajuda” disse Emmett, colocando Anthony no chão; o menino saiu correndo em direção a uma caixa de brinquedos no canto da loja “E aí, Blue, vai pôr a mão na massa conosco ou vai ‘coordenar’ com a Rosalie?” ele perguntou; havia uma pontada de insegurança na voz dele, como se ele ainda não confiasse o suficiente em Bella para ficar perto dela.

“Posso fazer um pouco dos dois, ajudo no que precisarem” Bella respondeu, tentando ser o mais amigável possível; ela precisava que Emmett a quisesse por perto, mesmo que sob condições diferentes daquelas planejadas anteriormente por ela.

“Certo...” ele a olhou, ainda um pouco desconfiado “Eu e Edward podemos começar empacotando as coisas que a Rose já colocou na lista. Você pode ajudá-la a conferir os itens e acrescentar mais objetos à lista conforme nós formos acabando”.

“Claro” Bella concordou e acompanhou Rose, que estava sentada numa das duas cadeiras postas na frente do balcão; ela parecia cansada e Bella sentiu-se bem por estar ali para auxiliá-la.

“Sente-se” Rosalie disse, mostrando um caderno para Bella, que se acomodou ao lado da loira; no caderno havia algumas categorias e os respectivos artefatos de cada uma, que seriam levados à Exposição: escrita, fotografia, comunicação, brinquedos, equipamentos/peças, utilitários, arte/decoração e artesanato/cultural.

Bella percorreu os olhos por cada categoria até que, em encontrou espaçadores dentre os itens classificados como artesanato/cultural. Ela reprimiu um sorriso e precisou se concentrar algumas vezes para não sucumbir ao impulso de sair procurando o que ela precisava pelo local.

“São muitos itens” Bella comentou, tentando parecer interessada na medida certa.

“São sim” Rosalie concordou “Mas ainda bem que agora tenho reforço na checagem. Dois anos atrás o Emm acabou esquecendo de empacotar um prato de cerâmica; eu não percebi e ele quase pariu quando chegou no hotel e o prato não estava em lugar algum lá, mas pela lista deveria estar; e eu quem estava grávida!” ela contou. Bella riu, imaginando a cena “É bem engraçado agora, mas na época foi o maior rebuliço porque estavam acontecendo alguns roubos na cidade”.

“Lawrence realmente não é a cidade mais segura para se viver” disse Bella, pensando, a partir das novas informações, se a melhor forma de pegar o espaçador seria tirando-o da lista de artefatos a serem expostos, – assim evitaria levantar suspeitas, de que Bella era a autora do crime, e possíveis surtos de Emmett – mas ela não poderia simplesmente riscar o espaçador da lista como se nada tivesse acontecido; eles notariam e ela seria pega, justamente porque só os quatro – e uma miniatura de gente – estavam ali no momento.

“Você está certa, mas ainda assim é uma boa cidade” Rose falou, acariciando a barriga redonda.

“Para quando é?” Bella perguntou, referindo-se à data de nascimento do bebê.

“Não deve passar do Natal” Rosalie respondeu, sorrindo “E você, quer ter filhos?”.

“Nunca parei para pensar sobre isso” respondeu Bella, sincera. Ela não achava que a vida que levava seria adequada para uma criança; ela teve de tudo na infância, menos estabilidade ou amigos... Era tudo o que ela queria. Ah, se ela pudesse ter isso sem perder a fortuna que conseguia a cada missão, ela certamente deixaria o seu ‘trabalho’.

“Bem... Algumas mulheres querem e outras não, mas cada uma tem o seu momento de pensar a respeito” Rose disse tranquilamente e Bella agradeceu mentalmente por ela não ser uma daquelas mulheres que querem impor a maternidade a outras “Venha, quero te mostrar alguns itens. Não consigo ficar sentada por muito tempo mesmo” ela completou, levantando-se com cuidado.

“Tem certeza?” Bella perguntou, mais preocupada do que achava que realmente ficaria. Mas Rosalie era uma boa pessoa e estava grávida e Bella não conseguia fingir totalmente a preocupação que sentia, afinal, a mulher parecia que explodiria a qualquer momento!

“Claro, venha, são os meus artefatos preferidos!” afirmou Rose, caminhando – lentamente – até uma das paredes da loja, mais distante de onde Emmett e Edward estavam. Bella aproximou-se e notou algumas figuras penduradas na dita parede: algumas fotografias, pinturas emolduradas... e numa prateleira logo abaixo, espaçadores! “Veja, algumas serão levadas para a seção de artes e outras de artesanato. Nós dividimos nessas categorias porque todos os objetos artesanais fazem parte da nossa própria cultura” ela explicou, e apontou para o espaçador, aquele que Bella procurava “Este aqui, por exemplo, está na família de Emmett há séculos. Obviamente não será exposto para venda; nem todos os itens apresentados estão à venda”.

“Não sabia que Emmett era da tribo dos Makah” Bella deixou escapar e xingou-se mentalmente quando Rosalie encarou-a em confusão.

“Não, Blue, Emmett é descendente dos Osage, nativos de Oklahoma e do Kansas” Rosalie esclareceu “Os Makah são praticamente do outro lado do país e os cocares deles são bem diferentes” ela riu “Por que achou que o espaçador pertencia a eles?”.

“Ah... Eu devo ter visto a foto na internet, pensei que o espaçador pertencia aos Makah” Bella tentou contornar a situação. Isso só confirmava as suspeitas dela: Jacob e Charlie mentiram para ela, isso era claro, pois não havia motivos para Rosalie enganá-la. A questão era por que o próprio pai mentira para ela. Bella sempre conferia a história dos objetos que era destinada a conseguir, mas ela estava tão confiante de que esta seria a sua última missão em tanto tempo e tão animada com o valor a receber, que mal prestou atenção! Ela precisava, urgentemente, saber a verdade. E ela sabia exatamente quem poderia ajudá-la.

“É, não dá pra acreditar em tudo que se vê pela internet mesmo”.

Quarta-feira, 22 de novembro de 2017 – 10:30h, Motel “Super 8 by Wyndham KU Lawrence”, -1°C – ensolarado.

“Finalmente, Alice! Achei que nunca mais me atenderia!” Bella exclamou quando a cunhada atendeu à vídeo-chamada; ela tentara ligar para Alice todos os dias desde que descobrira sobre a ‘linhagem’ do espaçador, mas ela nunca respondia.

“Bom dia pra você também, Bella!” Alice respondeu, irônica.

“Alice, pare de rodeios! Eu sei que da última vez que nos falamos você ia me contar alguma coisa quando meus irmãos nos interromperam e eu descobri que o idiota do Black não está falando a verdade. O espaçador que ele quer nem ao menos pertenceu aos Makah! Preciso da sua ajuda para descobrir as reais intenções dele, afinal, por que ele mentiria sobre a origem de um objeto?!” Bella desatou a falar, furiosa por não ter as informações necessárias. Ela esganaria o nojento do Black quando o visse novamente.

