A Very Weasley Christmas escrita por Morgan


Capítulo 5
It isn't the worst thing in the world being me when Fred Weasley loves me




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O sol já estava quase nascendo quando os dois resolveram ir embora. Haviam corrido para a árvore mais próxima e conjurado juntos uma pequena tenda que os cobriu e um cobertor para que ficassem em cima. Georgie teria lamentado ter estragado algumas boas roseiras senão estivesse tão ocupada em gemer no ouvido de Fred enquanto eles se transformam em um amontado de pernas e braços que, surpreendentemente, funcionava muito bem.

Georgie percebeu que tudo com Fred funcionava muito bem.

Ela estava deitada no peito de Fred; os dois já haviam se vestido. Perceberam que, embora parecesse muito quente para eles, quando finalmente caíram um ao lado do outro, ofegantes, o clima estava na verdade muito mais frio do que quando haviam saído de casa. Georgie passou os dedos pela camisa do garoto enquanto ele a segurava contra ele.

— Você ainda não me contou como minha mãe conhecia esse lugar – disse ela, de repente. No meio de tanta coisa, isso havia escapado totalmente de seus pensamentos, mas agora que tudo que ouviam eram pequenos grilos a distância, zumbidos baixos de vagalumes que voavam em volta das flores do lado de fora da tenda e a respiração calma de Fred, sua curiosidade voltara com toda força.

— Ah, sim – ele sorriu – No aniversário da mamãe, eu deixei George com aquelas garotas e voltei para cá. Eu estava meio chateado, entende, porque você já estava saindo com Oliver. E então sua mãe apareceu. Ela não me perguntou nada, apenas disse que eu estava com uma cara de morto-vivo desesperadora.

Georgie riu. Sua mãe sempre fora extremamente sincera.

— Então ela disse que queria me mostrar um lugar e me trouxe aqui. Ela disse que era um lugar muito especial, poucas pessoas tinham o privilégio de encontrar esse lugar. E menos pessoas ainda conseguiam admirar a beleza dele – ele suspirou – Quando chegamos aqui, eu fiquei tonto. Nunca imaginei que pudesse ter um lugar como esse tão perto de casa. Fiquei me perguntando quem poderia ter feito isso tudo, porque um lugar desse deve ser cuidado o tempo todo, não é? Mas Tia Jenna disse que não.

— O que quer dizer?

— Foi um presente do seu pai para ela, Georgie – disse Fred e a garota levantou-se na mesma hora, totalmente surpresa.

— Meu pai?!

Fred assentiu.

— Sua mãe me disse que por muito tempo tudo aqui foi apenas mato, árvores secas e abandonadas, mas tinha muito espaço, então ela gostava de vir treinar quadribol aqui. Nenhum trouxa aparecia. Ninguém aparecia. Ninguém, exceto seu pai. Foi aqui que eles deram o primeiro beijo deles e era aqui que ele se sentava enquanto estudava e sua mãe praticava.

Seus olhos encheram-se de lágrimas. Elliot... Seu pai...

Fred se aproximou de Georgie, segurando uma de suas mãos nas dele e apertando.

— Mas como ele fez tudo isso? – perguntou em um fio de voz.

— Ah, ela disse que foi uma surpresa para o aniversário de dez anos deles. Segundo ela, o jardim é encantado, mas... – ele parou, olhando para fora da tenda por um momento e medindo suas palavras, mas Georgie o olhava com tanta expectativa que ele sabia que tinha que falar. Ele era sua única ligação com aquela história, ela queria saber de tudo. – Não está tão bonito quanto era antes, sabe? Acho que o encantamento deve ter enfraquecido agora... agora que ela se foi.

Georgie assentiu levemente. Seu pai havia feito tudo isso para sua mãe? Ela nunca havia colocado em jogo o quanto Elliot era apaixonado por Jenna, quer dizer, eles ficaram juntos por anos e a tiveram, não é? Eles precisavam se amar muito para isso. Mas nunca imaginou o pai criando um jardim encantado apenas porque havia sido ali o local onde deram o primeiro beijo deles.

Nunca em um milhão de anos.

Georgie riu sem humor algum enquanto Fred secava suas lágrimas – Estou me sentindo uma idiota.

— Não diga isso.

— Sempre elogiei James e Lily Potter. Sempre disse o quanto Harry tinha sorte de ter um amor como aquele em casa, mas olhe só para isso – disse, sentindo mais lágrimas caírem – Acho que julguei muito o meu pai.

— Vocês dois amavam sua mãe e tenho certeza que se amam muito também – disse Fred – Algumas pessoas apenas tem mais dificuldade em lidar com a perda.

Fred estava certo. Estava certo em tudo, na verdade. Georgie sabia que havia excluído seu pai tanto quanto ele havia excluído ela. Se ela era um lembrete ambulante de que Jenna havia existido nesse mundo, bem, Elliot era um lembrete ambulante do quão incrível Jenna havia sido enquanto existia nesse mundo e era doloroso para os dois ficarem tempo demais na presença um do outro. Desconfortável até. Mas foi apenas naquele momento, quando Fred balançou sua varinha e a tenda que os cobria sumiu e que Georgie foi capaz de observar o céu e sentir o vento frio que ela soube que não importava o quão difícil era, eles deveriam passar por isso juntos, como a família que eles eram. Ela gostaria disso e sabia que sua mãe também.

Georgie respirou fundo. Não caiam mais lágrimas em seu rosto, mas ainda assim Fred tocou em seu joelho, fazendo-a olhar para ele.

— Você está bem? – perguntou – Desculpe por ter jogado tudo isso em você de uma vez.

— Sabe o que é pior, Freddie?

Ele levou a mão ao rosto dela, passando levemente seu polegar nas maçãs de seu rosto.

— O que?

— Eu estou me sentindo... bem... feliz – ela riu fracamente – E eu sinto que não tenho direito nenhum de fazer isso. Me sinto culpada – Fred começou a balançar a cabeça em negativa, mas Georgie continuou – Eu sei o que você acha, mas não consigo evitar. Me sinto culpada por ter deixado meu pai sozinho, me sinto culpada por ter estado longe quando tudo aconteceu com ela, por não ter me despedido... Me sinto culpada quando me sinto mal e me sinto culpada quando me sinto feliz.

— É um monte de culpa aí.

— É – disse ela, rindo. – Eu só queria... só queria estar com ela mais uma vez.

— Você está com ela, Georgie. Está com ela todos os dias. As pessoas que amamos não nos deixam de verdade apenas porque se foram. É muito mais do que isso.

— Você acha? – sussurrou Georgie e Fred se inclinou, beijando seus lábios rapidamente antes de responder.

— Eu tenho certeza.

E como se o universo tivesse ouvido a conversa entre Georgie e Fred, como se ao falar em voz alta seus sentimentos tivessem alcançado os locais mais distantes e misteriosos que existissem, o que nenhum bruxo ou trouxa estava esperando em 1995, aconteceu:

O primeiro floco de neve do ano desceu rodopiando até acertar na ponta do nariz de Georgie.

— Neve – sussurrou Fred, tocando a ponta do nariz dela.

Ao contrário do que a garota pensava, ela não odiou. Passou o semestre inteiro pedindo a todos os deuses que não nevasse, pois era quase um pecado que mandassem neve para o mundo depois de tirarem dele a pessoa que mais amava aquilo, mas ao sentir o toque gelado se espalhar pelo seu corpo, sorriu.

Não era justo com a sua mãe, que nunca fizera nada além de espalhar alegria por onde passava, que Georgie insistisse em ir na contramão de tudo aquilo que ela ensinara.

Não sabia se era possível, mas naquele momento, Georgie escolheu acreditar que a neve cair mesmo quando nenhum especialista acreditasse que ela apareceria naquele ano e cair exatamente naquele momento havia sido parte do destino. Não podia ser coincidência e não se importava de estar sendo boba.

Escolheria ser boba e acreditar que havia sido um sinal. Um sinal de Jenna. Uma prova de que ela estava ali e sempre estaria.

Georgie e Fred estavam caminhando em direção ao carro na entrada do parque em silêncio e de mãos dadas, apenas observando a neve cair lentamente, quando Georgie resolveu cortar o silêncio.

— Eu ainda não entendi uma coisa – disse ela – Por que minha mãe te contou todas essas coisas?

— Ahn... – de repente Fred pareceu extremamente vermelho e não apenas por causa do frio – Acho melhor nós irmos, o pessoal vai acordar daqui a pouco.

Georgie soltou sua mão e pulou na frente dele, os dois parando bem na frente do portão do Parque St. Oken.

— Que cara é essa? Pode me contar!

— Para de ser curiosa. Não basta ela ter dito?

— Não!

Fred suspirou, olhando para o chão e depois para Georgie.

— Tia Jenna meio que sabia que eu gostava de você – disse ele e Georgie soltou o que poderia ser uma risada ou um grito surpreso. Fred segurou em seus ombros, a virando e empurrando a garota em direção ao carro enquanto ela despejava vinte perguntas por segundo.

— Ela sabia?! Como ela sabia? Você contou para ela? Nós nem tínhamos nos beijado ainda e você era mesmo apaixonado por mim?

Fred ignorou cada uma delas enquanto abria a porta do Ford Anglia e fazia com que Georgie se sentasse, logo depois indo para o banco de motorista.

— Por que você contaria para ela? O que ela disse? Ela queria que eu ficasse com George como a sua mãe, como ela reagiu?

Fred riu enquanto ligava o carro. Georgie falava tão rápido que o fim de algumas palavras era comido pelo início de outras, mas ele achou fofo. Sempre achou.

— Vou te responder, mas antes precisamos ir – disse ele quando o carro começou a se mover – Vamos subir, tudo bem?

Georgie assentiu, muito mais calma do que quando haviam saído d'A Toca.

— Tudo – respondeu, virando-se de lado até onde o cinto de segurança deixava para observar Fred – Não me importo. Me sinto segura com você.

Fred sorriu para ela e com a mão pediu que ela se aproximasse. Georgie prontamente inclinou-se para frente e Fred selou seus lábios no dela.

Com o carro no ar e a invisibilidade ativada, Fred começou a responder as perguntas de Georgie.

— Primeiro de tudo – começou ele – Sua mãe não queria você com George. Eu era o favorito dela, por que ela torceria por ele?

Georgie riu da ruga de irritação que aparecia na testa de Fred e passou o braço por cima do câmbio do carro, segurando a mão livre dele.

— E eu não contei, ela apenas... soube – disse – Em um segundo estavamos sentados em um dos bancos observando o local e no segundo seguinte, ela estava virada para mim, com aquele sorriso de quem sabe de tudo dizendo: "Eu percebi a forma como você olha pra ela", e eu nunca consegui mentir pra ela, você sabe!

Georgie sorriu enquanto ouvia Fred, pois sabia muito bem que era verdade. Jenna havia sido uma madrinha muito sensitiva, conseguia reconhecer as mentiras de Fred de longe.

— Então eu apenas aceitei e concordei. Estava mesmo gostando de você, mesmo que você estivesse com Wood na época.

— Nós saímos umas duas vezes e você fala como se tivéssemos namorado por dois anos! Você foi uma das primeiras pessoas que soube quando paramos de nos ver dessa forma.

— Eu sei – disse ele dando de ombros. – De qualquer forma, eu disse que gostava de você. Achei que ela riria ou pior, tentaria nos juntar de alguma maneira, mas ela apenas sorriu e disse que eu sempre fui o favorito dela e nunca mais comentou mais nada. Tia Jenna era incrível. Se fosse a minha mãe...

Georgie soltou uma gargalhada. Se fosse Molly Weasley, ela provavelmente teria amarrado os dois em algum lugar até eles ficarem juntos.

Alguns minutos depois, Fred estacionou o carro exatamente onde seu pai havia deixado no começo da noite e os dois saíram, tomando cuidado para não baterem as portas e olhando de um lado para o outro a procura da sombra de qualquer pessoa. Mas tudo estava silencioso, então abrindo a porta devagar, os dois entraram.

Georgie encostou-se na porta do quarto de Ginny e Fred parou a sua frente, passando a mão pelos cabelos ruivos da garota, tirando pequenos flocos de neve que haviam conseguido pousar nela na distância percorrida entre o carro e a porta da frente. Georgie sorria feito boba enquanto olhava para Fred que estava exatamente como ela.

Embora tivesse beijado, abraçado, agarrado e até feito mais do que isso naquela madrugada com Fred Weasley, ainda não conseguia acreditar e seu corpo não ajudava em nada se cada vez que ele tocava nela, seu coração acelerava, pronto para sair pela boca como se eles já não se conhecessem a anos.

Fred a puxou para um beijo cálido, apertando sua cintura e mordendo seu lábio inferior antes de se separarem.

— Não acredito que demoramos tanto para fazer isso! – sussurrou Georgie com um sorriso no rosto e Fred riu, pois estava pensando a mesma coisa.

— Avançamos bastante nas últimas quatro horas para compensar.

— Eu e você – suspirou Georgie, ignorando a provocação implícita na voz do garoto.

— Seremos eu e você por muito tempo, Georgie.

— Obrigada por hoje, Freddie – disse, colocando as mãos na nuca do garoto e aproximando-se o bastante para que um sentisse a respiração do outro. – Acho que foi o melhor dia da minha vida.

— Você acha? – questionou ele. – Acha? Roubei o carro do meu pai, te levei no lugar mais bonito que eu conheço, me declarei, fizemos amor e você acha que é o melhor dia da sua vida? Você não é tão exigente assim, Georgiana, conheço todos os seus exs-namorados – disse ele de uma vez só, fazendo com que os dois rissem baixinho depois.

— Não acredito que estou apaixonada por um pateta como você.

Fred apenas a beijou em resposta e se afastou, pois precisava ir para o quarto antes que alguém finalmente se levantasse e os pegasse ali, mas sabia que jamais conseguiria fazer isso se continuasse tão perto dela.

— Não me importo de ser um pateta contanto que seja um pateta que você goste.

— Você acabou de salvar o meu ano, Weasley – disse Georgie em voz baixa enquanto o garoto dava pequenos passos para trás, sem tirar os olhos dela. – Espero que saiba disso.

— Eu sei – respondeu ele com um sorriso convencido. – Boa noite, Georgie.

— Boa noite, Freddie.

*

Georgie nunca havia dormido tão bem quanto naquele dia. E ela só conseguiu dormir umas duas horas antes de Molly Weasley começar a chamar os filhos pela casa. E mesmo assim, quando levantou com Ginny tagarelando sobre o que eles poderiam ter ganhado naquele ano, não se sentiu cansada. Nenhum um pouquinho. E nem conseguiu fingir surpresa quando Ginny apontou pela janela, pois todo o quintal dos Weasleys estava coberto de neve.

A primeira pessoa que Georgie viu quando desceu as escadas foi Fred. Não conseguiu evitar que um sorriso atravessasse seu rosto como um foguete quando ele fez o mesmo pra ela. Até eles perceberem que estavam no meio da casa e que provavelmente nenhum deles estava acostumado a ver uma cena daquela e então, em um trato silencioso, Fred se virou e sentou-se do outro lado da mesa, perto de Rony. A garota estava indo fazer a mesma coisa quando George parou bem na frente dela com o sorriso mais debochado que ela já vira o amigo dar na vida.

— Boooom dia, Georgiezinha – disse ele e Georgie suspirou. Deu um passo para o lado apenas para ver Fred na mesa erguendo as mãos para cima como se dissesse: "o que mais eu poderia fazer?". – O dia está muito bonito hoje, não é?

— Está nevando – disse ela enquanto ele a puxava pelo braço até a parte de trás da casa. Georgie conseguiu lançar mais um olhar de ajuda a Fred, mas ele apenas sorriu e ela teve a ligeira impressão de que ele não faria nada por ela pois sentia-se grato o bastante por ser ela e não ele.

— Vamos alimentar as galinhas – disse ele pegando um pequeno saco de milho que estava no canto da varanda e indo até a porta do pequeno galinheiro. Georgie enfiou a mão no saco, tirando de lá alguns milhos e os jogando lentamente dentro do galinheiro para que as galinhas não tivessem que sair na neve.

— Então... Fred te contou – disse, arrastando as palavras.

George bufou, revirando os olhos.

— É claro que Fred me contou! – disse ele – Estou chocado e um pouco ofendido que você não veio correndo me contar também. Quando você saiu com Diggory, tive que ouvir mais do que queria por umas boas três horas. E sendo generoso! 

Georgie jogou todos os milhos que estavam em sua mão de uma só vez e se virou para o amigo, agarrando seu braço.

— Eu posso?! Posso mesmo?! – perguntou ela e George riu alto.

Assim que se deitou na cama ao lado de Ginny, dormiu. Mas não antes de pensar o quanto queria contar tudo que havia acontecido ao seus melhores amigos. Não poderia contar a Daisy por carta, era muito emocionante para fazer isso. Não poderia contar a Fred, porque, bem, ele estava lá! E George... era sobre o irmão gêmeo dele que estavam falando. E se ele se sentisse constrangido? Senão quisesse ouvir?