“Não era nada, Bella. Você sabe que sua família ainda não confia em mim para contar tudo o que eles planejam...” Alice começou, mas Bella a interrompeu.

“Não, não, não” a morena balançou a cabeça negativamente “Você sabe sim de alguma coisa. Você ia me contar! Pelo amor do sagrado, Alice! Não me deixe no escuro!” Bella praticamente implorou, odiando estar nessa posição. Ela sempre sabia de tudo, sentia-se impotente e idiota por estar nessa situação.

“Bella, eu ainda não sei de nada, mas eu juro que vou tentar te ajudar!” Alice prometeu, os olhos azuis fixos nos castanhos de Bella, que acreditou na cunhada “Vou tentar sondar o Jasper, mas não posso prometer que conseguirei informações. Assim que descobrir eu te aviso... Mas agora me conte do seu encontro!”.

“Alice, aquilo não foi um encontro, pelo amor do sagrado! Eu estava tentando conseguir informações, e sabe o que mais? Foi melhor ainda porque consegui me aproximar de Rosalie, a esposa de Emmett!” Bella explicou, lembrando-se de como Rose fora simpática e solícita com ela; seria mais fácil ter acesso ao espaçador do que ela pensava.

Elas haviam se aproximado bastante, já que passaram as últimas duas semanas conversando e coordenado Emmett e Edward – quando este não estava trabalhando – no empacotamento dos artefatos. Nesta tarde começariam os carregamentos dos objetos até o hotel; Bella os ajudaria com o carro dela e aproveitaria para surrupiar o espaçador; ela se sentia ansiosa pela primeira vez em muito tempo, como se aquela fosse a sua primeira missão. Ela não queria admitir que o motivo era ela simplesmente não mais querer participar dela. E não apenas pelas mentiras de Jacob; Bella realmente estava criando um vínculo com aqueles moradores de Lawrence.

“Sei... eu vi os arquivos dele, Bella. Ele é um homem e tanto!” Alice comentou, sorrindo maliciosa.

“É, Alice. Ele é gostoso pra caralho, mas a minha missão não é sobre ele!”.

“Ainda não” Alice continuou, e o sorriso se alargou “Logo, logo, você estará sobre ele! Aproveite, Bella. A vida é muito curta e a eternidade é longa demais para viver se culpando!”.

Bella bufou e revirou os olhos “Pode ficar tranquila, até porque eu passarei a eternidade no inferno mesmo” ela deu de ombros; a vida que levava com certeza não a levaria ao Paraíso.

“Credo, Bella!” Alice exasperou “Você é muito mais do que pensa!”.

“E você me dá créditos demais”.

“Queria que você se visse do jeito que eu vejo!”.

“Não começa com isso, Alice!” Bella pediu. Já estava cansada de ouvi-la falando sobre como Bella era diferente da família, por mais que exercesse o mesmo trabalho e tivesse tanta ambição por riquezas e brilhantes.

“Está bem” Alice rendeu-se, mesmo não concordando com a postura de Bella “O que vai fazer hoje?”.

“Tenho um almoço com os McCarthy” respondeu Bella.

“Só com os McCarthy?” Alice perguntou, deboche presente na voz, e arqueou uma sobrancelha. Bella apenas revirou os olhos novamente “Deixa que eu te ajudo a se vestir!”.

12:05h, Restaurante “The Mad Greek”, Lawrence, Kansas, 2°C – ensolarado.

“Blue!” Rosalie exclamou, animada quando Bella cruzou a porta do restaurante, e acenou para que ela se juntasse aos McCarthy e a Edward.

“Rose!” Bella cumprimentou, aproximando-se da mesa e abraçou a loira de lado; ela estava cada dia maior e mais cansada “Anthony!” ela bateu na mão do menininho, sentado na cadeira de criança ao lado da mãe, que riu do gesto dela “Emmett, Edward!” ela acenou para os homens, do outro lado da mesa antes de sentar-se do outro lado de Rosalie.

“Bluebell!” Emmett meneou com a cabeça, incerto se deveria chamá-la pelo apelido ou não.

“Blue!” Edward pronunciou o nome dela com uma certa pitada de flerte “É ótimo vê-la!” ele completou. Eles não haviam se visto no dia anterior, pois Edward passara o dia trabalhando na delegacia.

“Posso dizer o mesmo” Bella afirmou, sorrindo para ele.

“Com certeza ela sentiu sua falta, Edward. Ontem ela não parava de falar de você; eu a ouvi dizer para Rosalie que ela estava bastante empolgada com o almoço de hoje!” Emmett se intrometeu, rindo e piscando para Bella, quando o rosto dela começou a queimar com o rubor.

Bem, Emmett não estava totalmente errado, Bella estava sim empolgada com o almoço, mas por motivos diferentes daqueles que todos eles achavam; ela estava muito mais interessada em se aproximar deles para conseguir executar o plano do que por estar interessada em Edward. Ao menos era isso que ela dizia a si mesma.

O outro lado dela, porém, aquele que sempre a tentava fazer parar de se submeter às missões, lhe dizia que não valia a pena se arriscar, ou arriscar a amizade que construía com aquelas pessoas, para cumprir com a palavra de um mentiroso como Jacob Black.

“Emmett!” Rose sussurrou, lançando um olhar nada bonito para o marido “Além de ouvir a conversa dos outros você ainda espalha depois?”.

“Ué, vocês estavam conversando na loja, como eu ignoraria vocês?” Emmett resmungou, dando de ombros.

“Você é bem inconveniente, às vezes, cara!” Edward murmurou.

“Não vai me dizer que não gostou de saber que a Blue já tá caidinha por você?”.

“Vocês podem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui?!” Bella pediu, já ficando irritada com o rumo da conversa.

“É isso mesmo, parem de besteira, vamos mudar o rumo dessa prosa! Isso é uma coisa que cabe apenas a eles, Emmett!” Rose apoiou Bella.

“Está bem, só estou tentando ajudar” Emmett resmungou novamente, ocupando-se em olhar o cardápio.

14:00h, Clinton Lake, Clinton State Park, Lawrence, Kansas, 6°C – ensolarado.

“Esse lugar é lindo mesmo!” disse Bella, sentando-se num tecido trazido por Edward. Eles contemplavam a beleza do Lago Clinton logo depois do almoço; Emmett, Rose e Anthony estavam a alguns metros de distância, dando privacidade a eles.

“É sim” ele concordou “Minha mãe me trazia aqui sempre”.

“Como ela era?” Bella perguntou e ele sorriu, parecendo-se puxar, em suas lembranças, a figura materna.

“Ela era a pessoa mais carinhosa e gentil que eu já conheci na minha vida!” Edward respondeu, fitando o rosto de porcelana de Bella “E a sua mãe, Blue, como ela é?”.

“Bem... Ela é... Muito mandona” Bella respondeu, sem saber como respondê-lo sem acabar revelando demais. Na verdade, ela nunca passara tempo suficiente com a própria mãe para realmente conhecê-la, fora criada por babás; tudo o que ela sabia sobre Renée era que, assim como Alice, ela fora vendida para a família Swan como pagamento, mas diretamente para ser a esposa de Charlie. Os traços de personalidade dela eram poucos conhecidos por Bella, além do óbvio: ela era mandona e uma ótima ‘detetive’.

“Vocês não se dão bem?” ele perguntou, parecendo realmente interessado na vida dela.

“Eu não diria isso exatamente. Minha família toda é bem... Complicada. Acho que as pessoas com quem mais me entendo são o meu irmão e a minha cunhada; eles me ouvem sempre que preciso e vice-versa”.

“Famílias podem ser complicadas mesmo” Edward concordou “Mas vai ficar tudo bem, qualquer que seja a situação ou os problemas” ele sorriu e ela não pode deixar de sorrir de volta. Mesmo que não ficasse tudo bem, que ela tivesse que viver dessa forma pelo resto da vida, ela esperava que as recompensas valessem a pena.

“Blebel!” Anthony gritou, correndo de perto dos pais até parar na frente de Bella.

“Oi, Thony!” Bella sorriu para o menino.

“Vem ver o peixinho!” ele exclamou, erguendo a mãozinha para ela.

Bella riu e levantou-se com um pouco de dificuldade porque, é claro, a roupa que usava não era exatamente adequada para o passeio. Ela pegou a mão de Anthony com delicadeza e ele a guiou até a beira do lago.

“Thony, seu empata! Não foi assim que eu te eduquei, menino!” Emmett brincou, aproximando-se dos dois com cautela. Bella percebeu que ele ainda tinha medo que ela o atacasse e não pode evitar rir. O menino estava distraído demais com os peixes para notar a presença do pai.

“Emmett” ela sussurrou, para que o pequeno não os ouvisse “Pode ficar tranquilo, não estou interessada em você; eu não sabia que era casado quando entrei na sua loja na outra semana” ela mentiu “Mas agora que sei, pode ter certeza de que respeito o seu casamento. Não magoaria Rosalie desse jeito!” essa parte dita por Bella era verdade. Após conhecer Rosalie e se aproximar dela, ela sabia que nunca poderia chateá-la daquela maneira.

“Ah, certo!” ele murmurou, meio desconcertado, as bochechas levemente rosadas “Tudo bem, você já deixou bem claro que gosta do Edward, mesmo!” ele fez piada e Bella riu.

“Talvez eu goste mesmo!” ela brincou, mas sentiu a verdade de suas palavras, conforme as proferiu, a realidade caindo sobre ela como uma tempestade, as quase duas semanas que passaram juntos atingiram-na em cheio; ela não mais poderia negar, por mais que quisesse, que os sentimentos por Edward não só haviam sido plantados dentro dela, como já começavam a florescer “Droga!” ela praguejou, sentindo os olhos marejando e o rosto ficando vermelho.

Bella sentiu-se vulnerável pela primeira vez na vida. Sempre fora capaz de controlar os sentimentos; ela sempre esteve à frente, calculando os passos das outras pessoas justamente para não ser afetada e era por isso que ela odiava imprevistos.

Ao não conseguir seduzir Emmett, Bella jamais poderia ter desviado do plano original, considerando que o único homem que ela deveria seduzir era o Emmett em pessoa; sentia-se mais próxima da família dele e de Edward do que já fora da própria família. A situação virara uma bola de neve tamanha que ela sabia que todos sairiam machucados demais quando fossem atingidos por ela.

“Está tudo bem?” Emmett perguntou, quando percebeu a mudança nas feições de Bella, preocupando-se que a garota estivesse a passar mal.

“É claro!” Bella concordou, disfarçando “Acho que foi a insolação!” ela suspirou, voltando-se para Anthony “Onde estão os peixinhos, meu amor?”.

“Insolação?” Emmett coçou a cabeça, confuso. O clima nem estava quente e eles nem tinham passado tanto tempo ao ar livre, mas talvez a garota fosse mesmo mais sensível à luz solar. Ele se sentia feliz, porém, porque ela havia admitido que gostava de seu melhor amigo; Emmett olhou por sobre o ombro e sorriu malicioso quando notou Edward olhando para Bluebell. Ele daria um empurrãozinho aos dois.

19:00h, Loja de Antiguidades McCarthy, 1°C – céu limpo.

“Ótimo Bella, como seu carro é o menor você leva as coisas mais delicadas” Rosalie falou e ela assentiu. Eles haviam passado o restinho da tarde no Parque Clinton e estavam prestes a carregar os artefatos ao Hotel.

“O que querem que eu leve?” Bella sondou.

“Decorações” disse Emmett, passando pela porta e carregando uma enorme caixa com uma máquina de escrever “E os brinquedos também, por favor!” ele saiu da loja e ajeitou a mesma caixa na traseira da picape.

“Certo” Bella assentiu, caminhando até uma das caixas de brinquedos. É claro que seria muito melhor se ela mesma pudesse levar os itens de artesanato, mas levantaria ainda mais suspeitas quando o item sumisse. Pelo menos ela quem havia empacotado o espaçador, então sabia exatamente em qual caixa ele estava, então seria fácil pegá-lo antes mesmo que fosse desempacotado.

“Senhorita!” Edward surgiu do nada, sobressaltando-a; Bella estava tão imersa nos próprios pensamentos que mal notou-o se aproximando “Desculpe!” ele riu, enquanto as bochechas de Bella coravam e ela arfou, levando as mãos ao peito. Ela não podia mais evitar essas reações quando ele se aproximava dela, principalmente depois de perceber seus sentimentos por ele “Eu te ajudo” continuou, abaixando-se para apanhar a caixa.

“Obrigada” Bella sussurrou e ele sorriu caminhando para fora da loja para colocar a caixa no porta-malas do carro dela.

“Bella!” Rose a chamou quando percebeu como ela estava desconcertada e aproximou-se dela “Você gosta mesmo dele, não?” ela perguntou, parecendo ao mesmo tempo ansiosa e certa da resposta de Bella.

“Bem... Eu... Sim” Bella admitiu a contragosto.

“Isso é ótimo!” Rosalie exclamou, um sorriso largo estampando o rosto dela “Sabe, não sei se ele te contou... Nem se sou a pessoa mais adequada para lhe dizer, mas Edward esteve em maus lençóis com uma garota há quase um ano atrás; ele era extremamente apaixonado por ela, que fugiu com o sobrinho do padre da cidade um dia depois de ter rejeitado o pedido de casamento dele. Então, Bella, eu fico feliz porque vejo em seus olhos que seus sentimentos por ele são verdadeiros; sabe, ele e Emmett são meus melhores amigos, nós crescemos juntos, quero que Edward seja tão feliz quanto eu e Emm somos”.