— Te contei sobre Cedric porque ele não era seu irmão! Ah, George! – suspirou a garota encostando a testa no braço do melhor amigo – Eu juro que nunca senti nada parecido com isso! Não acredito que gosto de Fred Weasley!

— Pois eu acredito – disse ele, simples, colocando o saco de lado e espantando as galinhas que insistiam em ficar nos pés dele – Sempre soube que tinha algo diferente na relação de vocês.

— Você sabia que ele gostava de mim, não sabia?

George assentiu e a garota desferiu um tapa rápido em seu braço.

— Por que não me contou?! Sabe o quanto eu me torturei depois daquele beijo? E quando ele começou a sair com aquela Lucy?

— Não era meu lugar falar, seu monstrinho – disse ele, esfregando o local que Georgie havia acertado. – Não seria justo falar para ele que você também gostava dele quando nem você estava entendendo direito o que se passava na sua cabeça.

Georgie revirou os olhos. George sempre fora calmo e responsável com os sentimentos alheios e ela adorava isso, mas se ele tivesse se metido, teria poupado muito mais tempo.

Mesmo que ela de fato estivesse muito confusa naquela época. George perceber isso fez com que Georgiana tivesse mais certeza de algo que já havia declarado a algum tempo para os quatro cantos do mundo: George Weasley era o melhor amigo de todos. 

— O que ele te contou? – perguntou Georgie – Ele falou de mim?

— Se ele falou de você? – o garoto riu – Nós acordamos assim que o sol nasceu, demoramos a sair do quarto de tanto que ele estava falando de você!

Georgie suspirou de tanta felicidade e o amigo passou o braço em seu ombro.

— Ele gosta muito de você, Georgie – disse o ruivo, adotando um tom mais sério de repente – Muito mesmo e a bastante tempo. Então... Seja cuidadosa com ele, tudo bem?

Georgie sorriu para o amigo. Amava tanto George que chegava a doer. Não poderia ter um melhor amigo que ele e sabia que Fred não poderia ter um irmão melhor (mesmo que tivesse mais cinco).

— Eu nunca faria isso, nunca mesmo – disse ela e George assentiu.

— Eu sei, só queria pedir. Sei que você o conhece tanto quanto eu.

— Ele te contou que eu consegui voar?

— Sim! – exclamou George alisando o cabelo da amiga levemente e passando o braço pelos seus ombros – Muito bem, Georgiezinha. Estou orgulhoso.

— Ele te contou que me levou em um local especial para os meus pais? – perguntou a garota enquanto eles andavam em direção a casa novamente e George assentiu – Ele te contou tudo! Não deixou nada para mim! Você também é o meu melhor amigo – George começou a rir, pronto para dizer que também era o melhor amigo de Fred (e desde o útero para ser justo) quando a garota falou – Ele te contou que nós transamos também?

A risada de George parou imediatamente e ele olhou incrédulo para a amiga, que no mesmo segundo percebeu que não, Fred não havia compartilhado tanto assim. George esticou o braço e o colocou bem na frente de Georgie.

— Está vendo? Está vendo isso? Estou arrepiado! Arrepiado de nojo!

A garota começou a rir enquanto George se soltava dela e ainda fazia careta, comentando que ela falava demais e que a relação deles tinha atingido um nível surpreendentemente intimo para ela compartilhar tanta informação sem pudor nenhum e ele queria saber como fazia para voltar e devolvê-la. 

— Você está preso a mim, idiota – disse ela, agarrando o braço de George e o entrelaçando no seu enquanto eles entravam novamente na cozinha – Georgie e George, melhores amigos para sempre! Não lembra? Ainda está escrito no chão de madeira lá de casa, mamãe nunca deixou que meu pai trocasse. Disse que era uma boa memória.

— É, mas isso foi antes! – retrucou o amigo ainda com uma careta de desgosto no rosto.

— Para sempre, George! – ignorou Georgie – E agora mais do que nunca, vai saber... – provocou, mas dessa vez, George sorriu.

— O casal chegou, finalmente! – disse Charlie quando os dois amigos entraram na cozinha. Georgie soltou o braço do amigo imediatamente e correu para o lado de Ginny, bem em frente a Fred e se sentou.

George sentou-se ao lado do irmão gêmeo, mas não disse nada. Georgie encarou Fred para saber se ele havia se incomodado com o comentário de Charlie, mas ele não tinha expressão alguma enquanto cortava o seu pequeno pão.

— Dormiu bem, querida? – perguntou Molly, sentando-se a mesa ao lado do marido.

— Teria dormido melhor se alguém — disse Georgie, brincalhona, olhando diretamente para Percy do outro da mesa – Resolvesse voltar para casa e liberasse o quarto para mim.

— Acabei de decidir ficar até depois do ano novo só pelo seu comentário – disse Percy no mesmo tom e a garota sorriu. Percy definitivamente era o mais difícil e distante dos irmãos, mas Georgie gostava dele. E ele sempre a protegeu quando era monitor em Hogwarts, mesmo nunca tendo feito o mesmo pelos irmãos.

Se bem que ninguém poderia culpá-lo por isso. Fred e George nunca facilitaram para ninguém, muito menos para Percy, o Monitor-Chefe.

— Mamãe, acho que os Georgies estão finalmente se entendendo – comentou Ginny – Foram até alimentar as galinhas juntos e se abraçaram e tudo!

A garota riu fracamente. Esses comentários eram extremamente comuns e eram sempre brincadeiras entre eles, mas agora que Fred e Georgie estavam juntos, ouvi-los fazia a garota se sentir, no mínimo, estranha. Principalmente agora que ela conseguia ver perfeitamente Fred revirando os olhos na sua frente e sabia que o motivo disso era ela e não ciúmes do irmão.

— Nós sempre nos abraçamos, ele é meu melhor amigo, Ginny – disse ela.

— Ah! Eu também vi! – exclamou Bill, ignorando totalmente o comentário de Georgie – Sabe qual a melhor parte?

Todas as cabeças se voltaram a Bill que estava na ponta da mesa, exceto Fred que continuava a encarar seu prato e George que normalmente entrava na brincadeira, mas hoje estava achando tudo especialmente engraçado e resolveu colocar os cotovelos na mesa e apoiar seu queixo em suas mãos e observar o irmão gêmeo com um sorriso maroto no rosto.

— É que Georgie também é ruiva. Vai ser como você e papai, mamãe – disse.

— Uma família inteira de ruivos – disse Ginny devagar, depois assentindo e sorrindo para Georgie – Seria tão fofinho! Seriam como nós!

— É, mas vocês não precisam ter sete filhos também – disse Percy – Já vamos ter sobrinhos demais se cada um de nós tivermos uma quantidade normal de crianças.

Georgie mordeu o lábio inferior observando Fred fechar os olhos e apertar a ponte do nariz, controlando-se mais do que Georgie já o viu fazer em toda sua vida.

— Não sei, não – disse George, resolvendo participar, com um sorriso provocativo mirando o irmão e a amiga. Fred semicerrou os olhos na mesma hora encarando o irmão. Esse maldito estava se aproveitando! – Eu gosto da ideia de ter vários filhos.

— George...

— Vamos ter que nos reproduzir muito, Georgiana.

— Ok, mas para isso, vocês precisam se casar primeiro! – disse Arthur Weasley fazendo Fred arregalar os olhos, Georgie enterrar o rosto nos braços e George soltar uma gargalhada tão alta que poderia ser ouvida do lado de fora da casa e que ele provavelmente vinha prendendo desde o início – Vocês já tem 17 anos, eu não recomendo, mas podem se casar daqui a uns dois anos ou...

— Tudo bem, chega! Já deu! – disse Fred alto, chamando a atenção de todos enquanto George ria tanto ao seu lado que tinha lágrimas nos olhos e quase caía da cadeira. Todos na mesa olhavam assustados para o tom de voz que Fred havia acabado de usar, mas Georgie só conseguia morder os lábios para impedir que sorrisse. Provavelmente estaria gargalhando como George se não fosse com ela.

— Fred?

— Georgie não vai se casar com George – disse ele com firmeza – Nunca!

— Georgie? – repetiu Rony, incrédulo, trocando um olhar com Ginny.

— Desde quando você a chama de Georgie? – questionou a Weasley mais nova.

— Por que você está agindo assim, Freddie? – perguntou Bill calmamente.

— Porque ela é a minha namorada! Georgie é minha namorada e vocês ficam falando na mesa do café da manhã que ela vai... – ele balançou a mão agoniantemente em frente de si – se reproduzir com George e ter filhos como se não fosse estranho já que eles são mais irmãos do que eu e Percy!

— Fred! – exclamou a sra. Weasley, mas Percy apenas deu de ombros, como se concordasse. 