“Eu não sabia, ele não me contou” disse Bella. Ela não poderia imaginar que Edward havia passado por tal situação e se sentia cada vez pior por estar enganando-o daquela forma.

“Bem, isso ficou no passado. Gosto de você, vou apoiá-la se quiser ficar com ele” Rose afirmou e Bella percebeu, novamente, que Edward não era o único a quem ela magoaria; diabos, ela magoaria a si mesma por causa de uma missão estúpida para um homem estúpido, nojento e mentiroso!

O ar escapou dos pulmões de Bella e seus olhos marejaram; ela precisava sair dali antes que desmoronasse. O celular dela tocou e ela revirou os olhos quando o nome de Charlie piscou na tela.

“Desculpe, preciso atender” Bella murmurou, e quando Rose assentiu, ela saiu da loja, afastando-se dos carros, que estavam sendo preenchidos por inúmeras caixas por Emmett e Edward “Pai” disse ela, sem qualquer animação na voz.

“Isabella!” ele vociferou, fazendo-a pular de susto “O que cargas d’água você disse a Alice para que ela fuçasse nos arquivos? Sabe muito bem que ela não tem autorização para mexer nas minhas coisas, ela mal faz parte desta família! Você não mandou nenhuma notícia por quase duas semanas; Jacob já nos pagou metade da quantia, você nos deve explicações” ele Charlie continuou a esbravejar.

“Não fale assim de Alice! Ela faz muito mais parte da minha família do que muitos de vocês que tem o mesmo sangue que eu!” Bella devolveu, o mesmo tom alterado de seu pai “Quer saber de uma coisa? Quer saber por que eu pedi para ela investigar depois? Porque eu descobri que você me mandou para esse lugar para procurar uma droga de item pra um cliente mentiroso do caralho ao qual eu não devo satisfação nenhuma! Eu ainda não sei exatamente o que vocês estão planejando, mas sei que boa coisa não é, ou então eu saberia da verdade!”.

“Lave a boca com sabão, sua garota insolente!” Charlie gritou do outro lado do telefone “Se não consegue pegar a droga da peça pro cliente que mais nos paga bem, então volte para casa. Estou bloqueando os seus cartões e vou mandar uma de suas irmãs para finalizar o seu trabalho...”.

“Merda, merda, merda, Charlie!” Bella também gritou, afastando-se ainda mais para que ninguém a ouvisse. O pai mexera com o seu orgulho quando questionara a capacidade dela de conseguir roubar o espaçador, quando, na verdade, ambos sabiam qual era a verdadeira questão “Não precisa fazer porra nenhuma. Vou conseguir a droga do espaçador e depois que esfregar essa porcaria na fuça do Black eu não quero ver vocês NUNCA MAIS!”.

“Isabella! Contenha-se, você sabe da importância do Black para os nossos negócios!”.

“Eu estou pouco me fodendo para ele, para você e para os seus negócios! Se fossem nossos, para começar, eu nem estaria aqui. Eu estaria de férias como você me prometeu há muito tempo atrás!” Bella ralhou, soltando mais alguns palavrões e desligou o celular.

Bella desejava, mais do que nunca, que Charlie tivesse cumprido com a palavra dele. Se ele o fizesse, ela estaria de férias; ela nunca teria conhecido Edward, Emmett, Rose e Thony; ela não teria se ligado tanto a eles e não teria se apaixonado. Ela não conseguiu mais controlar as lágrimas que desciam pelo rosto dela.

“Blue!” Edward murmurou, atrás dela, e Bella se perguntou se ele ouvira partes da conversa. Suspirou, aliviada, quando se virou e viu apenas preocupação estampada nos olhos dele.

“Está tudo bem” ela sussurrou, a voz embargada. Edward apenas balançou a cabeça negativamente, sabia que não era verdade; ele abriu os braços e ela se aconchegou no peito dele e não demorou muito para que ela sentisse o corpo sendo rodeado pelos mesmos braços fortes “Problemas de família”.

“Famílias são complicadas mesmo” ele repetiu a frase dita mais cedo, afagando os cabelos dela e ela respirou fundo, tentando se acalmar, sentindo o cheiro suave que emanava dele.

“Obrigada” disse Bella, olhando intensamente para os olhos verdes, sentindo o coração acelerar e as palmas das mãos ficarem levemente suadas.

Droga, pensou ela, estou realmente apaixonada. Foda-se, a eternidade é longa demais para viver se culpando, ela lembrou-se da frase dita pela cunhada. Ela já cometera tantos atos errados em nome da família, em busca de dinheiro e riquezas. O que seria mais um para a conta? Ela já estava atrelada demais a Edward para dizer não, mesmo não querendo magoá-lo. Bella ergueu a mão direita e acariciou o rosto de Edward, que fechou os olhos, apreciando o gesto e abriu um lindo sorriso; ela ficou na ponta dos pés e deu um beijo no canto dos lábios dele.

“Vamos, ainda temos bastante trabalho a fazer” ela disse, sorrindo de lado.

“Claro, eu te ajudo a carregar o porta-malas” ele soou animado e entrelaçou os dedos nos dela. Bella sentiu um arrepio percorrendo a coluna e o sorriso murchou quanto mais ela pensava no que teria que fazer.

Segunda-feira, 27 de novembro de 2017 – 17:30h, Motel “Super 8 by Wyndham Ku Lawrence”, 17°C – céu limpo.

“Bella, eu ainda não descobri o por quê Charlie e Jacob mentiram para você, mas eu sei que você está certa: eles estão escondendo algo!” Alice sussurrou. Ela estava sentada no chão do banheiro do quarto que dividia com Jasper, tentando passar despercebida pelos outros membros da família.

“Alice, diga-me que meu pai não foi muito duro com você!” disse Bella, preocupada com o bem-estar de uma das pessoas mais gentis que conhecera. Ela não se perdoaria se algo acontecesse com Alice porque ela pedira ajuda.

“Está tudo bem, Bella. Não se preocupe comigo. Charlie ficou meio alterado quando me viu vasculhando os registros, mas não me maltratou...” a baixinha esclareceu “E você, está bem?”.

“Sim” Bella limitou-se a proferir uma palavra mais curta, que não a fizesse revelar as recentes descobertas que fizera a respeito de si mesma e de seus novos sentimentos.

“Tem certeza? Conseguiu pegar o espaçador?”.