Georgie se engasgou no meio da risada, começou a tossir tanto que Ginny, mesmo chocada, parou de encarar o irmão e começou a dar tapinhas em suas costas.

— Namorada? – repetiu o sr. Weasley.

— Você e... Georgie? – perguntou Rony balançando a cabeça e apertando os lábios um no outro– Nossa Georgie? Não.

— Sou sua namorada? – perguntou a garota, ignorando todos os outros.

Fred a olhou com a sobrancelha arqueada.

— Está planejando me usar e depois jogar fora?

— Não! – respondeu Georgie imediatamente, um sorriso começando a nascer – Mas você não tinha dito nada.

— Eu amo você desde antes de saber o que era isso, Georgie, é claro que eu quero que você seja a minha namorada. Maldição, quero que você seja até mesmo a minha esposa – disse Fred, exasperado.

— Você não disse que me amava – disse ela, seus olhos brilhando enquanto encarava o garoto. Sabia que Rony estava dizendo algo com Ginny e que George os olhava com a maior cara de bobo do mundo, mas não conseguia processar nada disso. Só conseguia encarar Fred. Ele era a única pessoa do mundo para ela.

— Disse que estava apaixonado por você.

— Não é a mesma coisa!

— Bom, você também não me disse, se quer saber – disse, sua voz saindo serena. Será que era possível receber carinho de uma voz? Se fosse, Georgie achava que estava recebendo – Talvez...

— É claro que eu amo você! – exclamou Georgie, interrompendo a fala do garoto – Eu nunca pensei que poderia amar tanto, pra ser sincera, mas eu amo.

Fred sorriu, levantando-se e dando a volta na mesa, segurou Georgie pelas mãos fazendo com que ela se levantasse também.

— Pelas barbas de Merlin... – murmurou sr. Weasley enquanto Fred puxava Georgie para ele e a beijava como se não houvesse mais ninguém ao redor deles.

Se beijaram por segundos, mas Georgie sentiu como se durasse uma vida inteira. Será que beijar Fred Weasley sempre seria assim? Como receber uma vida nas mãos?

Felizmente ela teria a vida inteira para descobrir.

— Minha vida foi uma mentira – disse Ginny.

— A sua? E a minha?! – interveio Bill fazendo com Georgie risse ainda nos braços de Fred, de onde ela jamais gostaria de sair. – Eu os vi crescer! 

— Acho que a minha pressão até abaixou – disse Charlie – Mamãe, venha ver.

— Ora, calem a boca! – disse Molly Weasley encarando Fred e Georgie com um sorriso no rosto – Finalmente vocês se entenderam!

Fred e Georgie se encararam abismados.

— Finalmente? – questionou Fred.

— Eu pensei que você queria que eu ficasse com George!

— A senhora sempre falava dos dois, igual a esses idiotas – disse Fred, apontando para os irmãos.

— Não – disse ela com um sorriso misterioso – Sempre foi Fred pra mim. Pra mim e Jenna, pelo menos.

— É verdade – disse George – Mamãe sabe que eu e Georgie não temos nada a ver.

— Mas vocês são tão parecidos! – exclamou Ginny.

— É exatamente isso – disse Molly, levantando-se e passando a mão carinhosamente no ombro do filho – George e Georgiana sempre foram como irmãos. Quem gostaria de se casar com o seu irmão? 

— Mas... – começou Fred, mas parou quando a mãe fez um aceno com a mão.

— Era só provocação para te tirar da sua zona de conforto, querido. Funcionou, não é? – disse ela, rindo e virando-se para ir até a cozinha – Vou até fingir que não sei que vocês dois roubaram o carro de seu pai ontem à noite para ir sabe lá Deus onde.

Georgie levou as mãos a boca e arregalou os olhos e Fred riu incrédulo. Não era possível que sua mãe fingisse tão bem assim. Ele nunca, nunca havia percebido nenhum indício de que ela o queria com Georgie, mas agora, quando ele parava para pensar, até que fazia sentido todas as vezes em que ela o separava de George em alguma tarefa doméstica e o mandava ajudar Georgie e vice-versa.

Pior, ela torcia tanto pelos dois que o viu roubar o Ford Anglia no meio da noite e não disse nada!

— Depois dessa você nunca mais vai conseguir se livrar de nada na vida – avisou seu pai – Sua sorte acabou de acabar.

— Ou de começar – disse ele trocando um olhar rápido com Georgie, que corou bruscamente.

— Ok – disse Bill em alto e bom som, espalmando uma mão na outra – Frederick e Georgiana. Ok. Consigo ver isso.

A garota sorriu e correu até o Weasley mais velho, entrelaçando seu braço no dele – Se Fred não estragar tudo e me der o sobrenome de vocês de verdade, prometo que você será meu padrinho, Bill. Imagine só!

— Ei! – exclamaram Fred e George ao mesmo tempo.

— O que é? – Georgie bufou antes de se voltar para os gêmeos. 

— E eu?

— Você será meu padrinho, seu mal-amado – disse Fred como se fosse óbvio e revirando os olhos para o irmão, depois se voltando a Georgie – Se Fred estragar tudo?

— E quem estragaria? Eu?

Ginny espalmou as mãos na mesa, se levantando e encarando o irmão que era uns bons vinte centímetros maior que ela como se ele fosse uma pequena baratinha.

— Se você sonhar em magoar Georgie, Fred...

— Eu não vou magoá-la!

— Se você machucar Georgiana, eu nem sei o que eu faria com você – avisou Bill que agora abraçava a garota protetoramente e olhava para Fred como se ele fosse pai dela.

— Por que eu magoaria ela, gente?

— Não sabemos – respondeu Rony – Mas você é meio burro.

— Vocês são da minha família, sabem disso, não é? Meus irmãos.

— Sabemos e não muda nada – Charlie deu de ombros.

— É, eles têm razão – disse Percy dando de ombros também e Fred riu sem acreditar naquela conversa. Até mesmo Percy! – Georgie é... Georgie. Ela foi nossa irmã antes mesmo de Ginny pensar em nascer.

Fred olhou para as pessoas a sua frente sem acreditar. Georgie sorria ainda abraçada com Bill e seu pai apenas desviou o olhar de Fred para esconder uma risadinha também.

— Relaxem, ok? – pediu George olhando para os irmãos.

Fred o olhou em agradecimento rápido demais.

— Ele sabe de tudo disso. O primeiro soco naturalmente seria meu.

— Não, o primeiro soco seria meu – disse Georgie indo até Fred e entrelaçando seus dedos no dele. – Quebraria o nariz dele e nem mesmo Tia Molly conseguiria consertar.

Fred sorriu. Embora estivesse sendo ameaçado, havia gostado da reação de todos e gostava do quanto sua família apreciava Georgiana.

Não mais do que ele, é claro.

— Eu nunca machucaria você – disse Fred encarando os grandes olhos azuis de Georgie que sorriam junto com seus lábios – Estou totalmente e completamente preparado para ser o namorado de Georgiana Morgan. Esperei minha vida toda por isso.

— Ótimo, porque acho que esperei a minha vida toda por você também – respondeu e com um sorriso ainda maior, completou: – Quem quer participar da primeira guerra de bola de neve Fitzpatrick do ano?

*

— Você não fez isso! – gritou Georgie limpando a testa depois de Fred a acertar com uma enorme bola de neve. Ela jogou-se no chão para desviar da segunda quando Ginny colocou-se a sua frente e jogou uma acertando bem no meio do peito do irmão mais velho.

Georgie riu enquanto Fred caiu teatralmente no chão e começou a se rastejar para perto dela. 

— Fui abatido – disse ele e Georgie sorriu inocentemente quando ele parou a sua frente. 

— Coitadinho... 

Georgie levou uma das mãos até o rosto do garoto, inclinando-se como se fosse beijá-lo, mas no último segundo se afastando e esfregando toda a neve que havia conseguido pegar com sua mão livre no rosto de Fred, que só esboçou alguma reação quando George o puxou pelos ombros fazendo com que ele se deitasse na neve.

— Um dia namorando e já está começando a afetar seu cerébro – disse George apontando para o rosto cheio de neve que o irmão tentava limpar. Fred riu enquanto se levantava rapidamente.

— Eu achei que você pegaria leve agora que sou sua namorada – disse Georgie que já estava de pé também.

Fred viu quando Ginny e George saíram de fininho, deixando os dois sozinhos no quintal. 

— Não, não pensou não – retrucou Fred passando a mão levemente pelos cabelos acobreados de Georgie e tirando um pouco da neve que insistia em ficar ali. 

Georgie deu de ombros e sorriu, observando enquanto Fred tentava, delicadamente, deixá-la mais composta. Eles ainda eram os mesmos, mas ao mesmo tempo, não eram. 

E era tudo melhor. 

Um vento passou, fazendo com que a vassoura de Ginny que estava encostada perto da varanda caísse. Georgie só percebeu que encarava o objeto no chão quando Fred segurou a ponta de seu queixo e a puxou para ele.

— Tudo bem?

Ela respirou fundo. A imagem da vassoura ainda em sua mente. Fazia quanto tempo que não tocava em uma vassoura? Seis, sete, oito meses? Georgie sentia-se em conflito. Sentia falta de voar. Sentia falta da sensação do vento em seu rosto e da alegria que era marcar pontos para o seu time. De erguer a taça, de ser uma capitã...

Estava tão presa em pensamentos que nem sequer percebeu quando Fred tirou a varinha do bolso e disse, não muito alto:

— Accio Vassouras.

Imediatamente duas vassouras saíram voando do pequeno armário no canto do quintal e antes que pudesse evitar e porque seu corpo estava acostumado demais com aquilo, Georgie estendeu a mão, segurando a vassoura antes que ela caísse aos seus pés. Fred segurou a outra. 

O coração de Georgie acelerou, sentiu um gosto amargo na boca quando seus dedos passaram levemente pelo cabo da vassoura onde havia uma pequena inscrição feita anos atrás.

Era sempre uma briga n'A Toca quando todos queriam jogar quadribol, porque nunca havia vassouras suficientes e Georgie frequentemente aceitava ficar de fora para não atrapalhar. 

Fred e George usavam as vassouras antigas de Bill e Charlie em Hogwarts, até que, em seu aniversário no terceiro ano, Jenna Morgan os deu suas primeiras vassouras. Suas, de mais ninguém. E novinhas! George mal conseguira acreditar que havia ganhado uma também já que apenas Fred era afilhado da mais velha, mas a verdade é que ela estava encantada com os dois e a filha estreando no time da Grifinória e como uma boa desportista, faria de tudo para continuar os incentivando. Eles voaram a tarde com Georgie por todo o campo e quando cansaram, Molly Weasley estava separando as vassouras antigas. Rony ficou com a vassoura antiga de George e antes que pudesse dizer o que iria fazer com a de Fred, o garoto pulou e puxou a vassoura das mãos da mãe, pedindo que esperasse. 

Ele correu até a oficina do pai com George nos seus calcanhares e voltaram depois de alguns minutos. E quando voltaram, era George quem segurava a vassoura. Pararam na frente de Georgie e o garoto a estendeu para amiga. Georgie segurou a vassoura e quando seus olhos foram parar no canto do cabo, brilharam. 

Reservada especialmente para Georgiana Morgan.

Não porque ela não tinha uma vassoura, ela tinha. Sua mãe sempre certificava-se de comprar a melhor. Mas porque agora ela tinha uma vassoura ali, na casa de seus amigos e isso significava mais do que conseguia colocar em palavras. Então, sem pensar muito, Georgie jogou os braços ao redor do pescoço de George dizendo "obrigada" tantas vezes que acabou perdendo o sentido em sua cabeça. Era a primeira vez que se abraçavam sem serem coagidos pelos pais. Só tinham doze ou treze anos, afinal de contas. Estava prestes a fazer o mesmo com Fred, quando ele deu um passo para trás, de repente muito tímido. Georgie sorriu e estendeu a mão para Fred, que logo a apertou com um sorriso também.

— Você sempre fez essas pequenas coisas – murmurou ela – Georgiana — disse, enquanto passava o dedo pelo seu nome – Eu devia saber que havia sido você. 

— Eu disse que tinha esperado bastante tempo – comentou e mesmo sem olhar para ele, Georgie sabia que estava sorrindo, então virou-se para ele, pois ver o sorriso de Fred nunca era demais. – Georgie, vamos voar? 

Ela não respondeu. Fred a olhava de maneira suave, apaixonada e calma. Não havia pressa. Não havia pressão. Não estava pedindo que subissem na vassoura, estava apenas perguntando porque sabia que aquilo era importante para ela. Conseguia ver no modo em que ela olhava para a vassoura em sua mão.

— Eu... – ela começou sem saber direito o que queria dizer, apenas esperando que as palavras saltassem de si, mas nada saiu. Fred acariciou as poucas sardas que atravessavam o rosto de Georgie. 

— Não precisamos... se você não quiser – disse, enfatizando a última parte – Mas primeiro precisa me dizer o que você quer. O que quer de verdade.

Georgie respirou fundo, sentindo seus olhos arderem e os nós de seus dedos ficarem brancos de tanto apertar o cabo da vassoura que segurava ao lado do corpo. Com a mão livre, ela apertou a mão de Fred que fazia carinho em seu rosto.

— Não quero mais ter medo, Freddie – disse em um fio de voz, percebendo tarde demais quando uma lágrima solitária escapou de dentro de si e começou a percorrer o seu rosto – Quero fazer o que eu gosto, quero fazer isso por mim e por ela, mas... 

— Você tem a sua resposta, meu amor – disse Fred e um sorriso infantil começou a surgir lentamente no rosto dos dois. – Sempre quis chamar você de meu amor. É estranho?

— Não – ela riu fracamente – Eu gosto. Gosto de ser o seu amor. 

Fred puxou Georgie levemente apenas para depositar um beijo sereno em sua testa. 

— Não saia do meu lado – disse Georgie depois que ele a soltou.

— Nunca – respondeu ele, passando uma perna por cima da vassoura, assim como Georgie. 

Georgie não se mexeu, continuou montada na vassoura olhando para frente com Fred ao seu lado. 

— Ainda lembra das nossas aulas de voo? – perguntou Fred – Não sou nenhuma Madame Hooch, mas acho que temos que dar um impulso para cima.

— Ha-ha, Fred Weasley.

— Você consegue – disse ele depois de um tempo – Você não tem medo de voar, Georgie. Sabe disso. 

— O Ford Anglia não é a mesma coisa.

— É exatamente a mesma coisa. Sabe por que? – Georgie se virou para encará-lo. – Porque estou aqui do seu lado. Segure a minha mão e não prenda esses seus pés gigantes no chão. 

Aconteceu tudo muito rápido. Georgie abriu a boca para dizer que seus pés não eram grandes e ele sabia muito bem disso, pois ela já havia usado eles para pisar em sua barriga certa vez, mas quando ela segurou a mão dele, Fred os puxou para cima, mas não muito. Apenas um metro, provavelmente. Para jogadores de quadribol como Georgie e ele, isso não era nada. 

— Mais um pouco, pé grande? – perguntou e Georgie, que olhava para o chão abaixo deles, o encarou com os olhos apertados – Sim? Ok!

— PARE DE FALAR DOS MEUS PÉS! – gritou a garota enquanto Fred a puxava novamente.

Eles estavam a quase cinco metros de distância do chão quando Georgie puxou sua mão de volta e olhou ameaçadoramente.

— Não comece com isso! Você sabe que não tem nada de errado com meus pés!

— Não tem nada de errado se você quiser uma prancha para se equilibrar – disse dando de ombros e se afastando dela. 

— Eu vou matar você! – disse ela, apoiando as duas mãos na vassoura e se inclinando para começar a persegui-lo. 

Fred riu alto enquanto se virava e ficava de cabeça para baixo na vassoura se afastando mais e mais. Estava parecendo Pirraça, pensou ela, acelerando e quase encostando nele. O vento fazia com que seu cabelo ruivo voasse para todos os lados. Quem a visse lá em cima enxergaria apenas um grande raio vermelho em volta de seu rosto. 

Foi só quando Fred deu a volta na casa perguntando aos gritos se os pés dela estavam fazendo com que ela se desequilibrasse e depois parou subitamente em cima do local onde eles estavam que Georgie percebeu o que estava acontecendo. 

Ele estava a provocando de propósito, para ela não perceber que estava... 

Georgie olhou para baixo. Não fazia ideia de quantos metros acima do chão estava, só sabia que estava no topo d'A Toca e se chamasse o Vampiro de Rony que vivia no sotão, provavelmente ele ouviria. 

Estava voando. Estava mais do que voando. Em meio a irritação que a risada debochada de Fred a causou enquanto a chamava de Iéti, ela saiu voando o perseguindo sem nem sequer pensar. 

Seu coração batia forte no peito enquanto ela olhava em volta. Conseguia ver tudo. 

Georgie nunca havia conseguido explicar o porquê de gostar tanto de quadribol. As pessoas costumavam dizer que era por causa de sua mãe, já que Jenna Morgan havia sido uma das maiores artilheiras que o Reino Unido já vira, mas não era por isso. 