“Sim” Bella afirmou novamente, mostrando a Alice o objeto “Nem foi tão difícil assim” disse ela, olhando para o espaçador, ainda embrulhado em cima da mesa, desejando que ele estivesse no lugar em que pertencia: a Exposição; desejando que não tivesse que magoar as pessoas que aprendera a gostar, ela não queria ver a decepção no rosto deles... Ou imaginar, já que a possibilidade de eles descobrirem-na como autora do roubo era bastante improvável, porque ela tomara todos os cuidados.

Quarta-feira, 22 de novembro de 2017 – 20:30h, Hotel “The Oread”, -1°C – céu limpo.

Bella aproveitou-se que Edward e Emmett haviam acabado de estacionar os carros deles em frente ao hotel; já era a segunda viagem que faziam e a caixa com alguns objetos artesanais – incluindo o espaçador – estava no banco da frente do carro de Edward.

Ela aguardou em seu Chevy, enquanto os dois entravam no hotel para pegar os carrinhos de bagagem – que facilitariam o transporte das caixas até o Salão de Eventos. Sabendo que precisava ser rápida, Bella saiu do carro, abriu a porta do carona de Edward e começou a procurar pelo menor embrulho dentro da caixa; assim que sentiu a forma correta do objeto, pegou-o e rapidamente ajeitou tudo como Edward deixara antes de voltar ao próprio carro, guardando o espaçador, ainda dentro do jornal, no porta-luvas.

Segunda-feira, 27 de novembro de 2017 – 17:36h, Motel “Super 8 by Wyndham KU Lawrence”, 17°C – céu limpo.

“Então foi isso” Bella terminou de contar à Alice “Simples como tirar doce de criança” ela suspirou.

“Eu presumo que não devo contar a ninguém que você já conseguiu o espaçador” Alice assumiu, mordendo o lábio inferior.

“Não, por favor! Não até eu descobrir o que o Black está escondendo” Bella pediu.

“Posso vê-lo?”.

Bella abriu o embrulho, mostrando-o a Alice.

“Bella, tem certeza de que este é o item certo?” Alice perguntou, o cenho delicado franzido.

“Sim, Alice, eu mesma o embalei e guardei na caixa” Bella afirmou, olhando para o objeto; ele parecia exatamente igual ao das fotos dos arquivos.

“Não, Bella... Compare-o com as fotos; são espaçadores muito parecidos, mas não são iguais; o dos arquivos tinha as formas ‘em coração’ mais alongadas” Alice disse, parecendo preocupada.

“Não, Alice, você deve estar...” Bella começou, mas interrompeu-se quando notou a mesma coisa que sua cunhada. Xingando muito, ela abriu os arquivos no celular para constar que Alice estava certa; por mais parecidos que fossem, eles não eram os mesmos espaçadores nem em Lawrence, nem em Denver! “Puta que pariu, mas que caralhos eu fui fazer?!”.

Bella nunca tinha se distraído ou errado daquela maneira; aquela era a certeza de que o vínculo que formara com Edward e os McCarthy havia extrapolado todos os limites.

“Talvez estivesse em outra caixa, Bella...” Alice falou depois de um tempo, vendo a expressão preocupada da cunhada; ela também sabia do ‘histórico’ de Bella, não era à toa que ela era a melhor do ramo.

“Alice, eu mesma coloquei não só o espaçador na caixa, mas também os outros itens; eu sabia de todos os itens que estavam naquela caixa, não é possível, eu nunca cometi um erro destes!” Bella exclamou, levantando-se, sentindo-se aflita.

“Então você pode ter confundido os espaçadores na hora?”.

“Era o único espaçador naquela caixa. Como disse, eu garanti que só houvesse um espaçador, o espaçador correto na caixa, justamente para evitar confundi-los”.

“Então talvez um deles colocou mais objetos na caixa e você não percebeu...”

Bella negou, balançando a cabeça negativamente “Quando organizamos a Exposição nenhum dos espaçadores que estavam lá era o correto, o que, para mim, significava que eu tinha completado a missão com êxito... Alice, eu não sei o que aconteceu” Bella estava desesperada, se o espaçador não estava na Exposição e nem com ela, só poderia estar na loja, talvez, apenas talvez, ela tenha deixado-o lá por engano “Droga! O pior é que eu nem posso resolver isso agora. Preciso me arrumar para a Exposição!” Bella murmurou “Alice, não se preocupe, vou resolver isso o mais rápido possível!”.

Elas rapidamente se despediram, e Bella tentou disfarçar as feições preocupadas. Pelo menos por aquela noite ela queria esquecer de seu trabalho e de sua família; queria se encontrar com os novos amigos... Com Edward. Ela suspirou; queria poder dizer a ele como realmente se sentia, contar os sonhos e desejos que tinha... os segredos. Queria poder se abrir com ele e contar a sua história da mesma maneira que ele havia feito com ela. Talvez um dia ela pudesse.

19:00h, Salão de Eventos, Hotel “The Oread”*, 17°C – céu limpo.

*N/A: Considerem o espaço mostrado na foto, não o conteúdo do salão – mesas, cadeiras, etc*

Isabella adentrou o grande salão, observando como os artefatos da loja de Emmett o deixavam ainda mais belo; alguns deles pendurados nas paredes, outros expostos em mesas, mas todos tinham uma plaquinha para identificação e descrição da história.

Bella procurou por um rosto conhecido e seu olhar cruzou com um par de olhos verdes, do outro lado do salão. Mais distante da porta de entrada, havia um bar, do próprio hotel, que serviria comes e bebes para quem quisesse, e lá estava Edward Cullen. Ele sorriu quando a notou e gesticulou para que ela se aproximasse.

Ela foi caminhando até ele e quase babou quando o viu vestido todo de preto; Edward não precisava se esforçar muito para ser sexy.

“Blue, está linda!” ele a elogiou quando Bella finalmente estava perto o suficiente para apreciar ainda mais a figura de Edward.

Bella agradeceu, retornando o elogio “Onde está Rose?” perguntou ela, dando-se conta de como estava ansiosa em vê-la... Cada vez mais sentindo-se ligada a todos eles, pior Bella se sentia por saber o que havia feito... O que ainda haveria de fazer. Empurrando os sentimentos para o fundo de seu âmago, ela forçou um sorriso.

“Ela foi ao banheiro... Sabe como são as grávidas!” Emmett respondeu, aproximando-se dos dois. Ele estava bastante elegante, num terno de tom esverdeado e sorria, mostrando covinhas que Bella nunca tinha notado antes. Emmett provavelmente nunca sorrira tão genuinamente para ela, não que ela o culpasse por isso.

“Ela tinha acabado de sair do banheiro quando eu cheguei... Isso não tem nem dez minutos!” Edward zombou.

“Ah, a dupla dinâmica!” Rosalie brincou, dando um peteleco em uma das orelhas de Edward e Emmett; em seguida, andou até Bella e deu-lhe um abraço apertado. Ela estava acompanhada de Anthony, que sorriu grandemente para Bella, que fez gesto de ‘bate aqui’ com ele. “Blue, você é a mulher mais linda desta Exposição!”.