Bem, com certeza ajudava. Desde que Georgie demonstrou o mais remoto interesse no esporte, Jenna comprou vassouras de brinquedo, capacetes, joelheiras e tudo mais – principalmente porque Elliot, seu pai, nunca confiou em Georgie em uma vassoura. Quando fez o teste para o time da Grifinória e entrou, Jenna fez uma festa. E ela amava o quão boa Georgie era. Estava em seu sangue, Jenna costumava dizer. Não havia como negar. 

Era talentosa como a mãe.

E Georgie sempre gostara de ser. Não gostava quando as pessoas achavam que era tudo mais fácil para ela por ser filha de Jenna Morgan, porque não era. Na verdade, era até mais difícil. Se não fosse boa como era, teria que se esforçar muito mais para ser e não envergonhar a mãe. De qualquer forma, Jenna amava quadribol com todo seu ser e Georgie também. Independentes uma da outra. Isso fazia com que Georgie pensasse que essa paixão, esse pequeno talento nato que ambas tinham, era uma espécie de ligação especial entre as duas. Se amavam tanto, eram tão ligadas uma com a outra que havia culminado nisso. Quadribol através da placenta. 

Então, ali, sobrevoando sob a Toca com a antiga vassoura de Fred/Bill que tantas vezes havia usado durante as férias e coração saltitando como na primeira vez que entrou em campo durante um jogo, Georgiana pensou ter entendido algo que ela só sentiria verdadeiramente anos mais tarde.

Se lembraria de sua mãe o resto da vida. Sempre. Mas não havia lugar melhor para se estar com ela senão no céu, fazendo o que as duas mais amavam. 

Quando a garota olhou para baixo e encontrou os olhos de Fred, sorriu, e ela percebeu que ele também sorria. Virou sua vassoura e no instante seguinte estava ao lado do namorado.

— Como está se sentindo?

— Estou bem – respondeu com sinceridade – Estou realmente bem. 

Fred abriu um largo sorriso e se aproximou, tocando o rosto de Georgie.

— Quer dizer que agora eu vou namorar não só a garota mais bonita e brava de Hogwarts, mas também a capitã do time de quadribol? 

Georgie sorriu – Não sei. Apenas se... me aceitarem de volta.

— Tudo que nós queremos é você de volta, Georgie. Todo o time. Todos sentem a sua falta. 

— Obrigada. Por me incentivar e ficar do meu lado. Não teria feito nada disso sem você.

— Claro que teria – respondeu ele imediatamente – Você é Georgiana Morgan. Consegue fazer qualquer coisa!

Georgie revirou os olhos e avançou para beijar desajeitadamente os lábios de Fred com as duas vassouras entre eles. Mas mesmo de maneira de desajeitada, ainda era o melhor beijo do mundo para Georgie. E teria durado muito mais do que durou se de repente não tivessem ouvido alguém pigarrear perto deles. 

— Não estou exatamente surpreso – disse Elliot Morgan, olhando para a filha e para o enteado com os olhos semicerrados –, mas também não estou exatamente feliz.

— Papai! – gritou Georgie descendo da vassoura imediatamente e correndo até o homem alto e imponente parado na frente da porta dos fundos d'A Toca. 

Elliot era bonito e sério na mesma medida. Ele quase nunca fazia piada, seu humor era bem mais ácido que o de Jenna e a personalidade dos dois nunca tinha sido muito parecida. Elliot era até mesmo da Sonserina – e ficou um pouco desapontado quando Georgie foi colocada na Grifinória como Jenna. Quando Georgie começou a crescer e a reparar na personalidade dos pais, ela começou a se perguntar o que fazia eles terem se apaixonado um pelo outro. Molly dizia que eles eram o equilibrio perfeito. Talvez fosse isso mesmo. Georgie sempre reparara que Jenna fazia Elliot sorrir não importando a situação e que ele costumava ser o único que colocava fim em alguma crise de raiva de Jenna. E ele era sempre romântico com ela, tinha que admitir. Sempre trazia flores e nunca faltava a um jogo de quadribol sequer. Nunca. E quando tinha uma reportagem no Profeta Diário realmente fascinante sobre Jenna, ele a recortava e fazia um quadro especial para colocar no "Mural da Melhor Artilheira do Mundo". Sem contar que quando Georgie viu a foto da Classe de Poções do ano de seus pais, percebeu que seu pai foi um adolescente muito bonito. Isso explicava o porquê de Jenna ter o dado uma chance, para começo de conversa.

É. Georgie demorou um pouco para perceber o quanto o amor de seus pais era especial. Mas agora ela percebia.

Percebia muita coisa.

E uma delas é que estava com muita saudade de seu pai.

Jogou seus braços ao redor dele em um abraço caloroso e apertado que Elliot logo retribuiu.

— Não acredito que veio! – disse ela – Embora o jantar tenha sido ontem.

— Não poderia deixar de trazer o seu presente de natal – disse ele depois olhando para Fred, que já havia deixado as vassouras e se encontrava atrás de Georgie –  E um certo alguém meio que me intimiou a vir também. Se eu soubesse que o preço de não vir seria você namorando a minha filha, não teria demorado tanto.

— Vamos lá, Tio Elliot! – reclamou Fred – Você é meu padrinho! Me conhece!

— Sim, esse é o problema – disse ele girando o dedo na frente do rosto de Fred – Eu te conheço desde a primeira hora em que apareceu nesse mundo, Frederick.

Georgie soltou uma gargalhada, pois sabia que seu pai estava brincando, mas Fred estava começando a parecer amedrontado e ofendido. Ela puxou o braço do pai para baixo.

— Papai, pare. 

Ele olhou para Fred e abriu um pequeno sorriso. 

— Estou apenas brincando, mas quero saber como tudo aconteceu – disse ele olhando para os dois – Pensei que...

— Que seria George, eu sei – completou Fred pelo padrinho e revirou os olhos – Mas eu não sou muito mais bonito? Muito mais legal? Não acha que seus netos vão ser muito mais bonitos comigo?

— Netos? – indagou Elliot com um ar de reprovação. – Acho que preferia George. 

— Papai, ele está brincando! 

Fred sorriu e concordou com a namorada, despedindo-se logo em seguida para dar privacidade aos dois. 

Elliot e Georgie entrelaçaram seus braços e começaram a caminhar pelo terreno que cercava a casa. Ficaram em um silêncio confortável por um tempo.

Georgie amava falar. Nunca calava a boca quando estava com Jenna. Mas estar com o pai era diferente. Quando era pequena, lembrava-se de ficar ao seu lado durante horas, apenas lendo com ele, cada um no seu lado do sofá. Ou apenas se esgueirar para perto dele e dormir ao seu lado enquanto ele lia algum livro ou artigo do trabalho.

— Vi que estava voando – disse ele e Georgie assentiu.

— Foi a primeira vez.

— Fico feliz, Georgie. Feliz de verdade. Aposto que sua mãe também.

Georgie assentiu lentamente enquanto entravam dentro do pomar de Molly Weasley. 

— Sempre gostei daqui – disse ele – Os Weasleys. Conseguem fazer até alguém como eu sentir-se em casa. 

— Acho que é um dos meus lugares favoritos no mundo.

— Que bom que sua mãe nos trouxe eles.

Ele sorriu e puxou a filha em direção aos pequenos troncos de árvore cortados em uma das extremidades. Os dois se sentaram lado a lado.

Georgie observou que seu pai parecia mais em paz do que da última vez que o viu. Não menos triste, apenas... tranquilo. De uma maneira não muito assustadora, embora embaixo de seus olhos ainda houvesse um claro sinal de que o luto não havia passado para ele. 

— Trouxe uma coisa para você – disse ele, enfiando a mão no bolso e tirando de lá uma pequena caixinha e enquanto Georgie abria, ele continuou falando – Foi o primeiro presente que dei a sua mãe. Assim que saímos de Hogwarts e ela entrou em seu primeiro time de quadribol da liga profissional.

Georgie reconheceu assim que o viu. Era um fino colar dourado e seu pingente era um delicado pomo-de-ouro. Sua mãe o usava em todos os jogos, sempre. Dizia que era seu amuleto da sorte. 

— Não entendia muito de quadribol na época que comprei isso, embora, de fato, soubesse que sua mãe sempre fora uma artilheira – disse ele com um sorriso triste – Só sabia que o pomo-de-ouro era um grande simbolo do esporte. Você sabe que sempre fui um cara mais da Herbologia e das Poções.

— Não acho que posso aceitar, papai – disse Georgie, seus olhos enchendo-se de lágrimas. Lágrimas que ela tentara tanto nunca derrubar em frente ao seu pai. – Era o amuleto da sorte dela e...

Elliot balançou a cabeça, fechando a caixa devagar e o empurrando ainda mais para as mãos de Georgie. 

— Não existe ninguém melhor para ter um desses do que você – disse – Se tornará o seu próprio amuleto da sorte também quando estiver em seu primeiro jogo oficial.

Georgie ergueu os olhos para encarar o pai.

— Sempre achei que você me quisesse no Ministério.

Ele suspirou.

— Sempre quis muitas coisas, Georgie. Algumas estavam certas, outras não – ele sorriu colocando uma mecha do cabelo da filha atrás da orelha – Você é incrivel como sua mãe. Você é alegre, forte, determinada como ela também. Sempre soube que, no fim, você faria apenas o que você quisesse. 

— Não sei se jogo tão bem para ser uma jogadora profissional.

— Mas você vai tentar? – perguntou ele suavemente.

Georgie observou os olhos azuis do pai, tão sinceros e cuidadosos parados em si.

— Sim, eu vou tentar – respondeu e ele abriu um sorriso. 

Elliot respirou tão fundo enquanto encarava a neve que cobria o topo das árvores a sua frente que parecia ter tirado vinte quilos de suas costas.

— Estou feliz por isso. Sempre vi o quanto você amava quadribol. Exatamente como Jenna quando tinha a sua idade e pessoalmente, acho que nunca vi como fariam você ficar trancada em um escritório durante o dia inteiro – disse ele fazendo Georgie sorrir – Quando soube que você tinha saído do time, fiquei devastado. Me senti muito culpado. 

— Não foi sua culpa!

— Eu sei que você precisava de mim, Georgie – disse ele – Foi egoísta e um péssimo pai. Não fui embora, mas abandonei você mesmo assim. Achei... achei que não conseguiria sobreviver sem ela. Sua mãe foi o grande amor da minha vida e não acho que essa dor vai parar tão cedo. Essa sensação de que eu não estou mais por completo nesse mundo também – ele parou por um momento – Não existem justificativas. Eu errei. Jenna teria arrancado meus cabelos se pudesse e por isso... Peço desculpas. 

As palavras de Elliot eram tão cruas que fizeram Georgie se arrepiar. Sempre vira a morte da sua mãe do seu lado da história. Nunca conseguiria entender o que era perder o amor de sua vida. Pelo menos era o que esperava. 

— Eu nunca mais ficarei tão distante – disse ele com firmeza – Se você me perdoar...

— Eu te perdoou se você me perdoar – interrompeu Georgie – Não sou mais criança, papai. Eu também deveria ter ficado ao seu lado, mas eu só... fugi. Nós dois fugimos. Mamãe nos mataria. 

Elliot riu e concordou.

— Então... você está apaixonada?

Georgie sentiu suas bochechas corarem e se virou, não querendo encarar o pai.

— Acho que estive apaixonada por Fred durante bastante tempo, só não conseguia ver. Nosso timing foi confuso. Mas nesses últimos dias... Nós conversamos, nós saímos e ele me ajudou com todo o medo de voar. Eu me sinto muito feliz. É até esquisito.

— Fred é um bom garoto. Gosto dele.

— Claro que gosta dele, papai, você é o padrinho dele.

— Eu o amo com todo meu coração como meu enteado, sim, mas como seu namorado? Ele vai precisar se esforçar.

— Você está só brincando que eu sei.

Elliot sorriu, colocando o braço sob o ombro da filha e a puxando para si – Um pouquinho, sim. Mas ele não precisa saber.

 

Uma das partes favoritas de Georgie no natal, era a troca de presentes. E ela sempre trazia presentes para todos. Naquele ano, trouxera dois postêres autografados por jogadores de quadribol famosos para Ginny e Rony. Holyhead Harpies e Chudley Cannons, respectivamente. Percy ganhou três gravatas coloridas, pois Georgie havia passado o ano anterior inteiro o dizendo o quanto suas gravatas eram sem graça e ele a ignorou, então a garota resolveu fazer o trabalho ela mesma. Deu a Arthur e Molly, seus padrinhos, algo que sua mãe havia planejado meses antes do acidente dela acontecer: uma viagem a dois pela França. Sabia que era uma extravagância e os dois tentaram recusar, mas pararam quando Elliot disse que este havia sido o único presente que Jenna havia conseguido escolher. Deu a Bill uma camisa branca com uma estampa de caveira no meio que um de seus colegas que moravam com trouxas havia trazido. Assim que viu, lembrou-se de Bill e não conseguiu evitar; e Charlie ganhou um pequeno dragãozinho de pelúcia, que o fez rir e revirar os olhos, mas Georgie o conhecia bem o suficiente para saber que deixaria ao lado da cama em sua casa na Romênia. 

Depois de receber botas de couro de dragão de verdade de Bill e Charlie e um suéter que coincidentemente combinava com o de Fred de Tia Molly, Georgie subiu correndo com Fred e George para o quarto dos dois. 

Faziam isso todo ano. Trocavam seus presentes sozinhos. Era quase um ritual para os três desde que começaram a conseguir juntar dinheiro para presentear os amigos. 

Georgie havia planejado enviar uma coruja com eles até quatro dias atrás, pois achava que não estaria ali, sentada em cima do tapete velho e felpudo que ficava no meio do quarto dos gêmeos com os dois sentados a sua frente. Mas agora, sentia-se muito feliz por não ter feito isso.

— Tenho duas coisas para dizer – disse George, puxando o presente de Georgie que estava debaixo de sua cama – A primeira é: se vocês tiverem trocado os presentes que compraram um para o outro, eu vou saber. E isso é totalmente contra as regras. 

— Como poderíamos fazer isso em Hogwarts e em três dias aqui, idiota? – perguntou Fred. 

George respondeu que não confiava nos dois agora que estavam namorando, mas Georgie não prestava atenção. Apenas lamentava que os pais de Daisy fossem tão rigídos e não deixassem que ela passasse um natal sequer com eles. 

Mas ela sempre recebia os presentes assim que eles voltavam, já que ela se recusava a receber ou enviar presentes de natal por corujas.

— Ok, vamos logo com isso! –  pediu Georgie com um sorriso – Vocês primeiro.

— Eu gostaria de lembrar que o presente foi comprado antes de qualquer coisa entre nós.

Georgie arqueou as sobrancelhas.

— Qualquer coisa! – reforçou ele entregando uma pequena caixa para Georgie.

George havia jogado sua cabeça para trás e ria como se soubesse o maior segredo do mundo. 

Georgie abriu a caixa e quase engasgou. Primeiro havia um pequeno buquê de margaridas enroladas em uma fita amarela, brilhavam tanto que Georgie pensou que provavelmente haviam sido encantadas para não murcharem. Quando retirou elas de cima, deu de cara com uma pequena boina em um tom de rosa muito claro e quando a tocou sentiu os pêlinhos dela fazendo cócegas em sua mão. Mas quando a tirou da caixa, um par de meia caiu de dentro dela.

As meias eram roxas e estavam colocadas uma na outra com uma fita branca. Georgie passou a língua entre os lábios.

— Vou quebrar o seu nariz – disse simplesmente.

Fred tentou ficar sério enquanto pulava para o lado de Georgie, mas não conseguiu, o que só a deixou mais irritada. 

— Meu pé tem um tamanho totalmente normal para uma pessoa de 17 anos!

— Sim, amor, é claro que tem, é claro que tem – disse de forma condescendente, o que fez Georgie querer empurrá-lo pela janela, mas então ele puxou as meias de sua mão, tirando a fita – Olhe. Você não olhou. Foi mamãe que fez.

Tinha uma linha branca no meio das meias, mas apenas uma delas possuía quatro silhuetas que Georgie logo reconheceu como sendo um desenho dela, Fred, George e Daisy. Ela mordeu os lábios para não abrir um sorriso, porque de fato era um presente muito fofo. Apesar dela saber exatamente a piada atrás dele.

— E era assim, senhoras e senhores, que Fred Weasley planejava ganhar o coração de Georgie Morgan–  disse George, entregando o seu presente.

— Não vou dizer que funcionaria – disse ela rasgando a embalagem – Mas também não vou dizer que não funcionaria. Ah, George! Um cachecol! Que lindo! 

Georgie esticou o cachecol azul a sua frente antes de jogá-lo sob o pescoço e depois pegar a boina que Fred havia dado e colocar na cabeça.

— Obrigada, garotos. Eu amei todos, até mesmo a meia. Vou usar no meu primeiro jogo como capitã de novo.

Ela pegou as duas caixas que estavam ao seu lado enquanto dizia que não havia tocado nos presentes desde que havia embalado. A primeira, uma caixa verde com listras brancas, foi colocada na frente de George. E a segunda, vermelha com pequenos tacos de quadribol por toda sua extensão, foi colocada na frente de Fred. Na tampa de cada um dos presentes, era possível ler, em um pequeno pergaminho colocado no canto, a mensagem de Georgie para os gêmeos. 