“Obrigada, Rose, mas discordo. Você é a mulher mais linda daqui! Gostei dos brincos” Bella elogiou, lembrando-se de que vira um parecido numa das pinturas que empacotara.

“Ah, que gentileza, muito obrigada! Eles são da bisavó de Emmett” Rose disse, sorrindo.

“Mamãe, papai, Thony quer anjinho” disse o garotinho, saltitando pelo salão.

“O que?” Edward perguntou, intrigado.

“É um dos quadros favoritos dele, vem, amigão!” Emmett esclareceu, pegando a pequena mão do filho “Fiquem à vontade” disse ele antes de desaparecer por entre o salão, que já se enchia de pessoas.

“Bem, fiquem mesmo à vontade” Rosalie reforçou, olhando especificamente para Bella “Aproveitem a noite. Vou checar se está tudo certo e falar com algumas pessoas” ela completou, dando um sorrisinho e, como Emmett, afastou-se deles.

“Quer beber alguma coisa?” Edward perguntou a Bella, que balançou a cabeça positivamente; olhar para ele, naqueles trajes, a deixava com muita sede.

21:00

“Tudo está tão lindo!” Bella disse, sorrindo para Edward. Eles tomaram alguns drinks e decidiram dar uma volta pelo espaço para apreciar os artefatos; por mais que ela mesma tivesse ajudado a montar a Exposição e soubesse direitinho onde a maioria dos objetos estava, era totalmente diferente parar e observar tudo com calma.

“Concordo... Mas você está mais linda que tudo nesta sala!” ele a elogiou.

“Você está muito galante hoje, Senhor Cullen!” ela brincou, fazendo-o rir.

“Venha, vamos ver os artesanatos!” disse Edward, oferecendo a mão para ela, que a aceitou de bom grado, sentindo os dedos firmes, mas gentis ao redor dos dela.

Eles se aproximaram de uma das paredes e Bella notou algumas máscaras indígenas, – provavelmente antepassados de Emmett – alguns escudos e vários espaçadores... Dentre eles o que ela tinha que ter roubado! Como ele fora parar lá?

Quando eles montaram a Exposição, ele não estava ali, por isso Bella havia assumido que roubara o espaçador correto, quando, naquela manhã, descobrira seu erro, então era óbvio que o espaçador deveria estar na loja, era o único outro lugar!

“Está tudo bem, Blue?” Edward perguntou, observando as feições confusas dela, mas havia uma malícia no olhar dele que a deixou ainda mais intrigada.

“Ah, sim... Claro!” ela afirmou, forçando um sorriso.

“Sabe, quando eu e Emmett fomos checar os itens, depois de já termos montado tudo por aqui, nós demos falta de um dos espaçadores; provavelmente ficou esquecido em algum lugar, talvez na loja, mas não conseguimos encontrá-lo de jeito algum. Então nós achamos este aqui” Edward disse apontando para o espaçador “embrulhado na loja, alguém deve ter esquecido de colocá-lo na caixa... E achamos que por causa do valor familiar ele seria um ótimo substituto para o espaçador perdido” ele explicou.

Na loja! Bingo! Bella sentiu-se aliviada por estar correta, mas o pânico tomou conta dela quando ela entendeu o que Edward quis dizer: eles sabiam que um objeto estava sumido; pior ainda: não era nem mesmo o objeto ‘certo’, e Bella não poderia simplesmente roubá-lo da Exposição! Como ela resolveria essa situação?

Pelo menos, Edward não parecia desconfiar dela, ou era o que parecia...

“Eu acho que quero mais alguns drinks” disse Bella, querendo se afastar dali para evitar se expor demais.

23:30h, Casa de Edward, 16°C – céu limpo.

“Obrigada pela carona” Edward murmurou, sorrindo para ela.

Bella tentou disfarçar a preocupação pelo resto da noite, já tentando formular o plano C em sua cabeça; e ela achou que poderia se dar ao luxo de relaxar um pouco!

“De nada... Eu não deixaria um policial alcoolizado dirigir” ela brincou, mas sua expressão facial ainda demonstrava tensão.

“Ei, eu estou sóbrio, só não o bastante para dirigir” ele resmungou.

“Ainda bem que você é consciente. Odiaria ter que te buscar na cadeia amanhã”. Deus que a livrasse de pisar numa delegacia; ele riu das palavras dela “Sabe, é a noite mais quente de Lawrence, desde que cheguei aqui...” ela comentou depois de alguns minutos; as noites anteriores haviam oscilado bastante de temperatura; essa havia se mantido mais amena.

“Você é a coisa mais quente que já pisou em Lawrence” Edward disse, sorrindo malicioso e aproximou o seu rosto ao de Bella.

“Merda” Bella praguejou, sentindo o coração disparando, diminuiu a distância e selou os lábios dos dois.

Os lábios de Edward eram macios e ele logo os entreabriu, permitindo que Bella explorasse a boca dele com a língua, sentindo o gosto de álcool misturado com o hálito dele; ela levou às mãos aos cabelos acobreados, que por tanto tempo imaginou como seria passar os dedos, e aproveitou a oportunidade de experimentar a maciez deles sob o seu toque. O frenesi não levou muito tempo para surgir, havia uma mistura intensa de sentimentos entre eles, paixão, prazer e até mesmo cuidado.

As mãos de Edward foram para a cintura dela e ele se inclinou ainda mais para frente, de modo que pudesse deslizá-las pelo corpo dela, sentindo cada curva; Bella estremeceu com os toques dele e quando o fôlego lhes faltou, eles quebraram o beijo.

“Quer entrar?” Edward perguntou, a voz trêmula e a respiração ainda entrecortada.

“Achei que não ia perguntar” Bella brincou, os olhos fitando os dele; ela assustou-se, e sentiu-se lisonjeada ao mesmo tempo quando notou tamanha luxúria, tesão... E carinho estampados no olhar de Edward.

Ele balançou a cabeça negativamente, como se para sair do transe e abriu a porta, saindo e mesmo ela sendo a motorista da vez, ele fez questão de abrir a porta dela, que suspirou, grata por tê-lo, nem que fosse por uma noite.

Bella calçou os saltos – que havia retirado para poder dirigir em segurança – e segurou a mão de Edward, que a ajudou a sair do carro; ele a guiou para dentro da casa dele, mas hesitou assim que cruzaram a porta de entrada; ela olhou-o confusa.

“Está tudo bem?” perguntou ela, franzindo o cenho.

“Sim... Blue, eu só... Eu sei que você vai embora logo, só quero aproveitar o máximo de tempo com você” ele explicou, acariciando o rosto dela, que sorriu.

“Então não percamos tempo!” afirmou Bella, antes de diminuir a distância entre os dois e beijá-lo novamente, desta vez mais calmamente; Edward estava certo, eles tinham poucos dias para aproveitar um ao outro, ela teria que conseguir o espaçador o mais rápido possível e ir embora... Bella empurrou os pensamentos para o fundo da cabeça e decidiu ignorá-los. Não era o momento para eles.

Edward a guiou para o quarto dele no andar superior e Bella encantou-se com a claraboia no teto e uma espécie de sacada que permitia que uma parte da Lua – em sua fase crescente – e as Estrelas iluminassem o local e darem um clima ainda mais especial ao momento; nas paredes, algumas fotos que Bella não conseguia enxergar perfeitamente, porque não estava claro o suficiente, mas ela via o contorno de algumas figuras altas – indicando que eram fotos de Edward e Emmett.

Edward posicionou-se atrás dela e abraçou-a, beijando suavemente o pescoço dela; Bella quase derreteu, aconchegando-se contra o corpo dele e inclinando a cabeça para o lado, facilitando o acesso dos lábios dele à sua pele.

As mãos dele tatearam da cintura para as costas dela e Bella entendeu que ele procurava uma forma de abrir o vestido. Rindo, ela guiou as mãos dele para a lateral do vestido, exatamente sobre o zíper. Edward desceu-o lentamente, enquanto seus lábios continuavam depositando beijos no pescoço de Bella, que se arrepiava com cada toque.

Assim que Edward terminou de abrir o vestido, Bella, literalmente, desceu dos saltos, evidenciando ainda mais a diferença de altura entre os dois, e ajudou-o a retirar suas vestimentas, que caíram ao chão; ela não vestira roupas íntimas para que não ficassem marcadas no vestido, então, basicamente havia retirado a única peça de roupa que o impedia de vê-la totalmente nua. Ela respirou fundo algumas vezes, ansiosa pela reação de Edward quando a visse, e virou-se. Bella nunca quisera tanto alcançar – ou superar – as expectativas de alguém!

“Porra, Bluebell!” ele sussurrou, se deleitando com a forma dela, como a criatura visual que era “Extremamente linda!” afirmou sorrindo.

Bella sorriu também, contente com o elogio genuíno dele; não era a primeira vez que ouvia essas palavras, – Edward mesmo já lhe dissera isso – mas, como sempre, os olhos dele brilhavam quando se expressava diante dela.

Ela voltou-se totalmente a Edward, ajudando-o a se despir, apreciando as carícias deixadas em seu corpo; ela já havia permitido ser usada e tocada tantas vezes em prol ‘dos negócios da família’, sem que ela tivesse uma só palavra de contestação, que ela quase se emocionou quando percebeu que pela primeira vez estava indo para cama com alguém por vontade própria, sem qualquer tipo de exigências ou cobranças.

Porque ela estava no controle, por mais que os limites tivessem sido ultrapassados, no sentido de que ela não deveria ter se envolvido nem com Edward nem com a família McCarthy, – não da maneira como ela fizera – de tal maneira que Bella sabia que nunca mais seria a mesma, ela sentia-se feliz como nunca estivera em seus 23 anos de existência.

Realmente, Alice estava certa quando dissera que a eternidade é longa demais para viver se culpando. E Bella faria de tudo para aproveitar a sua vida... Ou pelo menos os seus últimos dias em Lawrence.

Terça-feira, 28 de novembro de 2017 – 08:00h, Casa de Edward, 12°C – ensolarado.

Bella começou a despertar quando o Sol lhe esquentou as costas, invadindo o quarto pela claraboia; ela sentiu o corpo levemente dolorido e sorriu quando se deu conta do motivo. Abriu os olhos lentamente, não querendo que as sensações, sentimentos e imagens da madrugada, que ainda estavam grudadas à sua mente se dispersassem assim que ela, de fato, acordasse.

Virando-se para o outro lado da cama, ela viu Edward ainda adormecido, parecendo um anjo... Ou um deus esculpido, ela mal podia acreditar que passara a noite com ele, com alguém que realmente demonstrava se importar com ela, que gostava de estar com ela, não apenas fisicamente; com alguém que se preocupara com o prazer dela, se preocupara em elogiar cada pedacinho do corpo dela e a fizera se sentir completa.

Bella sentou-se na cama, envergonhada quando percebeu que, por mais que se importasse com ele, ela nunca poderia retribuir no mesmo nível... Ela nunca poderia ser tão honesta, aberta, com ele sem revelar coisas que não diziam respeito a ela somente. Ele era policial, não entenderia certas coisas, principalmente aquelas que ela não podia controlar, porque ela mesma não entendia.

Bella amava o luxo, amava poder comprar o que quisesse sem ter que ponderar ou cortar gastos... Mas a que custo? Ela também aprendera a amar aquelas pessoas. Valeria a pena magoá-las? Por Jacob Black?

Claro, não seria apenas por ele, mas pela família dela também, mas era sempre ela que fazia o trabalho sujo e pesado, por que continuar se submetendo a eles? Quando Bella dissera a Charlie que não voltaria mais a trabalhar com eles, ambos sabiam que ela falara da boca para fora, afinal, eles estavam escondendo algo e ela estava puta da vida por isso. Mas ao parar para pensar na situação toda, Bella cogitava, cada vez mais, realmente abandonar os negócios da família. Ela era talentosa e muito, muito boa naquilo que fazia e não dependia deles; ela poderia construir o próprio negócio.

“Bom dia, Blue” Edward murmurou, a voz um pouco rouca “Está tudo bem?” perguntou ele quando percebeu que Bella não o respondera; ela ainda estava presa em seus próprios pensamentos.

“Ah, sim. Bom dia, Edward!” ela respondeu, preferindo deixar para pensar em sua família em outro momento “Eu só estava um pouco distraída” admitiu.

“Não se preocupe” disse ele, sentando-se também e encarando-a de um jeito adorável; ele inevitavelmente desceu os olhos para o busto desnudo dela, parecendo, assim como durante todo o tempo em que estiveram juntos, apreciá-lo de forma desmedida.

Bella soltou uma risadinha quando percebeu que ele não desviou o olhar e cobriu-se com o lençol, rindo mais ainda quando Edward bufou.

“Eu estava amando a vista!” brincou ele “Quer tomar um banho?” perguntou descobrindo-se e espreguiçando-se na cama. Bella suspirou com a nova chance de apreciar o corpo dele: era alto e forte, mas não a ponto de ser apenas músculos.

“Se você me emprestar umas roupas eu topo” Bella concordou, já que ela tinha apenas o vestido da noite anterior, e, pelo olhar de Edward, ela não sairia da casa dele tão cedo.

“Não precisa pedir duas vezes” disse ele e deu uma piscadela antes de se levantar, expondo a bundinha linda e apertável dele, e, subindo o olhar pelas costas dele, Bella notou vários arranhões avermelhados, contrastando com a pele pálida.