Para Frederick, o meu próprio pirraça, que alegra muitos dos meu dias (quando não está me irritando). Com amor, Georgiana.
Para Georgiezinho, meu irmão de alma hoje e sempre. De sua irmã, Georgiezinha. 

Nunca gostara de dar o presente dos dois como se fossem um só. Havia aprendido isso com a sua mãe. Ninguém gosta de sentir como se não tivesse importância, dissera ela. Desde esse dia, Georgie fazia questão de mostrar aos dois, Fred Weasley e George Weasley, que eram pessoas diferentes embora fossem gêmeos idênticos e que ela reconhecia e conhecia os dois individualmente. 

Quando George abriu, deu de cara com uma tela de pintura em branco, um estojo de tintas e pincéis e um caderno com lápis ao lado. Poucos sabiam que George desenhava e pintava tão bem. Georgie, no entanto, era uma das sortudas que o garoto deixava que conhecesse seu talento.

Os olhos dele brilharam.

— Obrigado, Georgie. Obrigado – ele colocou a caixa de lado e se apoiou nos joelhos para abraçar a amiga rapidamente. Georgie sentiu a emoção em sua voz, mas não disse nada. Ao invés disso apenas trocou um olhar com Fred, que sorria igual a ela. George pareceu feliz e deixar o garoto feliz era uma das coisas favoritas tanto de Georgie quanto de Fred. George merecia ser tratado com todo amor do mundo e era isso que seus amigos iriam fazer. 

— Tudo bem, agora é a minha vez – anunciou Fred – Espero que seja bom. Você sempre dá os melhores presentes para George.

— E eu espero que continue sendo assim. O namoro deve mudar a vida de vocês e não atrapalhar a minha – comentou ele, mais distraído do que qualquer outra coisa, porque agora já havia se afastado e começava a tirar os presentes de Georgie da caixa, mas a garota riu, sabendo que embora os presentes mudassem, provavelmente George continuaria recebendo os melhores, tanto dela quanto de Fred – embora os dois tenham combinado de não gastar dinheiro com si mesmos naquele ano, pois estavam economizando para a loja de logros que queriam montar, Fred sempre comprava coisas incríveis para o irmão gêmeo. 

Quando Fred tirou a tampa, soltou uma risada. 

— Não sabia o que te dar esse ano – explicou Georgie – Então fui comprando tudo que me lembrava você ao longo dos meses.

Dentro da caixa havia um livro entitulado "Como sobreviver sendo um idiota" que fez com que Georgie desse de ombros quando ele a olhou. Havia também alguns fogos de artíficio enrolados com uma fitinha preta no canto, um saquinho de balas em forma de cerébro que Georgie havia colocado um pequeno pedaço de papel na frente, escrito: "porque você bem que precisa de alguns", o que fez com que Fred risse mais ainda. E então, quando tirou esses objetos da caixa, encontrou uma linda camisa se botões de um azul tão claro quanto os olhos de Georgie, o que fez com que ele gostasse dela assim que a viu. 

— É linda, Georgie – disse ele e ela balançou a cabeça quando ele começou a colocá-la de volta na caixa. 

— Não acabou ainda – ela apontou – Você me perguntou se éramos mesmo melhores amigos. Comprei isso em uma das primeiras vezes que fomos a Hogsmeade neste ano. Você já tinha até mesmo começado com essa história de pé grande de novo. 

Fred colocou a camisa de lado e tirou de dentro da caixa um grande porta-retrato. Dentro dele estavam quatro adolescentes sorridentes no meio do campo de quadribol após a vitória da Grifinória no último jogo durante o sexto ano, quando Georgie era capitã e quando eles levaram a taça para casa mais uma vez. Georgie havia passado cada braço pelos ombros dos gêmeos enquanto cada um dos dois segurava uma das pernas de Georgie, como se ela estivesse sentada em um trono. Daisy estava abaixada na frente deles ao lado da Taça de Quadribol, tentando ficar do tamanho dela e erguendo dois dedos para câmera. Eles sorriam tanto. Georgie não lembrava-se de ter sorrido tanto assim até aqueles últimos dias n'A Toca. 

Fred reparou, com um sorriso que aqueceu todo seu corpo, quando ele disse algo na foto perto do ouvido da garota fazendo com que Georgie soltasse uma gargalhada jogando sua cabeça para trás por um segundo e depois se aproximasse ainda mais dele. 

No canto da foto, mas dessa vez em uma caligrafia não tão torta nem rápida quanto Georgie costumava fazer, estava escrito:

"Sir George, Princess Daisy, Frederick, O Mago e Georgiana, A Bruxa. Desvendando os mistérios do universo desde '78 e '89 e juntos daqui até a lua." 

Fred sorriu lembrando-se dos apelidos criados por eles quando tentavam jogar RPG, um jogo trouxa, com Katie Bell. Ele não disse nada, apenas colocou as coisas de volta na caixa e inclinou-se em direção a Georgie que já estava bem próxima a ele e sem se incomodar com George encostado na cama a frente deles a beijou. Segurou seu rosto com as duas mãos enquanto Georgie colocava a mão entre seus cabelos e o puxava para mais perto. Se beijaram por dois minutos, talvez duas horas ou até mesmo durante mil guerras de bola de neve. Não tinha como saber.

Fred terminou o beijo com pequenos selinhos, sem se soltar de Georgie. 

— Obrigado. É tudo lindo. Eu gostei de tudo – murmurou.

Georgie sorriu, mas antes que pudesse responder, George, que estava perto dos dois jogou uma folha a frente dos dois. Quando os olhos de Georgie acharam a folha, brilharam.

— Georgiezinho! Você é tão romântico! 

Na folha, em um desenho simples, mas esplendorosamente bem feito, Fred vasculhava a caixa com um sorriso de lado enquanto Georgie o encarava com expectativa e carinho. George conseguira colocar tudo em um só desenho.

— Ficou muito bonito, George. Obrigado.

— É, bem, vocês são fáceis de desenhar. Mas não fiquem se amassando na minha frente. 

Georgie riu e concordou. 

Os três escreveram uma carta para Daisy naquela noite antes de Fred e Georgie correrem para a árvore deles no pomar. Contaram que Georgie voou e contaram o que cada um ganhou de presente, mas deixaram de fora quais seriam os presentes dela e o namoro repentino de Fred e Georgiana. Os dois ainda estavam pensando na melhor forma de chocar as pessoas quando as aulas voltassem, porque sabiam que ninguém acreditaria ser Fred e não seu irmão.

Sentados com as pernas no ar e observando a noite escura e estrelada a frente deles que iluminava um chão completamente congelado de tanta neve e no local onde tudo parecia ter despertado de uma vez para os dois, Fred tocou a mão de Georgie e entrelaçou seus dedos nos dela. 

— Foi um bom natal? – perguntou baixinho.

— Foi um natal incrível – respondeu Georgie, repousando a cabeça no ombro do namorado.

Fred sorriu mais ainda. 

— Prometo apenas bons natais para você, Georgie.

Georgiu riu e depositou um beijo na bochecha do garoto ao seu lado.

— Então eu te prometo apenas boas vidas. Essa e as próximas. Ficarei com você em todas elas, porque estou começando a achar que o amor que sinto por você não cabe apenas nesta, Freddie. 

Fred suspirou, totalmente rendido e apaixonado, rindo fracamente enquanto sentia Georgie passar o rosto pelo seu pescoço e depositar pequenos beijos delicados por aquela área. Seu coração pulando tanto no peito que ele achava que poderia saltar de dentro de si a qualquer momento. 

— Parece que não é tão ruim assim ser Georgiana Morgan, então – disse Fred com um sorriso no rosto.

— Não – concordou ela na mesma hora – Não é a pior coisa do mundo ser eu quando Fred Weasley me ama.

Fred virou-se para Georgie que sem esperar para saber se ele tinha algo para falar, avançou e o beijou. Seus lábios se tocando e dançando de maneira única em um beijo cálido e avassalador, que ambos esperavam dizer muito mais do que conseguiam com simples palavras. Eles pararam o beijo ainda colados um no outro, as grandes íris azuis de Georgie o encarando, fazendo Fred ter a certeza que a mulher que o olhava era o amor de sua vida, porque começava a desconfiar que seu coração continuava batendo unicamente pelo poder dos sorrisos que ela dava.

— Feliz natal, Georgie – sussurrou Fred.

— Feliz natal, Freddie. Feliz natal. 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Esse é o nosso último capítulo oficial, mas dia 25 tem um pequeno epílogo :)



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