“Ops...” ela sussurrou, chamando a atenção dele “Acho que devo desculpas pelas suas costas, deve estar doendo pra caralho” murmurou, levantando-se também; ela reprimiu o impulso de tirar o lençol da cama para cobrir-se com ele novamente, afinal, Edward vira muito mais dela do que ela mesma imaginava.

“Está tudo bem” afirmou ele, sorrindo para ela “São a prova do que aconteceu ontem à noite” ele a puxou para um selinho, e em seguida desceu as mãos para os quadris dela “Mas, sendo assim, peço desculpas pela sua cintura” ele acariciou levemente e ela desceu o olhar, notando algumas marcas avermelhadas ali, como se Edward a tivesse segurado forte demais... Ah, suspirou quando lembrou-se da pegada dele.

“Está mais do que tudo bem!” disse Bella, também sorrindo. Seria a lembrança que ela fora dele, mesmo que por algumas horas, e mesmo que essas marcas sumissem em alguns dias, ela nunca esqueceria da forma como fora tratada por Edward. Ele lhe deu mais um selinho e Bella se afastou antes que aprofundassem o beijo, preferia que ambos escovassem os dentes antes de sentir o hálito matinal um do outro.

10:30h

Bella voltou ao quarto para vestir uma camiseta que Edward lhe emprestara enquanto ele foi comprar o café da manhã – segundo ele a despensa estava vazia, porque ele tinha o hábito de comer fora, por não achar vantajoso cozinhar apenas para ele. Eles haviam passado boa parte da manhã enroscados um no outro, e após o terceiro banho, decidiram que era um ótimo momento para repor algumas energias.

Ela aproveitou para se sentar um pouco na cama e observar melhor o quarto dele, tão diferente do dela! O pequeno cômodo não era nem de longe tão espaçoso quanto o dela – a casa dele toda provavelmente caberia no quarto dela! – mas com certeza tinha mais personalidade. Porque ela estava constantemente se mudando, ela nunca se importou em decorar – ou mudar a decoração já existente – os quartos que lhe pertenceram.

A simplicidade de Edward encheu o coração dela, e a deixou penosa ao mesmo tempo; tudo estava prestes a ruir com um estalar de dedos, assim que ela conseguisse o espaçador verdadeiro, precisaria deixar a cidade e nunca mais o veria. Nunca mais veria a Rose, Emmett ou Thony; Bella sentiu o peito apertando. Poderia ela trocar a sua família de verdade por pessoas que conhecera a menos de um mês? Trocar o luxo, as joias, a vida boa por uma mais simples? Trabalho. Ela já trabalhava, começou durante a adolescência, com os treinos e pequenas missões, mas Bella sabia que não importava o quanto trabalhasse, ela nunca teria as mesmas condições se ela abandonasse o negócio da família.

Bella tentou espairecer um pouco a mente, voltando a admirar o quarto de Edward, quando ela notou as fotografias espalhadas nas paredes; a luz do Sol permitia que ela as visse com clareza; estava certa, e sorriu a ver várias fotos de Edward e Emmett já adultos, dos dois criança com uma garotinha loira que só poderia ser Rosalie, algumas mais recentes dos três e outras deles com Thony. Algumas fotos mostravam Edward, ainda criança com um casal que Bella não conhecia.

“Bella, voltei!” disse Edward, dando duas batidinhas na porta do quarto.

“São os seus pais?” ela perguntou, apontando para a fotografia ao notar semelhanças entre o homem, que tinha o porte alto e elegante como Edward e a mulher, cujos olhos e cabelos eram idênticos aos dele; ele era uma mistura perfeita dos dois.

“Sim” ele afirmou, sentando-se ao lado dela.

“Agora eu sei a quem você puxou” ela brincou, virando-se para encará-lo. Ele estava lindo com suas vestes informais, como sempre, mas Bella seria boba se dissesse que preferia vê-lo vestido; ela já sentia falta do corpo dele contra o dela, dos lábios dele percorrendo cada parte dela...

“E quando vou poder saber a quem você puxou?” perguntou ele de repente e Bella tensionou. Ela nunca poderia revelar a verdade.

“Ah... a minha família? Lembra quando você mesmo disse que famílias são complicadas?” Bella começou, mas ele a interrompeu delicadamente.

“Não precisa me contar agora” disse ele e deu um beijo na ponta do nariz dela, que relaxou quando ele passou os braços ao redor dela. Como ela queria poder ficar ali por mais tempo... Talvez a fizesse bem.

“Está tudo bem” murmurou ela, decidindo arriscar e abrindo-se um pouco com ele “Eu só queria poder viver de uma maneira diferente. Você deve ter notado, eu sou uma pessoa cara” disse Bella, gesticulando com as mãos em direção ao vestido dela, que formava uma pequena montanha vermelha no piso de Edward. Só ele havia custado mais de 13 mil dólares! “Não consigo me desapegar disso, porque foi assim que fui criada, foi assim que minha família viveu por não sei quantos malditos anos... Essa merda faz parte de mim, mas eu queria poder ser mais; sou muito boa no que faço, mesmo com toda a modéstia do mundo, mas eu queria poder fazer mais, algo que realmente valesse a pena, usar o que sei para ajudar outras pessoas, quem sabe, não só a mim mesma, mas a minha família conta comigo... Você deve estar achando que sou a pessoa mais fútil e egoísta do mundo...”.

“Gostar de coisas caras não te faz fútil, não se você tem recursos para ter o que quer” Edward a interrompeu educadamente “Independente do que sua família faça, você pode ser diferente deles e eu não acho por nenhum caralho que você seja egoísta; vejo como trata todo mundo, desde o dia em que nos conhecemos, concordou em passar sua estada em Lawrence praticamente toda ajudando pessoas que mal conhecem a montar uma Exposição. E pelo que você mesma disse, Blue, o fato de não abandonar sua família mesmo não concordando totalmente por eles me diz que você se importa mais com os outros do que consigo mesma. E se você quer fazer algo por outras pessoas, simplesmente faça! Faça o que achar que é certo, você não deve nada a ninguém, principalmente se quer se mostrar como alguém diferente daquilo que os outros acham que você é. Ninguém a conhece melhor do que si mesma”.

Bella sorriu com as palavras de Edward. Parecia até a Alice quando tentava conhecê-la da bondade que existia dentro dela, que era muito maior do que a futilidade e do desejo de pertencer àquela família.

“Talvez algum dia eu te conte tudo” murmurou ela, dando um selinho nos lábios dele.

“Vou adorar saber tudo sobre você!” ele afirmou, aprofundando o beijo e Bella deitou na cama, puxando-o para cima dela, o café da manhã esquecido na mesa da cozinha... Eles ainda teriam bastante tempo para se alimentar, então preferiram continuar se descobrindo.